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sábado, 17 de janeiro de 2015

206 - Histórias de mais espaços interiores

A saga (narrações, histórias, lendas, verdades, segundo uma enciclopédia) é o meu lema do momento para ir seguindo figuras heróicas (no sentido figurado) que habitam no mundo de um povo com cultura.
Filósofo, poeta, romântico ? Nada disso. Apenas olho o que me rodeia dentro dos muros da minha Cidade e aqui vai disto. O resultado só os meus queridos e queridas visitantes definirão.
Para já, o prazer é meu em dá-lo a conhecer.

As pesquisas são para aprender e conhecer novas coisas. Precisava de uma foto que mostrasse o lado sudoeste do Mercado do Bolhão.
Que a história do Mercado já vem desde a primeira metade do séc. XIX, creio que os Portuenses e não só, sabem. A sua abertura primitiva é de 1850 e ao longo dos anos sofreu muitas alterações. Um dia hei-de desenvolver a sua história se para tal tiver competência; mas por agora o que me interessava conhecer (para vos elucidar convenientemente, caros e caríssimas leitores e leitoras) era a imagem após a finalização do edifício em meados da década de 10 do século XX.

 Tudo tem a sua razão de ser. Não me farto de o dizer e escrever. Fui espreitar - embora já o tenha feito diversas vezes - a Hortícola do Bolhão. Casa que foi aberta ao público em 1921. Mas antes dela que comércio existiu aquando da abertura do remodelado edifício ? Uma charcutaria, a Internacional, fiquei a saber.
Tanto o exterior como o interior mantêm a sua traça arquitectónica original.
Mais um interior comercial da minha-nossa Cidade do Porto lindíssimo, bem preservado nos seus mármores e estuques pintados.
De realçar a simpatia com que somos recebidos, embora conheça há muitos anos o Zé, o que provoca sempre uma pequena conversa para recordar velhos tempos.
Não sei quantas vezes entrei nesta casa e nunca tinha reparado na fonte que lá está e cuja origem se desconhece.
Como não farto de dizer, há sempre algo de novo mesmo que passemos inúmeras vezes pelo mesmo lugar ou espreitemos as mesmas coisas.
Desejo longos anos de vida à Hortícola do Bolhão.


Ahh, e onde podemos comprar o Seringador e o Borda d'Água, revistas com tradições antiquíssimas nas Agriculturas e Floriculturas. E não só...

Mudemos de ambiente e vamos até ao Âncora D'Ouro.
Escrito assim, ficarão os meus amigos Portuenses na dúvida ? Mas se escrever PIOLHO ? de certeza  já sabem ao que me refiro.

Pois é, estamos próximos do edifício da Reitoria da Universidade do Porto, encostados a Carlos Alberto, ao Carmo e aos Leões. Locais de referência da Cidade, com tradições antigas.
Antes de mais, vai daqui um abraço aos meus queridos amigos Vasco da Gama e João Miranda, velhos (antigos) frequentadores desta "Universidade da Vida".

O Âncora D'Ouro tomou o nome de Piolho - cá está, não sei se lenda se verdade - porque era o único café na zona frequentado pelos feirantes do extinto Mercado do Anjo, ali bem próximo, onde iam tomar o pequeno almoço com a sua caneca.
Feirantes sujos, sinónimo de piolhos, doença muito comum em épocas sinistras da Cidade, logo o apelido. Ou apenas como um aglomerado de pessoas que se acotovelavam no espaço.
Também há quem afirme que o apelido derivou dos estudantes universitários (a Academia era no actual edifício da Reitoria da UP) que faziam do Café o seu local habitual, desde a hora do pequeno almoço. No fundo, o mesmo aglomerado de gente e vai dai, seriam os Piolhosos.
Na minha-nossa Cidade do Porto, existe a palavra Piolhoso para definir pessoa de baixos instintos; ou incapaz de ajudar um amigo; ou ainda porque não alinha seja para o que for, bom ou mau.
Um exemplo: Amigos encontram-se e propõem um passeio. Há quem não alinhe, logo é considerado "és um piolhoso".
Adiante.
O Piolho fez 100 anos há 5 anos, mais coisa menos coisa, o que o torna num dos cafés mais antigos da Cidade.
Mas é muito difícil ter a certeza de alguma coisa. Existiria em 1889 um botequim com o nome de Âncora D'Ouro, comprado pelo casal Francisco e Cremilda Lima que inauguram o novo café na véspera de S. João de 1909, ainda sem licença.
Mobiliário com a Âncora gravada, marca do Café.
Também na divisória dos sanitários.
Recordações do passado.
Pelas paredes do café estão placas alusivas a cursos de estudantes que por aqui passaram e se formaram.

A mais antiga é de 1947 mas não a consegui localizar.
Não se sabe desde quando tomou o apelido Piolho, mas sabe-se que era frequentado especialmente por alunos de Medicina, a que se foram juntando os das outras Faculdades. Oposionistas ao governo de Salazar e também de agentes infiltrados da PIDE, a polícia política de repressão. Mas isso será desde os anos 40 do século passado, porque história mais antiga não consegui encontrar.

Esta a única foto antiga que encontrei do café, deve ser dos anos 70 e roubada do blog amigo
http://doportoenaoso.blogspot.pt/ um dos melhores blogs sobre a Cidade.

Em 1974 o café foi vendido a um grupo de brasileiros e perdeu muito do seu carisma.
Creio que cerca de 5 anos depois foi novamente vendido à empresa actual, que o remodelou mas mantendo a estrutura.
Mas não confirmo esta informação, que para o caso não interessa nada.