Uma promessa feita ao meu camarigo Vasco da Gama, levou-me à Rua do Rosário para lhe "mostrar" a casa onde viveu nos seus tempos de estudante. E aproveitando a pedalada, dei uma "volta ao quarteirão.Comecemos por referir que a rua tomou o nome do tio de Almeida Garrett, Domingos do Rosário, aqui foi morador e proprietário tendo provavelmente doado uns terrenos para a abertura da rua.
Na esquina com D. Manuel II fica o degradado edifício do antigo Hotel do Louvre. Já referido em notas anteriores, mas nunca é demais falar dele. Faz precisamente este mês 139 anos que D. Pedro II do Brasil aqui se hospedou. Albergou o Cine Clube do Porto, a Sede do velhinho Salgueiros, o Orfeão Lusitano, a sede do MUD assaltada pela Pide em 1948, o Clube de Campismo do Porto. Uma pena a situação em que se encontra e logo numa zona altamente visitada.














Não tinha programada a volta a este quarteirão. Mas como o caminho se faz caminhando, lembrei-me de ter lido em tempos no http://www.portoantigo.org/2010/01/o-velodromo-maria-amelia.html que por aqui existiu um velódromo. E fui tentar procurá-lo. Vi uma senhora à janela, já entradota na idade e perguntei-lhe se o conhecia. Expliquei-lhe que era um local onde a rapaziada de há 100 anos, talvez menos, andava de bicicleta. Olha, diz-me ela, no meu tempo foi no Palácio (ali a dois passos) que aprendi e andava de bicicleta. Recuei uns anos e também me vi por lá a dar ao pedal.
Quási toda a estrutura do Velódromo continua lá. Foi-lhe dado o nome de D. Amélia em homenagem à Rainha, esposa de D. Carlos, a quem os terrenos pertenciam e que os doou ao Velo Clube do Porto. Ou terá sido Real Velo Clube ? Para o caso não interessa nada. Claro que não o vi, pois faz parte dos jardins fechados do Museu Nacional Soares dos Reis. Foi inaugurado em 1895 mas a história do ciclismo português está ligado a ele, até porque o primeiro clube de ciclismo nasceu no Porto.





Este edifício começou a ser construído em finais do séc. XVIII para residência e fábrica de ourivesaria dos Carrancas, apelido de uma família abastada cá do burgo, os Morais e Castro. Foi quartel general de Soult aquando das invasões francesas e depois de Wellington após a expulsão dos saqueadores. Durante as Lutas Liberais foi local de acolhimento de D. Pedro IV; adquirido aos descendestes da família em 1861, por D. Pedro V por 300 contos de réis para residência real durante as suas visitas ao Porto. Li que D. Manuel II ainda o utilizou numa das raras visitas ao Porto, já exiliado. Daí o nome da Rua em sua homenagem.
Passou a chamar-se Paço Real. Após a instauração da República e porque o Paço Real era propriedade privada do rei, esteve encerrado até 1932 data do falecimento de D. Manuel II. Este legou-o à Santa Casa da Misericórdia do Porto. Passou para o Estado em 1939 para aí instalar o espólio do Museu Municipal do Porto e do ex-Museu Portuense de Pinturas e Estampas, fundado em 1833 onde tinha nascido o primeiro museu de arte em Portugal. A foto é de Arnaldo Soares do princípio do séc. XX


É já no séc. XX que passa para Metralhadoras 3 e posteriormente, nos anos 60, derivado à Guerra do Ultramar, passa a albergar o CICA 3, se não estou em erro. O emblema primitivo continua gravado no granito.
A seguir ao Quartel, eram os terrenos do primitivo Horto das Virtudes, fornecedores reais, que se estendiam, desde meados do séc. XIX, até Miragaia. Para a abertura de novas ruas, foi sendo retalhado. Posteriormente passou para o Moreira da Silva, de Campanhã. A fachada em vidro era enorme e junto à entrada, ostentava uma pera gigante gravada na pedra. Desse Horto, resta para o portuense visitar, o bonito Jardim das Virtudes que vai desde as traseiras da Cooperativa Árvore até um magnífico miradouro sobre Miragaia. A não perder uma visita.

Os textos, principalmente os históricos foram pesquisados em vários sítios, alguns referidos. Mas não se pode esquecer o http://www.portoxxi.com/ .
Uma curiosidade sobre a Rua D. Manuel II. Logo após o 25 de Abril de 1974, foi proposto na reunião camarária que a Rua mudasse o seu nome para Estaline. Chumbada a proposta, energúmenos resolveram pichar as placas da Rua com o nome do ditador soviético.