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quarta-feira, 27 de agosto de 2014

194 - Campanhã ou quando a Saudade bate

É verdade, amigos, por vezes a Saudade bate. 
Há dias dei por mim a pensar há quantos anos não fazia o percurso que percorri durante quási uma década nos anos 80 do século passado, de e para o trabalho. Que se localizava na Rua Monte da Estação. Era a Empresa Poligráfica, de grandes recordações e não só profissionais.
Mas o percurso que vou retratar também tem outras histórias. E vamos começar pela Praça das Flores e acabar na Estação de Campanhã. Sempre a descer, felizmente.

Na Praça das Flores parava o autocarro que me trazia desde casa e aqui saía  para iniciar o caminho para o trabalho. E também o contrário, isto é, entrava quando vinha do trabalho. É verdade que algumas vezes, principalmente com o meu amigo e companheiro Germano Silva fazíamos um percurso diferente, porque dizia ele, subia menos. Para o caso agora não interessa nada. 
Na Praça das Flores tenho de recordar a velha escola primária, recuperada e é agora um edifício habitacional. Dedicado a imagem a um amigo que nela estudou e de quem não me lembro do nome.
Não me leves a mal, amigo, mas sabes como é, a cabeça já não é como era.

A Praça das Flores recebeu um arranjo grande após a Avenida 25 de Abril. Foi Campos de Godim por altura das Invasões Francesas e depois Largo do Fôjo em 1891. Passou a ter o nome actual em 1903, mas entre 1945 e 1980 foi alterado para Praça Dr. Pedro Teotónio Pereira, ministro e embaixador de Salazar.

A velha fonte trasladada da Rua de D. João IV

Entramos obrigatoriamente na Rua do Bonfim e voltamos logo à esquerda.

Por causa desta andança, também fiquei a saber que esta Rua se chama de Dom Lopo de Almeida. Não sei desde quando, mas anteriormente chamava-se Travessa de Justino Teixeira. Historicamente, Dom Lopo foi uma personalidade nem sempre com as mesmas ideias religiosas da época o que o levou ao Tribunal da Inquisição. Aderiu ao Filipismo (dinastia Filipina que nos governou de 1580 a 1640) foi em Madrid Capelão de Filipe II. Nasceu em Lisboa em 1524 e morreu em Madrid 60 anos depois. Riquíssimo, doou todos os seus enormes bens e fortuna à Santa Casa da Misericórdia do Porto. 

Milhares de vezes passei nesta rua e nunca reparei nas suas casas nem nos pormenores.


A rua vai dar à de Justino Teixeira. Nos anos que por aqui transitei, esta não tinha saída para norte, fechada por um muro. Agora segue para os lados da Praça das Flores.

A rua é uma homenagem ao engenheiro ferroviário que em muito contribuiu para o desenvolvimento dos Caminhos de Ferro em Portugal. É dele o projecto do Ramal da Alfândega, baseado num trabalho inicial de Mendes Guerreiro. Viveu entre 1835 e 1923.
Em 1933 a Rua chamava-se Nova da Estação. 
Liga actualmente a Praça das Flores (início da Avenida 25 de Abril) à Estação de Campanhã. Vamos descê-la numa parte da sua extensão.

Abre-se à esquerda a Rua Particular de Justino Teixeira, onde existiam para além de habitações, edifícios que albergavam armazéns, indústrias e oficinas de automóveis.

Na Casa Fonseca, cujo proprietário inicial já faleceu, saboreava os meus Cafés: o da manhã, o após almoço e o do meio da tarde. Ao final do dia, de vez em quando era a hora da loirinha.

Nesta parte da Rua, do lado direito de quem desce, existiam três grandes armazéns de Produtores de Vinhos de Mesa. O Paizinho. o Baptista e a Vinorte. Parece que só uma funciona. Noutra época, foram meus fornecedores.

Estamos no cruzamento com a Rua do Godim e é esse agora o nosso percurso para a esquerda deixando a Justino Teixeira até daqui a pouco. À direita eram os Compadres que serviam boas refeições económicas. E lanches com petiscos à moda do Porto.

Toda esta zona agora está num abandono quási total. Quem a viu altamente industrial, fervilhando de movimento, sente nostalgia. 
Vamos caminhando pelo Godim. À direita existia uma fábrica de sapatos que acabou a exportar para a Rússia solas. E também uma oficina de automóveis. E ainda, se a memória não me falta, uma fábrica de gelo. Ou de frigoríficos. 

Godim é um genitivo de Godinus, nome germânico, hoje transformado no apelido Godinho. O Casal de Godim no Couto de Campanhã é mencionado num emprazamento feito pela Mitra do Porto em 1511, aos antepassados do boticário Baptista da Costa Sá que com muito outros bens que possuía o doou à Misericórdia para património da Capela de São João Baptista que instituíra na Igreja da Santa Casa em 1623.
Em destaque o Palacete da Bela Vista que alberga uma unidade da PSP. No meu tempo, era a GNR que lá estava.
Aos amigos que quiserem saber mais sobre este Palacete, uma antiga Escola e também Hospital, podem clicar na etiqueta respectiva. 

A Rua do Godim, que vem desde o Bonfim, se é que ainda lhe podemos chamar assim neste troço que desce até à antiga travessia da Linha Férrea em frente ao Campo dos Ferroviários de Campanhã. E é aí que ela começa. O lugar chamava-se de Resineira, devido a uma fábrica de resina que lá existiu e que há umas décadas ardeu totalmente num incêndio pavoroso.

Voltamos à direita para a Rua Monte da Estação. Segue mais ou menos paralela à Rua de Justino Teixeira, onde vai dar no seu final. Ligam-nas algumas travessas. 
Encontra-se sobranceira à linha férrea, deve ser relativamente nova. Não descobri quaisquer informações sobre ela.
À direita, na foto, a antiga Fábrica dos Ossos, assim lhe chamávamos. A partir de ossos fabricavam gorduras. O cheiro que de lá saía em certos dias era impressionante. Dizia o dono, que também comercializava em latões, quando para cá vim ninguém não havia nada. Portanto, sabiam ao que vinham. 
À esquerda, ao fundo, as antigas instalações da Poligráfica, à época pintadas de azul.

Sobre o mato e os telhados do que resta dos antigos armazéns que foram construídos desde a Resineira, a Ponte que liga a Praça das Flores à Corujeira.

Nos silvados, amoras a amadurecer.

Não pude deixar de olhar a entrada da antiga empresa onde trabalhei. Mantém-se o velho prelo mas falta o busto do Velho Manuel Ribeiro feito pelo amigo Hélder Bandarra.

Um olhar para trás. Pormenores do casario das Antas e do Parque de S. Roque da Lameira


A porta de entrada do meu primeiro escritório. Um dia uma cadelita apoquentada por uma matilha de cães, ladrava e latia desesperadamente junto à porta. Não podendo mais suportar aquele barulho, peguei na bichita e levei-a para a secção da cartonagem onde as mulheres olharam por ela. Estava com algumas feridas, trataram-na, deram-lhe de comer e arranjaram-lhe um espaço no "comboio", um armazém onde se guardava de tudo e que vinha dar ao muro da linha férrea. 
Era uma boa rateira o que equivaleu aos bichinhos ratos desapareceram da zona. Foi muito estimada por todos nós. Ainda durou uns anitos, a Poli.


Por artes que só eles sabem a velha mercearia onde íamos comprar umas cervejinhas ainda se mantém no activo. 

Pormenor do lado esquerdo da Rua.

Entre as Ruas do Monte da Estação e de Justino Teixeira, paralela e sem saída nem entrada a não ser esta, a Rua Particular dos Ferroviários, um pequeno bairro de habitações que teriam sido as primeiras habitadas por Ferroviários aqui no lugar.

Espreitando os novos edifícios da Estação de Campanhã que foram subindo o monte.

Os muros voltados para a linha férrea não deixavam ver o que estava para lá deles. Agora já é possível.

 A descida - ou subida - mais íngreme começa aqui. Estas casas foram muito abaladas com a construção do Metro.


Aqui morava uma namoradinha muito engraçada e gentil. Conhecêmo-nos quando viajávamos de combóio e a coisa durou uns tempinhos. Mas veio a tropa e...cada qual para o seu lado.

Sem dúvida este conjunto é muito interessante.

Nem só humanos habitam estas pequenas casas.

Uma futura grande mulher.

Estamos quási no final da Rua Monte da Estação. Boa para quem desce, mas muito difícil para quem sobe. Assim dizia o Senhor Gil Neves que vinha desde a Rua de Pinto Bessa. Também a subi muitas vezes. A paragem do autocarro era e é ainda próximo da Estação.

Encontro com a Rua de Justino Teixeira. A grandiosidade dos edifícios da Estação de Campanhã em contraste com as muitas ruínas que se vêm por aqui.

Pequenino bairro, a que chamamos Ilhas, bem arrumado e uma videira a preparar frutos enquanto dá uma sombrinha aos habitantes.

Campanhã, Estação de Campanhã. Ligação ao Metro e a Autocarros.

É aqui a paragem onde muitas vezes saí do autocarro para ir até à Poligráfica.
E é assim a Freguesia de Campanhã. A Oriente do Porto.

sábado, 16 de agosto de 2014

193 - Ainda Praça de Lisboa e o Mercado do Anjo

Digamos que é uma continuação da minha postagem

190 - Novos espaços públicos - 2. A Antiga Praça de Lisboa


Pela mão do amigo Óscar Felgueiras, chegaram-me as fotos que reproduzo, mostrando-nos aspectos do antigo Mercado do Anjo, que deu lugar à Praça de Lisboa. No Olival. 
 Entrada pelo lado dos Clérigos. À esquerda fica o edifício da Reitoria da Universidade do Porto.

 Vista aérea. Curioso o alinhamento das ruas.
Vista do lado da Rua das Carmelitas e o antigo Convento. Não fazia ideia que tivesse durado até esta época.
Uma das razões porque o meu amigo se deu ao trabalho de me enviar estas fotos - o que muito reconhecidamente lhe agradeço - foi a questão da Praça de Lisboa construída após a demolição do Mercado e o estacionamento. Está bem visível na foto.
Reparem meus amigos, como haviam bonitos arranjos ajardinados
Em primeiro plano é um pormenor do Jardim da Cordoaria, estragado e restaurado sem gosto algum para o Porto Capital Europeia da Cultura 2001 e que demorou e demorou a acabar depois do ano da Capital.
À direita é o espaço que se encontrava em frente ao edifício da antiga Cadeia da Relação.
Quem conhece estes espaços hoje, digam-me se há comparações possíveis.

domingo, 10 de agosto de 2014

192 - CRESTUMA DE NOVO

Poderia dizer que a Meteorologia me ia arruinando um dia que acabou por ser mais um aprendizado de história. Explicando tudo tim-tim por tim-tim.
Depois das minhas visitas a Crestuma nos últimos dois meses com os meus amigos e camaradas Bandalhos do Bando do Café Progresso - ver reportagens em   http://bando-do-cafe-progresso.blogspot.pt/ - ficou combinado que o camarada Zé Ferreira, mais conhecido como Zé Catió, me iria ciceronar por Crestuma, sua terra de adopção.
Tudo combinado para ontem (enfim, já foi há 3 dias) dia 7 mas eis que a página da Meteorologia nos informa que vai haver chuva da grossa, principalmente de tarde. De manhã seria tempo de nuvens pesadas.
Telefonema para o Zé a pedir para adiar, mas o rapaz andava na pesca dos achigãs com o compadre Romualdo para os lados de Foz Coa. Já era madrugada quando conseguimos contacto. Expus-lhe a situação meteorológica. Tás maluco, não podemos adiar. E que vou fazer às Tripas que encomendei ? diz de lá do outro lado do fio telefónico, o Zé. Falou em Tripas, arrumou-me. Tá bom Zé, eu vou. Espera-me na paragem do Metro do Corte Inglês. Pensei para mim, se não poder fotografar, nem tudo se perde, sempre vão as Tripinhas.
Agora vamos para o Dia da História de Crestuma.
No centro da Cidade do Porto caíam umas pinguinhas mixurucas. Fui até à Trindade apanhar o Metro para Gaia, servi de cicerone durante a viagem as uns companheiros camones ocasionais que queriam ir tomar um aperitivo às Caves de Vinho do Porto. Estavam no transporte errado mas se caminhassem desde o Jardim do Morro até à Ribeira de Gaia não lhes faria mal algum.
Quando saímos do Túnel de S. Bento e entramos na Ponte Luís I já o sol estava a dar um ar da sua graça.
Clube Náutico e o Parque Botânico do Castelo
à direita o Rio Douro
Foto feita em 10.60.2014
À minha espera também o amigo Romualdo. Então resolvemos começar a viagem pelo Parque Botânico do Castelo

Não sou muito bom a subir e sei que me espera uma caminhada de respeito. Encho o peito de ar e lá vamos nós.
Devido ao acidentado do percurso, foram criados uns apoios em ferro. Era um caminho de carro-de-bois que saíam da antiga Quinta para trabalho na Fundição. Lá iremos

A elevação é um esporão rochoso em xisto com a altitude de 57 metros. Vamos vendo o que o homem deixou por ali.
Entre degraus, umas escavações que parecem assentos.

 A flora está devidamente referenciada. 
A elevação cai abrupta sobre a margem do Rio Douro. Nos vários patamares foram criados lugares de descanso e de lazer.

 Pégadas ou o ensino de como se dever subir o Monte.

Nos muros de suporte dos socalcos vêm-se numerosas pedras aparelhadas, de granito, matéria prima estranha ao local.

Escavações arqueológicas ocorrem no mês de Agosto desde 2010. Este mês ainda não chegaram os arqueólogos. Talvez por falta de dinheiro.


Uma Oliveira que a natureza foi comendo


Provavelmente uma conduta de água

 Da meia encosta, uma panorâmica sobre o Douro e a Barragem de Crestuma-Lever.

Pressupõem-se que este lugar foi intensamente ocupado entre os séculos IV e VII da nossa era. Isto é, entre finais do Império Romano e os começos da Idade Média. No entanto já anteriormente deveria ter sido ocupado por outros povos.

Por toda a elevação  são numerosos os entalhes, aplainamentos  e buracos onde se supõe que seriam colocados postes para formar as casas e suportar os telhados.

Pelos vestígios encontrados será de supor que as casas teriam telhados formados por telhas romanas, cada peça de razoáveis dimensões. Caixas com 1m3 contêm os achados arqueológicos já encontrados.

A Casa da Eira. Recuperação de uma edificação já existente. Este espaço pertencia a uma quinta em ruínas e recuperada pela Câmara de Gaia. O seu dono era o mesmo da Fundição lá em baixo, cuja parte do edifício foi aproveitado para instalar o Clube Náutico de Crestuma.

Uma recordação com o amigo Romualdo

Um buraco escavado provavelmente para a fixação de um poste de uma casa. A enorme árvore tem parte das suas raízes à mostra.

Embora com dificuldade de acesso um pouco alto, os caminhos estão devidamente sinalizados. Os serviços recomendam cuidado com as crianças e não aconselhado a deficientes motores e idosos.
É um prazer caminhar pela mata e observar os detalhes que os homens foram deixando ao longo de séculos.
Um pormenor sobre o Rio Douro a caminho da Foz, no Porto.

Na praia de Favaios, prevê-se que existiu uma estrutura portuária ou de atracagem. Há poucos anos, na maré baixa, conseguiram fazer recuar as águas e verificar debaixo da areia placas que poderão indicar ter havido um porto. 
Podem ler-se os relatos dos trabalhos em http://www.portugalromano.com/2012/09/cais-romano-de-crestuma-vila-nova-de-gaia/cais-romano-2/, que publicando fotos cedidas pelos responsáveis edílicos, não nos permite copiar. Bem hajam Ó Portugal Romano.
Talvez estas enormes pedras formando um muro seja uma antiga fortificação para defesa da área portuária.

 Vamos caminhando para o ponto de apoio que é o Clube Náutico de Crestuma.

Este caminho seria uma primitiva passagem para o Castelo com ligação ao Rio Douro. Provavelmente utilizado depois pelo pessoal da Fundição.

 O descanso e retempero de forças do caminhante escalador.
Mas não choveu

Aproveita-se uma volta pelas instalações do Clube para ver o Galardão que é ofertado para o melhor clube Português durante 4 anos.

 Já retemperado, uma pequena caminhada pelo sopé do Monte do Castelo.

 Uma árvore está suspensa no monte fronteiro.

 Na Ribeira da Arroba, um velho moínho recuperado.
Um recanto para se usufruir da natureza mesmo com o tempo triste

 Olhando para o Parque Botânico do Castelo

Vamos a caminho do almoço situado no lugar do Maroco,  um dos muitos altos de Crestuma. Já o Alberto nos esperava ansioso há mais de uma hora. Mas o trabalho não podia esperar, amigo. Fomos desculpados.

 E as prometidas Tripas à moda Porto, estavam deliciosas. 
Não podia haver melhor recuperação e preparação para as novas etapas 
que nos esperavam.

Do alto do Maroco a paisagem é soberba. Foto antes do almoço com o tempo nublado. Mas sem chuva.
Enquanto seguíamos com os digestivos, a Dona Rosinha fixou-nos para recordação futura. O Alberto, eu, o Zé e o Romualdo. Grandes companheiros e grandes conhecedores de Crestuma.
 A Dona Rosinha, cozinheira de mão cheia.
Vamos arrancar para nova etapa, não sem antes registar mais uma panorâmica sobre a enorme vastidão que a foto não consegue alcançar. Já há sol aberto, embora com algumas nuvens dispersas, que dão um toque de elegância à foto.

Homenagem ao Poeta Crestumense Eugénio Paiva Freixo autor da letra do Hino do Clube Náutico

Pormenores crestumenses durante a "caminhada".
Antigas fábricas desactivadas. Em grande plano a Fiação A. C. da Cunha Morais

Foz do Rio Uima no Douro, que nasce nas Terras da Feira. Juntamente com a palavra Crastum, que terá existido no Castelo, deu inicialmente Crastuima que foi derivando etimologicamente até chegar a Crestuma.
Crestuma foi couto do Bispo do Porto D. Hugo, doado pela Rainha D. Teresa - princípios do séc. XII - e confirmado pelo filho D. Afonso Henriques, o nosso primeiro, ao sucessor Pedro Rabaldis.
O primeiro documento escrito sobre Crestuma é de 922 e refere uma ermida como seu cemitério, no mosteiro e na vila.
Mas caminhando passamos pela casa do comendador Pimenta da Fonseca. Hoje está tudo em ruínas e alguns terrenos abandonados. Embora hajam alguns edifícios em recuperação e outros espaços com oficinas instaladas nas antigas instalações. Quanto à fábrica de fiação que fundou lá iremos.

Mas por agora vamos visitar exteriormente a Companhia de Fiação de Crestuma e contar um pouco da sua história. Mas segundo li em http://gaiserv.com.sapo.pt/livro_cale/pagina3.htm estes terrenos pertenciam na altura a Lever. Crestumenses e Leverenses passavam a vida aos tiros e às bombas entre si pela delimitação das terras. Ainda não vão muitos anos e os portugueses devem-se lembrar da guerra entre Lever e Crestuma por causa da barragem. Que meteu pelo meio boicote de eleições aquando da candidatura de Mário Soares. 
Tudo sanado hoje em dia até porque fazem parte da mesma associação de freguesias que os nossos inteligentes governantes de Lisboa assim decidiram.
Adiante.
Na margem direita do Rio Uíma, no morro encontramos dois canhões miguelistas (recordo aos meus queridos amigos e leitores a Guerra Civil nos anos 20/30 do séc. XIX entre os manos D. Pedro I e D. Miguel, bastas vezes referenciada nos meus pobres escritos) que ninguém sabe de onde vieram. Presume-se que ultimamente serviam de decoração da alameda que levava à Fábrica por este lado.
Os meus amigos e cicerones gentilmente retiraram as silvas que os cobriam para poder registar mais em pormenor o brasão de D. Miguel e a data da construção. Presume-se.
Voltemos à história do edifício e como chegou à Companhia de Fiação de Crestuma. Inicialmente eram as instalações de um moinho para produção de energia hidráulica. A Real Companhia Velha também conhecida por Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, no séc. XVIII aproveitou as instalações para adaptar uma fundição para produzir os arcos em ferro para as pipas do Vinho do Porto que era orientada por um senhor de nacionalidade russa.
Edifício do Corpo de Bombeiros privativo criado pela Companhia de Crestuma

O Palacete do Pimenta da Fonseca visto do lado da Fábrica.

Continuando a história. Por estes lados haviam muitas fábricas de fundição de ferro e D. Miguel escolheu esta também para o fabrico de armamento. Visitou-a em Dezembro de 1832.
Em 1854, tudo que existia foi adquirido pela Companhia de Fiação de Crestuma.
O pedestal vandalisado onde assentava um busto do Comendador Pimenta da Fonseca que desapareceu.

Mais uma voltinha e fomos parar a Lever para tomar uma loirinha e aprender mais coisas. Uma árvore - ou será arbusto ? - mesmo junto a nós dá-nos o prazer de olhar as suas belas flores.

Homenagem à Tecedeira. Crestuma foi um grande e muito importante centro têxtil. Em fundo uma das unidades fabris extintas.

Vista de um outro lugar a Companhia de Fiação de Crestuma. O dono, Comendador Pimenta da Fonseca, construiu um edifício grandioso onde o azulejo é rei na Rua de Santa Catarina no Porto. Conhecido como Castelo de Santa Catarina é agora uma unidade hoteleira.
Alguns edifícios recuperados ou em fase de recuperação.
Quási a chegar ao Rio Douro, a enorme Fábrica de Fiação de A.C. da Cunha Morais. A história da família Cunha Morais é interessantíssima. E actividades dos seus membros muito rica,  incluindo fotografia, vidas em África e Brasil, maçonaria e republicanismo, bombismo e ligação a grandes intelectuais. A quem interessar pode ser lida em http://dited.bn.pt/29544/578/754.pdf
Uma última caminhada até à Fonte Velha cuja água vai dar a um riacho. E cá está mais um parque de lazer.
Tenho de agradecer aos meus cicerones Zé Ferreira, Alberto e Romualdo. Não é todos os dias que encontramos amigos destes.