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quinta-feira, 18 de novembro de 2010

53 - As estátuas da nossa Sala de Visitas

Sou um admirador de Estátuas e de Monumentos comemorativos. Temos bastantes espalhadas - e espalhados - pela cidade, sendo talvez o de maior grandiosidade e não só pelo tamanho, o conjunto na Rotunda da Boavista, memorizando a Guerra Peninsular e as Invasões Napoleónicas.

Da Praça da Liberdade até à Praça do Município e passando pela Avenida dos Aliados, encontramos várias estátuas merecedoras de um olhar e de uma foto. Nem sempre se consegue o melhor ângulo, pois estes espaços normalmente estão "alugados" desde bares a standes de automóveis, de barracas para festas de natal e afins, enfim, tudo que deixe dinheiro à Câmara, mesmo que desfeie a nossa Sala de Visitas. Começando de Sul para Norte, na Praça da Liberdade, está a homenagem ao Ardina. Obra de Manuel Dias de 1990. Representa o antigo vendedor de jornais, vulgo Ardina, que apregoava as manchetes dos jornais do dia. Houve alguns famosos na cidade, entre eles o Feio, que estava em Santa Catarina junto ao antigo Paladium. Refiro-me a este em particular, porque as feições da estátua, para mim e alguns amigos, é a reprodução desse homem, que julgo já ter falecido. Embora em altura, nada a condizer. No centro da mesma Praça está o monumento a D. Pedro IV - 1º do Brasil - da autoria do escultor Célestin Anatole Calmels (a estátua) e do arquitecto Joaquim Costa Lima. Foi inaugurado em 1866. Pesa 5 toneladas e tem cerca de 10 metros de altura
Representa o Rei segurando na mão direita a Carta Constituicional de 1826, vestido com a farda de Caçadores 5 e sobre ela uma espécie de sobrecasaca, seu traje habitual.
No pedestal duas cenas da vida do Rei, em baixo relevo. Do lado poente, a entrega do coração à Cidade do Porto - que está na Igreja da Lapa devidamente conservado - . Na altura da foto, este baixo relevo não deveria estar colocado, pois vê-se um pano preto. Mas lendo abaixo irão perceber porquê. Do lado nascente representa a entrega da Bandeira a Tomás de Melo Breyner, Comandante do Batalhão dos Voluntários da Rainha, após o Desembarque do Mindelo. A título de curiosidades, refira-se que esta bandeira foi bordada pelas Damas do Faial; O monumento foi pago pelos habitantes da Cidade; Tomás de Melo Breyner era familiar da escritora e poetisa Sofia de Melo Breyner Andresen, mas não encontrei nenhuma referência pessoal. Aliás a página da Wikipédia http://pt.wikipedia.org/wiki/Monumento_a_D._Pedro_IV faz uma ligação errada a um outro senhor com o mesmo nome e com certeza seu familiar.
Mais duas curiosidades: Primitivamente estes baixos relevos eram em mármore de Carrara - terão sido destruídos é o que presumo - e substituídos mais tarde por outros em bronze, que foram roubados em 2007 aquando da recuperação do monumento pela Porto com Pinta. Quando se retiraram os painéis publicitários, cá delas ? Quem as terá ? G'anda Pinta... Bom, para o caso não interessa nada. Fizeram-se novas placas partindo de fotos das anteriores, que foram colocadas em Março de 2008. Mas também fico cheio de dúvidas quanto à data, pois as duas fotos acima foram feitas em 12 Abril (com o pano preto) e 28 de Dezembro de 2007, já sem os panos.
Na base acenta um pedestal em Pedra Lioz um calcário raro existente na zona de Lisboa, principalmente na Serra de Sintra/Pêro Pinheiro. No frontal Norte, as Armas da Cidade do Porto.
No frontal sul, as armas dos Braganças.

Iniciando a subida da Avenida dos Aliados deparamos com a Juventude, mais conhecida como a Menina Nua.
Obra em mármore de Henrique Moreira de 1929 e a modelo foi a belíssima Aurélia Magalhães Monteiro (4/12/1910-2/6/1992)
No outro topo está a representação da Abundância, mais conhecida como "Os Meninos da Avenida" ou "Os Meninos Nus".
Obra igualmente de Henrique Moreira de 1931, em Bronze Dourado e taça contem Flores e Frutos.

Já na Praça do Município está o "Garrett" - na versão popular portuense - obra de Barata Feyo em bronze de Novembro de 1954. Concebida para assinalar o centenário da morte do Liberal Revolucionário, Poeta, Dramaturgo, Romancista, Jornalista, Político, Sedutor, João Baptista da Silva Leitão, mais tarde (1821, Almeida Garrett ) e feito Visconde (de Almeida Garrett) por Decreto Real de D. Pedro V de 25/6/1981. Nasceu no Porto em 4 de Fevereiro de 1779, viveu exilado na sua juventude na Ilha Terceira, nos Açores, e morreu em Lisboa em Novembro de 1854. Pelo meio exílios e funções diplomáticas e políticas na Europa e em Portugal. A ele se deve o Teatro Nacional D. Maria II, O Panteão Nacional e o Conservatório de Arte Dramática.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

52 - A Fábrica dos Chumbinhos

Há muito tempo que um edifício no centro histórico me intrigava pela sua altura em relação aos vizinhos. Visível de vários pontos das cidades do Porto e Gaia ainda mais se destaca devido à publicidade ao "Homem da Capa Preta" - Vinhos do Porto Sandeman. Ninguém ma paga mas é uma referência para o edifício se quiserem reparar nele. E mai'nada.Numa conversa sobre outros temas com o meu amigo Mário Lemos, vendo umas fotografias, apontei-lhe o edifício. Diz ele, é a Fábrica dos Chumbinhos.
Tratei de pesquisar na net o que era a tal fábrica. E a descoberta começa por saber que é um dos raros exemplares de shot tower em Portugal. (http://museudaindustriacd.blogspot.com) Porque não sou dado a línguas - nem às de vitela estufada acompanhada com ervilhas e puré de batata - fui ao tradutor da Wikipedia (http://en.wikipedia.org/wiki/Shot_tower) saber o que era o tal de shot tower. À letra descobri que é Torre de Tiro. Um aparte, e que tem a ver com o texto seguinte do Museu: que é única em Portugal. Como o título está escrito, parece que haverá mais raridades destas em Portugal. Ou temos confusão ou este exemplar raro é no mundo. Mas para o caso não interessa nada, pois só me interessa agora o edifício.
Fiquei a saber que a Torre de Tiro - deixemos as línguas - é uma torre projectada para a produção de bolas de tiro por queda livre de chumbo derretido, que depois é travado numa bacia de água. Utilizado como projécteis de armas de fogo.
O processo foi inventado pelo sr. Willian Watts e patenteado no século XVIII. E parece que o processo era coisa complicada.
Esta fábrica foi instalada cerca de 1880 por José Pereira Cardoso na Rua de S. Francisco, em pleno Centro Histórico. Tem cerca de 45 metros de altura e lá de cima caía o chumbo.
Nos finais da década de 60 do século passado terminou a produção, mas continuam em exposição, pelo menos periodicamente, os fornos e apetrechos de fabrico.
E assim matei a minha curiosidade

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

51 - As Virtudes

As Virtudes são como uma espécie de lugar - que na realidade o é, na Freguesia de Miragaia - mas que abrange Rua, Calçada, Passeio, Alameda, Fonte, Jardim, e também Judeus, Padres, Ingleses, Muralhas, Horto, Miradouro, Burgueses. E a lembrança recente de amigos da extinta Taverna de S. Jorge, (creio que anteriormente se chamaria Passeio das Virtudes e onde declamava os seus versos Vasco de Lima Couto, poeta grande da Cidade) um já falecido, o guitarrista Jorge Barradas, madeirense de nascimento, portuense de adopção, um dos fundadores dos 3 de Portugal e criador do bonito Fado "Cidade das 3 Pontes", na década de 80 do século passado. Ela, cidade, a minha, o Porto, que agora tem 6 Pontes. Uma casa e amizades que me deixaram muitas saudades. Hoje é um restaurante, não direi de luxo, mas com preços de comidas e bebidas a saber a tal. E nada de especial neste campo. A nascente encontramos a casa dos Padres Bernardos, que já aqui viviam pelo menos no ano de 1619. De mão em mão após a extinção das ordens religiosas acabou por ser vendida ao Clube Inglês em 1923. Abandonada e degradada, foi recuperada e é hoje uma instituição de solidariedade social, que segundo li, da responsabilidade da Ordem de Malta . Parece que no seu interior tem pormenores de arquitectura dignos de visita. Por aqui existia a Porta ou Postigo das Virtudes, uma das passagens nas Muralhas Fernandinas para o interior da Cidade. Até ao século XIX.
Por ali ainda se podem ver alguns torreões e panos das Muralhas bem conservados

No Passeio ou Alameda das Virtudes, que já foi Praça, olhando para Norte, encontramos estas casas (na verdade não sei se são as originais, recuperadas) que foram da Procuradoria, se a minha interpretação é correcta dos textos que fui lendo, dos tais Padres Bernardos. Se bem tenha escrito, anteriormente, que o cemitério Judeu poderia ter existido na Bandeirinha, também é verdade que escrevi e porque li, claro, que poderia ser na Calçada das Virtudes; agora também leio que poderá ter sido aqui, na Alameda. É certo, a calçada passa perto, mas bem lá em abaixo. E como não há nada escrito, tanto quanto sei, os palpites disparam. Uma coisa sei, da primitiva judiaria lá em Monchique até aqui é um pedacinho razoável. Mas vou-me deixar de palpites e seguir em frente. Legendando a foto, é uma vista do Passeio ou Alameda das Virtudes sobre Miragaia de baixo. Os terrenos para a sua construção foram doados pelos tais Padres Bernardos para que a Câmara construísse o miradouro que planeou, sobre o Rio e sobre Gaia. Poder-se-ia ver também a Foz. Um aspecto sobre o antigo Horto das Virtudes, hoje Jardim, visto da Alameda. Que tem umas grades de protecção para evitar que possíveis suicidas com ideias pré-concebidas as percam. A ideia foi equacionada desde o início da sua construção. É o que dizem os escritos.
A Calçada deve ter sido aberta por altura da construção da Fonte que está lá no fundo. Ora se uma é de 1619, a outra não deve andar longe desta data. Penso eu. Criou-se aqui um passeio público muito bem frequentado e segundo os cronistas, pelas mais belas mulheres da Cidade. Para que os coches pudessem passar e vir até aqui ao sítio, alargou-se a Porta das Virtudes, aberta nas Muralhas. Do lado direito de quem desce, foi construído um paredão que veio a ruir. Passados anos construiu-se outro, com arcos. Mas como cenas menos dignas para a moral vigente ali se passavam, foram os arcos entaipados, como ainda hoje se podem observar.
Do Jardim das Virtudes, podem-se ver bem a Alameda, a Calçada, o Paredão com os Arcos. E as costas do Chafariz ou Fonte. E o parque de estacionamento.
O Chafariz das Virtudes ou Fonte do Rio Frio é Monumento Nacional, construída em 1619, para aproveitamento das águas do Rio que nascia para os lados da actual Rua da Torrinha, em Cedofeita e que desagua no Douro. Agora por baixo da Alfandega, mas anteriormente na chamada Praia de Miragaia. Onde estão as casas arcadas, já referidas em escritos anteriores. Tem duas carrancas que vertiam a água para um tanque. Francamente, ou o tanque desapareceu destruído ou está subterrado. Um dia destes, com uma manobra menos feliz de um condutor, lá vão as carrancas também. Será que não era de proteger o pobre Monumento Nacional ? Nesta foto do princípio do século XX, creio que de Arnaldo Soares, o tal tanque já não existia. Se é que alguma vez existiu. Pelo menos é o que dá para se entender. É verdade que foi o Chafariz vandalisado. Nesta data já não existia no nicho a imagem que deveria ser de Nossa Senhora das Virtudes.Este painel também está em muito mau estado. E no escudo ao alto, também faltam dois castelos.

As carrancas têm agora na boca uns tubos de chapa, não sei para quê, pois a fonte está desactivada. Será o tanque aquelas formas côncavas por baixo das carrancas ? Ou será desconhecimento do autor do escrito primitivo ? Como se pode comprovar, os carros estão estacionados a meio metro.
Convido a voltarmo-nos a situar no Passeio ou Alameda, mas agora olhando, digamos assim, para Poente. Encontramos do lado esquerdo o edifício da Cooperativa Árvore, de ensino de artes e como tal tem os seus muros cheiinhos de grafitis. É uma casa de 1767, pertença dos Albuquerques. Não sei se são os mesmos que anteriormente referi, mas se são, não há dúvida que era gente cheia de nota. Em frente, uns passos abaixo, existe outro casarão mas entaipado, com uns grafitis até que bonitinhos, e do qual sobressai apenas um brasão. Como não encontrei nenhuma referência à casa, passo adiante.
A casa tinha anexa uma quinta, o actual Jardim das Virtudes, de onde esta imagem foi obtida. No alto o Palácio da Justiça e um pouco escondida a Igreja de S. José das Taipas, que nunca está aberta, pelo menos nas horas decentes que por lá passo. E já foram muitas as vezes. Parece que possui uma das três obras "flamengas" da Cidade. As outros são o retábulo da Capela dos Alfaiates e o tríptico de Pentecostes na Igreja de Miragaia. Ambos já por aqui mostrados.
Aspecto do Jardim, próximo do Largo do Viriato. Nele esteve instalada uma bateria aquando do Cerco da Cidade durante as Lutas Liberais.
Mas antes também era um quinta que passou a ser Horto. Em 1884 é de José Marques Loureiro, que criou estufas onde produziu ananazes. Parece que com sucesso. Dedicou-se também ao cultivo de plantas chegando a ser fornecedor oficial da Casa Real.
Os primeiros catálogos de flores e fruteiras na nossa língua são lançados por ele.

A quinta-horto ocupava uma área bastante grande, mas acabou por ser retalhada. Li no sítio de Junta de freguesia que serão da quinta original, algumas das árvores que se vêm pelas encostas de Miragaia. Mas li também em http://dias-com-arvores.blogspot.com/2004/09/jardim-das-virtudes-visto-da-rvore.html que nada existe do velho Horto, (ou serão só as camélias ?) com excepção de uma árvore de nome Ginkgo, bicentenária, classificada como de interesse público.
Não sei quando passou para a posse da Câmara, mas sei que em 1996 foi reconvertido em Jardim Público. Que pelos vistos esteve muito tempo fechado, ou por longos períodos, pois nunca o vi aberto nestes últimos 4 anos.
Reabriu em Junho, e dele podem apreciar-se belas paísagens sobre Miragaia, o Douro e Gaia.
Pormenores


Miragaia e os seus Armazéns
A Igreja de Miragaia no centro do casario.
À direita a Alfândega
Vista parcial de um bairro social impulsionado pelo saudoso Padre Américo.

Uma nota para os visitantes. O Jardim tem duas entradas. Uma pela Rua Azevedo de Albuquerque, de quem vem do Viriato ou descendo pela Cordoaria. Outra pela Rua de S. Pedro de Miragaia, logo a seguir ao Chafariz das Virtudes.

Bons passeios.