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sábado, 30 de julho de 2011

88 - As Tripas à Moda do Porto

É um prato tipicamente portuense e teve origem na História dos Descobrimentos iniciada no séc. XV e com a viagem a Ceuta. Para abastecer as naus de carne, o Porto cidade ofertou toda a que tinha ficando apenas com as vísceras, normalmente conhecidas como tripas. Daí também a nossa alcunha de Tripeiros. Hoje, este prato estende-se a todos os restaurantes e tascas do Grande Porto.
No Jardim do Calém, em Sobreiras, ao Fluvial, há desde os anos 60 do século passado, as memórias deste facto histórico
A escultura mostra o Açougueiro desmanchando o animal. 
Às tripas foram-se adicionando ao longo dos séculos outros complementos culinários. Creio que deve ter sido o feijão branco manteiga o primeiro a ser junto. (imagem no Restaurante Choupal dos Melros em Fanzeres) 
As tripas são formadas por folhos, favos e touca. Antigamente eram lavadas durante bastante tempo com escovas de arame para retirar a "merda" que ainda trouxessem agarradas. Hoje já vêm lavadas e o Brasil também é nosso fornecedor desta iguaria, embora pessoalmente não goste delas pois são muito duras e de difícil cozedura. O sabor também não é igual. Mas ainda não dispensam uma boa lavagem e o demolho em limão de um dia para o outro. (Imagem no Vigário da Aboinha)
Curiosamente, o tripeiro de gema, gosta do prato mais pelo feijão do que pelas carnes. Talvez porque fica impregnado com o sabor delas. E o molho tem de ser espesso. E como é bom molhar nele um pouco de pão. (imagem no Pedro dos Frangos, uma das mais bem apaladas Tripas que conheço.
Há uns anos percorria a cidade para comer Tripas. Às Quintas-feiras e também ao fim de semana, todos os restaurantes faziam as suas Tripas. Fosse verão ou inverno. Das tascas mais simples aos melhores restaurantes a concorrência pelas melhores Tripas era enorme. A Flor dos Congregados, Quim, Viseu, Viúva, Onix, Ginjal, Ramos, Abadia, Tripeiro, Ribeiro, Mamas Gordas (na Areosa), Mamuda, e tantos outros que não me ocorrem. (na imagem, Tripas à minha moda).
Concorre este prato às 7 Maravilhas Gastronómicas de Portugal. Se quiser votar o link está abaixo.
Ocorreu hoje em Gaia um almoço de promoção com mais de 1500 pessoas. Cuja receita reverteu para uma instituição (ou várias, não sei) de solidariedade. Lamentavelmente - o que não é de estranhar - a Câmara do Porto, logo o seu presidente Rui Rio, não está nem incluída na comissão da promoção nem esteve presente nem se fez representar. Assim se vê um Presidente, que de portuense deve ter muito pouco. Só os automóveis lhe interessam que nada ou muito pouco dizem à Cidade.
Mas disse e muito bem o Vice-Presidente da Câmara de Gaia, nenhum Rio nos consegue dividir. E como afirmou Rosa Mota, são as Tripas que nos unem.
Aqui vai o link. É só clicar, deixar abrir e votar.
http://www.7maravilhas.sapo.pt/votacao/#votaForm


Bom apetite.



sexta-feira, 29 de julho de 2011

87 - O Buraco de Bala de Canhão

Num dos passeios culturais do meu-nosso Bando http://bando-do-cafe-progresso.blogspot.com/ falou-se no buraco de uma bala de canhão na Igreja de Nossa Senhora da Vitória, que em tempos o Teixeira enf. da Tabanca de Matosinhos http://tabancapequenadematosinhos.blogspot.com/ me havia dito existir.
Acontece que nos fartamos de olhar e não descobrimos o buraco. Comentou-se a coisa no blogue do Bando. Isto já vai há uns meses. Mas o Teixeira Enf. teve o cuidado de ir fotografar o buraco para nos confirmar que a coisa existia.
Aqui estão as três fotos que o Teixeira enf. fez o favor de me enviar. Prometi-lhe há dias que iria publicar a história. Vai já a seguir.
Mas antes fui procurar no meu arquivo se existia alguma foto que tivesse feito onde o buraco aparecesse. E encontrei mesmo. É aquele pontinho ao lado esquerdo e acima da porta. Data da foto 18 de Maio de 2008. Picuísses. 
E porque existe o buraco da bala de canhão ? Porque este local foi alvejado por artilharia. Duas versões: uma, terá sido pela artilharia francesa aquando das invasões. Outra, foram as tropas miguelistas aquando das lutas liberais e do Cerco do Porto.
Acredito muito mais nesta versão porque existia uma bateria miguelista no chamado Castelo de Gaia, em frente a Miragaia. E aqui, na Vitória, estava também uma bateria mas dos constituicionalistas (ou deveria escrever constitucionalistas ?)
Agora se é história ou lenda, não faço ideia. Mas que a Igreja sofreu danos consideráveis durante as Lutas não há dúvidas. 
E aqui termina uma história que tem mais de 3 anos. 
Um abraço ao Teixeira enf. e ao Bando.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

86 - Viver a vida

Ontem andei aí pelas comesainas. Já há uns tempos que não aparecia na Tabanca de Matosinhos e resolvi ir matas saudades dos velhos companheiros.
Conversa animada ou desanimada com o Zé Manel, ou os problemas de quem é vinhateiro no Douro. Carvalho e Cancela ouvem atentos. Porque à mesa discutem-se coisas importantes.
Como manda a tradição da Tabanca, quem faz anos paga o bolo e o champanhe. Foi a vez do amigo Álvaro Basto, e como é da praxe, cantaram-se os parabéns a você. Á quem interessar, ver os vídeos em  http://tabancapequenadematosinhos.blogspot.com/
No regresso passei por S. Bento para registar algumas imagens após o restauro que foram feitos nos azulejos. Estão lindos.
Tinha sido alertado pelo Quintino Monteiro sobre uma notícia no jornal JN, na qual se dizia que a Praceta do Hotel Intercontinental era inaugurada na passada Terça-feira. Achei estranho porque no último sábado passei por lá e estava tudo entaipado e as obras não tinham o aspecto que iriam finalizar tão cedo.   
Na realidade a praceta ainda está fechada. Por acaso encontrei a Sra. Pilar Monzon, directora-geral do Hotel, a quem referi a notícia. Também ela foi apanhada de surpresa, pois as obras ainda continuam e vão demorar mais algum tempo. Não sabe mesmo quem informou o jornal deste disparate. E pelos vistos o JN não se deu ao trabalho de confirmar. Coisas de jornalistas. Nem mesmo mentira para os pacóvios como se fora dia 1 de Abril.
A bonita entrada. 
Como tínhamos combinado encontro no Hotel para visitar o novo Café Astória - Os 3 Jorges - aproveitamos para dar uma boa olhada sobre o requinte da decoração. 
O tecto é fascinante. Como informei numa publicação quando tive o prazer de uma visita guiada pela Senhora D. Pilar, todo ele é em estuque e foi trabalhado de forma artesã no local. Trabalho fantástico. De artistas portugueses.
Para a história, as fotos dos 3 Jorges

Como já eram horas do lanche, uma saltada até ao Serrano. A foto é dos finalmentes, porque os "entratantos" (como diz Jorge Jesus, que não é electricista) estão abaixo.
Coisas simples, lombo assado partido fininho e filetes de polvo. Acompanhados por verde branco da Lixa.O Tal... Uma delícia. Claro que os outros Jorges ficaram clientes da casa. E mai'nada, "prontos".

terça-feira, 12 de julho de 2011

85 - Farois do Porto - Farol-Ermida de S. Miguel-o-Anjo - Cantareira

O couto de S. João da Foz pertencia aos Beneditinos de Santo Tirso, doado por D. Mafalda no séc. XII.
A crescente actividade comercial da Cidade do Porto ligada ao mar e ao rio, obrigava a condições de melhor navegabilidade da Barra do Douro, bastante estreita e perigosa.
Em 1527 concluiu-se um pequeno farol-ermida, mandado erguer por D. Miguel da Silva, futuro Bispo de Viseu, abade do Mosteiro Beneditino de Santo Tirso, que gostava de se recolher na cidade. Entrava pelo rio. Hoje chama-se cais do Marégrafo onde está localizado, na Cantareira.
A ermida funcionava como farol de fogo e facho. É uma construção quadrangular; interiormente octogonal, com nichos onde provavelmente haveriam imagens de culto religioso. Presume-se que tenha existido também um altar barroco do séc. XVIII, junto ao nicho maior.
Gravado nas pedras da parede voltada para o Rio, está a inscrição latina: D. Miguel da Silva, Bispo eleito de Viseu, fez esta Torre para governo da entrada dos navios e deu e consignou campos comprados com o seu dinheiro para que do seu rendimento se acendessem perpétuamente fogos.Havia uma outra pedra com a inscrição Desejo que voltem sãos e salvos. Deve ter ido à vida dela esta pedra. As inscrições que aqui copio, são de mais ou menos, diferindo um pouco de site para site mas no fundo dizem o mesmo.
Claro que o Bispo arranjou um esquema para que nunca faltasse a luzinha da Barra. Isto é, cada navio entrado pagava um imposto. O Farol foi desactivado quando entrou em funcionamento o Farol da Luz. (ver Postagem 83). Portanto, desde 1527 a 1882 que funcionou como anjo da guarda das gentes do Rio e do Mar. Passando então a guardar apetrechos de pesca dos pescadores da Cantareira. 
Em 1852 foi construída uma torre anexada ao Farol, para ser instalada uma estação telegráfica. É um edifício que está meio arruinado e diz quem sabe que por dentro está a cair. O cartaz com o alvará para a recuperação está lá há anos, por uma bagatela de euros. Coisas à moda do Porto. E da cultura. 
Em 1841 foi construído um edífício anexo para instalar um posto da Guarda Fiscal. Acolheu também os Pilotos da Barra do Douro e do Porto de Leixões. Desde há uns anos está instalada uma secção do Instituto de Socorros a Náufragos. O edifício foi recentemente limpo e pintado, mas energúmenos já o resolveram sujar.  
Em 1915 foi colocado no local onde havia um poste pintado a branco - na foto antiga, inicial, vê-se nitidamente - um farolim, chamado da Cantareira, que fazia luz de enfiamento com o Farol de Felgueiras (ver postagem anterior). Foi apagado em 2007 e desactivado em 2009, quando entraram em funcionamento os farolins dos novos molhes da Barra do Douro.  
A nova Barra do Douro destacando-se os dois novos farolins e à direita o Farol de Felgueiras.
O Cais do Marégrafo, deve o seu nome à estação que ali foi construída. Não consegui descobrir a data em que isso aconteceu. Sei que o aparelho inicial foi roubado. Hoje está lá um outro que parece funcionar. 
A medição das marés era importante porque o rio apresenta - ou apresentava - aqui profundidades muito oscilantes. Informação necessária para os pilotos, quando os grandes barcos passavam a barra. 
Passei há dias um pouco de tempo a conversar com o amigo e ex-camarada Tavares, Fozense natural, que encontrei por acaso, sobre as gentes deste lugar. Caminhamos um pouco ao longo das Palmeiras e acabamos por nos juntar à conversa com pessoal do Mar. Relembrando outro amigo e ex-camarada comum, o Carlos Filipe; e ainda o Rui Amaro, escritor e também ele homem do Mar.
Eu chamo-lhe a Baía da Cantareira. Imagens de sonho a partir do Cais do Marégrafo. Gaia, Arrábida, Lordelo, Cantareira, só lá estando para ver. 
A Capela de Nossa Senhora da Lapa, padroeira dos Pilotos da Barra e dos Pescadores da Foz do Douro, encontra-se do outro lado da Rua.
Portanto, é este Farol de S. Miguel-o-Anjo o mais antigo de Portugal e talvez da Europa. Para além dos textos compilados em vários sites, (IGESPAR e PORTO XXI, principalmente) não posso deixar de referir novamente o blogue do Rui Amaro. (http://naviosavista.blogspot.com/).
Para melhor apreciar todo o Douro, do Infante até à Barra, nada melhor que uma viagem de eléctrico.
Vão e digam-me depois.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

84 - Farois do Porto - O Farol de Felgueiras

O farol de Felgueiras, na barra do Douro, é pouco conhecido por este nome pela maioria dos portuenses. Foi construído na ponta de um molhe no local de Felgueiras - ou Felgueira como também já li - e cujo nome originário se deve a umas pedras a oeste. 
Está desactivado na iluminação desde que os novos molhes da Barra entraram em funcionamento há dois anos. Apenas funciona o "ronco", que é como quem diz, o sinal sonoro.
A barra do Douro era extremamente perigosa para a navegação. Em 1790 é ordenada por carta régia a construção do molhe e o farol é construído em 1886. Tem 10 metros de altura.
Antes era o Farol da Luz - ver postagem anterior - que orientava os mareantes. Esse Farol foi desactivado, divergindo as datas desde quando ...e o porquê: Se por entrada em actividade do Farol de Leça ou porque este Farol de Felgueiras foi remodelado na sua iluminação tornando-o dispensável.  
Foto de Maio de 2007, a partir do molhe, sobre as praias e o casario da chamada Foz Velha.  
Da mesma data, uma vista do Farol e o Porto de Leixões ao fundo. Foto obtida desde o novo molhe, na altura ainda em construção. 
Quási do mesmo local uma foto actual. 
Em 1979 foram iniciadas as automatizações do farol de Felgueiras à entrada da barra do Douro e dos farolins do porto de Leixões (Quebra-mar, Molhe Norte e Molhe Sul) Estes farolins, passaram a ser controlados à distância a partir do farol de Leça, por meio de equipamento concebido para o efeito. Foi a primeira rede de farolins telecomandados da costa portuguesa.
Na foto, uma fase da construção do novo molhe. Outubro de 2007.
O novo Molhe estava por altura da data desta foto, quási em vias de inauguração 
Julgo que esta pequena enseada se chama Praia da Pastora. Em Maio de 2007 já estava entre os dois molhes.
Actualmente já não tem tanto sargaço nem lixo que ali iam parar. Pelo menos hoje (4.07.2011)
Dias de tempestade. Dezembro de 2009. Um barco acabado de sair da barra. E eu fiquei encharcado até aos joelhos. Vista a partir do novo molhe, com cerca de 500 metros de comprimento.
Era muito difícil a navegação na Barra do Douro. Aqui se deram imensos desastres. Os novos molhes vieram facilitar o acesso ao Douro. 
O mar aqui tem acessos de fúria difíceis de prever. No último inverno, uma tempestade repentina, fez galgar o mar até à Avenida de D. Carlos, em frente ao Castelo da Foz, fazendo imensos estragos. 
O Mar bravo também é belo. 

A Barra do Douro e o Farol de Felgueiras. Há 100 anos e Hoje. A foto antiga roubei-a do blogue do meu amigo Rui Amaro  http://naviosavista.blogspot.com/ cuja visita recomendo.
Passear pelo paredão, sim, mas cuidado. Este mar é bravo. 

Comparações com dezenas de anos de diferença. Vale a pena um passeio até à Barra do Douro.