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quinta-feira, 9 de junho de 2011

78 - Alfândega Velha ou Casa do Infante

O Arquivo Histórico Municipal, desde a época medieval até aos nossos dias, está guardado numa das casas mais antigas da Cidade do Porto: A Alfândega Velha ou Casa do Infante. Reza a lenda que foi aqui o seu nascimento. Dúvidas não há que ele nasceu no Porto a 4 de Março de 1394, pois no Arquivo encontram-se guardados os papeis com as despesas do baptizado e porque também assim reza a crónica de Fernão Lopes sobre o assunto. Há quem aponte ter sido no Mosteiro de Leça do Balio (ou Bailio ?), casa e local de muitas afinidades a D. João I. Mas porque era o edifício civil mais importante da Cidade à época e pertencer ao Reino, associado à descoberta de aposentos na torre Norte, a lenda pode ser transformada em verdade. Certo é que para os Portuenses foi e será sempre a Casa onde nasceu D. Henrique, o Navegador. O Infante.Tudo começa com o desenvolvimento da Cidade e a construção do Cais, que presumo ser o actual da Estiva. Os impostos sobre as mercadorias entradas no Douro eram cobrados pelo Bispo e a Mitra era dona destes terrenos. Em 1325, o Rei D. Afonso IV manda erguer um Armazém Régio e os impostos passam para a coroa. Lògicamente Rei e Bispo entram em conflito . Ganhou o Rei e assim nasceu a Alfândega do Porto. Só quási 545 anos mais tarde, passa para o novo Edifício da Alfândega, em Miragaia, que passa a funcionar desde 1869.

O edifício sofreu muitas alterações ao longo dos séculos, devido ao crescente desenvolvimento da Cidade e ao aumento do movimento marítimo e fluvial. Logo no século XV, D. João I manda construir um corpo avançado, contribuindo para a sua monumentalidade. Com a abertura da Alfândega Nova, o edifício perdeu as suas características e já só era um armazém onde os comerciantes guardavam as mercadorias. Numa foto mais recente, vêm-se os chamados carrejões, vindos do Rio, transportando mercadorias - parecem fardos de bacalhau - subindo a rua junto ao edifício. Ou para nele as depositar ou as entregarem no Mercado Ferreira Borges. Porque para os Armazéns da Rua de S. João não eram, por estarem afastados, embora não muito, deste local. Mas são conjecturas minhas. O edifício visto de Norte para sul, com o Rio em Fundo. Para se chegar à estrutura actual muitas obras e cheias aconteceram no Douro.Por cima da porta da entrada principal, uma memória das comemorações henriquinas de 1894 recordando o 5º centenário do nascimento do Infante. Passando a entrada, um primeiro pátio interior, recorda uma das muitas ampliações que a Casa sofreu. À direita, a nova loja. O arco com as pedras provàvelmente simbolisará o primitivo da entrada que dava acesso ao pátio interior. Não sei.

Sabemos que de entre as várias ampliações, uma foi muito importante, mandada fazer por D. Pedro II. A Casa da Alfândega foi pràticamente reedificada em 1677. A fachada avançou para a rua conforme o é hoje. Uma placa marca esta importante obra.
O edifício primitivo era constituído por 2 torres e um pátio central. Na torre norte foram descobertos vestígios de alojamentos. Além dos serviços da Coroa, funcionava também a Casa da Moeda.


Manteve-se o pátio interior, mas as torres quatrocentistas foram substituídas por alpendres cobertos, e a cota dos novos pavimentos foi uniformizada. Os armazéns interiores foram unidos num espaço organizado em três naves com arcarias, e a fachada principal, que em 1462 já avançara em direcção à rua, recebeu mais dois pisos, passando a dominar de forma ainda mais marcante o espaço público. Neste corpo principal funcionavam então os serviços deslocados das torres, e aí foi construída uma larga escadaria central de acesso à zona de habitação do segundo piso.

A Casa da Moeda sofreu também alterações passando a funcionar num espaço mais reduzido.Já em meados do século XX, sofreu importantes obras de conservação; as escavações arqueológicas em curso a partir de 1991 permitiram identificar, para além das estruturas medievais, também os vestígios de uma grande construção romana.


Dessa ocupação romana, destacam-se os primeiros mosaicos do Baixo Império encontrados no Porto. A musealização destes vestígios, no local onde foram descobertos, foi um elemento essencial do projecto de transformação das instalações.


Um circuito de visita museológico ilustra a história do local


Fragmentos de azulejos Hispano-Mouriscos


Elementos de construção achados no local


Cerâmicas servem para mostrar a actividade comercial ao longo dos séculos


A evolução do azulejo cerâmico produzidos por várias fábricas


Umas cerâmicas em meia-cana chamaram a atenção e a curiosidade levou-me a perguntar para que serviam. Para decorar os beirais da casas. Estas amostras foram achadas aquando da recuperação da Ribeira após a grande demolição. E fui informado de haverem casas no Muro da Ribeira que ainda as tinham. Na primeira oportunidade eis-me de nariz no ar e na realidade descobri algumas casas.

Do lado norte da Casa do Infante, existiu a primeira Bolsa de Comerciantes fundada no século XV. Ao lado abriu-se uma porta aquando das remodelações do séc. XVII.
Essa porta seiscentista ainda se pode ver, bem como as armas de Aviz, uma homenagem ao Rei D. João I, fundador da Dinastia, pelo seu envolvimento na abertura da Rua Nova, depois Rua dos Ingleses e é a actual Rua do Infante D. Henrique

No lado oriental, num amplo recinto, depois reduzido, funcionava a Casa da Moeda. A recuperação do edifício, permite-nos ver as paredes e alicerces.





Também podemos apreciar alguns documentos e moedas que chegaram até aos nossos dias. Claro que no Arquivo Histórico Municipal do Porto devem haver muitos mais. É logo ali ao lado.Recomendo uma visita a este Monumento Nacional desde 2 de Julho de 1924