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domingo, 1 de maio de 2016

244 - Boa Nova - Leça da Palmeira

Acontecem-me muitas casualidades e a percentagem das boas é muito grande. Devo ser o Rei das Casualidades Boas.
Há dias aconteceu levarem-me à Boa Nova, não à Casa de Chá que isso está fora de contas, mas ao lugar em Leça da Palmeira onde já não ia há mais de sete anos e isso mesmo aconteceu num dia de temporal.

Por muito que visitemos um  lugar, há sempre qualquer coisa nova que aprendemos. Pelo menos comigo acontece vezes sem conta e geralmente depois da casualidade. Mas vamos por partes.

Leça da Palmeira é parte da Cidade de Matosinhos vizinha do Porto Cidade e fica encostada a norte do Porto de Leixões e para lá dele. Um documento do séc. XIII refere a existência de uma paróquia denominada S. Miguel da Palmeira pertencente ao julgado da Maia. Coisas de outros tempos mas mais recente sabe-se que Lessa da Palmeira em 1758 era propriedade do Marquês de Fontes e Abrantes - título nobiliárquico onde Penaguião também entra nesta História e já no séc. XVI - .
Era habitada por 224 famílias num total de 777 pessoas muitas das quais viviam dos soldos de pilotos, mestre de navios e marinheiros.

Deste lugar da Boa Nova em Leça da Palmeira, vamos tentar contar (mas cheio de dúvidas) alguma história a começar pela Capela que existe no meio dos Rochedos com o mar visível em 180º. É ainda quase um lugar selvagem
Mas uma chamada de atenção pois o lugar chamava-se S. Clemente das Penhas e Boa Nova é toponímia relativamente recente. Entre os dois nomes talvez tenham havido outros.

Neste local existiu um mosteiro franciscano que foi desmantelado aos poucos e com capela mencionada já em 1369. Datas imprecisas, dizem que durou 83 anos mas tanto pode ser 1476 ou 1481.
Os frades só merecem referência a partir de 1392, segundo leio em registos históricos. A  mesma data (leio) em que foi fundada a "actual" capela ou oratório com o nome de Ermida de S. Clemente das Penhas, incluindo duas celas anexas onde vivia o frade zelador e um pequeno cemitério de frades.

O que acabo de escrever são deduções minhas. Não sei se o cemitério estava numa das celas, pois naquele tempo era costume enterrarem-se (os crentes) nas igrejas. O que se lê na Internet é de tão má qualidade que podemos interpretar o que quisermos. Lamentável ler a má construção das frases nas páginas da Câmara e da Junta de Freguesia.
Visitando a capela, não achei vestígios antigos, embora alguém escreva que os há. Mas eu sou um leigo.
Adiante.

Os frades saíram do desconforto provocado pela inclemência do tempo em S. Clemente das Penhas para se instalar numa zona bem mais in, relativamente próxima é certo, mas gozando da calma e boculismo do Rio Leça antes de chegar à foz em Leixões, sem ventos nem tempestades e marés-vivas.
Ou não gozassem estes frades já de privilégios reais. Mas isso são mais deduções minhas.

Instalaram-se na Quinta da Granja onde ergueram o convento da Conceição em honra da Senhora Mãe de Deus, deixando apenas a ermida e desfazendo tudo o resto.
Textos apanhados em http://www.academia.edu/449389/S._Clemente_das_Penhas_Boa_Nova_
Actualmente conhecemos o espaço como Quinta da Conceição.

Não sei se as palavras Mosteiro (na Boa Nova) e Convento (na Quinta) foram casualidade na escrita dos autores ou são mesmo por razões específicas.
  
A Capela está em restauros, o que permitiu a entrada. O retábulo é de talha estilo joanino com quatro colunas e três nichos que comportam imagens (que estarão guardadas lógicamente). Mas detalhando como se elas aqui estivessem.
O nicho central comporta a imagem da Senhora da Boa Nova, recorrida pelos interessados em favor dos navegantes ausentes. Nos outros nichos, S. João Baptista, advogado das doenças da cabeça; e S. Clemente, imagem do séc. XIV, a mais antiga da freguesia de S. Miguel de Leça da Palmeira.

Entre 1916 e 1926, junto à Capela, existiu uma torre quadrangular branca com cerca de 12 metros encimada por uma lanterna verde, com luz branca fixa que serviu de farolim.

Foi abandonada após a entrada em funcionamento do Farol de Leça, passando a servir de camarata aos alunos da Escola de Faroleiros e mais tarde demolida.
Existe ainda o muro e as escadarias que nos levam até ao alto

Em 16 de Janeiro de 1913, às 4 horas da madrugada, o vapor Varonese embateu na pedra denominada Lenho vinda a encalhar sobre a penedia a pouca distancia a Norte da Capela da Boa Nova. Nela foi estabelecido um posto de socorros aos náufragos.

Por trás da Capela e junto às escadas que conduzem ao patamar onde existiu o farolim, uma olhar para sul.
Ao centro a Casa de Chá da Boa Nova construída entre 1958 e 1963.
Comparando. À data desta foto ainda não havia a Casa de Chá.

Olhando para Norte a Refinaria Petrolífera destaca-se na paisagem bravia.
A Refinaria foi projectada em 1966 e inaugurada oficialmente em 5 de Junho de 1970.

Casa de Chá da Boa Nova
Um projecto ganho em concurso promovido pela Câmara de Matosinhos pelo arquitecto Fernando Távora que o entregou nas mãos de Siza Vieira, seu colaborador de apenas 25 anos.
Inicialmente foi Casa de Chá. Esteve ao abandono alguns anos sendo recentemente recuperada pelas mãos de Siza passando também agora a Bar e Restaurante de Luxo.
É Monumento Nacional.
A primeira vez que entrei na Casa de Chá foi em Setembro de 1967. Estava de férias do Serviço Militar. A segunda foi durante a visita dos "meus primos de Lisboa", mais ou menos 8 ou 9 anos depois. Tínhamos tomado uns copos valentes a acompanhar um salpicão e não só numa tasca em frente das termas de S. Vicente em Entre-os-Rios e resolvemos vir tomar ar junto ao mar.
Entre outras peripécias, lembro-me de um trambolhão tremendo no meio das pedras, local de namoricos até porque não havia iluminação.

Dizem que há fotos que valem mil palavras. Esta deveria ter legenda, mas julgo não ter dúvidas que foi feita durante a construção da Casa de Chá.

Farol da Boa Nova
Também conhecido como Farol de Leça, é um ex-libris de Leça da Palmeira juntamente com a Casa de Chá. Encontra-se sobre a alçada da Marinha Portuguesa.
Foi construído em 1926 tendo entrado ao serviço a título experimental em 15 de Dezembro em substituição do Farolim da Boa Nova.
Inaugurado oficialmente em 1927 julgo estar desactivado.
Na parte inferior direita da foto captei o que julgo ser um antigo moinho.

De costas para o Farol há a praia e o mar, a Casa de Chá e a velha capela.
E talvez o que seja a reconstituição do velho moinho.

Palavras escritas encontradas por acaso: MOINHO: O mais lógico é manter as paredes, mesmo como estão e arranjar uma forma de as fazer destacar na paisagem, de forma a serem visíveis aos olhos dos que por ali passam – e podem crer que diariamente são centenas e que muitos nem sonham que aquilo são ruínas de um moinho e que outros nunca repararam nelas.
Já não me lembro muito bem, mas acho que copiei esta frase de um blogue cujo autor interpelou uma vereadora camarária sobre um moinho.


Um paquete saindo do Porto de Leixões. Pelo jeito será oeste-sul o seu navegar ?
O terminal de Cruzeiros de Leixões. Entre ele e eu há um imenso Porto.

Memória: O bravio do lugar foi registado em palavras por Camilo Castelo Branco. Mas é o imaginário de António Nobre que ficou imortalizado na penedia.

Na praia lá da Boa Nova, um dia ,
Edifiquei (foi esse o grande mal)
Alto Castelo, o que é a fantasia,
Todo de lápis-lazzuli e coral!
(Só, 1887)

Comparando, pergunto para onde levaram o mar 

Mais uma panorâmica agora com a presença de duas esculturas sobre as quais não encontrei referências.
Regressando à vida, com passagem pela frente do Farol
Há 7 anos, o famoso Farolim de Sobreiras encontrava-se junto ao Farol de Leça. Farolim famoso também conhecido como Farol Medieval, das Três Orelhas ou de Três Bicos, cujos nomes se devem à primitiva configuração da marca que lhe estava por detrás: Um muro de alvenaria de granito, rematado por três ameias à semelhança de uma estrutura defensiva. Terá tido origem no séc. XVIII. Essa estrutura foi desmantelada e perdeu-se em 1993-1994 quando os senhores jovens empresários da Anje construiram a sua sede.
Em 2006 foi transferido para junto do Farol de Leça mas não se sabe a razão de tal transferência. Seria muito mais lógico estar no local original, até porque era uma marca-roteiro histórica dos faróis do Porto. E tudo tem uma razão de ser.

O que era mar é hoje paisagem terrestre. Ao fundo o paredão norte do Porto de Leixões

Outro símbolo de Leça é o Forte de Nossa Senhora das Neves.
A sua construção iniciou-se durante o final da Dinasta Filipina, entre 1638/39 no lugar de Santa Catarina, para defesa da costa contra os piratas.
Por variadíssimas razões, as obras só foram dadas como terminadas em 1720.
Comparando

Em frente do Castelo a torre do Posto Semafórico, que funcionava em colaboração com o da do Monte da Luz e da Cantareira, na Foz do Douro.
Em frente existiu a Estação Ferroviária do Ramal de Leixões (não confundir com a Linha de Leixões) ou Linha de Leça ou de Matosinhos, que ligava a Estação da Senhora da Hora ao Porto de Leixões. Este ramal foi aberto ao transporte de passageiros em 1893 a partir da primitiva Linha de S. Gens construída em 1884 para o transporte da pedra desde as pedreiras de S. Gens até às obras do Porto de Leixões.

Passando por baixo da Ponte basculante, tendo ao lado esquerdo as Quintas de Santiago e Conceição para futuras visitas.

O Porto Comercial visto da Estrada de Viana.

A caminho da Circunvalação a "divisória" Porto-Matosinhos. A Anémona Gigante, da autoria da norte-americana Janet Echelman, uma homenagem aos pescadores.

terça-feira, 14 de julho de 2015

222 - Penafiel em passeio rápido

Conviver é uma arte. Li algures há muito esta frase e concordo. Com amigos de longa data convivo sempre que a ocasião se proporciona, mas também temos os nossos dias mensais para o efeito.
Neste mês, aceitamos o passeio, almoço e pequena viagem cultural em Penafiel, proporcionados pelos camaradas Zé Cancela e Quim Peixoto.
Aqui ficam as minhas impressões.
 O percurso entre o Porto e Penafiel e depois a volta, foi feito de comboio. À chegada fiz a comparação das vistas e do parque de estacionamento entre Janeiro de 2012 (um convite dos mesmos amigos Cancela e Peixoto) e actualmente.
As árvores escondem agora a paisagem, há carros estacionados e as ervas-mato cresceram.

 Os convívios devem ter momentos reunidos à volta de uma mesa. Fomos levados até um pequeno restaurante no lugar de Rande - Milhundos.
Casa cheia em duas salas e mesa reservada para nós com muitas e boas surpresas culinárias que não couberam todas nas fotos.
Das entradas aos finalmentes que incluíram frutas e doces, passando por vinhos, cafés e digestivos, o serviço foi de tal maneira eficiente e rápido sem atafulhar a mesa, que gostaria de ver igual em todos os restaurantes. O "pessoal" da casa é composto por cozinheira, que infelizmente não conheci, e por um casal jovem. O preço foi de 11€ por amigo e só lamentamos o excesso de comida. 
Parabéns ao Regula.
Regressámos ao centro da Cidade de Penafiel para uma visita rápida que terminou no Museu.
O edifício setecentista pertencente ao Barão das Lages situado na Rua do Paço, recuperado e adaptado a Museu de Penafiel pelo arquitecto Fernando Távora - falecido em 2005 - e terminado pelo seu filho Bernardo, foi escola desde 1881 até 1968, data da fundação do Liceu de Penafiel.
Por aqui passaram entre outros os alunos Américo Monteiro de Aguiar mais conhecido como Padre Américo, o Homem da grande Obra da Casa do Gaiato; Abílio Miranda, farmaceutico, arqueólogo, etnógrafo, historiador; Leonardo Coimbra, professor, filósofo, político, grande combatente do analfabetismo. Quando ministro, fundou a Faculdade de Letras do Porto. Foi um dos maiores impulsionadores do Espiritismo em Portugal. 
Inaugurado em Março de 2009, foi considerado em 2010 o melhor Museu de Portugal. O seu site em 2012 foi considerado o melhor pela Associação Portuguesa de Museologia.
Ver www.museudepenafiel.com 
Pagamos pela visita 1€ , cada um, claro. Ciceroneada a preceito, embora na confusão de 14 amigos muitos com máquinas fotográficas, demora a visita cerca de 2 horas. 
Nas cinco salas temáticas podemos apreciar o acervo constituído por colecções de arqueologia, etnografia e história local que foram sendo reunidas desde finais do século XIX.
Na arqueologia um grande destaque para a exposição de peças descobertas no Castro do Monte Mozinho, o maior e mais importante da Península Ibérica.
Prometo nova visita mais calma.
Pelo correr da rua, casas de aspecto senhorial com os seus brasões.
O edifício do Museu visto de outro ângulo.
Penafiel não é pródigo em páginas oficiais na internet. Os sites que encontramos são pobres, incluindo o da Câmara Municipal. Bastante melhores os que referenciam o Concelho. 
Sobre este edifício, encontrei uma nota por casualidade. Li que é o antigo Paço Episcopal.
A Diocese de Penafiel é uma coisa mais ou menos fantasma, pois parece que nunca existiu. Isto é, existiu mas não existiu. Foi mais uma das "cenas" do Marquês de Pombal desta vez contra o Bispo do Porto. Mandou elevar a vila de Arrifana de Sousa a Cidade com o nome de Penafiel e criou a Diocese por bula do Papa Clemente XIV em 1 de Junho 1770.

Foi nomeado para prover o cargo episcopal, o Inquisidor-geral Português D. Frei Inácio de São Caetano, confessor da Princesa D. Maria. Quando esta subiu ao trono em 1777, conseguiu a renúncia do Frei e a abolição da diocese integrando-a novamente na do Porto.
Morreu em 1778 e, mais uma presunção minha, nunca chegou a Penafiel.
Sobre o edifício não há referências nem sequer sabemos se chegou a ser utilizado e com que fins. Mas parece que agora é uma escola de enfermagem retirada a Paredes há meia dúzia de anos. Encontrei este apontamento num jornal por casualidade. 

Percorrendo o quarteirão, encontramos o Largo da Misericórdia e a Praça do Município à direita. Em destaque um complexo a que chamam Igreja da Misericórdia.
A igreja é a parte mais importante do complexo. É um templo seiscentista criado para acomodar as exigências de uma irmandade em crescimento com a concessão de privilégios que o alvará régio de 1614 aprovou, tornando a instituição um potentado. Isto é o que depreendo lendo a página da Santa Casa da Misericórdia de Penafiel. Ainda o lugar se chamava Arrifana de Sousa.
Sofreu várias alterações ao longo dos séculos.

A sua história esteve ligada à diocese durante os 7 ou 8 anos que existiu, pois foi a escolhida para funcionar como Sé do novo bispado, sob a invocação de São José e Santa Maria.
Cadeiral Barroco
Ladeando a Igreja, voltada para a Câmara Municipal, encontramos uma frontaria inacabada em estilo rocaille, com obras iniciadas em 1764 e interrompidas em 1769 que  foram pagas pelas esmolas a Nossa Senhora da Lapa cujo culto chegou a ter uma expressão significativa. 
Abriga o Museu de Arte Sacra. 
Tendo esmorecido o culto à Senhora da Lapa, encontraram a solução de construir uma capela a ela dedicada junto da fachada inacabada, mas agora dedicada a S. Cristóvão.
Em frente, a Câmara Municipal instalada num edifício do séc. XVIII, julgo que construído para este fim. Não tendo a certeza do que li mas presumo: foi pensada em 1741 mas construída em 1770 após a criação da Cidade de Penafiel.Teve a Cadeia no andar inferior.
Na frontaria os brasões com as armas de Portugal e o da Cidade. Por cima da porta uma dedicatória à Rainha D. Maria I que mandou fazer a obra e tem a data de 1782.

Repito que presumo estar correcto ao encaixar este texto no edifício. O que lêmos nem sempre é explícito.


Nas traseiras do complexo da Misericórdia, encontra-se uma das três Capelas que ainda existem recordando os Passos de Jesus. Esta parece que representa Simão Cirineu ajudando Cristo a carregar a cruz.

Um outro edifício brasonado
Curioso adossado entre edifícios, com passagem pedonal
Regressando ao Largo da Misericórdia.
A Quinta da Aveleda vista em boa velocidade.
Deixo aqui o agradecimentos aos camaradas e amigos que me proporcionaram a visita.
Sobre o Museu de Penafiel irei fazer um pps (espécie de vídeo) o mais informativo de que for capaz.
Alguns blogues ajudam a conhecer Penafiel. Um obrigado aos autores por me ajudarem.