A crescente actividade comercial da Cidade do Porto ligada ao mar e ao rio, obrigava a condições de melhor navegabilidade da Barra do Douro, bastante estreita e perigosa.
Em 1527 concluiu-se um pequeno farol-ermida, mandado erguer por D. Miguel da Silva, futuro Bispo de Viseu, abade do Mosteiro Beneditino de Santo Tirso, que gostava de se recolher na cidade. Entrava pelo rio. Hoje chama-se cais do Marégrafo onde está localizado, na Cantareira.
A ermida funcionava como farol de fogo e facho. É uma construção quadrangular; interiormente octogonal, com nichos onde provavelmente haveriam imagens de culto religioso. Presume-se que tenha existido também um altar barroco do séc. XVIII, junto ao nicho maior.
Gravado nas pedras da parede voltada para o Rio, está a inscrição latina: D. Miguel da Silva, Bispo eleito de Viseu, fez esta Torre para governo da entrada dos navios e deu e consignou campos comprados com o seu dinheiro para que do seu rendimento se acendessem perpétuamente fogos.Havia uma outra pedra com a inscrição Desejo que voltem sãos e salvos. Deve ter ido à vida dela esta pedra. As inscrições que aqui copio, são de mais ou menos, diferindo um pouco de site para site mas no fundo dizem o mesmo.
Claro que o Bispo arranjou um esquema para que nunca faltasse a luzinha da Barra. Isto é, cada navio entrado pagava um imposto. O Farol foi desactivado quando entrou em funcionamento o Farol da Luz. (ver Postagem 83). Portanto, desde 1527 a 1882 que funcionou como anjo da guarda das gentes do Rio e do Mar. Passando então a guardar apetrechos de pesca dos pescadores da Cantareira.
Em 1852 foi construída uma torre anexada ao Farol, para ser instalada uma estação telegráfica. É um edifício que está meio arruinado e diz quem sabe que por dentro está a cair. O cartaz com o alvará para a recuperação está lá há anos, por uma bagatela de euros. Coisas à moda do Porto. E da cultura.
Em 1841 foi construído um edífício anexo para instalar um posto da Guarda Fiscal. Acolheu também os Pilotos da Barra do Douro e do Porto de Leixões. Desde há uns anos está instalada uma secção do Instituto de Socorros a Náufragos. O edifício foi recentemente limpo e pintado, mas energúmenos já o resolveram sujar.
Em 1915 foi colocado no local onde havia um poste pintado a branco - na foto antiga, inicial, vê-se nitidamente - um farolim, chamado da Cantareira, que fazia luz de enfiamento com o Farol de Felgueiras (ver postagem anterior). Foi apagado em 2007 e desactivado em 2009, quando entraram em funcionamento os farolins dos novos molhes da Barra do Douro.
A nova Barra do Douro destacando-se os dois novos farolins e à direita o Farol de Felgueiras.
O Cais do Marégrafo, deve o seu nome à estação que ali foi construída. Não consegui descobrir a data em que isso aconteceu. Sei que o aparelho inicial foi roubado. Hoje está lá um outro que parece funcionar.
A medição das marés era importante porque o rio apresenta - ou apresentava - aqui profundidades muito oscilantes. Informação necessária para os pilotos, quando os grandes barcos passavam a barra.
Passei há dias um pouco de tempo a conversar com o amigo e ex-camarada Tavares, Fozense natural, que encontrei por acaso, sobre as gentes deste lugar. Caminhamos um pouco ao longo das Palmeiras e acabamos por nos juntar à conversa com pessoal do Mar. Relembrando outro amigo e ex-camarada comum, o Carlos Filipe; e ainda o Rui Amaro, escritor e também ele homem do Mar.
Eu chamo-lhe a Baía da Cantareira. Imagens de sonho a partir do Cais do Marégrafo. Gaia, Arrábida, Lordelo, Cantareira, só lá estando para ver.
A Capela de Nossa Senhora da Lapa, padroeira dos Pilotos da Barra e dos Pescadores da Foz do Douro, encontra-se do outro lado da Rua.
Portanto, é este Farol de S. Miguel-o-Anjo o mais antigo de Portugal e talvez da Europa. Para além dos textos compilados em vários sites, (IGESPAR e PORTO XXI, principalmente) não posso deixar de referir novamente o blogue do Rui Amaro. (http://naviosavista.blogspot.com/).
Para melhor apreciar todo o Douro, do Infante até à Barra, nada melhor que uma viagem de eléctrico.
Vão e digam-me depois.
Olá Amigo Jorge por ai tudo bem???? Olha lá, tu para tirares estas fotos todas andas á cata delas ou já foram tiradas há algum tempo e agora estás a construir estas pequenas maravilhas. É só uma questão de curiosidade.
ResponderEliminarAbraço
ZeManel
Caro Jorge
ResponderEliminarComo sempre, mais um belo trabalho.
Uns anos antes de me reformar, procedi à reforma do interior do marégrafo destruído pela força do mar. Ao mesmo tempo a Divisão de Obras procedeu à reparação de toda a zona envolvente com assentamento de novo pavimento, redes de energia, etc. Repintou-se o edifício anexo que referes, etc. Passados poucos anos estava praticamente tudo degradado de novo. O mar de vez em quando entra pelo marégrafo dentro e parte tudo.
Carlos Vinhal
Caro Jorge
ResponderEliminarMais um excelente trabalho e receba as minhas felecitações.
A primeira imagem e a mais antiga mostra o pedestal que servia de marca por marca com a marca das Três orelhas, e que mais tarde substiyuida pelo actual farolim que agora está desactivado.
O edidicio a poente é o que era apelidado da casa da Alfandega, e na porta, que actualmente desapareceu, de oeste aberta, foi até por volta de 1930 a primeira estação de pilotos da barra, o meu pai, um piloto, ainda serviu lá, e a porta a norte era o posto da Guarda-fiscal. à direita vê-se o mastro de sinais do pilotos e à equerda estão os varais do pescadores da Cantareira, que serviam para o amanho das suas artes, qu anteriormente se estendiam para o lado das linguetas e para o lado do Passeio Alegre.
È mais uma achega ao seu trabalho-
Abraço
Rui Amaro (blogues NAVIOS À VISTA, O PILOTO PRÁTICO e a página MY PHOTOS - SHIPS NOSTALGIA)
Vou te mandar uma foto do por do sol em canidelo que tirei quando fui aí....é lindo demais!
ResponderEliminarBeijos e tudo de bom.
Ah, adorei a ideia do talco depois do banho, rs...hoje vou usar. rs
Me encanta sempre esse azul do céu de seu Porto.
ResponderEliminarManda pra mim , aquela do por de sol ?
É a ultima.
Adorei o passeio
beijinhos
Glorinha