Espero que o Professor não leve a mal esta minha ousadia.
O MORGADIO DO CARREGAL
Criado em 1492 por João Martins Ferreira no sítio de que tomou o nome
O palacete da Travessa do Carregal onde agora funciona um desses modernos hotéis que aqui no Porto crescem como cogumelos foi, em tempos não muito distantes, a residência dos Vilarinho de São Romão; albergou, depois, um asilo da infância; e serviu, posteriormente, de sede ao Conservatório de Música do Porto. Mais recentemente, ainda também por lá passou um colégio ligado a uma entidade religiosa. (Na época da foto há três-quatro anos ainda lá estava).
Mas a história do local e dos Vilarinho de São Romão remonta, pelo menos, ao século XV, desde quando, em 1492, um tal João Martins Ferreira ali instituiu o morgadio do Carregal. Naqueles recuados tempos, o sítio ficava distante da cidade medieval. João Martins Ferreira habitava, então, uma casa-torre.
A área ocupada, digamos assim, pelo morgadio era enorme. Abrangia, tomando como referência a zona urbana dos nossos dias, o espaço compreendido entre as ruas de Cedofeita, Miguel Bombarda, Rosário, Restauração e o Largo do Prof. Abel Salazar. (na foto do Google é localizado mais ou menos, com 3-4 à direita)
Rua de Cedofeita
Rua de Miguel Bombarda
À direita, Rua do Rosário. À esquerda Rua D. Manuel II, antiga Rua dos Quartéis.
Duas imagens da Rua do Rosário
Rua da Restauração. Pormenor junto ao Hospital de Santo António.
À esquerda um belíssimo miradoiro sobre Miragaia e o Rio Douro
Largo do Prof. Abel Salazar
Qualquer bom dicionário dará de morgado a seguinte definição: "vínculo indivisível e inalienável que passa, numa família, de primogénito em primogénito, mas sempre em linha reta varonil". E a estes vínculos, acrescentamos nós, andavam ligados muitos e rendosos proventos. Isto para dizer que João Martins Ferreira era um homem muito rico e pessoa assaz influente na sociedade do seu tempo.
Bom, mas do que nos propomos falar, aqui, na crónica, é do sítio e da sua evolução urbanística. Como o leitor facilmente já concluiu, Carregal é topónimo muito antigo. Os especialistas na matéria dizem que a palavra tem origem numa erva gramínea, chamada carrega, que cresce em terrenos onde abunda a água. Outrora, o topónimo identificava um Carregal de Cima e um Carregal de Baixo, referidos em documentos de 1581 e 1660, respetivamente; uma rua; um jardim; uma travessa e uma calçada. Subsiste, hoje, somente nestas duas ultimas artérias.
Ao jardim, o povo ainda continua a chamar-lhe do Carregal. Oficialmente, porém, a sua denominação é Jardim de Carrilho Videira
Pormenor do Jardim do "Carregal".
Ao lado o Hospital de Santo António, edifício primitivo.
Ao lado o Hospital de Santo António, edifício primitivo.
Este nome foi atribuído já depois da implantação da República. Evoca a figura de José Carrilho Videira, jornalista e ativo propagandista dos ideais republicanos. Antes, na monarquia, o jardim ostentava o nome do Duque de Beja. Mas, repetimos, é por jardim do Carregal que toda a gente o conhece e identifica. A tradição continua a ter muita força.
Já agora, uma alusão, rápida, à capela existente também na Travessa do Carregal e que integrava o solar dos Vilarinho de São Romão. Era da invocação de Santo António capela de Santo António do Carregal, era este o seu nome oficial. Escrevemos "era" porque, na verdade, já não é. Transformaram-na num bar, ou coisa do género. (Capela Incomum)
Antes da existência do jardim, que é relativamente recente, o terreno baldio era atravessado pela água de um ribeiro que corria a céu aberto. Hoje, a água continua a correr, mas encanada, e o encanamento passa por baixo do edifício do Hospital de Santo António. Trata-se do chamado rio Frio ou do Carregal, que nasce num local compreendido entre as ruas de Cedofeita e da Torrinha.
O Rio Frio atravessa a quinta das Virtudes e desagua no rio Douro, debaixo do edifício da Alfândega.
Devido à circunstância da passar pela referida quinta, o pequeno curso de água também aparece, por vezes, designado como ribeiro das Virtudes e rio de Miragaia.
Ruas de Cedofeita e da Torrinha à direita.
Rua da Torrinha à esquerda; Rua de Cedofeita à direita
Fonte do Rio Frio e a Quinta das Virtudes.
Ao fundo a nova ala do Hospital de Santo António.
O Rio Frio atravessa a quinta das Virtudes e desagua no rio Douro, debaixo do edifício da Alfândega.
Pormenor da Quinta das Virtudes. Ao alto o Hospital de Santo António.
Miragaia, pormenor da Quinta das Virtudes e junto ao Rio Douro, a Alfândega.
Devido à circunstância da passar pela referida quinta, o pequeno curso de água também aparece, por vezes, designado como ribeiro das Virtudes e rio de Miragaia.
O jardim é de 1857. Neste ano, a Câmara negociou com a Santa Casa da Misericórdia do Porto a compra dos terrenos que ficavam defronte da ala norte do edifício do hospital. E ajardinou-o. Havia por ali uma rua que tinha o nome de D. Pedro V. Esse arruamento desapareceu com a criação do jardim.
Quando, mais tarde, se abriu uma rua nova nas antigas azenhas de Vilar, que ficou a ligar a Rua de Vilar a Massarelos, a Câmara deu-lhe o nome de D. Pedro V.
Quando, mais tarde, se abriu uma rua nova nas antigas azenhas de Vilar, que ficou a ligar a Rua de Vilar a Massarelos, a Câmara deu-lhe o nome de D. Pedro V.
A actual Rua de D. Pedro V em Massarelos
A antiga Rua do Carregal era a que hoje tem o nome do Prof. Vicente José de Carvalho. Corre entre os edifícios da antiga Faculdade de Medicina, em cuja parede existe um medalhão com a efígie daquele mestre, e o do Hospital de Santo António.
A rua que hoje tem o nome de Clemente Meneres, grande impulsionador da agricultura transmontana, tinha o nome de Rua do Duque de Beja e também o de Rua do Paço, não sabendo nós que paço seria este.
Hospital de Santo António e em frente (foto abaixo) a antiga Faculdade de Medicina
(Hoje Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar)
A rua que hoje tem o nome de Clemente Meneres, grande impulsionador da agricultura transmontana, tinha o nome de Rua do Duque de Beja e também o de Rua do Paço, não sabendo nós que paço seria este.

Jardim do Carregal. Ao fundo a Rua Clemente Menéres.
No entanto existe uma travessa ou calçada com a toponímia Paço que começa na Rua de Clemente Menéres, mas está entaipada nas duas saídas, uma delas que seria para a Rua do Rosário.
A abertura da Travessa do Carregal obedeceu ao célebre plano de melhoramentos de 1784, do tempo, portanto, dos Almadas. Determinava esse documento que se continuasse a abertura da travessa que havia de ligar os Ferradores (Praça de Carlos Alberto) com o bairro dos quartéis (Rua de D. Manuel II) através dos terrenos oferecidos por Custódio Ferreira Carneiro de Vasconcelos, que era, à altura, o morgado do Carregal.

Ferradores, actual Praça de Carlos Alberto. Em frente é a Rua de Cedofeita e logo à esquerda a Travessa do Carregal.

Bairro - Rua dos Quartéis, actualmente denominada de D. Manuel II.
A Nova Ala do Hospital de Santo António ao cimo da Rua de D. Manuel II
O Edifício do Hospital de Santo António
O terreno onde foi construído o edifício do Hospital de Santo António fazia parte do Casal do Robalo, uma propriedade rústica, foreira à Mitra -ou seja, que pagava renda ao bispo - e integrava, patrimonialmente, o antigo Casal do Carregal de Baixo. A Santa Casa pagou pelo terreno 5.290$000 réis, mas a escolha do local para a construção do edifício para hospital não reuniu consenso. O sítio, atravessado pelo rio Frio, ou das Virtudes, ao longo do qual as carregas cresciam a esmo, era pantanoso, pejado de mosquitos, pouco indicado, portanto, segundo a opinião de pessoas daquele tempo, para a construção de um edifício destinado a tratar doentes.O projeto, apesar de tudo, foi por diante e o Hospital de Santo António é hoje um dos mais belos e monumentais edifícios da cidade.
O Duque de Beja era o infante D. João filho de D. Maria II.
Publicado no Jornal de Notícias de 19 de Fevereiro de 2017.
Confirmei que é Beco do Paço a rua sem saída, cuja foto está na parte final da página
ResponderEliminarMAIS QUE EXCEPCIONAL. ABRAÇO E OBRIGADO PELA TEU SABER, CARINHO E AMOR Á CIDADE QUE SE AMA
ResponderEliminarExcelente trabalho sobre a nossa cidade.
ResponderEliminarUm excelente trabalho! As "coisas" que o amigo Portojo sabe e tão bem descreve!...Parabéns!
ResponderEliminarO meu abraço,
Mais um excelente trabalho. Um abraço Jorge
ResponderEliminarAté sempre, Jorge Portojo. Descansa em Paz.
ResponderEliminarGostei gostei muito do
ResponderEliminarGostei gostei muito do
ResponderEliminarConsigo aprendi muito sobre a cidade que sempre amamos. Estranhei a ausência. Durante meses visitei esta página. Desconfiei e agora pude confirmar o que temia. Nunca falamos, nunca trocamos uma mensagem, mas devo-lhe algo. Ainda hoje o referi no meu blogue "Porto de Antanho", antes deste momento de surpresa. Não sou crente, mas, de qualquer modo o trabalho que fez neste magnífico blogue ficará para sempre na minha memória. Obrigado!
ResponderEliminarNado e criado na freguesia da Vitória, desejo manifestar-lhe os meus agradecimentos pelas excelentes fotografias e descrição das mesmas neste seu trabalho. Bem-haja.
ResponderEliminarSaudades!
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ResponderEliminarDieta das três marias é uma dieta alimentar que funciona de verdade pode ser feito e seguido por qualquer pessoa programa três marias funciona
Não conheço mas gosto.
ResponderEliminarUm excelente dezembro com boas festas.
Abraço
Descobri hoje este blogue e com tristeza me apercebo que o seu autor faleceu. Ainda assim aqui fica a minha admiração pelo trabalho feito e em homenagem, na próxima ida ao Porto, irei fazer um percurso que aqui vi e que me entusiasmou. O que prova que a morte não é o fim de tudo para quem tiver feito alguma coisa valorosa em vida! Obrigada ao autor do blogue, já não se encontra entre nós mas mesmo assim a minha gratidão pela partilha que fez da história do Porto, uma cidade que não é a minha, mas que vou fazendo minha a cada visita.
ResponderEliminarThe Portuguese had a brutal record in the Americas as a colonial power. The most horrendous abuses occurred in the colony of Brazil: natives were enslaved, murdered, tortured and raped in the conquest and early part of the colonial period and later they were disenfranchised and excluded from power. Individual acts of cruelty are too numerous and dreadful to list here. Portuguese Conquistadors in Brazil reached levels of cruelty that are nearly inconceivable to modern sentiments.
ResponderEliminarToday, Portugal is the Biggest Racist country that i have ever lived in. I feared for my life there and i consider myself lucky that my family got out alive! I have never lived in such poverty (Sopas dos Pobres everyday) 40% unemployment rate and 60% of the population earn less than $932 USD per month, and that’s considered Middle Class here! Within the European Union it is the worst of the worst place to live in.
The bottom line is the bulk of the People in the poor country of Portugal exist in a brainless comma that is fed by Ignorance, anti-Spanish hate, and severe Racism of pretty much everybody that isn’t Portuguese! And, Portugal started the Global Slave Trade in 1441 so it is definitely NOT a safe place for Blacks!!
I found important websites that explain the Severe multi-generational Racism and Hate that exist in Portugal today, and i highly encourage all to read them and spread the word in order to avoid innocent, and desperate people from living or visiting there. Get educated on the Truths about Racist Portugal now.
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Até sempre Jorge. O melhor blog sobre o Porto
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