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sábado, 6 de julho de 2013

163 - Memórias de Trás-os-Montes e Alto Douro. 4

De regresso a Trás-os Montes e à viagem por esta bela mas pouco lembrada região. Continuo no meu Portugal, Lindo, Limpo e Bom.
   
Vamos deixar Mogadouro e viajar para Alfândega da Fé. O dia apresentou-se lindo e bem quente em contraste com os anteriores.

Paisagens fantásticas acompanham-nos durante o percurso e do alto, bem alto de uma ponte, presumo que o lugar chama-se Parada ou é lá próximo, vemos o Rio Sabor, o último rio selvagem de Portugal. Dizem.  Mas em breve deixará de o ser, após a conclusão da barragem que o vai alterar profundamente. Bem como toda a região.
Falam ecologistas, economistas, jornalistas e populações da inutilidade desta barragem. Custos ao erário público sem aproveitamento hidro-eléctrico que compense minimamente a sua construção e ajude a baixar o preço dos nossos consumos. E a EDP (Electricidade de Portugal) a ganhar com isso pois já nos cobra, a todos os portugueses, no recibo da electricidade esse empreendimento. Favores pagos às autarquias que, tanto quanto eu saiba, se fecharam em copas e abriram as portas.
A flora e fauna, dizem, desaparecerá. Os desportos de aventura também. E lugares e aldeias nunca mais serão pretexto para uma visita nem que seja de saudade, pois igualmente desaparecerão.
Ao Tua, ali a menos de meia centena de quilómetros, vai acontecer a mesma coisa. E não será a obra do premiado Pritzker Souto Moura, fingindo montes arquitectónicamente, que irá devolver a beleza da região e o clima, pois será influenciado, pondo em risco a cultura milenar do Vinho.
E lá vai acontecer mais uma machadada na região, e porque não, ao País, do que foi a maior das obras ferroviárias de Portugal. A Linha Internacional do Douro. Embora no caso da barragem do Tua os autarcas tenham dado a cara querendo impedir a obra.
Agora tenho de dar razão à Clara Ferreira Alves. Portugal, aqui, vai ser Feio, Sujo, Mau.

Paisagens que podemos observar na Região Nordestina. E os terrenos cultivados ou preparados para novas culturas.

Em Alfândega da Fé chamam a atenção as placas toponímicas, fabricadas em azulejo e tendo como símbolo a Torre do Relógio.
A Torre do Relógio, ex-libris de Alfândega, deve ter feito parte de uma muralha medieval.

No ponto mais alto, o sítio do Castelo. Que terá sido uma edificação moura, mandada reconstruir em 1320 por D. Dinis. Mas em 1530 já estava derrubado e malbaratado. Erguida no local, uma memória.
Deixemos o olhar vaguear pelo que nos rodeia do alto de mais de 550 metros de altitude.
A origem do nome de Alfândega da Fé vem desde as invasões árabes do séc.VIII, Alfandagh, significando povo hospitaleiro, lugar onde se está bem. Após a Reconquista cristã, foi lhe acrescido da Fé.
O tempo é curto, as horas voam e nas "calmas" encaminhamo-nos para Vila Flor.

Mais uma vila simpática infelizmente conhecida ao de leve. Fica no sopé de um monte onde se venera Nossa Senhora da Lapa. Creio que o Monte faz parte da Serra do Facho.

Monumento ao Rei D. Dinis.
n. 9.Outubro.1261 - f.7.Janeiro.1325
Se bem me lembro, na instrução primária ensinou-me a D. Belmira (g'anda Prof.) a chamar-lhe O Lavrador, cognome porque ficou conhecido pelo cuidado que teve em fazer desenvolver a agricultura pelo País. Os campos estavam em poder do Clero e o homem interessou o Povo neles. Exportaram-se produtos agrícolas para a Flandres, Inglaterra e França. Para além de peixe e sal. É muita a história deste Rei, o fundador da Universidade de Coimbra, desde há uns dias Património Mundial da Humanidade.
Exactamente ao contrário do que os nossos (alguns) governantes fazem actualmente e pelo menos desde o início da década de 90 do século passado.
Homem da Cultura, foi também conhecido por O Trovador, pois era muito dado à poesia. Não sei se as  Flores de (do) Verde Pinho serão uma espécie de plágio. Não digo nas palavras, mas no jeito (?). Isto sou só eu a pensar para dentro, até porque não sou nada dado a poesias. Mesmo assim, peço desculpa do mal dizer sem querer dizer mal do nosso nobre e valente e ex-camarada, o vate Manuel Alegre.
Ainda sobre o Rei, nenhum português, pelo menos os da velha guarda, esqueceu que foi ele quem mandou semear (ou será plantar ?) o Pinhal de Leiria com duas finalidades: conter o avanço das areias marítimas e preparar o futuro com madeiras para construir barcos. Naquele tempo havia gente inteligente. 
Esta simpática Vila preferiu o Poeta ao Lavrador. Vila Flor, que anteriormente se chamou de Póvoa d'Além Sabor tem duas lendas associadas ao seu nome. Uma é que o Rei de passagem para visitar a noiva a Aragão, a futura Rainha D. Isabel, ficou encantado com a beleza natural e em 1286 rebaptizou-a. A outra é que de passagem pela terra, o Rei conheceu uma jovem pastora de nome, adivinhem...Flor. 
Acredito mais nesta última lenda, pois o Rei era mulherengo p'ra caramba. Para além da filha e do filho nascidos do casamento, são-lhe atribuídos mais sete de várias mulheres. Entretinha-se por Odivêlas com umas damas finas. Daí Odivêlas nasceu da corruptela Ide Vêlas (..Senhor... terá dito a Rainha). Por isso, no meu modesto entender, a Santificação da Rainha não veio por causa do Milagre das Rosas, mas sim pela sua confiança no marido. Ele vai mas volta. A tradição já não é o que era...
Um aviso: A História do Rei está muito mal contada na Wikipédia. Muitas datas erradas incluindo as do casamento. Acho que é de confiar mais na ligação
 http://www.arqnet.pt/portal/portugal/temashistoria/dinis.html
  
A Igreja matriz, dedicada a S. Bartolomeu, é do séc. XVIII construída no local de uma anterior que ruiu. As pedras foram aproveitadas na construção do actual templo. Estava fechada quando por lá passamos. 

Na foto superior esquerda é o Museu Municipal Dr. Berta Cabral. Situado no antigo Solar dos Aguilares, primeiros donatários de Vila Flor, é um edifício do séc. XII/XIII e possui um espólio diversificado, com ofertas dos filhos da terra, de arqueologia, artes, numismática, etnografia, artesanato africano, arte sacra. 
Em baixo, à esquerda, uma casa com "jardim" que foi utilizada por um organismo do Estado, salvo erro à antiga Junta Autónoma das Estradas. Abandonada. A quem pertencerá ? Não lhe poderia ser dado uso ?
À direita, através das colunas da Fonte Romana - é só apelido porque é quinhentista - vê-se o que resta das antigas muralhas, o arco da porta chamada de D. Dinis.
Ainda restam memórias da Judiaria nos nomes e pavimentos das ruas estreitinhas e uma ou outra casa arruinada. Li na história da Freguesia. 

Embora singela, tem muito significado esta pequena memória dedicada aos filhos da terra mortos no antigo Ultramar durante a Guerra Colonial. Curioso que foi inaugurado ainda no tempo da outra senhora (1973).

Duas coisas pouco interessantes em Vila Flor: Um painel informativo desmazelado. E um Termómetro que deve estar pelo menos 20º atrasado.

Velho Moínho
Vila Flor é a capital do Azeite no coração da Terra Quente Transmontana, rica na produção das melhores qualidades de azeitonas de Portugal. Embora o paladar de cada um de nós possa variar, acho mesmo que devemos conhecer e apreciar as diversas qualidades produzidas nas várias regiões do melhor azeite do Mundo. O Português. 
Não entendo porque marcas reconhecidas internacionalmente e especialmente a Gallo, não me responderam à simples pergunta se todos as azeitonas e/ou os mostos que utilizavam na produção do seu azeite eram de origem portuguesa. Convidaram-me a visitar a Fábrica, mas isso nada trás de especial, pois por cada mensagem ou email recebidos, limitam-se a mandar o convite, automàticamente. Li alguns rigorosamente iguais. Mas a pergunta teve uma razão de ser: Li que Portugal já se basta a si próprio na produção do Azeite. Será verdade ?
No Brasil o Vila Flor vende-se em  http://www.velhomundo.com.br/busca/  Nas qualidades Extra-Virgem, de 1º e 1,5º de acidez. Clique na ligação e vai lá direitinho. 
Esta região para além de maior produtora de Azeitona de Mesa de Portugal, é muito forte em frutos secos, especialmente a Amêndoa mas não devemos esquecer o Pinhão. E também de variadíssimas frutas, hortícolas e cereais. O fértil Vale da Vilariça está ali bem próximo. E saibam os meus amigos, que as águas minerais FRIZE são em Vila Flor produzidas com água natural que aqui nasce.

Com horas marcadas para saltarmos o Douro, o Rio escolhido como o melhor turístico da Europa 2013. Uma pena as populações e os comércios pouco usufruam dessa regalia. 
Mas seguindo viagem no sentido de Carrazeda de Ansiães, cuja visita ficará para outra altura (o Rio Tua passa bem próximo) é obrigatório entrar por Linhares de Ansiães, outro  lugar velhíssimo. Linhares e Ansiães foram as primeiras terras do actual distrito de Bragança a ter foral. Foi por volta de 1050, portanto anterior à nacionalidade portuguesa e veio das mãos de Fernando I de Castela, o Magno.

Ao atravessarmos a ponte sobre uma pequena ribeira, julgo que se chama de Linhares e se o for vem de longe, chama-nos a atenção um quadro que alerta sobre a destruição do gradeamento original. Diz-se que a Ponte é Romanica. Curioso ainda existir um engenho de tirar água, a picota ou cegonha, introduzido na Península Ibérica pelos Árabes. 

Finalmente vi Crianças. O amigo e cicerone Fernando Súcio esteve a conversar com o pequeno grupo. Junto à Ribeira, velhas casas conservadas construídas nos materiais tradicionais. Xisto e granito.

Do outro lado, o Pelourinho do séc. XVII, transferido do primitivo local no século passado, rodeado de casas graníticas.

A Igreja matriz do séc. XVIII,
A freguesia é muito vasta e com bastantes indícios pré-históricos, incluindo pinturas rupestres e sepulturas cavadas nas rochas.

Na saída do centro da Freguesia, a Casa dos Condes de Sampaio. Presumo que é de uma família cujos títulos já vêm desde os anos oitenta do séc. XIV. Senhores imemoriais da Honra de São Payo e dos foros das terras de Bragança, etc.etc.

Por montes e vales, aproximamo-nos do Rio Douro. 
Na Baleira conforme os antigos lhe chamavam, a Barragem da Valeira e o Rio Douro dividem os Concelhos de Carrazeda de Ansiães e de S. João da Pesqueira. Já é o Douro Vinhateiro.

Volto a referir-me às estradas da região do nordeste trasmontano. Boas, mas alguns acessos nem sempre bem sinalizados para os forasteiros. Para os habitantes regionais nem são precisos porque conhecem bem os lugares.


Despeço-me de Trás-os-Montes e das suas Gentes com carinho e amizade e vou para o Alto-Douro.
Até lá.