A Rua do Bonjardim é uma velha artéria já referida no séc. XIII e que ligava o limite da Cidade de então, desde o Postigo e posteriormente Porta de Carros (aos Congregados), até ao Largo da Aguardente. A actual Praça Marquês de Pombal.Se não foi estrada Romana, foi pelo menos uma via medieval prosseguindo para o Norte de Portugal.  Não consegui localizar esta imagem da rua no fim do século XIX ou princípios do século XX. Mas acertarei se julgar que é onde termina Alferes Malheiro, de quem vem da Estação da Trindade ?
 Não consegui localizar esta imagem da rua no fim do século XIX ou princípios do século XX. Mas acertarei se julgar que é onde termina Alferes Malheiro, de quem vem da Estação da Trindade ? 
Mas vamos descer a Rua que é bem mais fácil do que subi-la e apontar recordações minhas e também de alguma estória.
 Então começamos pelo fim, no antigo Largo da Aguardente, hoje Marquês de Pombal. No meu tempo de menino, haviam por aqui uns terrenos e casas apalaçadas. À esquerda era a BIAL da família Portela, fundada em 1924 e cujo primeiro produto licenciado foi o Benzodiacol. De pequeno laboratório farmacêutico a empresa de nível mundial. Em frente era a fábrica de lenços Teixeira. Minha avó, minha mãe, minha madrinha, algumas vizinhas, trabalharam aqui.
Então começamos pelo fim, no antigo Largo da Aguardente, hoje Marquês de Pombal. No meu tempo de menino, haviam por aqui uns terrenos e casas apalaçadas. À esquerda era a BIAL da família Portela, fundada em 1924 e cujo primeiro produto licenciado foi o Benzodiacol. De pequeno laboratório farmacêutico a empresa de nível mundial. Em frente era a fábrica de lenços Teixeira. Minha avó, minha mãe, minha madrinha, algumas vizinhas, trabalharam aqui.  Mesmo em frente à Rua do Paraíso, famosa pela sua esquadra da PSP encontramos a Velha Fonte de Vila Parda, de 1859, recentemente restaurada. Por detrás, os montes que vão ou iriam dar à Fontinha.
Mesmo em frente à Rua do Paraíso, famosa pela sua esquadra da PSP encontramos a Velha Fonte de Vila Parda, de 1859, recentemente restaurada. Por detrás, os montes que vão ou iriam dar à Fontinha. Um pouco mais abaixo, a Rua das Musas que vai de Camões até à Fontinha, uma das poucas artérias que cortam Bonjardim. Era uma zona de grande densidade populacional tipicamente operária. Por aqui passaram gentes que desenvolveram o Movimento Operário Português em meados do séc. XIX. Existiram também pequenas metalúrgicas e, dentro delas, as de fabrico de pregos, posteriormente encerradas devido à novíssima e bem apetrechada Companhia Aurifícia, fundada em Maio de 1876 e talvez por uma greve desencadeada a 12. A Rua das Musas já exisitia em 1777, mas chamava-se '' Monte da Musa, acima de Fradelos ''
Um pouco mais abaixo, a Rua das Musas que vai de Camões até à Fontinha, uma das poucas artérias que cortam Bonjardim. Era uma zona de grande densidade populacional tipicamente operária. Por aqui passaram gentes que desenvolveram o Movimento Operário Português em meados do séc. XIX. Existiram também pequenas metalúrgicas e, dentro delas, as de fabrico de pregos, posteriormente encerradas devido à novíssima e bem apetrechada Companhia Aurifícia, fundada em Maio de 1876 e talvez por uma greve desencadeada a 12. A Rua das Musas já exisitia em 1777, mas chamava-se '' Monte da Musa, acima de Fradelos '' Os velhos bares que por aqui haviam nos anos 60/70 desapareceram. O Arco Íris, a Tentativa, etc. Daqui saiu um grupo de "baile" que fez as delícias da rapaziada com strip-tease ao som de Je t'aime mais non plus, nos Nazarenos, mais tarde Chez Toi, em Bissau.
 Os velhos bares que por aqui haviam nos anos 60/70 desapareceram. O Arco Íris, a Tentativa, etc. Daqui saiu um grupo de "baile" que fez as delícias da rapaziada com strip-tease ao som de Je t'aime mais non plus, nos Nazarenos, mais tarde Chez Toi, em Bissau. Muitos prédios ao longo da rua estão em ruínas. Não é excessão a casa onde nasceu o pintor Artur Loureiro em 1843.
Muitos prédios ao longo da rua estão em ruínas. Não é excessão a casa onde nasceu o pintor Artur Loureiro em 1843. Chegados a Gonçalo Cristóvão e salta-nos à vista o imponente edifício do JN. Atravessada a via, vamos encontrar o Largo de Tito Fontes, antigo Largo do Bonjardim.
Chegados a Gonçalo Cristóvão e salta-nos à vista o imponente edifício do JN. Atravessada a via, vamos encontrar o Largo de Tito Fontes, antigo Largo do Bonjardim. A velha guarda lembra-se com certeza do Ginjal, aberto até às 500, muito frequentado para refeições a altas horas, de entre outros personagens da noite do velho Porto, pelo pessoal dos Jornais.
A velha guarda lembra-se com certeza do Ginjal, aberto até às 500, muito frequentado para refeições a altas horas, de entre outros personagens da noite do velho Porto, pelo pessoal dos Jornais.  Quando por aqui passo, muito gosto de olhar as velhas mercearias e matar saudades. E quási em frente, na esquina com Fernandes Tomáz, está a casa Lourenço.
 Quando por aqui passo, muito gosto de olhar as velhas mercearias e matar saudades. E quási em frente, na esquina com Fernandes Tomáz, está a casa Lourenço.
 Bons queijos e fumeiro aqui se encontram. E bons vinhos. É das melhores e mais sortidas casas do Porto. A Igreja da Trindade bem destacada em fundo.
Bons queijos e fumeiro aqui se encontram. E bons vinhos. É das melhores e mais sortidas casas do Porto. A Igreja da Trindade bem destacada em fundo. Do outro lado ainda funciona a antiga Tipografia Artes e Letras. Ao fundo do pequeno quarteirão, o ex-Café Portuense, sala dos mirones que vinham "lançar a buga" às meninas de Liceiras e Estevão.
Do outro lado ainda funciona a antiga Tipografia Artes e Letras. Ao fundo do pequeno quarteirão, o ex-Café Portuense, sala dos mirones que vinham "lançar a buga" às meninas de Liceiras e Estevão. Em frente ainda podemos ler a inscrição dos Santos Douradores, especialistas em Molduras para quadros. Tinham também uma pequena oficina em Liceiras. Demoravam meses a fazer uma moldura. Mas toda a gente sabia que era assim mesmo e pronto.
 Em frente ainda podemos ler a inscrição dos Santos Douradores, especialistas em Molduras para quadros. Tinham também uma pequena oficina em Liceiras. Demoravam meses a fazer uma moldura. Mas toda a gente sabia que era assim mesmo e pronto.
 Liceiras e Estevão. Chamava-se aqui o lugar de Bonjardim em Liceiras e vem mencionado no testamento do bispo D. Vicente Mendes, em 1296. À direita, O Portuense. Tudo a desfazer-se
Liceiras e Estevão. Chamava-se aqui o lugar de Bonjardim em Liceiras e vem mencionado no testamento do bispo D. Vicente Mendes, em 1296. À direita, O Portuense. Tudo a desfazer-se Continuamos a descer e no cruzamento com a Rua Formosa outra célebre mercearia, A Casa Januário, cuja especialidade era o Café. Para os pobres, a Mistura de 12 (escudos) e a Cevada a 4. Se a memória não me falha eram estes os preços em princípios dos anos 70. Mas também as especiarias, vendidas aos 10 gramas em pacotinhos de papel vegetal. E as especialidades para o Natal. E os biscoitos. E E E..
Continuamos a descer e no cruzamento com a Rua Formosa outra célebre mercearia, A Casa Januário, cuja especialidade era o Café. Para os pobres, a Mistura de 12 (escudos) e a Cevada a 4. Se a memória não me falha eram estes os preços em princípios dos anos 70. Mas também as especiarias, vendidas aos 10 gramas em pacotinhos de papel vegetal. E as especialidades para o Natal. E os biscoitos. E E E..
Tito Fontes foi um médico de grande valor, político e um impulsionador da plantação de árvores na Cidade por crianças das Escolas. Embora quási toda a sua vida fosse passada ou feita no Porto, nasceu e morreu em Valença do Minho (1854/1933). 
No entanto o largo tem um busto dedicado a Raul Dória, professor, que fundou aqui próximo a Escola Comercial com o seu nome, nos primeiros anos do séc. XX. Foi este largo local de muitos comícios e actividades sindicais nos finais do séc. XIX.
Mais abaixo situava-se o célebre lupanar o "515", hoje um edifício residencial com loja no rez-do-chão. Abaixo um pouco, encontramos Alferes Malheiro e a ligação à Trindade, estação velhinha de caminho de ferro de via reduzida, hoje uma das principais estações do Metro.
Abaixo um pouco, encontramos Alferes Malheiro e a ligação à Trindade, estação velhinha de caminho de ferro de via reduzida, hoje uma das principais estações do Metro. Em frente a antiga herbanária, agora muito remodelada, e as mercearias ainda com muitos "toques" de antigamente. O Bacalhau continua a ser a imagem de marca e aqui comprei muito dele entre 1960 e 1961, numa época de racionamento. Destinava-se a dar de comer a trabalhadores rurais que um colega já homem tinha numa propriedade em Gião, Vila do Conde. Por cada kg de bacalhau, hoje chamado do miúdo - custava cerca de 8 a 10 escudos - tinha de comprar outras mercearias.
Em frente a antiga herbanária, agora muito remodelada, e as mercearias ainda com muitos "toques" de antigamente. O Bacalhau continua a ser a imagem de marca e aqui comprei muito dele entre 1960 e 1961, numa época de racionamento. Destinava-se a dar de comer a trabalhadores rurais que um colega já homem tinha numa propriedade em Gião, Vila do Conde. Por cada kg de bacalhau, hoje chamado do miúdo - custava cerca de 8 a 10 escudos - tinha de comprar outras mercearias.
À esquerda, o Palácio dos Correios. Neste quarteirão ainda por cá estão o alfarrabista (meu fornecedor preferido), uma das casas de peles, o ferrageiro, a farmácia, enfim, algum do comércio tradicional portuense. Quem já cá não está é a Padaria Ceres, embora o prédio lá esteja em ruínas. Era de requinte comprar nos anos 60 qualquer coisa que levasse farinha, na Ceres. Nem o Costa Pina, cujas instalações passaram para o César Santos, dos utensílios de cozinha, a preços muito bons. Diria mesmo, dos mais baixos do mercado. Passe a publicidade.  Ultrapassado o cruzamento com a Rua Formosa, damos com uma das zonas de restaurantes. O Pedro dos Frangos, as duas Congas e o Solar da Conga. Junto a ourivesarias, Deus as guarde dos especialistas amigos do alheio, que andam muito activos nesta especialidade.
Ultrapassado o cruzamento com a Rua Formosa, damos com uma das zonas de restaurantes. O Pedro dos Frangos, as duas Congas e o Solar da Conga. Junto a ourivesarias, Deus as guarde dos especialistas amigos do alheio, que andam muito activos nesta especialidade.  Logo a seguir está a Praça D. João I e reconforta ver o edifício sede dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, finalmente restaurado. Foram dezenas de anos de luta, mas valeu a pena. Continuem com a obra, rapazes da escrita. Do lado esquerdo, o Café Garça Real, antigo Flórida, que combatia com o Odin, na Praça, pela supremacia dos clientes salgueiristas.
Logo a seguir está a Praça D. João I e reconforta ver o edifício sede dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, finalmente restaurado. Foram dezenas de anos de luta, mas valeu a pena. Continuem com a obra, rapazes da escrita. Do lado esquerdo, o Café Garça Real, antigo Flórida, que combatia com o Odin, na Praça, pela supremacia dos clientes salgueiristas.  Na Praça D. João I verdadeiramente dito, o teatro Municipal Rivoli. Mas acho que pertence ao Bonjardim.
Na Praça D. João I verdadeiramente dito, o teatro Municipal Rivoli. Mas acho que pertence ao Bonjardim.
 Atravessada a Praça e a Rua Dr. Magalhães Lemos, famoso neurologista, estamos no último quarteirão da Rua do Bonjardim. O edifício onde esteve instalada a Cervejaria Stadium é mais um dos que se estão a desfazer.
 Atravessada a Praça e a Rua Dr. Magalhães Lemos, famoso neurologista, estamos no último quarteirão da Rua do Bonjardim. O edifício onde esteve instalada a Cervejaria Stadium é mais um dos que se estão a desfazer.
 É a zona dos restaurantes mais caros: a Maria Rita e a Regaleira. Este tem fama da invenção, através de um seu empregado ex-trabalhador em França, da célebre Francesinha, um dos ex-libris da culinária portuense a partir dos anos 60. Mas bom mesmo é o Rei dos Queijos. Apreciem a montra e ganhem apetite para um lanche.
 É a zona dos restaurantes mais caros: a Maria Rita e a Regaleira. Este tem fama da invenção, através de um seu empregado ex-trabalhador em França, da célebre Francesinha, um dos ex-libris da culinária portuense a partir dos anos 60. Mas bom mesmo é o Rei dos Queijos. Apreciem a montra e ganhem apetite para um lanche.
 Chegamos ao fim da Rua, que afinal é o princípio. Mas entendo que já foi maior, tendo-lhe sido roubada a parte nova de Sá da Bandeira. Como diz a história, na Porta de Carros (aos Congregados) começava a via da saída da Cidade...
 Chegamos ao fim da Rua, que afinal é o princípio. Mas entendo que já foi maior, tendo-lhe sido roubada a parte nova de Sá da Bandeira. Como diz a história, na Porta de Carros (aos Congregados) começava a via da saída da Cidade...
Concluindo. À esquerda ficava o Bar Borges, refúgio dos "africanistas" e ponto de encontro para negócios. Normalmente acompanhados por belas figuras femininas. À direita a Brasileira do Telles, cujo edifício entrou finalmente em obras. Era outro ponto de encontro mas este das gentes do Teatro (Sá da Bandeira e Rivoli aqui a dois passos) e de alguns futebolistas de outrora. Pinga, Barrigana e uns tantos outros. Ainda à esquerda, está a travessa dos Congregados, que era recheada de restaurantes, que já foram do Povo. Ainda existem alguns a par de instalações bancárias. Mas ainda se pode lá comer a bom preço. 
Boas caminhadas, boas comidas e melhores bebidas.
 
