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quinta-feira, 28 de abril de 2011

74 - A Avenida Rodrigues de Freitas

Antiga Rua de Reimão, posteriormente Rua de S. Lázaro, é uma das artérias da Cidade do Porto que mais percorro. Aqui está localizada a segunda sede do Bando do Café Progresso. No Café Cifrão. Ou não fosse esta artéria também considerada a Rua dos Cafés. Mas já por aqui andei muito antes, principalmente na minha meninice e juventude, quando apanhava o 20 para o Marquês ou descia a Rua das Fontaínhas para atravessar o Rio no prémio que recebi de meu Pai: Aprender a nadar no Borras ou no Aurélio. Começa a Avenida na Rua Entreparedes, onde no número 80 morei periòdicamente. Depois de Duque de Loulé estava a Garagem Galiza, (à direita na foto) onde apanhei um "Expresso" para a região de Paiva, local das minhas primeiras férias, durante 4 dias. Passou-se isso no verão de 1963.
Não tenho a certeza, mas no princípio do séc. XX creio que era aqui a garagem da Ford. Do senhor que subiu com um carro "sportivo" a Calçada da Corticeira. Encontrei uma foto que demonstra essa proeza.



Para além do Barbeiro que ainda lá se encontra - provàvelmente de outro proprietário - à direita estava o Ramos, a outra "tasca" da cidade aberta até às tantas. Julgo que era pertença do mesmo patrão do Ginjal do Bonjardim/Largo Tito Fontes.
Não parece, mas esta Rua, agora Avenida, tem muito que apreciar e visitar. Foto velhinha do princípio do séc. XX, mostra-nos uma das quatro entradas do Jardim de S. Lázaro e do Colégio das Órfãs.
O edifício monumental foi o acolhimento das meninas órfãs de Nª Sra. da Esperança, criado em em 1724 e pertença da Santa Casa da Misericórdia. A partir dos anos 40/50 do século passado foi uma Escola seleccionada para meninas da alta sociedade (como quási todas as instituições mais ou menos ligadas à religiosidade). Hoje creio que é uma escola pública. A Igreja é atribuída a Nasoni e construída entre 1746 e 1763 no local onde existia o Hospital de S. Lázaro, destinado a recolher os Lazarentos. Desde tempos remotos, aqui se comemorou e durante muitos anos, os Lázaros, espécie de romaria, no primeiro domingo de Abril se não estou em erro e que aliava o pagão com o religioso.
O Jardim de S. Lázaro, hoje de Marques de Oliveira, homenageando o Mestre da Pintura, foi o primeiro Jardim Municipal da Cidade do Porto. Inaugurado em 1834, sofreu várias alterações. No entanto ainda se podem ver árvores do tempo do seu nascimento. Camilo Castelo Branco recebeu aqui a Comenda da Ordem da Rosa das mãos do Imperador D. Pedro II do Brasil.Grupos escultóricos estão espalhados pelo jardim, provàvelmente não sendo alheia a antiga Escola de Belas Artes, hoje Faculdade, ali a dois passos.
Camélias, Cedros, Magnólias, Tílias e até uma Palmeira compõem a Flora do Jardim a par de belos canteiros de flores.
Os Pintores Marques de Oliveira e Silva Porto estão homenageados em bustos da autoria de Soares dos Reis e Barata Feyo. Acho que não estou errado em relação aos escultores.
Uma fonte do séc. XVI que se encontrava na Sacristia do Convento de S. Domingos foi para o Jardim trazida em 1838. Granito, mármores rosa e branco e ardósia preta compõem o conjunto.
Aspecto nocturno do Jardim.
Em frente, a Biblioteca Publica Municipal do Porto. Fundada em 1833, por ordem de D. Pedro IV como Real Biblioteca, ocupou as instalações do antigo Hospital do Convento de S. António da Cidade, edifício do século XVIII, desde 1842. É, a partir de 1876, estabelecimento municipal.


























Foi seu segundo bibliotecário Alexandre Herculano. Possui um dos mais valiosos espólios do mundo desde a Idade Média até aos nossos dias. Reúne a maioria das Bibliotecas dos Conventos e Mosteiros de Portugal. Estão disponíveis consultas desde periódicos a bibliografias. Possui diversos serviços fàcilmente disponíveis bem como uma Biblioteca Infantil/Juvenil. Chegou a ser durante anos o primeiro Museu Nacional, igualmente criado por D. Pedro IV, onde estiveram expostas muitas pinturas e esculturas, sem condições, até serem mudadas para o actual Museu Nacional de Soares dos Reis. Entre o estudo nos cafés e esta Biblioteca passei muitas horas do meu tempo de estudante. Aqui aprofundei conhecimentos sobre Camilo e as Invasões Francesas em Portugal. Que esqueci posteriormente em três anos de "degredo". Nos claustros estão expostos amostras de azulejos retirados dos Conventos e Mosteiros a Norte de Coimbra. Desde o séc. XVII. Periòdicamente promovem exposições.












Mas a Avenida tem muito mais coisas para ver. Desde antiquários com peças e espólios valiosos...




...até aos marmoristas com peças e esculturas para os Cemitérios. E o do Prado Repouso ali bem perto. Mas logo encontramos o Palacete dos Forbes ou Braguinha, como é mais conhecido, do séc. XIX. Adquirido pelo Estado para albergar a Escola de Belas Artes, actual Faculdade. Tem um jardim - cá para nós um pouco maltratado - onde estão expostas esculturas de antigos alunos: Soares dos Reis, Lagoa Henriques, Teixeira Lopes, José Rodrigues, Gustavo Bastos e tantos outros.O átrio da entrada tem duas esculturas, cópias das de Miguel Ângelo: Escravo Muribundo e Escravo Rebelde. Desconheço o autor.









Dignos de visita o Museu e as exposições. Podemos passear pelo Jardim, visitar as salas de aula, as oficinas. Ver os alunos trabalhar ao ar livre ou nas oficinas. A arquitectura desligou-se desta escola nos princípios de 90, criando a sua própria Faculdade. Mas por aqui passaram Marques da Silva, no princípio do séx. XX e Siza, Soutinho e tantos outros de reconhecimento internacional. Muita pena por ver os novos edifícios de aulas a precisarem de pintura. E os grafitis eram escusados, pois não acrescentam nada à Faculdade. Coisas de uma geração à rasca...






À esquerda o palacete do Visconde da Gândara, também do séc. XIX, hoje ocupado pela Associação dos Ourives.



Uma foto do princípio do séc. XX, que roubei ao blogue http://doportoenaoso.blogspot.com/ de Ricardo Araújo Figueiredo - isso sim, é que é falar -escrever- sobre o Porto e não só - , vendo-se o muro do antigo Jardim do Palacete Braguinha à direita e o Palacete do Visconde da Gândara à esquerda.



Todo este correr da Avenida tem edifícios de interesse público. Quási todos bem conservados.



São obras arquitectónicas do séc. XIX que merecem ser olhadas.













No final da Avenida encontramos o Largo Soares dos Reis. Ao fundo o Museu Militar, outro edifício do séc. XIX comprado pela Estado para albergar a famigerada PIDE, posteriormente DGS. De "grandes" recordações para, pelo menos, duas gerações à rasca. O meu amigo Quim Soares parece que vinha em passo acelerado.
Um pequeno memorial recorda Virgínia Moura, grande lutadora contra o regime do Estado Novo implantado em 1928. Várias vezes foi "residente" naquela casa, mas nunca vendeu a alma ao diabo.
À direita, o cemitério do Prado de Repouso, o primeiro público da Cidade. Digno de uma visita pois possui diversos e interessantes mausoléus e túmulos. Destaque para o túmulo dos Mártires da Pátria e o Mausoléu aos Revoltosos Republicanos de 31 de Janeiro de 1891, inaugurado em 1897. Um busto de meio corpo, homenageia um dos Almadas. Talvez a homenagem seja extensiva a todos eles, pois muito fizeram pela Cidade do Porto no séc. XVIII



sábado, 16 de abril de 2011

73 - O Palácio das Cardosas versus Hotel Intercontinental

Recebi um convite da Senhora Pilar Monzón, directora geral do novo Hotel Intercontinental - Porto - Palácio das Cardosas, a inaugurar provàvelmente em Junho/Julho, para o visitar interiormente.

Do exterior, tenho acompanhado fotogràficamente a evolução da obra desde que tomei conhecimento do seu arranque e fui colocando neste espaço com certa regularidade as imagens que captei ao longo do tempo. Embora o meu primeiro escrito seja de 30 de Julho do ano passado com o numero 33, todo o processo já vem desde 2007, se não estou em erro.

Levantou a obra várias polémicas de arquitectos e outros profissionais (é só pesquisar na net Palácio das Cardosas) e mesmo Germano Silva no JN se lhe referiu, citando Eugénio de Andréa da Cunha e Freitas, "… agora, na Casa de Deus, em vez dos honrados frades de Santo Elói, estão os gordos e opulentos senhores da Finança e da Indústria, perturbando, na febre do negócio e do lucro, o eterno descanso de tantas cinzas veneráveis que ali jazem…" .
Quereria Germano Silva interrogar-se sobre o que seria feito aos diversos achados arqueológicos que eventualmente por ali ainda se encontrassem ? Constou-se terem sido descobertos vestígios arqueológicos. Mas como todo o processo é da responsabilidade da Porto Vivo não se sabe concretamente de nada. (Cá para nós e segundo conhecedores por dentro desta empresa municipal, que parece funcionar como uma sociedade secreta - volto a referir-me às pesquisas na net e a quem tenha paciência e prazer em ouvir as gentes da Sé - nunca saberemos o que se descobriu e nem para onde foram as descobertas...se as houve, claro). É a altura do ataque de Germano Silva e outros historiadores, arquitectos, engenheiros, etc. As fotos acima referem-se a vários pormenores das obras. Contràriamente ao que se escrevia - volto a referir-me a escritos que li na net - a circulação automóvel não deve ser prejudicada, pois haverá um desvio para unicamente deixar os clientes no Hotel -. E a paragem dos autocarros que actualmente se encontra em frente da futura entrada já está devidamente programada com os STCP para novo local. No piso ao nível do Passeio das Cardosas, ficará a recepção, bar, biblioteca e um café recordando o velho Astória. No piso inferior será o restaurante.
É este o aspecto do "Café Astória" actual. O mobiliário é do tipo artesanal, fabricado em Portugal.
O tecto foi construído no local por operários portugueses.
O lustre e candeeiros são em cristal, igualmente fabricados em Portugal
Pormenores de um candeeiro.
O Café visto do corredor que vai ligar ao hall de entrada
A amostra da carpete que vai forrar o chão de um dos salões. Embora a foto seja péssima, a textura, desenhos e cores são lindíssimos.
Mobiliário fabricado em Portugal

Aqui será a recepção, com o chão em mármore de diversos países, incluindo do nosso. A mistura dos mármores, desenhos e fabrico foram de uma empresa Portuguesa.
Pormenores belíssimos.
Pormenor de um Quarto
Vista para a Praça da Liberdade e Avenida dos Aliados
Vista das traseiras para as Ruas de Trindade Coelho, das Flores e Praça Almeida Garrett.
Todos os edifícios vão ser recuperados.
Alguns já numa fase adiantada de recuperação.
Olhando através das vidraças, impressiona ver como se aguentam os edifícios do outro lado.


No piso superior, é esta a vista que temos através das janelas.


Uma lembrança da visita. Uma amostra dos ladrilhos de mármore.
Resta-me agradecer a gentileza da Senhora Pilar e também a Dina Coelho. Além das muitas explicações responderam-me a tudo que perguntei durante a visita de cerca de 1,30 h.

Duas sugestões ficaram no ar: Um livro sobre a história do local; e a substituição de fotos actuais da Cidade incluídas na decoração, por antigas recordando o que foi toda a a área envolvente.