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sexta-feira, 20 de setembro de 2013

171 - A Casa-Oficina de António Carneiro

Passava há dias com uns amigos pela Rua de António Carneiro, ao Bonfim, (antigamente era a continuação da Barros Lima) e junto da Casa-Oficina do Pintor que deu o nome à Rua, perguntei-lhes se algum a conhecia. A resposta foi negativa. O mesmo deve acontecer a muitos Portuenses e não só. O Porto é uma cidade escondida para os seus habitantes e os da área metropolitana, onde raramente se divulga o que tem entre portas. Há as excepções, claro, principalmente alguns, poucos, templos católicos. E o Majestic e a Lello e a Torre dos Clérigos e a Ribeira. Mas os carolas da net lá vão divulgando o que temos cá dentro. 

Recordo que visitei a Casa-Oficina em Setembro de 2009 logo na sua reabertura ao público. Já não me lembro se foi por casualidade ou por ter lido alguma informação. Esteve encerrada desde 1998 para obras de remodelação. É propriedade da Câmara Municipal desde 1973, embora tivesse vindo a adquirir parcelas desde 1958. 

António Carneiro, auto-retrato. Um dos muitos que produziu.
S. Gonçalo de Amarante, 16 de Setembro de 1872. Porto, 31 de Março de 1930.

Oriundo de uma família pobre, foi abandonado pelo pai aos 7 anos e pouco tempo depois ficou órfão de mãe. É em 1879 encaminhado para o Asilo do Barão de Nova Sintra (a 100 metros desta casa) onde fez a instrução primária. Começou a desenhar copiando desenhos de ilustrações de textos.
Reconhecida a sua vocação, ingressou na Academia Portuense de Belas Artes em 1884 com o apoio da Santa Casa da Misericórdia, tutelar do Asilo.


A casa foi construída entre 1925-1930 segundo projecto de Álvaro Miranda, um não arquitecto amigo do António (que projectou e restaurou o Hotel e várias vivendas na Granja, Vila Nova de Gaia) . Para além do atelier foi a casa de habitação da familia: esposa Rosa Carneiro com quem casou em 1893 e os filhos Cláudio, músico e grande compositor chegando a ser director do Conservatório de Música do Porto (1895-1963) 
Maria Josefina (1898-1925); Carlos, também pintor (1900-1971) 

Na Academia fez o curso de Desenho Histórico, frequentou Escultura que abandonou após a morte de Soares dos Reis em 1889 e transferiu-se para Pintura. Em 1896 terminou o Curso de Pintura da História com 18 valores.

As obras do conjunto foram concluídas em 1930, tendo o pintor António Carneiro falecido nesse ano em 31 de Março.

Em 1895 reencontrou-se com o pai, recém-chegado do Brasil e vai com ele a Amarante onde conhecesse o poeta Teixeira de Pascoaes.  Em 97 parte para Paris após receber uma bolsa patrocinada, onde frequenta a Academia Julien. 
Regressa ao Porto em 1911. É convidado a leccionar na Academia Portuense de Belas Artes e em 1918 é investido na qualidade de Professor de Nomeação Efectiva, responsável pela Cadeira de Desenho de Figura. Em 1929 foi nomeado Director mas nunca chegou a exercer.  
A par das actividades de Pintor, Professor, Poeta fez parte desde 1911 da Renascença Portuguesa desenhando o logo-tipo usado em todas as edições, nomeadamente na Revista Águia  da qual era coordenador literário e ilustrador. Aos interessados remeto-os para a minha postagem: http://portojofotos.blogspot.pt/2012/03/123-rua-dos-martires-da-liberdade.html 
Entre 1893 e 1929 expôs individual ou colectivamente em Portugal e em várias Cidades Brasileiras ( Rio de Janeiro, S. Paulo, Curitiba) e participou nas Exposições Universais de Paris (1900), Saint Louis (1904) e ainda na Internacional de Barcelona de 1907.
Pormenor da Sala principal. A casa sofreu alterações para expôr o espólio do Artista que a Câmara Municipal vinha adquirindo e creio que também dos filhos, oferecido pelo neto Nuno Carneiro. O primeiro andar onde foram os aposentos da Residência estão vedados ao público. Ou estavam na altura da minha visita.
A foto do Artista com o quadro que pintava. Presumo que os retratados eram a filha e o filho Carlos, mas já não me lembro da descrição.
Este é o original pronto. 
À esquerda o material usado por António Carneiro

 Lembro-me de ler que é um Estudo. Não sei qual mas se a memória não falha, o trabalho final está no Palácio da Bolsa.

 Sé Catedral, Sacristia

 Porto Azul visto da Vitória

 Presumo que se chama A Última Ceia

 Camões lendo os Lusíadas aos Frades de S. Domingos

 À esquerda o tríptico de A Vida

A exposição é constituída por outros acervos como livros, fotos, documentos, objectos pessoais.

Há uma sala reservada para alunos de Pintura. Algumas das suas obras não acabadas estavam bem visíveis.


Nos pequeno jardim da entrada, na altura ainda não tratado bem como os outros, estava um trabalho e mais uma vez fico na incerteza. Mas julgo que se chamava Homem amarrado. Também as árvores estavam amarradas com vários materiais.  

António Carneiro, foi um retratista por excelência (Guilhermina Sugia, Antero de Quental, Correia de Oliveira, Teixeira de Pascoaes, foram alguns dos amigos retratados) mas as suas paisagens são muito singulares. Tem obras espalhadas em Museus e colecções particulares. Destaque a decoração produzida para a Sala de Leitura da Associação Comercial do Porto, no Palácio da Bolsa.

António Carneiro, é consagrado como precursor do Simbolismo, uma corrente que não teve continuadores. Foi o artista "mais para o sentimento do que para a razão; mais emocionar do que explicar". 

Pesquisa em alguns link's  e especialmente: