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terça-feira, 19 de março de 2013

154 - Lendas, Estórias e História da minha Cidade do Porto

Os nossos olhos não negam o que vêm. Verdade ou ficção, é História, está escrito como tal, embora a História nem sempre é (foi) conforme a interpretamos. E na continuidade dos séculos, muita da História se mudou ( muda-se ainda) conforme os interesses do momento.
No meu caso de leitor de História - pobre de mim - busco conhecer o que se publicou sobre factos que podem ter muito de Lendas. Para completar o que vou conhecendo escrito, os meus olhos e a câmara fotográfica, companheira inseparável enquanto nos vão deixando, tentam registar, bem ou mal, a realidade de hoje.
Assumo que sinto uma certa emoção quando estou próximo de algo com muita História, mesmo que tenha Lendas à mistura. Mas sabemos que tudo teve um início, talvez nunca correctamente descrito, por ignorância, por desleixo ou por interesses. Principalmente no que se refere à Cidade do Porto, tento olhar em volta e perceber o que me rodeia. Descreverei como factos reais, mas não acreditem pois muito das narrativas que li estão cheias de "ses, mas, talvez, supõem-se".
Sei que vou repetir algumas descrições das imagens abaixo representadas, mas organizei este conjunto para poder dar uma pálida ideia do que podemos encontrar sobre o que ajudou a fazer a História desta velha Cidade.  
   
Na Sé Catedral, encontra-se do lado esquerdo do transepto, o altar de Nossa Senhora de Vandoma. Também conhecida por Nossa Senhora do Porto e Nossa Senhora do Porto da Eterna Salvação. É uma das invocações à Virgem Maria, representada no Brasão da Cidade.
A sua devoção tem origem num episódio por volta do ano 990 quando uma armada originária da Gasconha (Região Basca Francesa) comandada pelo nobre Português Munio Viegas, ajudou a expulsar os Mouros da Região do Porto.
Junto estava o Bispo da localidade de Vendôme, D. Nonego, que trouxe com ele uma cópia da imagem de Nossa Senhora que havia na Catedral. Após a expulsão dos Mouros, as muralhas da Cidade foram reconstruídas e numa das quatro portas da fortificação, que passou a denominar-se de Vandoma, foi colocada a Imagem trazida de França. Aí começou a devoção a Nossa Senhora de Vandoma que a população venerava levando a imagem em procissão, principalmente em épocas de epidemias. Foi consagrada Padroeira da Cidade do Porto.
Notas à parte: A sua devoção chegou ao Brasil centenas de anos mais tarde, como Nossa Senhora do Porto, tornando-se orago das Cidades de Andrelândia e Senhora do Porto, em Minas e Morretes no Paraná.
A Porta de Vandoma foi demolida em 1855 e próximo do local onde existiu (entrada da Rua Chã/Avenida da Ponte) pode ver-se numa reconstituição do séc. XX um cubelo e um pouco de pano muralhado. Estas muralhas foram edificadas pelos romanos no séc. III.
A imagem actual sofreu várias alterações nas cores das roupas, conforme os interesses políticos reinantes em cada época. 
Li que esta mesma imagem é a mesma que os Gascões trouxeram. Uma inverdade e se existiu deve ter desaparecido há muito. A imagem actual e que esteve no Arco de Vandoma é do séc. XIV. 

Quero agradecer ao meu amigo leitor Fernando Ribeiro os esclarecimentos que nos deixou em comentário há duas ou três postagens atrás, quando escrevi sobre uma imagem em pedra junto ao altar da Nossa Senhora da Silva, na Rua dos Caldeireiros. E também o link que me vai ser de muita utilidade.
Pois bem, a Nossa Senhora da Silva tem como história o achamento de uma imagem nos silvados junto à primitiva e futura Sé do Porto. No séc. XII. Há quem escreva que foram os pedreiros que faziam os alicerces. Há quem escreva que foi D. Mafalda, esposa do nosso primeiro, D. Afonso Henriques.
Até agora, não consegui encontrar nada que nos refira outra origem para o nome desta Senhora. 
Comparando as duas imagens que conheço da Senhora da Silva, não têm nada em comum. A da esquerda encontra-se no bonito altar voltado para a Rua dos Caldeireiros; informa-nos o Fernando Ribeiro, porque lhe foi dito durante uma visita à capela a qual tem a dimensão de um quarto de dormir,  que foi assim construído por não haver espaço para o colocar dentro.
A imagem é do séc.XVIII e já teve a acompanhá-la as imagens evocativas de S. João Baptista (lembrança do antigo Hospital) e S. Baldomero, francês do séc. VII, mártir cristão e padroeiro dos Ferreiros. 
A outra imagem está no transepto da Sé Catedral do lado direito. E vejam lá o que encontramos para ler:  Será uma imagem do séc. XIV/XV. Mas também pode ser a primitiva, porque é em pedra.
Certo é que está registado em 1623 pelo Bispo D. Rodrigo da Cunha o legado da Rainha D. Mafalda à Santa.
Uma nota: este Bispo inquisidor não deixou grandes recordações na população. No entanto foi um oposicionista aos governos dos Filipes espanhóis quando tentaram integrar Portugal em Espanha e um dos governantes de Portugal até à coroação de D. João IV a quem jurou fidelidade.

A Capela dos Alfaiates, assim conhecida, era da Irmandade dos oficiais desta arte e que se constituiu no séc. XVI num andar de uma casa pertença do Cabido, na Sé e desde então veneram Nossa Senhora de Agosto e São Bom Homem. É Monumento Nacional. Não sei se a Irmandade ainda existe.
Começou a ser erigida a Capela em meados daquele século, demorando muito anos a sua construção. Ao longo da vida recebeu vários melhoramentos, mas acabou por ser desmantelada em 1936 para a abertura do Terreiro da Sé e reconstruída no local actual em 1953, na bifurcação das Ruas do Sol e de S. Luís, entre a Praça da Batalha e o Convento de Santa Clara.
O retábulo composto por oito quadros pintados da vida da Virgem, segundo uns de 1565, segundo outros de 1590/1600 são do Pintor Francisco Correia, mas levantam-se dúvidas se serão todos da sua autoria. 
Foi restaurado em 1950 pelo Pintor Abel Moura.
Foi-me contada no local uma estória como verdadeira e corroborada por uma informação escrita, sobre a imagem em calcário de Nossa Senhora de Agosto, do séc. XVI. A imagem sofreu um restauro e os técnicos opinaram que o braço direito estava totalmente deteriorado. Então substituíram apenas a mão por uma em madeira, que está carunchenta, e colocaram-na presa ao manto, deformando a imagem. O braço e a mão originais estão em exposição, devidamente protegidos e bem de saúde, que registei na medida do possível. É a foto à direita, ao fundo da qual embora com fraca visibilidade se vê uma reprodução a preto e branco da imagem como era antes do restauro. 
A imagem de Santo Bom Homem, o outro patrono.
Presumo que é uma imagem do séc. XV
Em 1140 nasceu em Cremona, Itália, Homobono, que viria a ser o Padroeiro dos Alfaiates, Costureiras e Comerciantes de tecidos. Na vida profissional a justeza foi o seu lema, além de muito caritativo com os pobres. É-lhe atribuído um milagre de multiplicação dos pães. Faleceu em 13 de Novembro de 1197, subitamente enquanto assistia à missa.
Casou com uma mulher muito má, que após o milagre da multiplicação se converteu e passou a ser boazinha.

A Igreja de Nossa de Campanhã, da segunda década do séc. XVIII, arrasada e saqueada pelas tropas francesas durante as Invasões, mais precisamente em 1809, e muito danificada durante as lutas civis-liberais-fratricidas de 1832/34, possui uma imagem de Nossa Senhora a quem são atribuídos vários milagres. 
No entanto e primitivamente, tudo começa com a reconquista da região do Porto aos mouros. Estará ou não associada a outras lendas (depende do historiador) com a mesma reconquista, como a da Senhora da Batalha, cuja capela da sua evocação existiu no local junto ao actual Cine-Teatro S. João; Com Contumil (conto mil) e Rio Tinto - Tinto de cor vermelha pelo sangue derramado nessas lutas.
Certo é que Campanhã, ou Villa Campaniana é de origem antiquíssima da qual Rio Tinto fazia parte e Contumil lhe pertence.
No dia da batalha Mouros versus Cristãos em Contumil, foi achada uma imagem a quem o povo atribuiu a razão da vitória cristã. Mandou erguer uma ermida com o nome de Santa Maria de Azáres, passando mais tarde a chamar-se de Nossa Senhora da Entrega. Presume-se que terá sido esta a primeira Matriz.
A imagem da Senhora de Campanhã, do séc.XIV, esculpida em calcário, estofada e policromada, sofreu algumas alterações e restauros ao longo dos séculos, está envolvida em aparecimentos. Presumo que terá a ver com o primitivo aparecimento da tal imagem no dia da batalha em Contumil. Mas não tenho referencias, embora a estória venha do séc. X.
A devoção à Senhora de Campanhã era tal que a sua imagem só podia ser vista em dias especiais com luzes e toques de órgão. Saía em Procissão (pelas doenças, condições atmosféricas por exemplo) e tocá-la poderia ser perigoso ou milagroso.
Num dia de 1722, ano de grande seca, saiu a Procissão e a imagem caiu do andor em Bonjoia partindo a mão. Nesse local brotou água e povo construiu uma fonte e um cruzeiro. Que ainda hoje existem. Em 1967 foi inaugurada próximo do local uma capela.
Restaurou-se a imagem com uma mão em madeira.
Em apontamento diga-se que na Igreja existe uma linda imagem da Senhora do Rosário em pedra ançã do séc. XIV/XV. 
  
As relíquias de São Pantaleão chegaram à Cidade do Porto, trazidas pelos Arménios em meados séc. XV, fugidas à ocupação turca de Constantinópola em 1453 e deixadas em S. Pedro de Miragaia onde se passou a celebrar a sua memória.
Entre ordens reais de D. João II e depois de D. Manuel I para que se construísse um túmulo, foram as relíquias passadas para a Sé em 1499 por ordem do Bispo D. Diogo de Sousa. O Santo passou a ser Patrono da Cidade substituindo S. Vicente, até 1963.
A urna de prata foi roubada em 16 de Novembro de 1841. Ficaram as relíquias que se guardam no altar-mor da Sé. Mas um pequeno osso está na Igreja de S. Pedro de Miragaia dentro de um braço em prata. A Cabeça-Relicário foi para Lisboa para ser desenhada pela Rainha D. Amélia. Depois da implantação da República ficou no Palácio das Necessidades, donde passou para o Museu de Arte Antiga. Regressou ao Porto e foi colocada no Museu Nacional de Soares dos Reis, onde andou perdida até há pouco tempo. No seu interior encontraram-se vários fraguementos de madeira e tecidos e um pequeno osso do crânio. 
Um prezado leitor da minha postagem 47, teve a gentileza de colocar este comentário:

Gostaria de acrescentar, sendo nascido e educado em Constantinopla (Istanbul) que Sao Pantoleão é um santo do qual o nome é um épitéto, uma alcunha é a tradução de Aghios Pantéleimon que etimologicamente significa o homen que "elei" dá a piedade à todos em grego o tous pantas-eleei...era de Nicemedia da Bythinia hoje Izmit cidade turca cerca de 90 km à leste de Istanbul...Os arménios que troceram as reliquias eram Hay-Horom (ou seja armenios ortodoxos) dos que não se separaram da cristiandade depois do concil ecumenico de Khalkidon Calcedonia...alguns historicos sustentam que primeiro o feretro do santo em prata e ouro foi transportado de Nicomédia à Heraclia (uns 20 km à oeste de Nicomedia) que hoje se chama Hereke e sempre foi um porto de mercadorias e pesca e tb de exportação da seda e dos texteis Conhecidos no sec 18 e 19 como soie de Brousse (hoje Bursa) que rivalizavam os de Lyon e os de Milão, como dos tapetes orientais finos em seda com mais de 150000 nós por metro quadrado..Havia lá uma fabrica tb pertencente ao grupo industrial de Sümerbank que jánãoexiste...Há ca de duas decadas esta peq cidade foi arasada e praticamente desaparecida por um seismo..há alguns indicios que estes arménios byzantinos foram dos que tentaram se revoltar com os byzantinos gregos depois da queda de Constantinopla em 1453 em 29 de maio
A Igreja Ortodoxa venera o Santo Pantoleão em 27 de Julio(novocalendaristas) e 13 dias depois os do velho calendario juliano..A paroqui ortodoxa do Porto é dedicada à S Pantoleão
Lefteris Zygopoulos (Lisboa)
A
Muitas coisas nos acontecem quando percorremos caminhos. Há dias, entrei na Igreja de S. Lourenço, vulgarmente conhecida como dos Grilos e em conversa com um senhor, de quem infelizmente não anotei o nome, foi-me mostrada esta imagem. Decapitada, bem como o Menino, não se sabe desde quando. 
É uma imagem do séc. XV/XVI de Nossa Senhora do Ferro que se encontrava no antigo Recolhimento do Ferro, (o actual encontra-se no Codeçal desde o séc. XVIII) junto à desaparecida Porta da Muralha Primitiva - ou Românica - de S. Sebastião. Na altura conhecida como Porta do Ferro ou ainda da Sapataria, porque o culto a S. Sebastião é quinhentista. Por isso a Rua de S. Sebastião chamava-se Rua da Çapataria, documentada já em 1286. Teve outros nomes até chegar ao actual em 1570, mais coisa menos coisa. São outras estórias da história.

O que me levou à Igreja de S. Lourenço foi tentar descobrir a imagem de Santa Ana que esteve no Altar do Arco e Porta da Muralha Primitiva com o mesmo nome. Tinha lido que a imagem foi para a antiga Capela de Santo Isidro e após a sua demolição veio para esta Igreja, onde está exposta no Museu de Arte Sacra, localizado anexo à Igreja.
Foi-me indicada a imagem e o meu espanto foi grande ao ver que também foi vandalizada. Alguém roubou o menino...
Outra desilusão seguiu-se quando li na informação junto à imagem que esta é do séc. XVIII. Esperava uma imagem muito mais antiga, especialmente porque a Santa se venerava naquele local pelo menos desde o séc. XV. E ainda hoje se venera juntamente com S. Joaquim, seu marido. Na Rua de Santana.
Mas serviu também para conhecer a história da Santa, uma referencia para os Católicos.
Uma nota. Visitem esta Igreja e este Museu. Na minha opinião de leigo, há algumas raridades a par de muita história.

A escultura em madeira da imagem de Nossa Senhora da Vitória na Igreja do mesmo nome terá cerca de 120 anos de existência, mais ou menos. Porque os fieis não gostaram do rosto da Santa, foi retirado o primitivo e encomendado um novo. Não ao mesmo escultor. O autor foi o grande Soares dos Reis  que esculpiu um rosto lindíssimo, o de sua mãe. Era uma Santa que não podia ser Santa. Os fieis têm às vezes atitudes bem desagradáveis. Se seguissem esse caminho, hoje não haveria uma obra de que gostassem. Mas os fieis agora não mandam nada.

Tudo pode ter retórica. Explícita ou mentirosa a arte de bem falar, escrever, neste caso, também nos confunde. Quem diz sim, pode receber um não mas a retórica pode nem ser verdadeira. E/ou incompleta. É não porque é não e pronto.
Escreveram os antigos que a Igreja primitiva de S. Pedro de Miragaia ou no local da actual, foi a primeira Sé do Porto mandada construir por S. Basílio na primeira metade do nosso primeiro século. Então aí está um não, mas o porquê do não, não sei. 
Pela data presumo que este S. Basílio foi o Bispo de Braga (anos 60 a 95); nessa altura o bispado do Porto estava dependente de Braga. Mas se a eventual Sé foi mandada construir por ele na primeira metade do séc. I, nessa altura o Bispo era S. Pedro de Rates, o homem da Póvoa de Varzim (anos 45 a 60). 
Não sei ser retórico, mas alguém nos legou uma pedra, colocada no exterior da actual igreja do lado direito, com uma inscrição que foi recuperada. Verdade ou lenda, é história.

No corredor voltado para a Praça dos Leões do edifício da Reitoria da Universidade, uma verdade fóssil. Que sensação tocar numa coisa com 150 Mil Anos.
Uma nota: Merecem uma visita os Museus de História Natural, o de Mineralogia e a Exposição Egípcia, que julgo vai ficar permanente. Bem como o interior principalmente até onde nos é permitido e as escadas que conduzem à Sala da Reitoria.
 
História e muita é a dos Judeus do Porto. Embora se refiram muito as Judiarias de Miragaia e depois a da Vitória, o certo é que os Judeus foram parte integrante da população do Porto desde muito antes da fundação da nacionalidade. 
Esta placa colocada na parede do antigo Mosteiro de S. Bento da Vitória, do lado da Rua com o mesmo nome, simboliza a sua memória e a desculpa da Cidade, que embora reagindo ao Decreto de D. Manuel I, a igreja cumpriu com uma tenaz perseguição.
Uma das humilhações impostas aos Judeus foi o contributo para a construção da Igreja de Santa Maria da Vitória, ali bem próxima, no local onde existiu uma Sinagoga. Vitória, da Igreja sobre os Judeus.

Neste conjunto estão três símbolos de épocas bem distintas. A Casa da Câmara, ou dos 24, ou como era conhecida à época, Torre da Rolaçam, tem a sua origem no séc. XIV. Aí se reuniam os representantes dos 24 mesteres - ofícios - da Cidade e foi como que a sede do poder autárquico.
A primeira Câmara era em madeira e em 1350 foi acordado mandar-se construir uma em Arcos sobre a Muro Velho, ou seja a Muralha Românica. 
O edifício de 100 palmos de altura e a 7 metros da parede da Sé, localizado no cemitério (ou adro) da Igreja sofreu vários acidentes e por isso muitos restauros e até mudança de lugar (séc. XV). A edilidade entretanto reuniu em vários locais, incluindo no Convento de S. Domingos. 
No ir e vir, acabou por abandonar as instalações em 1784, mudando para uma parte do Colégio de S. Lourenço (Grilos) tendo arrendado parte do edifício. Mas mandou demolir até ao primeiro andar para aproveitar a pedra e barras de ferro para a construção da Cadeia. As barras pesavam 30 quintais, 2 arrobas e 20 arráteis (Livro das Vereações, 19 de Agosto de 1795).
Em 25 de Abril de 1875 houve um enorme incêndio destruindo o edifício. Na altura, no rés-do-chão funcionava uma fábrica de refinação de açúcar e no primeiro andar era a sede da Associação dos Latoeiros.
A partir daí as ruínas ficaram ao abandono quási um século. No local procederam-se a escavações arqueológicas que revelaram vários achados e provando a ocupação do Morro de Pena Ventosa nos séc. IV e III a.C.
Não sei ao certo, mas a recuperação das ruínas fizeram-se já nos anos 80 do século passado.

Para recordar a Casa da Câmara, ou dos 24, nos anos 90 foi edificado um "mamarracho" (é a minha opinião) sobre parte das ruínas da antiga, julgo que só respeitando apenas a altura.
O autor, arquitecto Fernando Távora referiu que era para termos uma ligação à Cidade, espraiando a vista. Claro que não espraiamos vista nenhuma pois apenas se deslumbra um pequeno território entre ameias para os lados dos Clérigos. O resto são cimos de telhados. Isto é se entrarmos no edifício e a porta interior estiver aberta para passarmos ao passadiço sobre as ruínas.

Ainda por cima resolveu castigar o nosso Porto, voltando-o para os vidros sujos e coloridos do "mamarracho". Era para melhor visão da Cidade para além do Porto, estátua.
Esta estátua esteve desde Agosto de 1819 no cimo dos Paços do Concelho, edifício alugado na Praça Nova - actual Praça da Liberdade - demolido para a abertura da Avenida dos Aliados.
Passou depois para o Largo Actor Dias - creio que se chama Jardim Arnaldo Gama - e posteriormente para o Palácio de Cristal, junto ao Castelo, no Bosque, se a memória não me falha.
Foi seu autor o Mestre Pedreiro João da Silva, de Pedrozo (Pedroso, Vila Nova de Gaia) e custou trezentos quarenta e três mil e duzentos réis, pagos em três prestações iguais, sendo uma delas adiantada.
Estória ou não, esta estátua pode ter sido criada para reabilitar a imagem d'O Porto, sobre a qual escreveu Garrett no Arco de Santana "...estamos junto à veneranda estátua do velho Porto que rodeado de assopradas tripas, olha, como do próprio trono, para sobre os domínios da sua juridisção..."
Essa Estátua que Garrett referiu era conhecida como Pedra do Porto e estava em 1293 na Rua das Eiras (Rua Chã actual). Passou para o cimo dos Açougues Reias na altura, nos Palhais (Rua de Pena Ventosa actual) algures entre essa época e 1503 onde tomou o nome de O Porto "...um mui mal trabalhado e até monstruoso homem todo feito de pedra..." que faz lembrar uma estátua tardo-romana, de aspecto guerreiro, talvez Marte, que ficaria bem associado à Cidade. O rasto dela perdeu-se quando o edifício dos Açougues foram demolidos no séc. XIX para a abertura do Largo de Penaventosa, hoje Largo de Pedro Vitorino.

Propositadamente não refiro as minhas fontes de leitura, que foram imensas. Algumas já as nomeei em outros escritos. É verdade que há cópias umas das outras, parágrafos inteiros. Outras induzem-nos em erro. Mas descobrem-se novos pensamentos e estórias.
Dessa amalgama de leituras retirei o que pude para completar as imagens. Com a intenção principal de conseguir que os meus leitores se entranhem um pouco em alguma História da minha Cidade. E das  suas Estórias e Lendas.

quarta-feira, 6 de março de 2013

152 - Da Adega do Olho à Cadeia

Este passeio, contra o meu hábito, foi feito de baixo para cima o que quer dizer, sempre a subir. Pela Rua dos Caldeireiros. Mas faz-se bem, desde que seja com muitas calmas e paragens. E motivos não faltaram mas só para lembrar coisas antigas, pois esta Rua antiquíssima está fora dos roteiros turísticos. 
O Mapa do itinerário e a localização, sempre conveniente para os amigos que nos visitam. Na ponta centro-direita, refere-se onde começou a "aventura".
 
Pois foi na Adega do Olho, após um almoço simples mas abundante e económico. De Adega ou Tasca já não tem nada, é um restaurante pequeno e acolhedor, com uma ementa de dois pratos. Diz quem sabe, que as Tripas à Quinta-feira são um espectáculo.
Fica numa reentrância da antiga Travessa da Rua das Flores, hoje chamada de Afonso Martins Alho, esse mesmo, o do comerciante e embaixador que deu nome ao provérbio "Fino como um Alho".
Recordação: entrei na Adega a primeira vez com os Viscondes - rapaziada da minha Rua do Visconde de Setúbal, lá no Marquês e seríamos uns 10 - na noite de S. João de 1960. E para tomar uma coca-cola da CUF. Juro que nunca mais provei essa porcaria.
Então, vamos à vida.   

Estava a precisar de mercadoria e logo ali a dois passos, na esquina com a Rua das Flores abasteci-me na antiga mercearia (esqueço sempre o seu nome) com uma boa garrafeira e a preços muito bons.Um dos artigos que costumo comprar são os velhos rebuçados S. Brás, de eucalipto e mentol.
  
A Rua dos Caldeireiros começa agora na Rua das Flores e só tem 325 metros até à Cadeia. Foi itinerário romano (de quem vinha do Norte e passava por S. Mamede), atravessava a ponte de pedra que cruzava o Rio da Vila, agora encanado, na actual Mouzinho da Silveira e seguia para as Ruas do Souto e Bainharia. (Itinerário das Vias Romanas de Portugal - http://viasromanas.planetaclix.pt/ ).
Quem sobe, à esquerda, (na foto à direita) ainda encontra os vestígios do Hospital Roque Amador ou Rocamador/D. Lopo de Almeida, fundado pela Misericórdia no séc. XVI e que deixou de funcionar após a abertura do Hospital de Santo António. 
Chamou-se Rua do Souto - a continuação da Rua que vem da Sé -, da Laje ou Lajens ou ainda Lágea segundo escritos de séc. XVI e que seria o troço superior da rua; e Ferraria de Cima. Tomou o nome actual em ou até antes de 1780, embora se encontrem escritos de 1616 com a designação de Rua da Caldeiraria. (in Toponímia da Cidade do Porto, Câmara Municipal).

Nesta Rua, principalmente na sua parte inicial e por umas dezenas de metros existiram várias oficinas de caldeireiros que trabalhavam e fabricavam  variadíssimas peças como alambiques, caldeiras, panelas para doces (na altura das Festas da Páscoa e Natal eram as mais fabricadas principalmente para as grandes confeitarias), fogões, cilindros, louças, etc. Não só em cobre como em folha flandres e outro material ferroso.

O barulho era ensurdecedor, mas dava-me um prazer muito grande passar por estas oficinas onde as peças eram batidas às portas e ficar a olhar.

Hoje não existe nenhuma. A última fechou há pouco tempo, onde um dono "carola" já de uma certa idade, mantinha-a aberta só para não morrer de saudade.
Fala-se e escreve-se muito sobre as belas e tradicionais Varandas em Ferro da Rua das Flores. Pois eu afirmo que esta Rua tem varandas lindíssimas que nada ficam a dever-lhes. E muitas frontarias mostram azulejos de bom gosto. 

A antiga Adega Vila Meã do velho (salvo seja) Armando, depois de várias transformações está um bonito restaurante. Com a sua gentileza habitual, deixou-me entrar para olhar a casa e fotografar. Fica para depois o resto da história. Passavam das três horas da tarde e ainda tinha comensais. Bom sinal.  

Cá estamos de volta à Capela de Nossa Senhora da Silva. Curiosamente nunca tinha reparado na imagem que se encontra na esquina do prédio, que eu suponho ter albergado o antigo Hospital de S. João Baptista. Não sei nem li nada sobre o que representa. 
Como curiosidade - estamos sempre a aprender e ainda bem - a confraria de Nossa Senhora da Silva foi inicialmente instituída em 1593 pelos artífices ferreiros, ferradores e anzoleiros (fabricantes de anzóis ?) que tinham as suas oficinas na Ferraria de Baixo, hoje Rua Comércio do Porto. Só seis anos mais tarde, os da Ferraria de Cima se reuniram para a elaboração do compromisso que tomaram também sob a protecção da Senhora da Silva. Os estatutos da Confraria foram reformados em 1682.
Também o Hospital de S. João Baptista, que funcionou primitivamente em Cimo de Vila, foi fundido em 1685 com o de Santa Catarina, que funcionava junto da Igreja de S. Nicolau e administrado pelos da Ferraria de Baixo, passou para este local, mais propriamente na Rua de Trás numa casa que tinha comunicação com a sede da Confraria, aqui nos Caldeireiros. (Respigado do livro Porto, Histórias e Memórias, de Germano Silva).

Na rua funcionaram para além de algumas Tascas ou Adegas, casas comerciais de certa importância. Uma delas era a Casa das Lâmpadas, desactivada talvez há uns 5 anos. Também a Casa das Borrachas e o Xavier cangalheiro, ao qual aliou o ramo da ortopedia. Por isso a brincadeira dos nossos tempos de jovem, quando nos sentíamos mal de alguma coisa, vai ao Xavier que ele resolve. (recuperar dos mortos para vender aos vivos...) 
Uma panorâmica a  meio da Rua.

Outra recordação. A Casa Francisco de Carvalho & Irmão, que ainda existe. Fornecedor de paramentos e artigos religiosos, tinha - não sei se ainda têm - uma sirgaria onde muitas vezes ía encomendar e comprar, para a gráfica onde trabalhava, fio em seda aplicado como pendurantes de calendários, convites de luxo, etc. Mantém o mesmo aspecto de há 50 anos. 

Parte dos Caldeireiros a Rua da Vitória. (Olá camaradas Teixeiras, estou na vossa zona da juventude).  Há cerca de 2 ou 3 anos passei por aqui e chamou-me a atenção um edifício que estava a ser restaurado. Disse-me na altura um senhor que presumi ser o arquitecto responsável pela obra que  seria uma unidade hoteleira. Voltei agora a entrar e conversa daqui, conversa dali com uma senhora que julgo ser a recepcionista, acabei por descobrir que é as traseiras do Palacete dos Maias cuja fachada está voltada para a Rua das Flores.
Do varandim uma vista meio encoberta do Morro da Sé.
Este palacete, que segundo informação está quási recuperado interiormente, incluindo os Jardins, mas falta a fachada da Rua das Flores, é um edifício do séc. XVI mandado construir pelo fidalgo Martim Ferraz, ( daí também ser conhecido por Ferrazes, ou Ferrazes Bravo) descente de uma família nobre de Entre Douro e Minho. Remodelado ao longo dos séculos, teve uma capela riscada por Nicolau Nasoni, revestida a talha dourada, mais tarde recolocada na capela da Quinta do Vale Abraão em Lamego, pertença dos mesmos proprietários.
No séc. XIX foi vendido a Domingos de Oliveira Maia, director do Banco Comercial do Porto. Uma curiosidade, este senhor fez parte da comissão para o levantamento do Monumento a D. Pedro V e mandou construir as casas da Rua do Passeio Alegre. (Quais não sei). 

Outro armador antigo ainda funciona. No meu tempo da juventude e não sei até quando, no edifício funcionava um "aluguer de quartos". A sala de espera era nas escadas que levava ao primeiro andar e para os mais íntimos podia-se tomar uma cerveja na cozinha. Aqui levei um susto da polícia, que ficou com história famosa. Mas isso para o caso não interessa nada.

Mais uma perspectiva da Rua.

Entramos na parte final da Rua e à esquerda a íngreme Rua do Ferraz que vai dar à Rua das Flores.

Pormenor de um altar, no correr das últimas casas do lado esquerdo.

E estamos no fim da Rua, no Largo Mártires da Pátria, com o imponente edifício da antiga Cadeia à vista. Não percam, caros amigos, uma visita a este edifício. Além de exposições temporárias tem em permanência o Museu da Fotografia. E claro, o próprio edifício em si. 
Até Breve.  




sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

150 - Caminhos, Caminhadas e Curiosidades do Porto, a minha Cidade

Nos Caminhos da Cidade encontramos coisas a que normalmente não ligamos mas se olharmos bem descobrimos Curiosidades interessantes.

É o caso da escultura de José Rodrigues "O Sonho da Humanidade", evocação do escritor Ferreira de Castro. A obra está localizada na Foz do Douro desde Outubro de 1988, pesa três toneladas e mede 6 metros.
Em Março de 2009 alguém reparou que a escultura tinha desaparecido e a edilidade Camarária desconhecia o seu paradeiro. Averiguando, veio a descobrir-se que foi retirada pelo Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos por causa da localização dos estaleiros das obras dos Molhes da Barra do Douro. A recolocação foi adiada pela falta de uma base de betão, responsabilidade do empreiteiro, mas veio a acontecer em Abril do ano seguinte.
Um desprezo pela Cidade e o seu Património.

Na Barra do Douro existe o Marégrafo. Bem pintado, no seu interior viam-se espalhados no chão alguns aparelhos, muitos papeis e sujidade. Não sei a data da construção deste edifício nem quando foi desactivado e a quem pertence mas presumo ser da responsabilidade dos Portos do Douro e Leixões. A Junta de Freguesia também não nos dá nenhuma referência embora esteja registado no seu património.
Resta-nos a memória de algo que deve ter sido muito útil e a pequena torre com uma escala (?) de marés.

O cinema Batalha tem andado em bolandas. Fechado em 2.000, reabriu em Maio de 2006 depois de um investimento de 1,2 milhões de euros, parte dos 5 milhões que o Grupo Amorim entregou como compensação no âmbito do Plano de Pormenor das Antas. Para gerir foi criado o Gabinete de Comércio Vivo, uma parceria entre a Câmara Municipal e a Associação dos Comerciantes como apoio ao Comércio. O dinheiro foi-se e diz o actual Presidente da Associação que quási todo foi gasto no Batalha. O certo é que há processos judiciais a correr, investigações, etc. E o apoio ao Comércio como foi ?
Conclusão, o Batalha fechou as portas em 31 de Dezembro e os seus proprietários - Neves e Pascaud - nada podem fazer.
E onde estarão as obras - painéis, estatuária, etc - que estavam no seu interior ? Li algures que haviam desaparecido. Será que regressaram ?
Mas veio esta história sobre o Batalha por uma razão. Há tempos, vendo um programa do Prof. Joel Cleto, entre outros foi destacado o baixo relevo na frente do edifício da autoria de Américo Braga (Matosinhos, 21 Janeiro 1909 - Oaxaca, México, 26 Julho 1991). Este painel exibia um martelo na mão do Homem que se encontra na parte superior. E uma foice na mão da Mulher, em baixo.A censura mandou retirar o martelo mas deixou a foice. De notar também as correntes na figura inferior central, também esquecidas ou não conotadas politicamente. Burros os Pides da altura.
Acabei de ler que um outro painel da autoria de Júlio Pomar foi destruído. Políticas idem.
O cinema foi inaugurado em 1947 e é uma obra do Arquitecto Artur Andrade (Porto, 14 de Maio 1913 - Matosinhos, 9 de Novembro 2005). O edifício foi considerado como Monumento de Interesse Público. Vamos ver o que lhe irá acontecer.
    
Publiquei esta foto no espaço do Bando do Café Progresso, feita durante umas caminhadas da rapaziada, porque achei curioso tentar-se uma foto de grupo com um sol/sombra. Por outro lado reparei na farda dos "maiorzinhos" que nunca tive visto.
Recebi de um amigo o esclarecimento que essas fardas são usadas por uma seita que se diz religiosa, descendente de um famigerado grupo muito ligado à época da ditadura Brasileira. O grupo intitula-se Associação Cultural Nossa Senhora de Fátima que começou em S. Paulo e já se estende pelo Brasil.
Pesquisando encontrei dois sites, um deles da Paróquia da Piedade da Diocese de Jales, que acusa esta Associação de enganar o povo em nome da religião e cobrar os seus dízimos em nome da imagem da Senhora de Fátima. E outras coisas mais. São vários parágrafos. Para os interessados aqui fica o link:
O outro link dá esclarecimentos sobre as origens desta seita:
Faz o amigo votos para que esta rapaziada não se esteja a preparar para sujar a nossa Cidade e o nosso País.
Pelo que li naqueles espaços, também assim o espero.

Estamos nos Clérigos e finalmente abriu o "Jardim das Oliveiras". Não sei se é assim que se chama, mas sei que está fechado. O local é o antigo Mercado do Anjo, há meio século chamado de Praça de Lisboa. A obra de reconversão do espaço demorou mais de 5 anos e a sua abertura anunciada por trimestres e anos, desde 2009, aí está.
A estátua de D. António Ferreira Gomes voltou a mudar de sítio, embora isso seja um pormenor insignificante.  
O espaço tem dois níveis: O superior, como referi é um "Jardim" fechado, que parece ser um campo de cultura da azeitona. Olival lhe chamamos. Trasmontano ou Alentejano, eis a questão. O inferior é uma rua-galeria, com dois ou três cafés e um tasco com preços exorbitantes. Aos possíveis clientes, leiam bem as listas para não saírem chamuscados. Pelo menos 6 milhões bem derrapados foram aqui gastos. Quem se deve estar a rir é a Câmara Municipal que não teve nada a ver com isto. Embora o Rui Rio tenha pensado tirar lucros para a autarquia, na crise em que estamos nem daqui a 40 anos, quando acaba o contrato de exploração. E será que as restantes lojas vão um dia abrir ?

Nossa Senhora da Silva é a padroeira dos Ferreiros e Caldeireiros que criaram uma confraria no séc. XV. Construíram uma Albergaria e Capela na muito antiga Rua dos Caldeireiros. No primeiro piso voltado para a rua encontra-se um oratório do séc. XVIII. Um conjunto lindíssimo. No interior do edifício ainda existe a Capela.
Diz a lenda que a Senhora ficou com o nome de Silva, após ter sido achada uma imagem no meio das silvas pelos pedreiros que trabalhavam na construção das fundações da futura Sé do Porto, na qual está entronizada uma imagem de Nossa Senhora da Silva do séc.XV-XVI, do lado direito do transepto.

No cais da meia laranja na Foz do Douro, local que já foi de boas pescarias à linha, está recordada a memória do Comandante John W. Cowie, veterano da Barra, que serviu desde oficial praticante a capitão em grande parte da frota de um armador de Glasgow e que escalava os portos portugueses com regularidade.
Legou as suas cinzas à Barra do Douro, onde foram lançadas em 19 de Julho de 1958 de bordo do navio-motor inglês Seamew, o seu último navio comandado.
Tudo isto aprendi com o meu amigo Rui Amaro e através do seu extraordinário blogue: http://opilotopraticododouroeleixoes.blogspot.pt/.

Vale a pena um passeio até este local, repousar olhando o rio e o que nos rodeia. Logo atrás temos o Jardim do Passeio Alegre com os seus monumentos, lagos e os bonitos urinóis, também o Chalet Suísso; à direita a nova Barra do Douro, à esquerda os Pilotos, o cais do Marégrafo e o Capela-Farol de S. Miguel o Anjo, provàvelmente o mais antigo da Europa, e na continuação a Cantareira.

Quem passa na Avenida Gustave Eiffel, na marginal do Rio Douro, quási por baixo da Ponte de S. João (a nova do comboio), não pode deixar de notar duas belas peças de arqueologia industrial. São os Fornos, o que resta da antiga Fábrica de Louças de Massarelos. Fundada em Massarelos, na Restauração, em 1766, sofreu um grande incêndio em 1920 passando a Fábrica para as Faldas do Monte do Seminário, mais ou menos no local onde se encontram os Fornos. 
Bons tempos que não são tão longos assim, quando a Cidade guardava as suas memórias. 

O Grande Hotel do Porto, edificado na Rua de Santa Catarina num local que foi propriedade de D. Antónia Ferreira (a Ferreirinha dos Vinhos do Porto), foi inaugurado em 27 de Março de 1880. Obra do arquitecto Silva Sardinha (Pedroso, V. N. de Gaia, 13.Fev.1845 - 28.Nov.1906 ) e mandado construir por Daniel Martins de Moura Guimarães, um Gondomarense natural de Santa Eulália, Fânzeres, homem retornado do Brasil, culto, viajante, que para lá voltou e lá morreu.
De entre as muitas figuras ilustres hóspedes do Hotel, destacam-se os ex-Imperadores do Brasil D. Pedro II  e D. Thereza Christina que aqui faleceu em 28 de Dezembro de 1889.
Nada disto é novo, mas por casualidade tive de passar na rua lateral do hotel que se chamava na altura Viela das Pombas, rebaptizada posteriormente para Travessa do Grande Hotel e agora é a Rua de António Pedro, (Cidade da Praia - Cabo Verde, 9 Dez.1909 - Moledo, Minho, 17 Agosto 1966), uma homenagem ao grande vulto da cultura, e alma grande do Teatro Experimental do Porto que aqui bem próximo teve a sua sala. Para os curioso do Teatro e não só, aqui vai a página do TEP: http://www.cct-tep.com/
Reparei nos vidros de uma janela e no Brasão da Cidade do Porto. A imagem está invertida.
O desenho deste Brasão foi da autoria de Almeida Garrett cujas armas são alteradas por decreto da Rainha D. Maria II promulgado por Passos Manuel em 14 de Janeiro de 1837, após o Cerco do Porto e a Morte de D. Pedro IV. Mas o brasão mudou em 1940, ano da glorificação do regime ditatorial de Salazar e companhia que mandou redesenhar as armas e brasões de todos os concelhos e freguesias do País.
Mas para sempre ficou a inscrição de Antiga Mui Nobre Sempre Leal e Invicta Cidade do Porto. O Brasão mudou mas não este no Grande Hotel do Porto. Bem como o que se encontra na estátua de D. Pedro IV na Praça da Liberdade, mas ao qual falta a cabeça do Dragão há anos.  

Olhando para a Alfândega Nova em Miragaia desde Gaia, vê-se uma escultura sobre a qual não encontrei  qualquer referência. Já pedi a informação no Facebook do agora Museu e aguardo. 
A Alfândega, para além de mostrar o seu arquivo, peças, aparelhos, enfim, tudo que dizia respeito à sua missão, é um local de exposições permanentes de grande qualidade e interesse, bem como de  temporárias. 
E não esquecendo que aqui também está exposto o painel-estudo que deu origem ao Painel Cerâmico Ribeira Negra, colocado próximo do Túnel da Ribeira, da autoria de Júlio Resende, infelizmente desaparecido para a vida há pouco tempo.
Fica para a próxima uma "visita"  a este extraordinário trabalho.

Com o mural Ribeira Negra em fundo, uma singela homenagem ao grande Duque da Ribeira, Deocleciano Monteiro de seu nome. (Porto, 24 Março 1902 - 9 Novembro 1996). Uma pequena lápide da autoria de José Rodrigues, na Praça que tem o seu nome junto à Ponte D. Luíz, recordará para sempre o Homem.
Barqueiro e figura carismática da Cidade, nascido e criado na Ribeira, aos onze anos salvava o primeiro humano de morrer afogado nas águas do Douro. Não sei se têm conta os inúmeros salvamentos e corpos resgatados ao Rio.
Há relativamente pouco tempo, entrevistado um outro barqueiro que já tem muitos salvamentos à sua conta (infelizmente não me recordo do seu nome) dizia, quando lhe pediram uma comparação com o Duque: Não há nem nunca haverá qualquer tipo de comparação. O Duque conhecia o Rio como ninguém.
No seu livro de autógrafos, para além dos dois primeiros Presidentes da República eleitos pós 25 de Abril, Eanes e Soares, constam os da Rainha Isabel II de Inglaterra, de Samora Machel ex-Presidente de Moçambique e de muita gente importante que visitava a Cidade.
Presumo que recebeu a mais alta condecoração do País. Mas não tenho a certeza.

Já várias vezes me referi ao Altar de Sant'Ana, na Rua do mesmo nome, próximo da Sé e da Igreja dos Grilos, portanto uma das Ruas do Porto Medieval. Mas há sempre mais uma história que nos aparece quando pesquisamos. 
Tudo começa quando esta Rua se chamava das Aldas, (só mudou de nome em meados do séc. XVI) bem mais extensa do que a actual e ligava o velho burgo à zona Ribeirinha, através da Rua da Bainharia e depois da dos Mercadores. Como ainda hoje acontece.
Havia um "Portal", uma das quatro portas que existiam na Primitiva Muralha Românica e que passou a designar-se de Porta do Arco de Sant'Ana a partir de 1542 por provàvelmente já existir uma imagem da evocação da Santa desde 1524. 
Almeida Garrett imortalizou-o na sua obra O Arco de Santana, descrevendo-o como de arquitectura moderna e levantado quási ao meio da rua que se sobe para chegar ao Largo do Colégio de S. Lourenço (os portuenses conhecem-no melhor como dos Grilos)... e sobre ele havia um oratório que tinha uma janela com vidraça voltada para o lado superior ou do referido Mosteiro dos Grilos...e continha uma imagem da Santa da sua invocação e sobre ele o escudete de pedra com a seguinte legenda: S. Anna Succure Miseris.
O Arco foi demolido em Junho de 1821, requerido por um particular para ali construir umas casas. A Câmara autorizou a troco dinheiro, chamou-lhe indemnizações e lá se foi mais uma obra de grande valor da Cidade.
Voltando ao Altar actual, presumo que foi construído logo após a demolição, na parede granítica do lado esquerdo de quem sobe, portanto do outro lado da muralha. 
A primitiva imagem do séc. XV-XVI foi recolhida na Capela de S. Crispim que se localizava próximo do Convento de S. Domingos demolida para a abertura da Rua Mouzinho da Silveira em  1876. Está actualmente no Museu Sacro do Convento de S. Lourenço (ou dos Grilos). Mais uma visita que aconselho ao renovado espaço do Museu incluindo a Igreja e a parte museológica de Arqueologia. 
Como lamento que os visitantes da Sé não sejam aconselhados a descer 100 metros não só para visitar este conjunto como apreciar no novo miradouro o que nos rodeia.

Caminhadas também são motivo para fazer e guardar imagens e é bom para depois comparar com velhas relíquias. Pelo menos 100 anos separam esta duas e foi pura coincidência a escolha do local.

A história e a vida também se contam em fotos antigas, como estas de Cheias do Rio Douro na Ribeira, expostas na Casa da Dona. Ermelinda, onde comer uma Isca da Ribeira de confecção única aquece primeiro o céu da boca e depois corpo em dias frios.


Para finalizar, uma amostra dos muitos trabalhos em ferro que existem pela Cidade.

Muito a propósito aqui deixo uma bela mensagem da minha amiga Gaúcha-Portuguesa de todos os costados, Dona Alda Paulina:


CAMINHOS

Andei terras
descobri valores
de cada hora.
Sepultei a ausência
revelando amores
tragédia diária.
Idas e retornos
nesta rodoviária.
E o riso louco
de insana carência
mergulhou em flores.
E os dias poucos
do mais que eu fui
já são vivências.
Minha sombra ficou
no exíguo espaço
onde a vida (ainda) flui,
na restante máscara
das aparências.

Alda Paulina Borges