Para completar o percurso que me propus mostrar, este é o terceiro episódio de uma viagem, que acaba quási onde o primeiro começou.
Estamos na Praça da Batalha, vindos do Cativo e entramos na Rua da Madeira, tendo à esquerda a Rua do Cimo de Vila. Na esquina, antes era o lindo e elegante Grande Hotel da Batalha. Hoje é um hotel de uma cadeia internacional.

Quando começamos a descer, logo deparamos com uma "ruína", mas nada de desanimar.
São de uma velha fábrica desactivada há umas dezenas de anos. E para ali está sem solução.

Por aqui desciam também as Muralhas Fernandinas. Do lado esquerdo. Ultrapassemos este primeiro declive e como é bela esta vista que se nos depara sobre o casario e os Clérigos.
Esta foto foi obtida no dia 1 de Maio de 2007, com a minha velha e perdida Olimpus made in china.
A Rua da Madeira só tem este nome desde 1902. Anteriormente, não sei desde quando, chamava-se Calçada da Teresa. Depois das escadas, a rapaziada encostada ao varandim de ferro, olhava para o "90", sempre fechado, pois era "casa" só para gente de posses.

Actualmente existem prédios em ruínas e outros bem conservados. Há quem diga que são as traseiras dos edifícios da Rua 31 de Janeiro. Até pode ser, mas as entradas são independentes, pelo menos dos que eu conheço.

Foi famosa esta artéria antiquíssima. Do lado esquerdo, por dentro das muralhas, havia o antigo Convento de S. Bento de Avé-Maria, edificado nas Hortas do Bispo, no séc. XVI. Após as extinções das ordens religiosas foi entrando em ruína e demolido em finais do séc. XIX. Agora é a Estação de S. Bento. Há uma dúzia de anos atrás, aos domingos de manhã, realizava-se aqui uma feira, denominada dos Passarinhos (actualmente está localizada no Largo Mártires da Pátria, na Vitória, entre os Clérigos e o Aljube.) Dizia-me o meu irmão que era linda, pela quantidade e variedade de aves que se negociavam. Era uma feira clandestina, tolerada pelos serviços municipais e onde se vendia gato por lebre. Falo de ouvir dizer. Nunca a visitei.

Aqui haviam imensos despachantes de mercadorias, os chamados recoveiros. Transportadas por caminho de ferro para/e terras do Minho e Douro. Os seus escritórios eram as tascas que existiam ao longo da rua, onde se almoçava e jantava a preços económicos. Mas também se bebia um copo e comia um petisco ao longo da tarde. Restam poucas desse tempo. O Quim, o Viseu e mais duas ou três.

Saímos da Rua da Madeira, atravessamos o átrio da Estação de S. Bento e vamos dar à Rua do Loureiro. Aparece a primeira vez na toponímia portuense em 1701. Era aqui que ficava a entrada da Igreja do Convento, dizem que acolhia uma maravilha de arte, mas foi totalmente destruída. Foi famosa nos anos 60/70 derivado ao seu comércio de electrodomésticos e aparelhagens de som. Aqui se comprava barato o auto-rádio, nos velhos temos em que isso era um luxo.
Mas também era famosa pelos seus restaurantes, petisqueiras e mercearias de luxo. No Onix lanchei/jantei muitas vezes, antes das aulas nocturnas na velha Oliveira Martins. Os rojões, o fígado de boi de cebolada, o bacalhau frito, o polvo em molho verde, o buxo e a orelheira, as tripas enfarinhadas, um nunca mais acabar de petiscos excelentes, que com dois copos a sair dos pipos eram uma refeição barata.
Remodelou-se esta casa nos anos 70, deixando o aspecto de tasco e nunca mais foi a mesma. Foi vendido um espaço ao "Italiano dos 300" e hoje está fechado. É a vida...

Mas é obrigatória a entrada na Pastelaria A Serrana. Impressionante a beleza do tecto e do interior, com lindíssimos frescos, relevos, figuras decorativas, espelhos, quadros e um varandim em ferro com delicados desenhos.

Tem mais de 100 anos esta decoração, restaurada há pouco tempo. A não perder uma visita.

Pegado, temos este vistoso prédio sempre decorado com as bandeiras de Portugal, que abriga um restaurante/petisqueira que faz jus à tradição de se comer bem no Porto. É um dos meus locais preferidos.
Mas ainda existem duas ou três, não direi mercearias ricas, mas bem fornecidas de queijo e charcutaria.

Um prazer para o olhar - primeiro - e gosto depois.
O comércio já não é o que era, mas ainda é bem frequentada a rua do Loureiro. Negoceia-se mas os artigos chineses estão em maioria.

Como disse no 1º capítulo, isto são ruas sem princípio nem fim. Começam e/ou acabam umas nas outras, cruzam-se, angulam-se e aqui estamos a
chegar ao princípio. Isto é, à Rua Chã.

Um último olhar para trás, com a Estação de S. Bento à direita.