Esta é a chamada Volta ao Quarteirão, assim designado um passeio pequeno entre amigos para passar o tempo e dar umas de palheta. Quer dizer, conversar de tudo e de nada. Antigamente também era para evitar ouvidos indiscretos ou mostrar a fatiota nova.
Este quarteirão de hoje tem séculos de história - nesta minha cidade o tempo e o espaço é contado e medido em séculos -. Imaginem um quadrado mais ou menos com 200 metros de lado e acompanhem-me começando pelo lado esquerdo.
Depois de subir a Rua dos Clérigos (tema para futuros passeios) encostámo-nos às escadas da Igreja e preparamos nova subida, agora pela Rua das Carmelitas. Confusão na minha cabeça: porque se chama "das" quando o Convento (hoje Quartel das motorizadas da GNR) ali a 300 m é "dos" (Carmelitas). Simples. Quem não sabe é como quem não vê.
Mas antes da explicação, uma foto comparativa com mais de 120 anos, presumo, do que foi a Rua das Carmelitas. Reparem naquelas pequenas torres no "passeio" da Igreja dos Clérigos. Como houve várias alterações às escadas, provàvelmente acrescentaram-lhes mais alguma coisita. Ou será defeito do (s) fotógrafo (s).




Rua das Carmelitas e à direita Rua de Cândido dos Reis
Pois mais ou menos por aqui existiu um convento das Carmelitas, com a denominação (será a palavra correcta ?) de S. José e Santa Teresa de (das ?) Carmelitas Descalças. Construído entre 1702 e 1732 e extinto em 1833, com a fuga das monjas - apoiantes de D. Miguel - aquando da vitória de D. Pedro IV e do Porto, nas lutas liberais. O edifício foi aproveitado para vários fins: Escola Normal, Obras Públicas, Correios, Cavalariças da Mala Posta e até de um barracão para teatro.
Não há qualquer registo escrito significativo, nem desenhos, fotos (?) sobre este Convento. Demoliu-se e pronto. Coisas à moda do Porto.
Outro pormenor da Rua das Carmelitas. Por vezes torna-se um pouco confuso olhar as fotos de uma rua antiga. Comparada com a anterior, nada se parece com ela. Talvez fotografada com anos de diferença. Mas tudo tem a sua explicação. Sabe-se, pela leitura de um relatório camarário, que a Câmara do Porto solicitara, no ano de 1838, autorização à rainha D. Maria I para proceder ao seu alinhamento. Isto significa que a artéria sofreu algumas alterações.
À época em que foi solicitado o referido alinhamento, a rua era bastante mais estreita do que é actualmente, subia em curva por entre duas altas paredes, uma das quais delimitava a cerca do Convento. Anteriormente talvez se tenha chamado do Calvário Velho, nome deste local e onde foi construído o Convento. Mas em 1839, chamou-se Rua do Anjo, mas voltou a Carmelitas, não sei quando.
Do "passeio" da Igreja dos Clérigos, olhamos para a esquerda e temos a "falecida" Praça de Lisboa. Ao fundo o edifício da Reitoria da Universidade do Porto. Por ordem de datas, da frente para trás, já foi Clérigos Shoping de má memória, parque de estacionamento de camionetas - olá pessoal dos velhos tempos, lembram-se? era aqui onde descíamos e subíamos das ditas camionetas que nos traziam e levavam, de e para os Quartéis do sul ? -, Mercado (do Anjo, mas lá chegaremos), Casa de Recolhimento de Senhoras e órfãs. E até já teve Capela. Também lá iremos. Porque estou a propor uma Volta ao Quarteirão, lembram-se ?
No início da subida da Rua das Carmelitas, à direita, está a estreita Rua do Conde de Vizela. Que foi em tempos idos a Rua do Correio. Ligada ao 1º Conde de Vizela (o 2º foi o da Casa e Jardins de Serralves), que mandou construir todo o quarteirão abrangendo as Ruas de Cândido dos Reis nas traseiras, frentes para a de Santa Teresa a Norte e Carmelitas a Sul. São edifícios de finais do séc. XIX princípios do séc. XX. O lado direito da Rua não têm história. Pelo menos não a descobri.
À época em que foi solicitado o referido alinhamento, a rua era bastante mais estreita do que é actualmente, subia em curva por entre duas altas paredes, uma das quais delimitava a cerca do Convento. Anteriormente talvez se tenha chamado do Calvário Velho, nome deste local e onde foi construído o Convento. Mas em 1839, chamou-se Rua do Anjo, mas voltou a Carmelitas, não sei quando.





Estratègicamente colocada uma bandeirola de publicidade. Nesta nossa cidade, todos os espaços se vendem e alugam. Não interessa se destoam ou ofendem a vista. Mas quem quer saber, para além do fotógrafo ocasional que não consegue separar o reclame do original, por muitas manobras que faça.





Mas vale a pena, divulgar a história do local onde ele existiu, que vejam lá, remota ao séc. XII. Diz a lenda...
... que, em certa ocasião, passando D. Mafalda e D. Afonso Henriques, por aqui, a caminho de Guimarães, a esposa do monarca sofreu grave acidente. Em hora de aflição, o nosso primeiro rei terá prometido mandar construir uma capela em honra de S. Miguel-o-Anjo se a rainha saísse ilesa do trágico acontecimento. A prece foi escutada e a promessa cumprida. Na ermida havia uma imagem de Sebastião e na seta que trespassava o coração do santo protector contra a peste estava pendurada uma chave - a da porta da cidade que se abria ali perto na muralha fernandina.
... que, em certa ocasião, passando D. Mafalda e D. Afonso Henriques, por aqui, a caminho de Guimarães, a esposa do monarca sofreu grave acidente. Em hora de aflição, o nosso primeiro rei terá prometido mandar construir uma capela em honra de S. Miguel-o-Anjo se a rainha saísse ilesa do trágico acontecimento. A prece foi escutada e a promessa cumprida. Na ermida havia uma imagem de Sebastião e na seta que trespassava o coração do santo protector contra a peste estava pendurada uma chave - a da porta da cidade que se abria ali perto na muralha fernandina.
Fora ali colocada para que o padroeiro protegesse a cidade dos surtos da peste tão frequentes e mortíferos durante toda a Idade Média. (Germano Silva, no JN)
Apontamento meu: Quem lá colocou a chave e quando ?, pois é sabido que as muralhas só lá esteviram a partir de séc. XIV. Mas para o caso não interessa nada.
Ao redor da capela de S. Miguel-o-Anjo instituiu-se, em 1672, o Recolhimento do Anjo destinado a acolher viúvas e meninas órfãs filhas de pais nobres. A sua actividade durou até à extinção das ordens religiosas. O edifício foi demolido em 1837 para dar lugar ao Mercado, que acabou também por tomar o nome do padroeiro da capela original.
















Até ao próximo passeio.