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domingo, 24 de junho de 2012

133 - Porque é Dia de S. João

Resolvi pôr-me a pé de madrugada e ir ver como estava a minha Cidade do Porto em dia de S. João. Esclareço que para nós, Tripeiros, este dia não é um, mas sim dois em um. Isto é, o S. João começa a 23 e acaba a 24. Quem não entende só tem de vir cá para entender.
Às 9h em ponto estava a apanhar o autocarro que me deixaria no Bolhão, ponto escolhido para iniciar o passeio. Às 9,30 estava a apreciar o "cimbalino" da ordem para me ajudar a acordar e a arrumar as ideias e foi só entrar no Mercado.

Acontece que só uma necessidade grande como a de hoje me leva a entrar nas ruínas do que foi o velho Mercado do Bolhão. O nosso Presidente Rui Rio, com tantos anos já decorridos após discussões, controvérsias, sobrancerias, ainda não sabe o que fazer desta "coisa". Nem vai resolver e quem vier atrás que feche a porta. É assim um Presidente à Moda do Porto mas já estamos habituados a eles. E a malta já esqueceu todas as discussões, abaixo assinados, manifestações, tudo para inglês ver.
Mas é triste ver os turistas - provàvelmente devem-lhes ter falado da beleza (que foi) do Mercado -olharem para isto e notar-se-lhes a cara de desagrado e medo que demonstram. Tal qual eu.

Mas é dia de S. João e de Sardinhas. Uma volta pelas poucas peixarias ainda abertas e fiquei a ver a compra/venda das "tolinhas". Uma senhora pediu meia dúzia, a peixeira fez de conta que foi pesá-las e toma, 10 euros, bem pesados. Ouvi o desabafo da senhora compradora. E anotei o roubo, pois 6 sardinhas daquele tamanho não pesam meio kilo, para quem estava a vendê-las a 20€ Kg.
Já há muitos anos que pouco compro no Bolhão. Então peixe nem se fala. Se queres ser roubado vem ao Bolhão. Adiante...

Pela saída da Rua Formosa, atravessei-a e fui espreitar as vitrinas do meu algumas vezes fornecedor de carne, os Talhos da Boavista. Só para ver a como estavam o cabrito e o borrego. Estão aí os preços. E dão a factura/recibo.

Santa Catarina estava deserta, o comércio ainda fechado, no Majestic colocavam a esplanada. Chegado às portas da Batalha, olhar os Clérigos nunca cansa.
Na Praça da Batalha também os comerciantes do S. João estavam ainda a colocar os seus pontos de venda.
Manjericos fresquinhos e as belas quadras populares que os enfeitam.
Acabados de chegar ao ponto encostado ao cinema Batalha, martelinhos, erva cidreira, limonete, alfazema e alhos porros.
Rumei às Fontaínhas pela Rua de Alexandre Herculano, com pouco movimento. Estranhei, mas...
Aspectos da Feira
... ao chegar às Fontaínhas deparou-se-me a Feira das Velharias, antigamente chamada de Vandoma, quando se realizava junto à Sé. Fiquei impressionado com a quantidade de expositores e visitantes. Só uma vez e já lá vão uns 5 a 6 anos passei aqui mas da parte de tarde, onde apenas se encontravam meia dúzia de lugares com produtos das feiras tradicionais.
O espaço ocupado é enorme, desde quási da Rua que vem do Colégio dos Órfãos desaguar ao largo, até ao parque de estacionamento em Actor Dias, à vontade um kilómetro de caminho, mas também desce pelas Carquejeiras (antiga Corticeira) até quási ao Rio. Tema para futuras histórias.
Claro que os carroceis, restaurantes, barracas de farturas, dos jogos de matraquilhos, estavam fechados.
A Corticeira, ou Carquejeiras, como queiram

Para oriente, as Pontes do Infante, de D. Maria e de S. João
Ao longo da Alameda e Passeio das Fontaínhas, é belíssima a vista sobre o Douro, a Serra do Pilar em fundo, as Pontes à Esquerda e à Direita. E a neblina tão característica. Negativamente ver o casario que está encostado ao morro, todo em ruínas há anos. Uma pena desfrutar estas panorâmicas e olhar por baixo de nós aquela miséria. Mais uma in-solução da Câmara do sr. Rui Rio
No que foi o belíssimo Passeio das Fontaínhas, para além das ruínas, restam estes banquinhos. Aqui era um dos locais privilegiados para ser ver o fogo de artifício quando era lançado da Serra do Pilar.
Ao fundo, a Ponte Luíz I.
Caminhei no sentido da Sé e não podia deixar de lado as Muralhas Fernandinas e a memória de Arnaldo Gama.

Num tasquinho em frente ao Convento de Santa Clara, espreitei a ementa ao lado do Manjerico, do Santo, dos Balões. Por curiosidade, uma dose de 4 sardinhas mais batata estava a 5 euros.
Na Sé, uma multidão de turistas. Entrei só para ver se conseguia uma bela foto da rosácea, mas logo vi que seria impossível, pois além da luz não estar boa, esqueci do tripé.
Claro que a Sé não é só a Igreja com tanta história, a beleza e riqueza dos seus altares, as suas Virgens e Padroeiras. Curioso que ninguém repara na Galilé de Nasoni. "Coisa de menor importância", pensarão os Guias. Mas é bom ouvir comentários de Beautiful de quem regressa da visita ao interior - Sacristia, Claustros, Casa do Cabido, Azulejaria, Arte Sacra, Tesouros. Mas visitarão a Arqueologia, as Capelas interiores, o túmulo de João Gordo ?
Comecei a descer o Morro da Sé ou de Pena Ventosa no sentido da Ribeira pelos Grilos e olhar não custa para as velhas ruas medievais, engalanadas singelamente em homenagem ao S. João. Aqui é a Rua das Aldas, onde o Sol nunca chega ao chão.
Olhando para trás e sente-se a "enormidade" da Frontaria da Igreja dos Grilos, na verdade chama-se de S. Lourenço. Para os interessados, informo que agora está aberta de terça feira a sábado das 10 até às 19 h.
E é uma pena não se verem visitantes nesta Igreja, muito menos ao pequeno mas interessante museu de arqueologia onde está reconstituído um Pátio Romano com Fonte e Lago e ao belíssimo Museu de Arte Sacra com peças únicas, seculares, que lhe estão anexos. Não entendo a pouca importância que dão a este conjunto fabuloso.
Sempre na penumbra destas Ruas medievais, segui pela de Santana, recordando a História e o Romance  de Almeida Garrett "O Arco de Santana", onde este existiu até ao fim do séc. XIX, entroncando com a da Bainharia e descendo pela dos Mercadores.

Um belo enfeite Joanino nos Mercadores, a antiga via Romana que ligava a Ribeira ao Norte de Portugal.

E eis-me na Praça mais famosa e secular da Cidade, a da Ribeira. Na bela Fonte de S. João, repousa uma estátua do Santo, de Cutileiro, que cá para mim é a coisa mais feia do universo em nada condizente com o traçado arquitectónico da Fonte nem da Praça, toda ela em granito, ferro forjado e azulejos. Mas quem sou eu para entender de arte.
Ao fundo à esquerda, o novo hotel recuperado de um velho edifício.
Um saltinho até ao Rio onde os novos-velhos Rabelos estão preparados para receber os foliões da água-doce da noite.
Surpresa, junto ao que foram as antigas e já destruídas Escadas das Padeiras, o Prof. Joel Cleto dando uma aula de História.
Subi até ao Muro e deu para ver as barcaças que vão soltar o Fogo de Artifício à meia-noite já no seu sítio.
Mas o calor apertava, deveriam estar uns 22 a 23 graus, a caminhada foi longa e era a hora de tomar uma loirinha no meu local preferido: O Mira Douro.
Junto ao Túnel tomei um autocarro até aos Loios. Sim, porque todos sabem que subir não é comigo. E entre um sinal vermelho e verde, mais uma recordação dos Clérigos.
Precisava urgente de ir visitar o Egas, mas pelo caminho um olhar às montras do Intercontinental no recuperado, em parte, Convento dos Loios. Esta reflectiva da Praça é só para chatear o meu amigo Jorge Peixoto.
Por curiosidade aqui deixo a informação que o Breakfast Executivo, das 7,30 às 10 h, custa 10 Euros. E o jantar de segunda a sexta custa 17,5 euros e compõe-se de entradas ou sobremesa, prato de carne ou peixe. Francamente, não lembro se tem vinho incluído, pão, café e bagaço. Mas acho que não. Para o Bando não serve, penso eu de que...

Então já meio a correr fui visitar o Egas. Esta foto foi depois das águas terem corrido, com o dito em fundo e os turistas a fotografar a que é considerada a sexta mais bela Estação Ferroviária do Mundo.
Cá fora os martelinhos desde 1,5 euro a 3 euros. Depende do barulho o seu preço.

E as Quadras populares para colocar nos manjericos. É à escolha Freguês...
Quando as saias arregaças
Para bailares livremente
Maria és cheia de graça
Mas és a desgraça da gente

Venha cá freguês, olha o belo Manjerico, de 2 a 4 euros. Leve um freguês....

De regresso ao Bolhão por Sá da Bandeira, uma das montras do Bazar Paris.
Finalmente o ponto do autocarro. E como é bom ver uma senhora recordando talvez outras épocas, com o alho porro, provàvelmente para o colocar por detrás da porta por causa do mau olhado. E se ele se conservar um ano é protecção sem dúvida. Episódios da Vida.
Umas jovens turistas saboreando uma refeição ligeira. Que S. João vos traga cá mais vezes.
E pronto. Foi uma caminhada e pêras. Logo não estarei lá.
Mas vai ser assim a noite.
Adeus, até ao ano, S. João.

Esta Festa está associada ao nascimento de S. João Baptista, o Profeta que previu o advento do Messias. Tem uma tradição de mais de 400 anos na Cidade do Porto, sendo considerado desde há 100 anos o dia 24 feriado municipal. Há dois séculos atrás, mais ou menos, haviam três S. Joões, (em pronúncia do Norte) na Cidade: O de Cedofeita, o da Lapa e o do Bonfim. Era a política, a aristocracia e o povo que queria o do Bonfim. Ainda hoje Bonfim é quem manda, e a tradição diz que é pelas Fontaínhas que começa a noitada. Embora depois tenha descido até à Ribeira - Sé e S. Nicolau - e passando para os bairros ao longo do Rio: Miragaia, Massarelos. Lordelo até à Foz. A Igreja de S. João da Foz é em sua homenagem.
Outras homenagens a Santos são de particular festividades em algumas das freguesias ribeirinhas, em nada influenciando a de S. João. A de S. Bartolomeu na Foz e a de S. Pedro em Miragaia.
Tradições culinárias estão também associadas a estas festividades: A sardinha assada, o café forte com pão para aguentar a noitada e no dia 24 o cabrito assado. Assim fui ensinado e habituado desde pequenino, assim mantenho a tradição. 
Uma nota. Este escrito foi começado ontem, 23. Acontece que por qualquer motivo durante a sua feitura, desapareceu pura e simplesmente. Nem registado automàticamente ficou a não ser o título. Por isso, caros amigos, imaginem-me "ontem" e não hoje que o S. João está a acabar.