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sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

264 - À descoberta do Porto com o Prof. Germano Silva

Reproduzindo na íntegra as crónicas do Prof. Germano Silva no Jornal de Notícias recolhidas no blogue cadernosdalibania.blogspot.com/ e mostrando fotos dos locais que ele refere, espero conseguir dar a conhecer melhor a Cidade do Porto. Os textos em itálico são os únicos de minha autoria e servem para identificar as fotos.
Espero que o Professor não leve a mal esta minha ousadia.


A Torre das Virtudes
Nome que se dava à antiga Porta das Virtudes da Muralha Fernandina
Porta do Olival
Dava-se o nome de torre das Virtudes à porta que, no sítio com este mesmo nome, existia no pano da Muralha Fernandina, um pouco abaixo da fortíssima porta do Olival. Inicialmente, fora ali construído um simples postigo. Mais tarde, abriu-se a por­ta que era dotada de uma alta torre ou cubelo, e daí a designação que puxamos para título desta crónica.
Rua das Taipas, no entrocamento com a Travessa das Taipas 
A Rua das Taipas para Norte
Rua Dr. Barbosa de Castro, antiga Rua do Calvário Novo.
De norte para sul 
As Ruas das Taipas e Dr. Barbosa de Castro podem-se considerar paralelas.
A porta das Virtudes, como daqui para diante a passaremos a tratar, ficava sensivelmente a meio do local onde agora se encontram as ruas das Taipas e do Calvário, que, por aqueles recuados tempos, ainda não existia. A porta foi demolida em 1801 "para desafogo e enobrecimento do sítio".

Antigo Clube Inglês
Não deve confundir-se uma abertura que foi feita no troço da muralha que ainda existe, no recinto ajardi­nado do edifício onde em tempos idos fun­cionou o Clube Inglês e agora está um servi­ço social da Ordem de Malta, com a mencio­nada porta das Virtudes.
É muito difícil de imaginar, hoje, o que era, em tempos antigos, aquela zona da cidade extramuros, ou seja que ficava da parte de fora da muralha. 
A atual Rua do Dr. Barbosa de Castro chamava-se, anteriormente, Rua do Calvário Novo, para a diferenciar da do Calvário Ve­lho, que ficava mais acima onde está hoje a Praça de Guilherme Gomes Fernandes. Durante muitos anos, na antiga Rua do Cal­vário Novo, houve casas somente da parte nascente. Foram construídas com as trasei­ras encostadas ao pano da muralha, que lhes servia de fundo.
Quem, nos nossos dias, pa­rar no passeio oposto, ou seja do lado direito da rua para quem a desce a partir da Cor­doaria e parar sensivelmente a meio, olhan­do para o outro lado, ainda pode ver algumas ameias da Muralha Fernandina.
Casas do lado poente da Rua Dr. Barbosa de Castro. 
Ao alto à direita, vê-se um pequeno pormenor da Muralha Fernandina
Estas fotos foram obtidas um pouco abaixo da Rua Dr. Barbosa de Castro. Apenas para dar uma ideia do que resta das Muralhas Fernandinas do lado nascente.

Foi só a partir do século XVIII que se começaram a construir casas no lado poente da rua. Antes disso, o sítio devia ser escabroso e medonho. Era por aquelas bandas que, no sé­culo XV, ficava o "almocavar", isto é, o cemitério dos judeus, que tinham a sua comuna em Miragaia, antes da transferência, por iniciativa de D. João I, para o sítio das Couvelas, no Olival, da parte de dentro da muralha. 
Miragaia - Pormenor da localização da antiga comuna Judaica.

Em 1788, o inspector da Marinha do Douro, Rodrigo António de Abreu e Lima, começou a construir um alto paredão (o das Virtudes), que pouco depois de ficar concluído ruiu es­trondosamente. 
Paredão das Virtudes e em primeiro plano as traseiras da Fonte das Virtudes
O atual foi obra do correge­dor Francisco de Almada e Mendonça. Este, sim, ficou assente em sólidos alicerces de granito e resistiu.
O topónimo Virtudes teve origem numa fonte monumental erguida ali perto para aproveitamen­to das águas de várias nascentes que corriam a céu aberto e que juntas formam o chama­do Rio Frio. 
Fonte das Virtudes.
Por trás o Jardim (antigo Horto) das Virtudes
Levantado o paredão, deu-se início à obra de consolidação do mesmo, come­çando, imediatamente, a ser entulhado todo o espaço que ficava entre o dito paredão e a Muralha Fernandina e não tar­dou que começassem a ser construídas casas na parte poente da antiga Rua do Calvário, hoje Rua do Dr. Barbosa de Cas­tro. Com uma curiosidade: a maior parte das casas que se iam construindo tinham duas frentes, uma voltada para a rua, ou­tra para a alameda das Virtudes.
Alameda das Virtudes, pormenor
Foi o caso, por exemplo da casa onde, a 4 de Fe­vereiro de 1799, nasceu João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett, efeméri­de evocada na fachada do prédio por uma artística lápide. 

Um dos mais emblemáticos monu­mentos da antiga Rua do Calvário é, ainda hoje, a capela de irmandade de S. José das Taipas e de S. Nicolau Tolentino e Almas, como antigamente se designava.

A primi­tiva capela fora mandada construir em 1666, por iniciativa de um tal Pantaleão Pa­checo e de

sua mulher, Isabel da Silva, em cumprimento de um voto e em memória de um filho do casal, José Pacheco, que morreu muito novo. 

Ao cimo da atual Rua de António de Sousa Macedo, anteriormente uma sim­ples ladeira que depois se chamou Traves­sa do Calvário, erguia-se o enorme edifí­cio da Praça do Peixe, mandado fazer já no tempo do liberalismo. (1874)
 Praça do Peixe, pouco antes da demolição que aconteceu nos anos 50 do século passado.
À esquerda a Capela do Senhor do Calvário
À direita, pormenor da Cordoaria
Mesmo ao lado da parte oriental do edifício, ficava uma pe­quena construção que em tempos fora a capela do Senhor do Calvário Novo.
Daí que à tal ladeira também chamassem rua defronte da Capela do Senhor do Calvário ou rua defronte do Senhor do Calvário. 
Aquele Senhor do Calvário está repro­duzido num curioso cruzeiro que ainda existe e em muito bom estado de conser­vação. Em tempos antigos, integrava o con­junto de cruzes que constituía a via-sacra, o tal Calvário Novo. Os vendedores da Pra­ça do Peixe tributavam a esta cruz uma forte e ardente devoção e era por isso que lhe chamavam o Senhor dos Peixeiros.
Cordoaria actual. Pormenor
To­dos os anos, os comerciantes de peixe fa­ziam na Cordoaria uma grande festa ao Se­nhor dos Peixeiros.
Quando aquele sítio se desentranhou em urbanismo, levaram o cruzeiro para o interior da capela das Taipas, onde pode ser admirado. • 
A Rua António de Sousa Macedo chamava-se Travessa do Calvário e passa pela frente do
 Palácio da Justiça
O Mercado do Peixe deu o lugar ao Palácio da Justiça.
As traseiras do Palácio da Justiça vistas do Jardim (antigo Horto) das Virtudes.
À direita a Capela da Irmandade de S. José das Taipas

A Fonte das Virtudes foi construída em 1619. É Monumento Nacional. O seu frontispício é enorme e assemelha-se a um retábulo
Dizem crónicas antigas que "a co­piosa água que sai por duas enormes carrancas lavra­das em pedra enche, em menos de um minuto, o maior cântaro".
No alto tem duas pirâ­mides e um nicho onde em tempos antigos estava uma imagem de Nossa Se­nhora a que chamavam das Virtudes, por se considerar que a água desta fonte pos­suía a virtude de curar de­terminado tipo de molés­tias. 
Nos finais do século XVII, os poetas repentistas daquele tempo costuma­vam vir para junto da fonte e declamavam versos pica­rescos que dedicavam às moças quando elas ali se deslocavam para encher os cântaros. Um deles ia mais longe e entretinha-se, tam­bém, beliscando o traseiro das raparigas.


segunda-feira, 12 de setembro de 2016

252 - Sugestões para visitantes - Roteiro 2

Vou escolher este roteiro como segunda sugestão, pois dentro da sua área estão vários Monumentos cheios de História e dignos de serem visitados.
É  o Olival lugar encostado às antigas Muralhas Fernandinas, demolidas em 1853-1854 (a Porta que dava passagem para a Vitória já tinha sido demolida entre 1789 e 1794).
Podemos considerar este lugar desde os Clérigos, Cordoaria, até ao Carmo.
Vamos conhecê-lo um pouco começando pelos
Clérigos:
Torre e Igreja formam o conjunto de maior projecção de Nicolau Nasoni e cuja construção foi iniciada em 1732.
À Torre deve subir quem tiver boas pernas, bons pulmões e bom coração. São mais de 250 degraus em cerca de 75 metros de altura.
A Igreja, mesmo que já a tenham visitado há mais de 1 ano, vale a pena lá voltar.
Os caminhos abertos por dentro permitem-nos ver a Igreja com novos olhares. Quase podemos tocar as obras primas o que para mim dá uma sensação de partilha.
Na que foi a antiga enfermaria do Hospital, no edifício entre a Igreja e a Torre, estão expostos pela primeira vez o tesouro e abertas várias salas onde funcionava a Irmandade.
O novo museu com exposição de Cristos merece visita.
Passeio dos Clérigos:
Saindo e ficando de costas para a Torre podemos caminhar pelo lado esquerdo e apreciar o comércio local e as casas que ainda devem ter como alicerces e paredes, restos das pedras das Muralhas Fernandinas.
Como é o caso do Café das Portas do Olival, com  mais de 160 anos.
O arco em ogiva que podemos ver no café, pertenceu quase de certeza à Porta do Olival que se abria nas Muralhas.
A velha Fonte de Neptuno que se encontrava junto à Muralha.
Antiga Cadeia da Relação, construída a partir de 1765 sobre os escombros do anterior edifício que ruiu.
Actualmente alberga o Centro Português de Fotografia, onde há sempre uma exposição para ver.
 Pátio dos presos e entrada para as antigas enxovias das mulheres
Enxovias das mulheres
Escadaria interior. Notar a obra de cantaria e o tamanho dos blocos.
Acesso aos salões e saleta das mulheres
No último piso, os quartos da Malta concebidos como prisões individuais para pessoas de condição.
Através das grades podem apreciar-se panoramas sobre a Cidade. A vista espraia-se ainda hoje até às Serranias de Valongo. A Igreja do Bonfim era lembrada por Camilo Castelo Branco, desde o quarto S. João,  como o início das suas viagens para Vila Real. Ver na foto sem grades a Igreja ao fundo do lado esquerdo.
Digno de visita o Museu da Fotografia. Estão expostas algumas máquinas e acessórios que fizeram parte da minha vida profissional.
Igreja das Almas de S. José das Taipas:
Já que estamos bem próximos, não perder uma visita a esta Igreja se estiver aberta.
Foi construída entre 1795 e 1878 e a capela na segunda metade do séc. XVII. Para visitantes interessados tem imensas relíquias para ver.
De notar o quadro do sufrágio do Desastre da Ponte das Barcas, de 1845, do lado direito de quem entra. E se estiver visível, apreciar o Presépio mais antigo da Cidade, do séc. XVIII.
Atravessamos o Jardim da Cordoaria, cujo nome verdadeiro é de João Chagas, fundado em 1865. Um ciclone em 1941 alterou a aparência do jardim, que voltou a ser alterado em 2001 com muitas contestações.
Podemos apreciar a arquitectura do Palácio da Justiça cheio de obras de arte,  as estátuas e memórias ao longo do Jardim.
A parte que fecha o jardim foi remodelada e o velho casario restaurado.
À esquerda encontramos o edifício monumental do Hospital de Santo António.
À esquerda da entrada encontramos o Museu da Farmácia (Botica) do Hospital.
À direita encontramos o edifício da Reitoria da Universidade do Porto, cuja entrada se encontra na Praça dos Leões.
Escadaria da entrada
Acesso à Reitoria
No interior encontramos sempre exposições e dois museus.
Museu de História Natural
Museu de Mineralogia
Igrejas dos Carmelitas e do Carmo.
Temos de terminar este percurso nestas Igrejas. Uma construída em Barroco inicial e a outra em Barroco tardio.
Os interiores são fabulosos e devem ser bem apreciados.
Não perder a visita.
Na fachada lateral da Igreja do Carmo, grandioso painel de azulejos de 1912 representando a fundação da Ordem Carmelita.
Pormenor alusivo ao Monte Carmelo.

Sem dúvida, caríssimos e caríssimas visitantes, que este roteiro a ser levado a sério demoraria um dia. Mas são sugestões para todos os gostos, idades e tempos disponíveis.

Espero que desfrutem a minha/nossa Cidade do Porto.

Uma nota: O Antigo Olival estendia-se ainda mais para Norte. Para memoriar esse espaço, foi construído um jardim em duas partes entre a Torre dos Clérigos e a Reitoria da Universidade. Por baixo e por cima de uma das partes, encontramos lojas de alimentação e outras.