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sábado, 21 de janeiro de 2017

265 - Recordando o GACA 3

Há muito que eu e ex-camaradas pensávamos visitar o antigo Quartel do GACA 3, em Paramos, Espinho. A oportunidade chegou há dias, mas a unidade militar mudou o nome para Regimento de Engenharia 3.
Muita coisa se alterou no espaço do Quartel, mas outras mantiveram-se.
É o caso da estrada que liga a Estação Ferroviária à Porta de Armas, isto é, à entrada principal. A Estação fica a 50 metros da estrada e percorri-a centenas de vezes durante os 5 meses que frequentei a unidade.
A guarita e a Casa da Guarda estão do lado direito da Porta de Armas, quando no meu tempo estavam do lado esquerdo.
A falta de memória começa a surgir e para já prende-se com o ribeiro que passa pela frente da entrada do quartel. Não me lembro nada do ribeiro neste local, mas apenas dos lados norte e nascente indo desaguar a Sul à Barrinha de Esmoriz.
Foram construídos edifícios novos, mas mantiveram-se pelo menos alguns antigos. E o arranjo geral da unidade mais parece um jardim.
A maior parte do envolvimento da unidade era em arame farpado. Hoje está construído um muro em toda a volta. A foto foi tirada pelo camarada Jorge Peixoto do alto da Torre de Comando. 
Mas o porquê da razão desta visita especial ?  Porque foi neste quartel, chamado no meu tempo de GACA 3 ( Grupo de Artilharia Contra Aeronaves) e onde passei os melhores meses de tropa que me deixaram imensas recordações. 
Uma nova Parada
Após a recruta e a especialidade deram-me um posto que não existia no exército português mas inventado após as revoluções das populações Africanas: Cabo-Miliciano, um posto militar intercalado entre cabos e sargentos. Poupava o Estado pagando a miséria de 90 escudos mensais a quem fazia serviços de sargento, incluindo a instrução militar a novos soldados. A promoção à classe de Sargentos, com o posto de Furriel-miliciano era feita na altura do embarque para África. 
 Várias estátuas ornamentam o espaço.
 Pois esta Unidade foi a única que reconheceu desde sempre direitos aos cabos-milicianos, incluindo o uso de roupa civil e saídas do Quartel sem necessidade de licenças. Os toques de serviços que julgo serem entre as 7 horas (Alvorada ?) e as 17 horas (Ordem ?) limitavam estas "regalias" 
Homenagem aos Soldados Mortos pela Pátria.
Muitas histórias poderiam contar os cabos-milicianos. A amizade foi-se consolidando entre nós pois quase todos viemos da Escola Prática de Artilharia, incluindo os próprios Aspirantes, outra espécie de Oficiais fora da hierarquia igualmente criados para poupar dinheiro ao Estado durante a guerra colonial em África.
Esta é dedicada aos soldados de Engenharia.


Segundo boas memórias como é o caso do Francisco Silva, esta era a caserna da 2ª Companhia. Embora sejamos os dois de períodos militares diferentes o número da Companhia deve-se ter mantido até ao fim da vida do GACA. Incluía as camaratas dos Soldados, a Secretaria uma sala de Armamento e o gabinete do Comandante que no meu tempo era um tenente profissional, muito cagarola por sinal.
Uma recordação durante a refeição na messe de alguns cabos-milicianos.

Um mural recorda militares que durante anos passaram pelo GACA 3.
O meu amigo e camarada Ricardo Figueiredo mostra-nos a placa, homenagem dos ex-militares do seu Batalhão na Guiné.

Desde 1948 o quartel tomou vários nomes de especialidades e serviços. 
Tínhamos entrada gratuita no cinema S. Pedro, em Espinho. Podíamos passear "à civil" sem receio de participações - queixas - de graduados. 
O António Canhão era o camarada poeta-sedutor. A sua agenda estava carregada de nomes femininos a quem escrevia cartas e poemas. O seu paradeiro principal era o Café Avenida em Espinho.
Famoso era um sobretudo branco que eu emprestava aos camaradas quando iam passear. Com um corte estiloso curioso, ficava sempre bem a quem fosse alto ou baixo.
Às segundas-feiras, dia de feira em Espinho, era uma festa. Um cabo milicano e um soldado pronto faziam a ronda para evitar zaragatas ou soldados mal-vestidos. Era uma fixa, pois o cabo miliciano usava pistola - Walter de 9 mm - como se fosse um cóboi americano e o soldado um cassetete. Se não estou em erro.   
Poder-se-ia passar em direcção à praia localizada bem perto através da porta das traseiras do quartel. Encontrávamos a Capela da Senhora da Aparecida, no Lugar da Praia, em frente ao mar.
Muitas vezes frequentámos o Bar e o Restaurante do Aero Clube da Costa Verde, que servia uns bifes de grande qualidade a preços  bem económicos. Estávamos em 1967/8. Em 11 de Janeiro não fomos ao Clube mas fomos igualmente bem servidos no Restaurante Casarão do Emigrante.
Uma foto para mais tarde recordar.

E como Recordar é Viver aqui deixo os pratos principais que almoçamos. Bem regados também.