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domingo, 24 de outubro de 2010

49 - A Igreja de S. Pedro de Miragaia

Entrei a primeira vez nesta Igreja em Maio de 2007. Realizava-se um acto litúrgico e discretamente recolhi 3 ou 4 fotos, que ano e tal depois utilizei num trabalho sobre as Igrejas do Porto. Foram os meus primeiros passos na fórmula PPS.
A curiosidade leva-nos a descobrir coisas que nem sequer imaginamos. Um dos bens da net.
E juntando o prazer do passeio ao da fotografia, voltei a esta Igreja há uns meses.
O Largo de S. Pedro de Miragaia
Encontrava-se fechada, o que acontece com a maioria das Igrejas e Capelas da Cidade, salvo as que estão à disposição dos turistas. Quantos tesouros não são descobertos. Uma criança das várias que andavam pelo Largo perguntou-me se queria visitar a Igreja. Perante a minha resposta afirmativa, disse "a senhora vem já". Desapareceu e passado instantes chegou uma senhora que abriu a porta da Igreja. Disse-lhe que pedia autorização para fotografar o que pudesse. Então acendeu as luzes e levou-me a um piso superior onde está o Museu e os seus tesouros. Prometi-lhe que não era para comercializar as fotos. É claro que cumpro.
Por isso, deixo aqui o meu agradecimento não só a essa simpática senhora, como a quem manda. Que presumo seja a Paróquia.
Seguindo da Rua de Miragaia para a Igreja, já no Largo, encontramos esta bela casa com o aspecto de bem antiga, que deve ter sido recuperada mantendo a traça original. Não consegui descobrir quaisquer escritos sobre ela. Portanto só imagino. Pena é que a casa ao lado não tenha o mesmo aspecto. E à placa toponímica, a antiga, aplicada nesta casa, faltam-lhe azulejos, o que é pena. E aqueles fios eléctricos desfeiam um pouco. Dedicada a São Pedro, a Igreja de Miragaia é um imóvel de interesse público que apresenta ao centro um portal, ladeado por pilastras e rematado por frontão triangular. No segundo registo, uma janela de grandes dimensões com o emblema papal, e entre as pilastras laterais exibem-se ornamentos barrocos. A fachada termina com um frontão triangular com a legenda «Divo Petro Dicata» (Dedicada a S. Pedro) e encimado por uma cruz. Os azulejos remontam à campanha do século XIX, que revestiu também a torre lateral, a Norte. Ao lado da Igreja, neste pátio visto atravez do portão, mostram-nos arcos e outros elementos que deixam supor restauros de construções antigas. Pena o muro a seguir, altíssimo, não deixar ver mais pormenores.
Tendo sido Miragaia terra de Pescadores, é natural que o seu padroeiro fosse/seja S. Pedro. Diz a lenda que neste local foi construída na primeira metade do séc. I a primeira Catedral. Existe na igreja uma inscrição com os dizeres (traduzidos) "Esta foi a primeira catedral do Porto. S. Basílio, apenas se viu são dos pés, a edificou, e por aquele motivo a dedicou a S. Pedro". A suposição da data tem a ver com o S. Basílio, Bispo do Porto. Parece que ninguém acredita nesta teoria, até porque o Porto não existia no ano 37, quando morreu este Basílio. Certo é que existiram no local várias Igrejas desde a Idade média. Supõe-se que no séc. XIII já existiria uma do tipo românico. A que existia em 1672 foi reformada devido ao aumento da população. Em 1740 foi parcialmente demolida, aproveitando-se na actual construção só a capela-mor e o transepto. É desta campanha de obras que resulta a igreja actual.
O corpo da Igreja era revestido a talha dourada, mas um juiz da Confraria do Santíssimo achou que era feio. Então mandou retirar a talha e caiar a branco as paredes. Para que a Igreja ficasse mais luminosa. Ao painel do altar de Santa Rita, por o achar muito escuro, mandou pintá-lo de branco.
Por qualquer motivo, desta barbárie conseguiu salvar-se a Capela-mor, preparada para receber o mesmo estilo de restauro.
Para ela vieram posteriormente painéis da Capela (ou Igreja, nunca sei como lhe chamar, pois vejo escrito das duas maneiras) do Convento de Monchique, datados do séc. XVI.,quando foi demolida - arruinada - no séc. XIX
No interior, a igreja desenvolve-se em nave única e transepto saliente, de grande simplicidade, contrastando fortemente com a opulência da talha em barroco mas ao estilo denominado nacional - o Joanino - que reveste integralmente a capela-mor.
Este estilo foi-se desenvolvendo e aprimorando principalmente no Norte de Portugal, sendo muito utilizado especialmente no Brasil. Iniciada no século XVII, esta campanha decorativa prolongar-se-ia até ao século XVIII, como testemunham os elementos rococó que aqui se encontram. Juntamente com Santa Clara ou São Francisco, é um exemplo significativo de igreja forrada a ouro
Também o altar de Nossa Senhora do Carmo, revestido com talha da primeira metade do séc. XVI, veio da Capela ou Igreja, do Convento de Monchique.
O corpo da Igreja é revestido de azulejos da Fábrica do Vale da Piedade e foram colocados entre 1863 e 1876.
Altar de Santa Rita e o painel recuperado tanto quanto possível da atrocidade daquele juiz da Confraria. Vi-o numa gravura colocada no site http://citar.artes.ucp.pt/mtpnp/estudos/triptico_pentecostes_01_contexto_historico.pdf formando um tríptico (assim fiquei com essa ideia) que juntamente com o de Pentecostes - darei a conhecê-lo mais abaixo -, constituíam o retábulo deste Altar
Pormenor da Pia Baptismal

O soberbo tecto do Museu da Igreja

O Tríptico de Pentecostes ou do Espírito Santo.
O Tríptico do Espírito Santo terá sido pintado entre os anos de 1512 e 1517, para a Capela do Hospital do Espírito Santo, que se situa acima da Igreja de S. Pedro de Miragaia. Em 1637 foi, possivelmente, incorporado num retábulo e em 1887 foi trasladado para a Igreja devido ao estado de ruína da Capela, alterando-se o retábulo que o emoldurava. Em 1914 foi para Lisboa, a fim de ser conservado e restaurado, intervenção que foi realizada por Luciano Freire, regressando à Igreja em 1926.
A base é de madeira de carvalho do Báltico. A pintura a óleo é da escola flamenga e terá sido executado em Antuérpia, provavelmente da autoria de Van Orley. Ver todo o desenvolvimento em:
http://citar.artes.ucp.pt/mtpnp/triptico_pentecostes.php
Elementos em exposição no Museu




Peças de ourivesaria, incluindo a mão-relíquia- de S. Pantaleão.
Há coisas que se vão descobrindo e deixam dúvidas. Se as tivesse na altura da visita à Igreja, teria perguntado à senhora e provavelmente ficaria esclarecido. Uma delas seria a origem da Tiara e das Chaves. A outra seria a localização da Capela do Hospital do Espírito Santo.
Estou a aguardar uma informação da Junta de Freguesia a quem pedi para me esclarecer. Tenho uma foto que presumo ser a ruína da Capela. A ver vamos.
Para além dos sítios já referidos e onde recolhi elementos, recomendo a leitura do PDF do IHRU e onde encontramos fotos, embora muito más, da última reabilitação da Igreja nos anos 70 do século passado.
A sua localização faz-se atravez de
http://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_de_S%C3%A3o_Pedro_de_Miragaia
Ao fundo da página em Referencias, vamos encontrar duas, a do Igespar e a do IHRU. É só clicar
Não esquecer também de uma visita ao sitio da Junta de Freguesia http://www.jf-miragaia.net/