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segunda-feira, 5 de novembro de 2012

144 - Póvoa de Varzim - Entre o Mar e as Maceiras

Antes de iniciar esta pequena história de mais um olhar à minha volta e tentar perceber o que me rodeia, dei fé que nunca dediquei qualquer página à bela Cidade e Concelho da Póvoa de Varzim, possuidora de uma história que se perde no tempo, a arqueologia prevê que foi há 200 mil anos A.C. quando tudo começou. Parece que foi ontem...
É certo que já fiz uns trabalhos sobre ela. Bem divulgados e acarinhados pelos meus amigos e digo-o com uma certa vaidade.
Terra de muitos Brasileiros, seguindo o exemplo de Tomé de Sousa, o primeiro governador do Brasil, nascido a 7 léguas a Norte do Porto, em Rates; de Eça de Queiroz nascido em 25 de Novembro de 1845; de Heróis Pescadores e Salva-vidas, muita gente ilustre, umas mais conhecidas do que outras. E claro do Varzim Sport Clube, a primeira de entre centenas de filiais, do Futebol Clube do Porto.
Prometo aprofundar nestas páginas em futuro próximo, a Vida, as Gentes, a Cultura, o Turismo deste Concelho da Póvoa de Varzim.

Mas este singelo escrito de hoje é dedicado ao meu velho amigo Brasileiro João Carlos, a matar saudades da sua Terra, que me prometeu uma pequena viagem com muitas histórias e saberes. Para aproveitar ao máximo, lá voltei a levantar-me de madrugada e 3 horas depois estava na Póvoa. Com alguma chuva e céu muito enublado saímos da Cidade pelo Norte e para a Orla Atlântica.  

Freguesias e Lugares que não conhecia deste lado mas o mar é surpreendente. Ouvi atentamente as histórias de juventude e não só do meu amigo João, anotei pequenas coisas, que a net depois me divulgou em pormenor.
Esta bela casa, provàvelmente um moinho antigo, está perfeitamente enquadrada no ambiente.

A chuva não permitiu a memória em fotos dos caminhos, que saindo das antigas estradas de terra batida, agora empedradas, terminam afastados das dunas e dos areais, mas seguindo por novos caminhos em madeira protegendo a natureza. Alguns comércios bem enquadrados com o ambiente e logo por aí se encontram as Medas de Sargaço, recolhidas do Mar para adubar a Terra.

Uma novidade para mim, a existência de moinhos nesta região da beira-mar. Os de S. Félix, que nunca visitei, no ponto mais alto do Concelho da Póvoa de Varzim para leste, são famosos. Sobre estes não encontrei uma única palavra. Não havendo por aqui a tradição do cultivo de cereais de grão, porque existiam os moinhos ? Uma pena não saber mais.
Este, devidamente reconstruído, está à venda. Se eu tivesse dinheiro...

Falou-me o amigo João, que no seu tempo de jovem, vinha ele e os amigos, com uma mão de ferro adaptada de uma espátula (ou colher) de trolha, junto a este rochedo apanhar percebas. Anotei na memória, embora ela já não seja o que foi..., ser a Pedra da Forcada, o único rochedo sempre emerso ao largo da Póvoa de Varzim. É uma baliza ao largo da Praia da Fragosa entre as enseadas da Lagoa e de Aver-o-Mar. Ele bem me disse, depois daquelas pedras há uma praia linda. Mas o tempo do ar e o do relógio, não permitiram mais.

Caminhando para Norte, voltando aos caminhos estreitinhos, zigzagueando, saímos e regressamos até perto do areal. Tudo devidamente protegido, quem quiser passeia pela areia, quem não quiser vai pelo passadiço de madeira.

E voltei ao meu tempo de menino, onde na instrução primária devo ter aprendido, apontando o velho Mapa de Portugal que tinha tudo, ser aqui o cabo de Santo André.
Mas a história é profunda e diz-nos " é muito possivelmente o antigo Promontorium Avarus romano ou Auaron (Auapov akpov) referido pelo geógrafo Ptolomeu da Grécia Antiga, no território dos Callaici Bracares, o povo que habitava a região e possívelmente da etnia céltica Nemetatoi ou Nemetatos, entre os Rio Avus (Ave) e Nebis (Neiva). O nome Auaron é de possível origem celta. 

Estávamos nos terrenos adjacentes à Estalagem de Santo André, hoje uma belíssima 4 estrelas, nascida pequenina nos anos 60. Encostada, encontra-se uma formação rochosa chamada Penedo do Santo, com umas marcas que os Pescadores crêem ser pégadas do próprio Santo André.
No último dia de Novembro, ocorre de madrugada a peregrinação de Santo André, em que grupos de pessoas vestidas de negro e segurando lampiões, vão da praia até à Capela do séc. XVI, bem próxima deste local, que os malvados dos tempos não deram para visitar.
Por entre os velhos caminhos encontramos belas casas de habitação ou de férias assim como restaurantes, outrora pequenas tascas.

Sempre andando às voltas, encontramos mais moinhos. Este está a ser usado de certeza absoluta. Pelo menos dois "picas-no-chão" andavam por ali a depenicar.
Entre moínhos, encontramos as palhoças (se não estou em erro foi este o nome que o João lhes deu) local onde se guardavam utensílios e os produtos hortícolas. Hoje são já bem poucas e os terrenos onde se cultivam chamam-se Maceiras.

Esses terrenos, as Maceiras, são pequenas explorações onde se pratica uma cultura intensiva com excelentes resultados de produções hortícolas.
Os agricultores cavam as dunas até próximo do nível freático (lençol de água) o que permite um grau de humidade mais ou menos constante ao longo do ano e modelam o campo em forma de masseira (gamela onde se amassa a farinha). A areia fica nas paredes e o solo de terra produz em quantidade e qualidade. Pelo menos era assim. Hoje, estufas povoam os campos.
E quem não conhece principalmente, as cebolas, as batatas e as pencas da Póvoa ?
Árvores e arbustos na inclinação Norte agindo como quebra-ventos contra a Nortada (ventos dominantes na região) foram plantados, bem como vinhas. Estas, francamente não as vi. Provàvelmente foram arrancadas por causa dos negócios à CEE, não sei. Como houve tantos...

A 5 km da costa, encontra-se o Parque das Ondas da Aguçadoura. Será esta plataforma mais a ventoínha que se distingue melhor da Apúlia ?
Não vou escrever mais nada sobre este parque, pois parece-me ter dado com os "burrinhos na água", depois de grande alarido internacional.
A nossa viagem e histórias comuns, algumas delas, prosseguiram para além da Póvoa até Viana (tema para outras conversas). Mas tivemos de regressar.

E fui cumprir uma promessa, que envolveu o amigo João, o Quim Verdegaio e uma família querida Luso-Brasileira, cujos alguns parentes -veja-se como o mundo é pequeno- foram companheiros de infância, adolescência e por aí fora, do João. Demorou uns três meses a cumprir, mas sinto-me realizado e feliz. E um obrigado aos amigos João e Quim.

Entretanto o sol punha-se e antes da cervejinha da ordem, fomos até ao passeio junto ao Porto. Ver o que podiam dar umas fotos. Só para isso.

Estivemos por ali a conversar um pouco, recordar algumas histórias de pesca, como só as entendem os ou ex-pescadores.

De regresso "a terra", não custa nada bater mais uma chapa agora do Casino, com o sol ou o que restava dele, reflectido nos vidros. Sempre podia dar uma coisa gira.

Para cumprir a promessa tivemos de ir à Fortaleza conhecida por de Nossa Senhora da Conceição, construída entre 1701 e 1740, por causa da Pirataria que saqueavam as nossas costas. Demorou muito a construção por falta de dinheiro. Mas isso é para histórias futuras.
É conhecida também como Castelo da Póvoa e a primeira vez que lá entrei foi há pouco mais de 5 anos, precisamente no dia em que conheci pessoalmente o João e o Quim.
Estava aquartelada, se assim se pode dizer, a Brigada Fiscal da Guarda Nacional Republicana. Pensei ser um monumento possível de visita e fui para as muralhas fotografar a Póvoa quando um agente me interpelou proibindo de o fazer. Disse-me que nem se quer podia ter entrado. Realmente, olhando à volta, a quantidade de agentes que lá se encontravam sem fazer nada, melhor dizendo, fazer faziam, batiam uma sueca, bebiam uns copos ou café, não sei, mas talvez porque fosse o intervalo entre trabalhos, não seria conveniente que os filmasse. Aliás coisa que evito sempre de fazer seja para com autoridades seja para com outras espécies da humanidade, (a excepção são os fotógrafos) não me vá dar uma carga de trabalhos.
Baixei a guarda e lá vim eu recambiado portas fora. É assim Portugal.
Este departamento partiu em Fevereiro de 2010 e o edifício de interesse público foi fechado. A placa informativa do "Posto" ainda se encontra à entrada.
Ontem estava aberta ao final da tarde e ainda bem. Finalizei o cumprimento da minha promessa e vi uma Capela, agora sei que dedicada a Nossa Senhora da Conceição. A primeira missa foi dita em 17 de Fevereiro de 1743.

É um espaço pequeno em estilo barroco, destacando-se o retábulo em talha dourada e o sacrário. É venerada Santa Bárbara padroeira da Artilharia (olá rapaziada artilheira do meu tempo) e uma imagem do Menino Jesus patrono da antiga congregação do Santíssimo Coração de Jesus, instituída pelos Jesuítas e extinta pelo Marquês de Pombal em 1761 quando os mandou pela porta fora.

Era quási noite e eu não sabia do abandono da Brigada Fiscal da GNR. Por isso fiz umas fotos a correr, sem grandes preocupações, com medo que voltasse a aparecer um agente.
A degradação do espaço é notória, as ervas crescem e em alguns locais a sua medida é já acima dos joelhos.

Um obrigado ao meu amigo João pelo passeio que me proporcionou.
A foto-recordação é só pôse.