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segunda-feira, 28 de março de 2011

69 - Porto - A Cadeia da Relação

Sinto sempre uma certa emoção quando visito este edifício que agora alberga o Centro Português de Fotografia. A sua arquitectura, a sua história e a de alguns presos que alojou, o interior feito de granito e ferro, dão-me uma sensação de pequenez que nenhum outro edifício da Cidade me provoca. O edifício começou a ser construído em 1767 e demorou cerca de 30 anos a ficar concluído, no mesmo local da primitiva Cadeia, do tempo da era Filipina, que se desmoronou. O arquitecto foi Eugénio de Santos e Carvalho, o mesmo da reconstrução da Lisboa Pombalina. Albergou também o Tribunal. Foto de Arnaldo Soares, sem data, mas que será de finais do séc. XIX ou princípios do séc. XX
Entrada e acesso aos pisos superiores
Pátio dos Presos. Esta zona foi modificada em 1862. Era a enxovia das mulheres, com nomes de santos. Embora mantendo algumas delas, passou a ter uma oficina de trabalho e a enxovia de menores.
Para a sua construção, foi desmantelado um enorme tanque que aqui existia.
O interior de uma das enxovias.
Hall de entrada
Parlatório - Sala das Colunas

Entrada para o Tribunal
Interior do Tribunal.

Hoje é dedicado a Aurélio Paz dos Reis (Porto 1862/1931), o pai do cinema português. O primeiro filme realizado em Portugal tem o título A Saída do Pessoal Operário da Fábrica Confiança (a antiga Confiança, de Santa Catarina) Ainda hoje se observam pormenores construtivos
A distribuição dos presos pelos espaços obedeciam a critérios, conforme a classe social, o tipo de crime cometido e a capacidade de pagamento da carceragem.
Embora tenha investigado in loco onde se situaria a reprodução desta imagem, não o consegui. Mas era no último piso ( quartos superiores conforme refere a reprodução) que se situavam as prisões individuais, chamadas de Quartos de Malta, destinados a altas personalidades e que se fechavam só à noite. Também lá esteve a Enfermaria.
Há informações que nos dizem o que foram ou para que serviram as várias salas.
Foram celas de Mulheres, colectivas, mas mais salubres do que as enxovias.
Tinham também o nome de Santos (e Santas, claro).
Aproveitadas actualmente para exposições fotográficas. Exposição permanente sobre a Antropometria e a Fotografia no sistema judicial português
Secções criadas em 1902

Pormenor de uma "ficha"Cela de S. João

Aqui esteve prisioneiro Camilo Castelo Branco de 1 de Outubro de 1860 até 16 de Outubro de 1861, onde conheceu entre outros, o Zé do Telhado, cujas histórias de vida escreveu, para além de vários romances, dos quais Memórias do Cárcere e o best-seller Amor de Perdição. É visitado por D. Pedro V, a quem se deveram alterações melhorando as condições de vida dos presos.
Como veria hoje a Cidade da sua cela. Escreveu a um amigo "a maior saudade era ver a Igreja do Bonfim, que lhe marcava o rumo da estrada para Vila Real". (Li esta frase, que não estará rigorosamente nem na totalidade reproduzida in Os Amores de Camilo por Alberto Sampaio)
As concepções punitivas que vigoravam ao tempo, são evidentes com a segurança nas grossas paredes de granito, nas grades (duplas no piso térreo), nas portas chapeadas.
Vista (?) para o interior
Vista para o Convento de S. Bento da Vitória
Vista para o Jardim da Cordoaria. Ouvi-a dizer, ainda pequeno, quando alguém se encontrava preso "que estava no Hotel da Cordoaria com vista para os patos"
O Rio Douro e Gaia em fundo.
O Vitral da cúpula
Como outras celas, a que foi de Camilo hoje expõe relíquias fotográficas

Máquinas Linhof de muitas saudades.

Uma de estúdio, outra de fotografia aérea. A não perder uma visita

Curiosa a grafia desta cela
A Janela dos Condenados à Morte.

Li algures, que era aberta no último dia de vida. Dá para a Capela onde passavam a noite.

A Fonte de Neptuno na fachada voltada para a Antiga Porta do Olival
A fachada da Rua de S. Bento da Vitória
Era a antiga entrada para o Tribunal e para a Cadeia.
O edifício é uma construção em forma de triangulo. Foi desactivado o Tribunal em 1937, que passou para outro edifício e a Cadeia em 1974, seguindo os presos para Custoias.

Hoje encontra-se em perfeito estado de conservação - pelo menos o que é visitável - e a Associação Portuguesa de Fotografia merece os parabéns pela forma simples mas funcional como as exposições são e estão organizadas. Que são bastantes ao longo do ano.

Um apontamento: Uma foto antiga da frontaria da entrada, em exposição, está ao contrário. Perguntei a razão mas não me souberam responder. Talvez o original esteja mesmo assim, pois é bem simples invertê-la. Pormenor.