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segunda-feira, 19 de julho de 2010

30 - Ruas históricas do meu Porto - III- Madeira e Loureiro

Para completar o percurso que me propus mostrar, este é o terceiro episódio de uma viagem, que acaba quási onde o primeiro começou.

Estamos na Praça da Batalha, vindos do Cativo e entramos na Rua da Madeira, tendo à esquerda a Rua do Cimo de Vila. Na esquina, antes era o lindo e elegante Grande Hotel da Batalha. Hoje é um hotel de uma cadeia internacional.
Quando começamos a descer, logo deparamos com uma "ruína", mas nada de desanimar.
São de uma velha fábrica desactivada há umas dezenas de anos. E para ali está sem solução.

Por aqui desciam também as Muralhas Fernandinas. Do lado esquerdo. Ultrapassemos este primeiro declive e como é bela esta vista que se nos depara sobre o casario e os Clérigos.
Esta foto foi obtida no dia 1 de Maio de 2007,
com a minha velha e perdida Olimpus made in china.
A Rua da Madeira só tem este nome desde 1902. Anteriormente, não sei desde quando, chamava-se Calçada da Teresa. Depois das escadas, a rapaziada encostada ao varandim de ferro, olhava para o "90", sempre fechado, pois era "casa" só para gente de posses.
Actualmente existem prédios em ruínas e outros bem conservados. Há quem diga que são as traseiras dos edifícios da Rua 31 de Janeiro. Até pode ser, mas as entradas são independentes, pelo menos dos que eu conheço.
Foi famosa esta artéria antiquíssima. Do lado esquerdo, por dentro das muralhas, havia o antigo Convento de S. Bento de Avé-Maria, edificado nas Hortas do Bispo, no séc. XVI. Após as extinções das ordens religiosas foi entrando em ruína e demolido em finais do séc. XIX. Agora é a Estação de S. Bento. Há uma dúzia de anos atrás, aos domingos de manhã, realizava-se aqui uma feira, denominada dos Passarinhos (actualmente está localizada no Largo Mártires da Pátria, na Vitória, entre os Clérigos e o Aljube.) Dizia-me o meu irmão que era linda, pela quantidade e variedade de aves que se negociavam. Era uma feira clandestina, tolerada pelos serviços municipais e onde se vendia gato por lebre. Falo de ouvir dizer. Nunca a visitei.
Aqui haviam imensos despachantes de mercadorias, os chamados recoveiros. Transportadas por caminho de ferro para/e terras do Minho e Douro. Os seus escritórios eram as tascas que existiam ao longo da rua, onde se almoçava e jantava a preços económicos. Mas também se bebia um copo e comia um petisco ao longo da tarde. Restam poucas desse tempo. O Quim, o Viseu e mais duas ou três.
Saímos da Rua da Madeira, atravessamos o átrio da Estação de S. Bento e vamos dar à Rua do Loureiro. Aparece a primeira vez na toponímia portuense em 1701. Era aqui que ficava a entrada da Igreja do Convento, dizem que acolhia uma maravilha de arte, mas foi totalmente destruída. Foi famosa nos anos 60/70 derivado ao seu comércio de electrodomésticos e aparelhagens de som. Aqui se comprava barato o auto-rádio, nos velhos temos em que isso era um luxo.
Mas também era famosa pelos seus restaurantes, petisqueiras e mercearias de luxo. No Onix lanchei/jantei muitas vezes, antes das aulas nocturnas na velha Oliveira Martins. Os rojões, o fígado de boi de cebolada, o bacalhau frito, o polvo em molho verde, o buxo e a orelheira, as tripas enfarinhadas, um nunca mais acabar de petiscos excelentes, que com dois copos a sair dos pipos eram uma refeição barata.
Remodelou-se esta casa nos anos 70, deixando o aspecto de tasco e nunca mais foi a mesma. Foi vendido um espaço ao "Italiano dos 300" e hoje está fechado. É a vida...
Mas é obrigatória a entrada na Pastelaria A Serrana. Impressionante a beleza do tecto e do interior, com lindíssimos frescos, relevos, figuras decorativas, espelhos, quadros e um varandim em ferro com delicados desenhos.
Tem mais de 100 anos esta decoração, restaurada há pouco tempo. A não perder uma visita.
Pegado, temos este vistoso prédio sempre decorado com as bandeiras de Portugal, que abriga um restaurante/petisqueira que faz jus à tradição de se comer bem no Porto. É um dos meus locais preferidos.
Mas ainda existem duas ou três, não direi mercearias ricas, mas bem fornecidas de queijo e charcutaria.
Um prazer para o olhar - primeiro - e gosto depois.
O comércio já não é o que era, mas ainda é bem frequentada a rua do Loureiro. Negoceia-se mas os artigos chineses estão em maioria.
Como disse no 1º capítulo, isto são ruas sem princípio nem fim. Começam e/ou acabam umas nas outras, cruzam-se, angulam-se e aqui estamos a chegar ao princípio. Isto é, à Rua Chã.
Um último olhar para trás, com a Estação de S. Bento à direita.
















29 - Ruas históricas do meu Porto II - Cativo e Portas do Sol

Voltando às ruas "vielas" que os turistas não frequentam, mas nós tripeiros e gentes daqui bem próximo o fazemos e em continuação do meu escrito anterior, relembro que estamos dentro da velha Cerca Medieval, ou Muralhas Fernandinas.
Faço propositadamente uma batota só para localizar, a quem se dignar seguir-me, onde estamos. Mas não liguem à fraca qualidade das fotos. São feitas de passagem, com luz a favor ou contra, guardadas para um dia, como hoje, falar da história da minha cidade (pobre de mim falar de coisa tão séria ...) e das minhas recordações.
Então vamos olhar a última torre das Muralhas Fernandinas desde a "nóvel" rua Augusto Rosa (homenagem ao grande actor), e do parque fronteiro ao antigo edifício do Governo Civil. Só para uma localização.
Agora que estamos localizados, por detrás do antigo edifício do Governo Civil segue a Rua das Portas do Sol. Pois era por aqui que as muralhas passavam. Para além da esquadra da Polícia da Sé - se não estou em erro - há uns edifícios bem recuperados e outros a desfazerem-se. Como os estatais (ou camarários ?), já referidos num dos meus primeiros escritos/fotográficos. E Portas do Sol porquê ? Porque existiu próximo, uma porta nas Muralhas para a entrada e saída da Cidade com esse nome. Creio que este nome toponímico vem desde essa época - séc. XIV. Nada me elucida.

Ficando de costas para as Portas do Sol, caminhemos para a Praça da Batalha e à esquerda encontramos a Rua do Cativo, já referida em 1492, mas como viela. O nome de rua veio-lhe em 1743. E que vai dar ao Largo da Rua Chã. Era um dos meus passeios da juventude com a "malta", porque tinha uns bares bem simples onde a par da cerveja barata podíamos olhar os "manequins" da época sem ninguém chatear. Se a memória não me falha, o mais badalado era o da "Teresa". Pegadinho, era um fabricante de Bilhares e jogos de mesa, vulgo matraquilhos. Creio que se chamava Progredior. E claro, haviam as pensões do "sobe e desce".
Prédios com vários andares, alguns deles a pedirem reformas urgentes.
Na esquina, do lado esquerdo encontramos as traseiras do Hospital da Ordem do Terço e à direita as do Teatro Nacional de S. João. Novamente em restauro. A qualidade da sua pedra e a pintura assim obrigam.
Aqui temos duas travessas. As do Cativo e do Cimo de Vila. Perpendiculares.
À direita o Hospital da Ordem do Terço, do séc. XVIII.
Em frente, um edifício meio degradado, do séc. XIX, que já albergou um restaurante de certa qualidade e preços bem em conta. Outros tempos...
Esta parte da cidade menos "velha", entrando já na Praça da Batalha, tem edifícios que foram propriedade de gente fina.
Pormenor do Hospital da Ordem do Terço

E porque logo ali temos o Teatro Nacional de S. João, onde a grandes filmes assisti, bem refastelado nas suas cómodas cadeiras forradas a veludo vermelho, aqui deixo um pouco da sua estória.
Foi o actual edifício construído em 1911 sobre as ruínas do anterior, destruído num incêndio em 1908, e que foi inaugurado em 1798 com uma peça teatral.
O prédio actual não tem uma definição de estilo, mas é de uma imponência grandiosa, especialmente a sua frontaria. O interior foi decorado com pinturas e esculturas de grandes nomes das artes.
É um dos edifícios de maior relevo da Cidade do Porto.