Andavam uns bichinhos a moer na minha cabeça. Quando assim acontece há que bater com ela até os bichinhos se soltarem. Pronto, - como agora se diz - os bichinhos se soltaram e consegui o pleno. Isto é. Três em um. Mas não totalmente. Mas isso é para outra ocasião.
O primeiro de três em um:
Vi esta foto num arquivo de Arnaldo Soares. Julgo que de finais do séc. XIX, ou princípios do XX. A legenda diz: Dispensário da Rainha D. Amélia. Conversei com vários amigos sobre esta foto. Para nós, o dispensário com este nome, seria o dos Tuberculosos, na Praça e Edifício que ainda existe, mas para os lados de Santo Izidro. Mas nada batia certo: Será que havia uma Torre defensiva para aqueles lados ? A Capela não se parece nada com a de S. Crispim... As Torres que se vêm à direita parecem as da Sé, mas... O Dispensário da Rainha D. Amélia não tem este aspecto.
Então um olhar mais atento leva-nos a concluir que a foto é mesmo junto às Muralhas. Embora em ruínas, presumo, a Torre não têm nada a ver com a estrutura arquitectónica da actual reconstruída. Mas há uma Capela entre a Torre e o edifício do antigo Mosteiro de Santa Clara. Que Capela era esta ? Quem nos sabe informar ?


Para que a confusão com os meus bichinhos fosse maior, recebi uma informação errada, de alguém que é cicerone de um Monumento Nacional. O edifício que se vê nesta foto, à direita, não tem nada a ver com o antigo Convento, pois é uma obra posterior de muitos séculos. Já foi a central dos Correios - Largo 1º de Dezembro - e esconde-nos a Sé.
No meio desta conversa toda, apenas um desejo. Identificar a Cidade.

Como andava por ali com terceiras intenções (uma delas já divulgada no meu escrito anterior) fui espreitar a subida - e a descida - do funicular. Repito-me muito ? é natural. Esta Cidade repete-se e está sempre a renovar-se a cada olhar. E de quem nos visita, é a primeira vez...






Sempre em conversas com os amigos, de vez enquanto saltam recordações como por exemplo, onde passava e desembocava o comboio Leixões/Alfândega. Fica o pessoal a pensar, e a cabeça a desenrolar a bobine. Pesquisando, vim a saber que alguém pretende reabrir esta linha turisticamente. Cena maluca, com tantas directivas, sugestões, apreciações e etc. que vêm desde 2003, que nem sei se se referem realmente a este ramal. Ou alguém está a inventar.
Agora a sério, aqui vai mais ou menos uma estória.
Em 1889 uma carta real estabelece que deve ser criada uma linha entre a Alfandega (a Nova, claro) e Leixões exclusivamente para mercadorias. Há as velhas confusões de quem deve ser o "dono" da linha. Tudo começa por Campanhã - Pinheiro - e a Alfândega. Depois que o término deve ser em Contumil. Em 1892, ordena-se que deve seguir a Leixões. Agora, como a estória é apaixonante e longa, mando-te amigo e leitor, ver a wikipédia http://pt.wikipedia.org/wiki/Ramal_da_Alf%C3%A2ndega
Ainda utilizei esta linha em finais dos anos 70 quando fui trabalhar para S. Mamede. Principalmente à sexta-feira. Entrava lá no apeadeiro e saí em Contumil, que era onde acabava a linha.
O ramal foi encerrado em 1989. Mas a GARRA quer reabilitá-la. Força amigos.
É que a linha está preservada e pode ser utilizada a qualquer momento. Ainda há (houve)inteligências nesta Cidade... As actuais não sei se darão seguimento a alguma coisa...
Aqui na foto saquei a saída (ou entrada) de um dos túneis. Que são (eram) três. Este é na Zona das Fontaínhas, a quem este escrito é dedicado e também ao meu amigo Adriano Moreira, que ía para aqueles lados dar uns chutos na bola de trapos. Ou seria para o túnel do Seminário ? Adiante.




O certo é que havia um cais junto ao Rio e por esta íngreme Calçada, com uma inclinação de 40%, subiam, com a carqueja descarregada de Rabelos e Batelões, mulheres (e talvez homens, não sei),com ela à cabeça, destinada aos vários fornos das industrias da região e também de outros pontos da cidade.

À esquerda, o Colégio dos Órfãos.
Agora, o terceiro dos três em um. Nas velhas discussões com os amigos, perguntava-mo-nos (será que é assim que se escreve ?) como se chamava este edifício e para que serviu. Das vezes que por aqui passava, inquiria dos mais velhos senhores que por ali estavam o que foi, mas só me diziam que era um Lar. Agora é mesmo um Lar, sim. Mas eu queria saber qual a sua antiga função. Diziam-me que estava ligado aos Lázaros. Outros aos Orfãos.
A razão dos primeiros não podia ser. Os Lázaros estavam ligados ao Hospital, hoje Biblioteca Municipal. Os Orfãos estão lá na ponta de Campanhã. As orfãs estão juntas ao Jardim de S. Lázaro. Na Nossa Senhora da Esperança.


Entrei no edifício, e então descobri que foi criado como Asilo de Mendicidade cuja origem veio de Lisboa para que se seguisse o seu exemplo. Para acabar com a mendicidade pelas ruas e proteger os inválidos e necessitados, recolhendo os indigentes e pobres. Distribuindo alimentos a quem não pudesse sair de casa. Está lá escrito num folheto. (séc.XIX).
Não sei se era esta a casa que abria as suas portas, no meu tempo de menino, para se visitarem os velhinhos. A minha memória só recorda as palavras da minha avó e pais.
Mas o edifício tem estória. Começa assim: Séc. XVI. O Açougue da cidade, ali na Sé - no actual Largo de Pedro Vitorino - começa a deitar muitos cheiros. A capacidade para matar 180 bois é pequena. Faz-se um novo açougue na Porta do Sol - mais ao menos onde é hoje o Largo Actor Dias, Capela dos Alfaiates, por aí -. Mas o espaço continua a não servir. As gentes bem da altura residentes no local, sentem-se mal. Então em 1796 começa-se a construção de um novo edifício nas Fontaínhas. Que é utilizado até 1840, quando passa para o Carvalhido. ( Para o pessoal do meu tempo, lembrai-vos do Canil, em S. Dinis ? Pois foi aí que ficou o Matadouro/Canil, até ser mudado para a Corujeira. Já nos nossos anos 50. Claro, do século passado.)
Concluindo, aquele edifício que foi criado para ser Matadouro Municipal (?), devidamente restaurado passou a ser o Asilo da Mendicidade. A foto lá em cima será de Arnaldo Soares.
Pormenor do topo da fachada. Não sei quem foi o autor.

Não sei mais pormenores. Nem imaginam como consegui descobrir estas coisas.
Não foi trabalho, só casualidades. E de casualidade em casualidade, o JN tem sempre uma estória publicada. Pode ter 10, 20 anos, mas lá vamos dar.
Não foi trabalho, só casualidades. E de casualidade em casualidade, o JN tem sempre uma estória publicada. Pode ter 10, 20 anos, mas lá vamos dar.

Este é o meu Porto surpreendente em cada esquina.