Pesquisar

sábado, 7 de setembro de 2013

170 - Campanhã - A Oriente da Cidade do Porto

Vou terminar o meu passeio pelas Quintas de Campanhã, apresentando a Quinta de Villar de Allen. 
Li algures que uma parcela da Quinta do Freixo, em frente, tenha sido incorporada nela. Francamente não tive confirmação.
A Quinta começou a ser construída a partir de 1839 no sítio chamado Campanhã de Baixo, quando o súbdito britânico John Francis Allen - ou João Allen como ficou a ser conhecido - adquiriu à Santa Casa da Misericórdia a Quinta da Arcaria com casa. 
Contemos um pouco da história do Sr. João Allen (1785-1848), embora não sabendo quando ele veio para o Porto. Foi um comerciante de Vinhos do Porto, co-fundador do Banco Comercial e da Associação Comercial. Grande coleccionador e muito ligado às artes, reuniu uma imensa colecção de pinturas, esculturas, porcelanas que expôs ao público na sua casa da Rua da Restauração, hoje um prédio recente onde estão instalados os Jogos da Santa Casa da Misericórdia.
Azares comerciais levaram-no a vender a colecção à Câmara Municipal. Depois de várias bolandas, as obras, não sei se todas, acabaram no Museu Nacional Soares dos Reis, onde pelo menos podemos apreciar algumas.
Pelas suas acções durante a Guerra Peninsular (1807-1814) também conhecida por Invasões Francesas na Península Ibérica, valeram-lhe a distinção de Cavaleiro da Ordem de Torre e Espada, concedida por D. João VI.
Outras quintas foram sendo integradas no património da família. A última em 1873. João Allen desenha o parterre gardenesque.  
Foram conservados os Jardins à francesa criados em 1780, de formas geométricas, com lago e repuxo.
O magnífico roseiral é um encanto para o olhar. 
Alfredo Allen, (1824-1899) 1º Visconde de Villar de Allen por graça de D. Luíz I, filho de João Allen, foi um notável paisagísta e botânico. A ele se deve a  vinda para Portugal de Emílio David, paisagista alemão e criador dos Jardins do Palácio de Cristal (algumas partes já não existem por causa da velhaca destruição do Palácio) e da Cordoaria, o primitivo. A ele se deveram também as famosas exposições botânicas da Torre de Marca no Palácio de Cristal. 
Alfredo Allen introduziu na Quinta e pela primeira vez em Portugal, alguns exemplares de árvores, plantas e arbustos. 
São célebres as Palmeiras do Chile que tão bem se deram com o clima da Cidade.
A Casa, exemplo de arquitectura romântica, resultou da recuperação e remodelação da Casa da Quinta da Arcaria.
Foram-lhe anexados dois corpos a Nascente e a Poente...
...foi soterrada uma fábrica de curtumes anexa à fachada Norte...
... rematada por dois torreões com merlões e seteiras.
Alfredo Allen desenhou novos Caminhos e Jardins, incluindo-lhes pormenores.



O tratamento paisagístico tem vindo a ser considerado como um dos primeiros em Portugal que procuram reproduzir a espontaneidade da natureza.
Um lago foi criado no meio da natureza.
São famosos dois vasos com frutas esculpidos em granito
Caminhando pela natureza.
Patamares, muros, imitações de ruínas


Funciona na Quinta um Horto - o Horto de Vilar d'Allen que de certo modo é o responsável por este valioso património natural.
Visitei esta Quinta por duas vezes já lá vão uns anos. De ambas, registei com gratidão a gentileza da Senhora Dona Isaura que me permitiu a visita, deu-me algumas explicações, mas o seu tempo era curto e não me pode acompanhar. Nem explicar mais. 
Numa das visitas falou-me que estava a preparar a Quinta de forma a puder ser visitada. Estava em estudo um protocolo com a Câmara Municipal, salvo erro.
Ao pegar no tema das Quintas de Campanhã, deixei esta para o fim por duas razões. Primeiro, porque soube que a Quinta para além de visitas programadas, acolhe eventos. Ver em:

Segundo, por causa das Camélias. Introduzidas pela primeira em Portugal, foram criadas várias espécies, sendo a Camélia Portuguesa já referida no Catálogo de Marques Loureiro, do Horto das Virtudes, de 1889. Não sei se foi criação sua ou dos Allen. 
A Perfeição de Villar d'Allen é a obra sublime criada na segunda metade do séc. XIX.
Mas já foram criadas cerca de 300 espécies.
As fotos foram roubadas da sua página do Facebook onde se podem apreciar mais espécies.

Em muitos Jardins e Parques Portugueses, principalmente no Centro-Norte, as Camélias estão presentes. Mas é no Porto, Cidade da Rainha Camélia onde ela se encontra em qualquer canto...
 ...Até no meu pequenino canteiro.
 
Cameleiras ou Japoneiras encontram-se por toda a Quinta. Só florescem no período frio.
Escreveu Alberto Pimentel no Guia do Viajante do Porto editado em finais do séc. XIX, se a Dama das Camélias de Dumas Filho não vivesse em Paris, viveria de certo no Porto, onde as camélias nascem numa abundância e formosura incomparáveis.
Com a construção de novas vias, não sei se a Quinta foi retalhada. Esta é a estrada que nos leva ao centro de Gondomar.
Um pormenor aéreo, relativamente antigo. Não sei os contornos actuais da Quinta. Destacam-se perfeitamente o Horto, os Jardins e a Mata.
Boas visitas, caros amigos e leitores. A Quinta localiza-se no Freixo, mesmo em frente à Quinta e Palácio do Freixo. No início de quem sai do Porto, da chamada estrada de Entre-os-Rios, junto ao Douro.