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sexta-feira, 17 de junho de 2011

79 - Praça da República e Jardim de Teófilo Braga

Há dias, vindo da Lapa, pensei em completar um escrito antigo sobre este espaço da Cidade do Porto. Julgo que em tempos recuados, conhecido como Campo de Santo Ovídio, incluía ainda o espaço actual onde se encontra a Igreja, Cemitério e Hospital da Irmandade da Lapa. Pelo menos é o que depreendo de leituras avulsas. Foi João de Almada e Melo quem mandou abrir no séc. XVIII esta Praça para logradouro público. Ficou com o nome de Santo Ovídio, por existir ali próximo uma capela dedicada a S. Bento e St. Ovídio. Foi a primeira vez que li uma referência a esta capela. Terá sido demolida quando a Lapa tomou conta do lugar ?
De imediato a Rainha D. Maria I em 1790, mandou construir um quartel militar para guarnições de Infantaria. Entre o topo poente e o conjunto da Irmandade da Lapa. Lembro-me de ainda ouvir conversas lá em casa em que se referia o Regimento18, que existiu até 1952. Bem como chamarem à Praça, Campo de Santo Ovídio, que só tomou o nome actual em 1910. Mas pelo meio parece que também se chamou Praça ou Campo da Regeneração. Aliás a rua com o mesmo nome começa do lado direito e acaba na dos Ferreiros, junto à Lapa. É a actual do Paraíso. E já agora, também me lembro de nome da Rua da Sovela, actual Mártires da Liberdade; Todas ali bem próximas. Enfim, coisas dos meus avós que não eram muito dados a mudanças que só serviam para confundir.

Não sei se o Campo de Santo Ovídio serviu para o Povo relaxar. Sabemos que era campo de manobras militares. Aqui se concentraram as tropas Liberais de D. Pedro em 1820 e as Republicanas de 31 de Janeiro de 1891. O Quartel teve várias ocupações: foi dos Comandos da I Região Militar do Porto de 1926 a 1970; Comando da Região Militar do Porto de 1970 a 1975; Comando da Região Militar do Norte de 1975 a 2006. Desde esta última data, alberga o Comando do Pessoal. Não sei o que quer dizer esta denominação, mas está escarrapachada na Wikipédia. Para nós Portuenses, é o Quartel General e "mai'nada".

Alguns edifícios apalaçados estão bem conservados. Como o do actual Governo Civil, na esquina das Ruas do Almada com Gonçalo Cristóvão. Que já foi dos Pestanas. A Capela do Palacete está logo a seguir. Em frente, conheci o edifício como a sede de uma cooperativa bem antiga. Hoje não sei o que alberga.

As curiosas casas que ficam do lado direito de quem vai para a Lapa.

Como alguém escreveu, parecem construções de Legos.

E a riqueza arquitectónica continua a nascente.

Várias esculturas estão espalhadas pelo Jardim. O Baco, de António Teixeira Lopes de 1916, recorda o 6º aniversário da implantação da República.

Não sei quem determinou que fosse esta figura da mitologia que vinda dos Gregos, foi adoptada pelos romanos, para comemorar uma data republicana. Será que o escultor e o encomendador quiseram comparar as brincadeiras da República com as orgias vinícolas romanas ?

A recordação do mítico Padre Américo, o grande homem criador da Casa do Gaiato e da Obra dos Rapazes da Rua. Obra em bronze de Henrique Moreira de 1959 e inaugurada em 1961.

No meu passeio, encontrei uma nova escultura e a falta de outra. Inaugurada no centenário da implantação da República - 5 de Outubro de 2010 - uma obra de Bruno Marques. A que estava cá anteriormente foi-se... para onde ?

Refiro-me ao "O Rapto de Gamínedes" de Fernandes de Sá (Avintes, 7.Nov.1874 -26.Nov.1958), a primeira obra do escultor, como que uma contestação ao espírito da época seguida na França de Rodin. Foi escolhida para o Salon de Paris (?) de 1889, para as Exposições Universal de Paris de 1900 e em 1902 para a da Sociedade de Belas Artes de Lisboa. Foi mais um dos alunos das Belas Artes do Porto. Onde estará a Escultura ?

Lembrei-me das minhas fotos antigas para justificar e confirmar a admiração. Então com tanto espaço no Jardim não se pode continuar a mostrar a velha estátua ? Vou deixar a dúvida que poderá estar a passar por um restauro. Mas à Moda do Porto actual será que vai voltar a aparecer aos nossos olhos ? Quando me dizem que obras de António Carneiro estão em armazéns camarários...

A actual Rua de Álvares Cabral (não entendi porque não colocaram o Pedro. Fui confirmar e é o mesmo Cabral, o do achamento do Brasil) chamava-se Quinta das Pamplonas. Na esquina com a Praça da República existia esta beleza, titulada Quinta e Palácio de Santo Ovídio, do séc. XIX, segundo o desenho de Joaquim Cardoso, in Edifícios do Porto em 1833 (pesquisa no http://portoantigo.blogspot.com )

Não sei se é o mesmo edifício. Sei que este está totalmente degradado, com as janelas tapadas com plásticos pretos para o lado do Jardim e visto de Álvares Cabral só as paredes estão em pé. Bom, não é só, pois duas belas árvores ajudam a tapar o monstro. O cartaz era difícil de tirar pois era preciso mostrar um pouco do muro que o separa da rua.

Do lado nascente, novas obras arquitectónicas enquadram mais umas ruínas. Não sei se alguém merecerá um prémio, seja ele qual for. Mas numa terra de grandes arquitectos, que até tem dois Nobeis da dita arte - Souro Moura e Siza Vieira - pode uma Câmara Municipal permitir uma coisa destas ? Penso eu de que...

Existem indícios no Jardim de um certo abandono, junto à falta de civismo, que mesmo aos mais desfavorecidos, não pode ser tolerado. Garrafas de cerveja, sacos de plástico e muita imundície, estão espalhados numa área ainda considerável, principalmente próximo da Estátua do Padre Américo. É simplesmente repugnante. Claro que os antigos urinois estão fechados. Aliás seguindo a tradição que a Câmara impõs: Avenida dos Aliados, Praça da Batalha, etc. Mesmo antes de aqui ser um local triste.

Este era o W.C. das Senhoras. Hoje guardam-se roupas e outros objectos.

Não sei em que ano o Jardim começou a ser bem tratado, com ruas e canteiros floridos. Lembro-me deles, porque algumas vezes apanhava ali o 8 para o Campo Lindo. E trabalhava logo abaixo, na Rua do Almada. Acima de tudo, era famoso pelo conjunto das Palmeiras plantadas em círculo na parte central. Hoje - há 3 semanas - a relva em muitos pontos nem sequer existe. Muita dela está amarela. Flores, poucas. Alguém que deite a mão a esta Praça e a este Jardim.
Os fórmulas I de há 50/60 anos só vão ser vistos por alguns durante o próximo fim de semana. Este espaço deverá durar muito mais tempo. São os meus votos.