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sábado, 17 de outubro de 2015

227 - Eu, cicerone na minha Cidade. Parte I

Durante uns dias tive o prazer de ciceronear pela minha-nossa Cidade. Entre viagens, convívios, dias de mau e bom tempo, há sempre momentos e coisas a registar.
Já muito divulguei o Jardim das Águas e das antigas Fontes do Porto em Nova Sintra. Parece não receber o cuidado que deveria merecer. Será porque a entrada é livre e portanto é o deixa andar ? A Fonte que se encontrava nos claustros do Convento de S. Bento está cercada por uma fita de proibição de aproximação e por muitas mais silvas e mato do que nas anteriores visitas. Outras Fontes estão sem as referências das suas origens. A de Cedofeita logo à entrada pela esquerda é uma delas.
Resolvi fotografar uma das muitas enormes árvores que por lá se encontram. A montagem que preparei dá uma má ideia da sua altura.
Não sei que serviços ainda existem nas Águas, mas os parques de estacionamento estão por todo o lado e completos. E não são de visitantes.
O Jardim da Fonte dos Passarinhos até que está bem tratado...mais erva, menos relvado...

 Esta escultura de grandes recordações pessoais deixa-me sempre encantado. Foi Henrique Moreira o seu autor e chamo-lhe Ternura. Está no sempre romântico e bem tratado Jardim de S. Lázaro.
É sempre um prazer passear e olhar o Jardim que D. Pedro IV dedicou às Mulheres do Porto. Apreciar as esculturas, o chafariz da Sacristia do Convento de S. Domingos -a precisar de mais restauros - as belas árvores. Existe do lado da Biblioteca Pública um novo laguito que já vi a deitar água, mas entretanto parece que secou. Mas dá uma foto catita.

A pedido fui mostrar o Cemitério do Prado de Repouso. Já o divulguei em trabalhos anteriores, creio que há uns 7 anos e por causa dele deixei o meu querido amigo Álvaro à espera nas Fontaínhas para imos beber um copo. Trabalho recebido com pouco agrado,  mas actualmente as visitas a cemitérios fazem parte de estudos e de turismo. O Turismo Negro como são chamadas.
Penso que ando adiantado uns anos...
Mas sem dúvida que valem a pena, pois existem enormes obras de arte de grandes escultores e arquitectos e simbolismos que nos dão que pensar.
Só há pouco tempo fiquei a saber que o Cruzeiro fez parte do Convento de S. Bento de Avé Maria.
O Mausoléu onde foram depositados os restos mortais das freiras do mesmo convento.
 Monumento e lápides de alguns combatentes recordando o 31 de Janeiro de 1891. Nem vencedores nem vencidos. Era a República a mexer. Por muito que investigue não consigo saber quem foi o autor do monumento.
 Mausoléu dedicado ao grande Francisco de Almada Mendonça, continuador da obra do pai João de Almada e Melo a quem o Porto e algumas cidades do Norte muito ficaram a dever. Escrevem que morreu pobre, em 1804, enterrado na Igreja da Misericórdia. Os restos mortais foram trasladados para este local a expensas da Câmara do Porto sendo o busto obra de Soares dos Reis.

Passando ao lado do antigo Seminário -ainda hoje os portuenses assim lhe chamam- (edifício recuperado após dezenas de anos, que o vandalismo dos franceses durante as invasões, depois as lutas liberais  e finalmente um incêndio o ter destruido, foi instalado o  Colégio dos Orfãos  instituição criada em meados do séc. XVII no Olival, mais ou menos onde está a Reitoria da Universidade do Porto), seguimos em direcção às Fontaínhas.
O local dos lavadouros públicos está desterrado, a monte. Uma sobrevivente "Ilha" das muitas que ainda existem entre Campanhã e o Bonfim na foto.

O Morro das Fontaínhas do lado Leste. E as pontes de D. Maria e de S. João. O antes e o depois da travessia do Rio Douro pelo comboio.
 O túnel das Fontaínhas. A última parte do trajecto que liga as estações ferroviárias de Campanhã e São Bento

 A memorável e sempre recordada Calçada das Carqueijeiras, nome actual que no meu tempo de menino se chamava da Corticeira. Há quem escreva que era Rampa. Mas parece que ninguém sabe ao certo porque assim se chamava.
À esquerda ficava a primitiva fábrica de Cerâmica do Carvalhinho cujas ruínas ainda lá estão e à direita estão as ruínas da Capela de Santo António.
Não sei porquê, mas achava muito bem que esta Capela fosse restaurada. O local é histórico por várias razões.
Bom, mas já escrevi sobre isso anteriormente e estava a ciceronear e prontos.
 Carqueijeiras no seu trabalho. Está aprovada a maqueta para lhes ser erguida uma estátua.
Esperemos que não aconteça o mesmo que à do Soldado do Ultramar que deve estar à espera de não sei quê...

Santa Catarina, a Rua, e é impressionante como o Majestic consegue manter níveis de admiradores e consumidores em qualquer altura do ano e com qualquer tempo. Mas isso já não é novidade.
Nem é novidade o Alvão, sim a fotografia Alvão, com o seu "novo" espaço a servir copos. Uma ginginha com ela, em copo dedal, custa 1 euro. Estás feito ó portuense, com estes preços.
 E Santa Catarina continua a ser o ponto mais importante da Cidade. Pelo menos no consumo em Cafés e Esplanadas. E claro, para passear.

Um dos percursos que escolhi foi pela Rua da Madeira. Muitos prédios restaurados, novos restaurantes - vazios - e os velhos Quim e Viseu cheios. Almocei neste umas belas tripas - dose que dá para dois - já havia confirmado a qualidade com o Jorge Peixoto por altura do fim de ano passado. Mas fiquei surpreendido pela pescada em posta, tipo das antigas de Vigo ou actuais Chilenas, cozida, a que faltou um pouco de sal. Preços muito bons mesmo considerando a nossa bolsa. A honestidade foi ao ponto de informarem antes da encomenda que era congelada. O que eu já suspeitava pelo preço na ementa. Continuo a recomendar o Viseu.
A fachada em azulejo de um dos prédios - já a tinha procurado mas não encontrava pois haviam dito que cada azulejo era ao gosto de cada como o quisesse fazer, incluindo as cores - está com esta apresentação artística.
Nada do que presumi mas aceito porque se destaca numa rua histórica que esteve quase em ruínas.

Os tons são em branco, cinzas e preto. Um pouco como a cidade sem cor mas com imensas cores.

Em Santa Catarina chamou-me a atenção o painel informativo: Louças do Porto - Carvalhinho e Devesas. Presumo que Porto e Gaia não foram muito fortes em louças decorativas e de mesa. As fábricas do Carvalhinho e Devesas já há dezenas de anos que foram encerradas.
Segundo fui informado, a criadora destas louças produ-las (será que deverei escrever produze-as ? ou outra palavra ? Help. estou desesperado ...) segundo processos artesanais e coze-as em fornos que possui em sua casa. Nas fotos do cartaz estão as fases de produção. Devo dizer que me apaixonei por elas e não são caras.

 É numa Casa do Porto, com certeza, este belo painel.

Nas proximidades da Estação de São Bento - onde o Egas continua firme nos azulejos de Colaço - foram colocados calhaus decorados com elementos que nos parecem azulejos. Os da foto são uma ilusão de óptica. Valem a pena ser apreciados. Ao fundo o novo veio artístico muitíssimo propagandado pela Câmara do Porto (que nos retirou a possibilidade de no seu site estudarmos a toponímia) que pretende esconder as ruínas das casas que estavam na pedreira do início da Avenida da Ponte.
Esta é a verdadeira imagem destes calhaus.
E o mercado da droga e sala de chuto continuam por detrás do muro que a infeliz escultura em azul-verde pretende disfarçar.
Lamento que ninguém tome uma atitude em relação a este triste e lamentável espaço. São milhares de turistas e de população que passam por aqui diàriamente. A estação de São Bento e o Morro de Penaventosa tão histórico e monumental estão a meia dúzia de metros. A venda e consumo de droga faz-se à vista de todos. Muito triste, mas talvez seja típico nas cidades turísticas.
Ah, agentes de segurança pública não se vêm. A Cidade ainda é segura. Dizem...São vistos apenas às portas das Casas de Penhores e dos compradores de ouro. 
Tá beinhe, prontos.
Vou acabar este episódio - que em tempo real demorou uns dias a produzir - comemorado na Ribeira, na antiga Casa da Portagem da Ponte Pensil, onde uma loirinha tem um pouco mais de 30 cl. mas é servida com menos dois dedos de líquido espumoso e custa dois euros.
O Elevador dos Guindais já funciona, mas pkp, custa 2,50 euros a viagem. Digam lá se os STCP não estão a roubar a rapaziada. Julgam que somos todos camones europeus, cheios de dinheiro e levam a pobre população ribeirinha a ser comparada ao povo rico de outras bandas.
A foto acima é a reprodução de uma obra de arte e está na janela do primeiro andar de um dos restaurantes ribeirinhos. O texto parece querer referir-se à maneira do falar portuense. Se assim foi falhou pois deveria ser escrito assim:
Menina, toma este copo de binho. 
É binho do Porto muito bounhe.
Teus vraços serom gaiolas 
que prenderom o meu coraçom  
Em camone não sei se fica melhor. Adiante e para terminar. 
Sempre mostro as casas do Muro da Ribeira e os telhados em azulejo que formam as caleiras, oriundos do séc. XIX. Só que ainda não tinha reparado nas novas águas furtadas desde edifício. Presumo que está recuada - talvez casa de hóspedes turísticas - para ninguém dar fé da clandestinidade. Penso eu de que...