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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

114 - Paranhos, Recordar tempos antigos

Sou de Massarelos por nascença mas Paranhense do coração. Aqui nesta freguesia foram passados 17 anos da minha vida desde os 3 dias de idade, segundo me contavam avós, pais, vizinhos (Aos amigos e visitantes interessados nas minhas postagens, na nº 3, lá está a minha rua).  Não posso dizer que conheço Paranhos pois a sua área territorial é a maior da Cidade do Porto e a terceira maior do meu Portugal.
Os meus clubes do coração e estimação aqui nasceram, tiveram ou têm os seus recintos desportivos, o Porto, o Salgueiros, o Académico (deste, presumo que pelo menos uma parte pertence ao Bonfim); mas dos pobres também reza a história: O Sport Progresso, o Francos Figueirense e o Portuense de Desporto. A todos estive ligado - ao Progresso não - e neste passeio histórico de tudo isso lembrei. Tenho por aí uns escritos falando individualmente de cada um deles.
A história de hoje é outra e começa com o pedido de um amigo freguês Paranhense emigrado no Luxemburgo que com saudades da sua terra me pediu fotos para mostrar aos descendentes.
Paranhos deriva de Paramio, cujo actual nome aparece pela primeira vez num documento datado de 1689.
Sabemos que pertenceu em grande parte às terras da Maia até 1837 quando se integrou na Cidade do Porto, mas já habitada muito antes do Condado Portucalense até por Mouros (ou Árabes) que aqui se mantiveram até ao séc. X. Foi um lugar de muitas aldeias.
A actual Igreja - dedicada a São Veríssimo -  não tem data registada da sua fundação. Conhecem-se os assentos de umas obras efectuadas por um mestre pedreiro em 1845 por estar em ruínas. Mas em 1123 já existia uma igreja quando foi realizada a doação do padroado da Igreja de Paranhos ao Bispo do Porto D. Hugo do qual faziam parte grande numero de casais e quintas.
Na torre esquerda existiu um relógio de sol construído em 1878. Hoje só lá está a marca. Será que custava muito reconstruí-lo ? Sempre era uma lembrança dos velhos tempos.
Sabemos que a freguesia possuía vastos campos de cultivo desde tempos remotos. Apesar da modernidade, ainda existem indícios dos senhorios que cultivavam essas terras. Também foram criadores de gado bovino o qual era exportado para Inglaterra. Lembro-me ainda de alguns lavradores de Álvaro Castelões, Aval, Augusto Lessa. As fotos acima são de antigas casas principais de lavoura à volta do Largo da Igreja de Paranhos.
Por outro lado e pelas ruas que se foram abrindo, emigrantes do Brasil estabeleceram-se com várias industrias e comércios e construíram belos edifícios, alguns apalacetados. Assim, a partir dos finais do séc. XIX e princípios do séc. XX, a ruralidade antiquíssima da Freguesia tomou novos aspectos. Mas as novas oportunidades trouxeram novos habitantes. Em alguns desses edifícios hoje estão instituições: A Universidade Fernando Pessoa, a Ordem dos Médicos, a Associação dos Pais de Crianças Deficientes.
Muitos dos campos de cultivo de outrora foram rasgados por novas artérias.
Paranhos foi sempre um lugar com Festas e Romarias. A mais importante seria a Feira de S. Miguel que durava de um a dois meses, com muitas tascas de comes-e-bebes.
A partir de 1887 as Festas da Senhora da Saúde adquiriram pela sua grandeza a categoria de Festas da Cidade. Duravam 8 dias com arraiais, feira, fogos de artifício e uma majestosa Procissão que saía da Igreja e terminava no Largo do Campo Lindo, junto à Capela da Senhora da Saúde.
Uma lembrança me ficou gravada de um dos anos da festa. Neste Largo provei  pela primeira vez cerveja, ofertada pelo meu pai do seu copo. Havia uma esplanada montada que pertencia a um café que ainda existe - precisamente de nome Campo Lindo - onde esperávamos pela minha mãe. Quem diria que na altura detestei o sabor dessa bebida maravilhosa. Na época eram ofertados por cada fino (nome portuense dado a um copo de 20 cl de cerveja tirada à pressão), amendoins, batata frita à inglesa, tremoços e azeitonas, servidos em taças de vidro com 4 divisórias. Esses sim, comi-os todos e talvez por isso o meu pai, que não era bebedor, tomou três finos. Mas não invalidaram o apetite para o lanche que sempre comia quando saía com os pais. 
A Capela da Senhora da Saúde foi construída em 1871. As Festas ainda se realizam mas sem a grandeza de outrora.
Tomando a Rua de Costa e Almeida (que foi Presidente da Câmara e Governador Civil) onde antigamente se realizava a Feira da Louça, vamos ter à Praça Nove de Abril, (a razão desta toponímia  contarei mais abaixo) mas mais conhecida como a Arca d'água. Largo da Arca d'Água assim se chamou desde tempos antiquíssimos. Aqui se encontram os mananciais de água de Paranhos que durante séculos abasteceram uma grande parte da população da Cidade. Ao rei D. Sebastião (séc. XVI) havia sido feito um pedido para encanar esta água, presumindo-se que foi perdido. Hábito que ainda hoje persiste, pois continuam a perderem-se coisas em Lisboa no que diz respeito ao Porto e ao Norte. Mas seguindo com a história. D. Sebastião, não sei se por castigo, também se perdeu em Alcácer-Quibir e ainda hoje almas crentes andam à procura dele. Para compensar a perdição chegaram os espanhóis por 60 anos (1580/1640). Que no reinado de Filipe II acharam um novo pedido e então sim, foi dado o ok para que a água do manancial de Paranhos fosse encanada. Umas vezes subterrânea, outras vezes a céu aberto. (Estes subterrâneos ou parte deles, podem ser visitados desde que o pedido inclua, creio, um mínimo de 20 visitantes, devidamente armados de galochas, capas de chuva e chapéus. Quer dizer, roupa para enfrentar o dilúvio. Os Serviços de Águas - SMAS ou Águas do Porto, não sei como se chamam - sediados em Nova Sintra, aceitam e programam as visitas).
Em 1920 foi construído um Jardim, com lago e gruta, servindo esta agora para centro de convívio da terceira idade. No Largo, durante as Festas da Senhora da Saúde, estavam as diversões e o célebre Mastro de Subir ao Bacalhau. Para quem não sabe o que isto era, devo esclarecer que era um pau com uns metros de altura, devidamente cebado tendo no alto cruzado outro pau. Em cada braço eram colocados um bacalhau, uma garrafa de vinho e se bem me lembro chouriços em argolas. Quem conseguisse subir ao pau, ganhava de prémio o material exposto. Bonecos representativos dessa paródia não faltavam nas cascatas sanjoaninas. E na que meu pai me fazia todos os anos não faltava mesmo.
Voltando à história deste lugar. A oeste acaba a Rua de Vale Formoso e começa a Rua do Amial, assim chamada por causa dos muitos amieiros que por aqui existiam. Foram parte desde tempos remotos da Estrada de Braga que começava no lado direito do Largo dos Ferreiros, actualmente Carlos Alberto. Presumo que é esta a famosa estrada que desde o séc. XVI se chamava dos 9 Irmãos. Mas séculos antes a Via Romana que ligava o Porto à Bracara Augusta terá por aqui passado.
Antes da construção do Jardim, em 6 de Fevereiro de 1866, Antero de Quental e Ramalho Ortigão andaram a bater ferros um contra o outro por causa da Questão Coimbrã. Quer dizer, parece que o duelo se deu derivado aos insultos escritos com que Antero mimoseou as obras e/ou opiniões de Castilho tendo este sido defendido pelo Ramalho chamando covarde a Antero. A história regista que Antero ganhou por um arranhão. No final ficaram todos amigos. Gente culta é outra coisa. Por curiosidade e para demonstrar a falta de cuidado com o que se publica, no site da Junta diz que foi em 1865. Quem escreve verdade ?
Quási no final da Rua de Vale Formoso - desconheço a razão do toponímico - encontra-se o que o portuense chama de Bom Pastor. Presumo que seria um antigo convento de uma irmandade vocacionada para o acolhimento de mulheres. A Congregação do Bom Pastor, com ramificações pelo País está activa. Aqui viveu entre 1894 e 1899, altura do seu falecimento, uma monja - me desculpem se erro o nome, mas é um leigo que vos escreve - nascida na Alemanha em 1863 e sepultada no Cemitério de Paranhos. Criou um carisma muito especial e ficou reconhecida com a Santinha de Paranhos.
Não sei ao certo se as antigas instalações do Quartel de Transmissões, conhecido como Quartel do Bom Pastor, agora uma ruína, desactivado desde 1995, fazia parte das instalações da Congregação. Em tempos numa conversa, afirmaram-me que sim, tendo resultado de uma troca de interesses com o Estado Novo. Adiante.
O JN de 19 de Julho de 2008 publica que o Comando Metropolitano da PSP do Porto vai deixar o Aljube e instalar-se no antigo quartel que vai sofrer obras de restauro. Provàvelmente a começar em Janeiro, segundo o Secretário de Estado Adjunto e da Administração Interna da altura, José Magalhães. E incluirá uma nova esquadra, a do Bom Pastor. Um longo artigo o do JN.
O Expresso de 13 de Março de 2010, com origem na Lusa, publica a seguinte notícia: A PSP do Porto vai concentrar o seu comando metropolitano, a Divisão de Trânsito e um hotel para polícias na zona do antigo quartel militar do Bom Pastor, onde também já está a construir-se uma esquadra. Afirmações do Secretário de Estado Adjunto e da Administração Interna, Conde Rodrigues.
Ora bem. A degradação está igual, mas a nova esquadra lá está. Num novo edifício entre o da Congregação e o do antigo Quartel, adquirido pelo Ministério do Interior em 1995. Com umas traseiras onde se pode apanhar o bom sol de inverno, jogar com uma consola manual e tomar um café e conversar. Assim estavam 4 pessoas fardadas à PSP quando entrei pela porta do cavalo e fui pedir autorização para entrar e fotografar apenas o emblema das transmissões. Manias de veterano. Claro que fui corrido com um não pode em formas grosseiras, tanto pelo jogador de consolas - um chavalo aí dos seus 23 a 25 anos - como por um outro agente (?) que apareceu à janela, mas que pelo sim pelo não falou para dentro e renovou o não pode no mesmo estilo policial. E depois quer esta rapaziada que  fiquemos do lado deles... O Peixoto, velho companheiro destas minhas andanças, só se ria. Mas fiz a foto tanto de parte das ruínas como do emblema, encostado à esquadra. E não foi às escondidas, porque os policiais disseram pode.
Mas os meus finalmentes eram a Rua de Monsanto.
Que começa mesmo em frente à Arca d'Água. Lá estão ainda as velhas Alminhas, agora sem santo - ou santa - bem como o antigo tanque público, mas devidamente renovado. E os terrenos que eram a utopia do falecido Linhares ex-presidente do Salgueiros, para a construção do novo estádio. Tudo a monte e o lago que se criou e onde parecem existir peixes que amigos do ambiente trouxeram para se reproduzirem e servirem posteriormente só para entretimento de pescadores com alma. É pescar e devolver ao lago.
Pela Rua de Monsanto ou nas suas cercanias, encontramos ainda caminhos antigos. Mas a história da Cidade diz que foi Rua do Regado pelo menos até 1933. E tomou o nome, pensa a nossa autarquia, advindo da vitória republicana sobre as monárquicas na serra do mesmo nome, junto daquela cidade. E atiram para o Andrea de Cunhas Freitas esta hipótese. Homem de Lisboa que veio para o Porto como secretário da Câmara de Falências e morreu em Vila do Conde em 2000 deixando muitas obras sobre o Porto. Mas uma coisa é certa. Não encontro a cidade de Monsanto em Portugal, mas sim a Aldeia, que foi considerada no tempo Salazarista como a mais Portuguesa. Gostos. Mas na história da Aldeia não há nenhuma referência quanto a vitórias republicanas contra monárquicas. Será que a nossa querida Câmara não tem registos das actas em que se resolvem dar o nome a Ruas e os porquês ? Até que esta nem é antiga. Mas quem sou eu para me meter nestas coisas. 
Aqui temos a "famosa" Rua Nove de Abril, à entrada de Monsanto e bem próxima da Praça com o mesmo nome, a tal que os tripeiros chamam de Arca d'Água. Trabalhei numa oficina metalúrgica fabricante de candeeiros, sediada na rua. Acontece que para secar umas peças com um bico de gás conforme me ordenaram e que eram metidas num pequeno foço onde estava a garrafa bem como uns desperdícios de algodão, resolvi pegar fogo aos ditos, involuntàriamente, claro. Entrei numa segunda-feira de Outubro de 1959 e saí na segunda-feira seguinte, data do incidente. Ainda não tinha completado 14 anos mas já se adivinhava que o meu futuro não era a industria do ferro.
Então o porquê desta Rua e a Praça se chamarem de Nove de Abril. Diz a tal toponímia da cidade que é em lembrança da Batalha de La Lyz, travada nos campos da Flandres no ano de 1918, onde as tropas portuguesas se vestiram de glória. Curiosamente, foi em Nove de Abril de 1833, que os liberais de D. Pedro IV sitiados pelas tropas do absolutista D. Miguel, tomaram de assalto o forte reduto do Covelo, aqui em Paranhos. Assim, questiono se a antiga Rua da Bica Velha, chamada desde 1933 (?) de Nove de Abril, bem como o Largo, serão em memória de La Lyz ou do assalto ao Covelo ?

No final de Monsanto encontramos o Bairro do Carvalhido e o que foi o Monte da Caramila. Só conheci este nome porque o meu amigo e freguês do Luxemburgo mo referenciou. E confirmei por uns habitantes com quem meti conversa.
Porque o meu amigo fez a primária na escola 105, da Caramila fui investigar. Hoje chama-se como muitas outras de EB.1+2, ou coisa parecida, que não faço ideia do que quer dizer, mas inclui um infantário. Mas é conhecida como naquele tempo, da Escola da Caramila. E sabem como descobri ? Porque um escritor juvenil escreveu no seu blogue que foi lá promover um livro de sua autoria. Bem escrevi há Junta de Freguesia de Paranhos para saber mais coisas do lugar. Mas como é habitual e por isso já nem estranho, o meu pedido não teve resposta. O rumo é o mesmo de todas as autarquias, incluindo a Câmara Municipal: O cesto dos papeis. A excepção honrosa foi a da Junta de Santo Ildefonso, que me informou onde era - é - a Casa de Germalde, mas não sabiam que o Ramalho Ortigão tinha lá nascido.
Chegado a São Dinis resolvi, contràriamente aos meus princípios subir a Rua. O antigo canil onde o  Boby, adoptado pelos meus pais já eu era bem grandinho, foi abatido ficando um grande vazio lá em casa e enorme desgosto. Hoje é mais uma entre tantas repartições do ambiente da Câmara.
No início (ou fim não sei bem) da Rua de S. Dinis próximo da Vale Formoso, está o saudoso Cine-Teatro Vale Formoso. Por me portar bem, a minha avó dava-me 25 tostões para ir ver os filmes do Joselito e do Marcelino. Era um cinema de bairro, mas meio aristocrático. Em 1950 os meus pais vestiram-me de Pierrot, fato feio pela minha mãe em cetim amarelo com botões e gorro preto e fomos a um carnaval no Vale Formoso. A maquilhagem esteve a cargo da Mimi. Tenho a foto feita dias mais tarde no Salvador em Santa Catarina e a lembrança de alguns pormenores, incluindo a orquestra vestida de branco. 
Ao palco onde Merce Cunninghan dançou com musica de John Cage nos anos 60'
estão agora os senhores mal aventurados da IURD que não conseguindo comprar há uns anos o Coliseu do Porto vieram tomar conta deste belo espaço.
Fechado no momento, mas dizem que vai ser centro de convívio social.
Imagino as obrigações que os irmãos vão ter de fazer para conviver


segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

113. Ainda a Quinta da Prelada e Nasoni

Sinto um prazer enorme quando publico o que quer que seja e os meus amigos ou leitores correspondem com uma opinião. E principalmente quando rebatem sobre um tema que me obrigue a reflectir.
Com raras excepções, fotografo conforme caminho e se resolvo que é bom para divulgar, vou tentar pesquisar para juntar às fotos vivências passadas minhas e histórias reais. Pelo menos, presumo que o sejam.
Vem isto ao caso, porque recebi do meu amigo Borges Ferraz umas informações sobre o Chafariz de Nasoni. Não sei o nome correcto deste monumento nacional, mas parece, que segundo o IGESPAR será Chafariz do Passeio Alegre e que desde há uns anos se encontra neste Jardim.
Na minha postagem anterior sobre a Quinta da Prelada, escrevi duvidosamente onde estaria este Chafariz inicialmente. Conhecia algumas versões pelo que tinha lido. Mas situei-o na Quinta da Prelada para onde teria saído para o Jardim do Passeio Alegre.

Escreve-me o amigo Borges Ferraz, com o tema Quem fala verdade, as seguintes transcrições:
1. Segundo Germano Silva in "Fontes e Chafarizes do Porto" pág.146 e 147 refere :

"o chafariz que está no Passeio Alegre pertenceu ao extinto mosteiro de S.Francisco que existiu onde está agora o Palácio da Bolsa".

2. Segundo o Dr. Hélder Pacheco in "Porto" Editorial Presença, pág.198 e 199 diz:

" No Jardim do Passeio Alegre, admiramos o mais harmonioso e monumental chafariz portuense. É nítida a sua configuração de elemento arquitectónico monástico. De facto pertenceu à cerca do extinto convento de S.Francisco, nos terrenos do qual foi construído o Palácio da Bolsa. O chafariz é, mais do que obra de arquitectura, uma verdadeira peça escultórica, com o seu corpo central, donde jorra a água através das bicas existentes em várias carrancas, finamente lavrado em granito. (Joaquim Antunes : »Para alguns autores a fonte teria vindo do Convento de S.Domingos e ainda para outros do Convento de Monchique. Que grande confusão!»)".

Entretanto, na página do Igespar http://www.igespar.pt/en/patrimonio/pesquisa/geral/patrimonioimovel/detail/70686/
encontramos a seguinte leitura: Projectado pelo arquitecto que mais marcou o barroco portuense, Nicolau Nasoni, o Chafariz que actualmente decora um trecho do Passeio Alegre foi inicialmente concebido para os jardins da Quinta da Prelada, numa solução cenográfica que deveria integrar outros elementos decorativos a acompanhar o monumental chafariz.
No século XX, com a compra da Quinta pela Câmara Municipal do Porto, a obra de Nasoni acabou por ser desarticulada do conjunto onde se inseria, transitando em seguida para o Passeio Alegre, onde actualmente se encontra, seguindo o mesmo percurso dos dois obeliscos também projectados por Nasoni, que se encontram à entrada do passeio.
Artisticamente, o chafariz é uma obra monumental, salientando-se a enorme coluna central, profusamente decorada em secções de motivos de vegetalistas e zoomórficos, terminando num fogaréu. A água brota de quatro carrancas situadas numa taça média que ladeia a coluna, descarregando para uma taça inferior, situada ao nível da cota do terreno. Esta última delimita o próprio chafariz, exibindo em planta uma forma de trevo, hoje realçada pela posição de realce que ocupa no próprio jardim, definindo um largo, e constituindo um dos eixos do percurso.

Tentei saber algo mais e seguindo o conselho recebido na Livraria Alfarrabista Chaminé da Mota, onde primeiramente tentei encontrar algo sobre o Chafariz, fui ao Arquivo Histórico da Cidade na Casa do Infante. Iniciei as pesquisas por Robert C. Smith e Nasoni. No capítulo da Quinta da Prelada não tem qualquer referência ao Chafariz. Mesmo na Planta não se o vislumbra (nem a Fonte de Bruguel). Mas estão documentadas as Entradas, a Casa, o Labirinto, a Torre e o caminho principal que tudo unia.
Segui novo conselho, agora da simpática bibliotecária (?) e consultei Aquedutos, Fontes e Chafarizes do Velho Porto, Boletim Cultural, Vol. 24, que na pág 201 descreve ... do Convento de S. Francisco... dele saiu o Chafariz que até 1834 estava onde se encontra o Palácio da Bolsa.
Não refere o autor do projecto.

Ainda em http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/6526.pdf  pode-se ler que o Chafariz veio de S. Francisco e é da autoria de Nasoni.

Posto isto, como diz o meu amigo Borges Ferraz, historiadores há muitos.

Bom, quer tenha vindo da Prelada, dos terrenos comprados pela Câmara (a quem, à Santa Casa da Misericórdia ou ao último herdeiro ? e se é verdade, quando ?) ou do convento de S. Francisco, uma certeza temos: são de Nasoni. A data da construção do Jardim do Passeio Alegre e a destruição do convento de S. Francisco, a data da construção do conjunto da Prelada e a doação dos terrenos, tudo junto não seria um ponto de partida para sabermos algo mais ? Mas quem se interessa por isso ? Se Agatha Christie fosse viva, talvez criasse o Mistério do Chafariz, desvendado por Poirrot.

Mas valeu a pena a pesquisa, porque aprendi novas coisas e descobri outras. 
Referi na postagem anterior que desconhecia a origem desta pedra na Rua dos Castelos, sensivelmente a meio e quando a rua faz uma ligeira curvatura para a direita de quem vem do Carvalhido.
Na biografia de Nasoni de Robert C. Smith, li ... a 214 metros da Casa, foram colocados 2 Pedestrais de 3,15 m que acabam com a figura de uma Torre.
Francamente, não olhei para o outro lado da Rua, não sei se está lá o outro. Mas já agora e em escrita corrida, a Câmara ou a Junta de Freguesia poderiam retirar a placa Carvalhido que não serve para nada. Melhor, serve para desfeiar o Pedestral.
Também fiquei a saber que no Muro do Terreiro... lembrando o Chafariz de Matosinhos, ...as cores realçam os ornamentos florais, ...tinham uns assentos...
As cores já não existem nem os assentos.
Não entendo como se deixam construir muros colados a este muro, que na minha pobre opinião é uma obra escultórica de grande valor e como tal deveria ser realçada.
  
Se as dúvidas sobre a localização do Chafariz persistem, quantos a estes dois elementos já não as tenho. 

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

112 - O Carvalhido, a Prelada e as Pirâmides

Há cerca de um ano, conversando com o amigo António Tavares, Fozense de gema, sobre a Foz e a Cantareira, a dada altura ele referiu-se às Pirâmides. Igualmente, em escritos trocados com outro amigo Fozense, o Rui Amaro, foram referidas as Pirâmides. Isto ficou-me gravado.
Há umas semanas atrás, outro amigo, o Quintino Monteiro, ofereceu-me o recorte do JN onde o Professor Germano Silva no seu habitual espaço dos domingos, escreveu um pequeno apontamento sobre as Pirâmides. Nesse mesmo domingo vi e ouvi no programa Caminhos da História no Porto Canal, o Professor Joel Cleto falar sobre as Pirâmides.
Para mim as Pirâmides mais não eram que os Obeliscos da autoria de Nicolau Nasoni projectados para a Quinta da Prelada. Em escritos anteriores neste espaço referi transladados para o Jardim do Passeio Alegre, aquando da aquisição pela Câmara do Porto da Quinta da Prelada. Agora fico na dúvida o que é que a Câmara do Porto adquiriu, na medida em que a Quinta da Prelada é pertença por doação desde 1903 ou 1904, o ano diverge em alguns sites, da Santa Casa da Misericórdia do Porto.
Depois de ver o programa, reconfirmei o que li e não há engano. No sítio da Câmara do Porto na net continua a informação bem como em outros sítios.
Mas o porquê das Pirâmides e não Obeliscos, como são designados ?  
Como escrevi na minha postagem anterior, o Carvalhido era uma mata de enormes dimensões nos arrabaldes da Cidade do Porto, por onde passava um caminho conhecido - ainda hoje - por estrada da Póvoa. Foi também um dos Caminhos de Santiago. Aqui aboletaram os Bravos do Mindelo em 8 de Julho de 1832 depois do desembarque na Praia de Pampolide, hoje chamada da Boa Memória, em Leça da Palmeira. (Joel Cleto). Mas há quem refira que foi mesmo em Mindelo, próximo a Vila do Conde que o desembarque se deu. (Agostinho José Freire, Secretário de Estado dos Negócios da Guerra, em 4 de Setembro de 1834). De qualquer forma, eram as Tropas de D. Pedro IV vindas dos Açores para libertar o País do poder absoluto de D. Miguel . Dois anos depois e após o levantamento do Cerco do Porto pelas tropas miguelistas, o Largo passou a ser denominado como Praça do Exército Libertador em homenagem ao Exército de D. Pedro. Embora os portuenses continuem a conhecer o local como Carvalhido.
Mais ou menos no local onde hoje se encontra a estátua do antigo Bispo do Porto D. António Augusto de Castro Meireles (foto acima) da autoria de Henrique Moreira, datada de 1955, estavam as Pirâmides, cujo nome deu origem a uma localidade com o mesmo nome. O nome do local desapareceu, mas o "cognome" de Pirâmides aos Obeliscos, mantêm-se, pelo menos para os Fozenses. Quási 250 anos de história na memória do Povo.
Mas dentro da mata, havia também a Prelada. Será que estarei correcto ?
Comecei por imaginar o que seria a mata do Carvalhido e a Prelada nos dias de hoje


A Prelada cuja origem será Pedra+Lada e segundo Joel Cleto, Lada pode ser muita coisa, mas não tem dúvidas que existiu algures um pedra que indicava algo. Certo é que este local já é referenciado em 1258, como possuindo 4 casais pertencentes a D. Mafalda, filha de S. Sancho I. Aqui presumo haver uma certa discrepância de datas, pois D. Mafalda morreu em 1257 - segundo um autor da Biografia de D. Sancho - ou 1256 na Biografia originária de outro autor. Mas quem sou eu para levantar estas insignificâncias históricas. A Beata D. Mafalda, beatificada em 1793 pelo Papa Pio VI, não nos pode dizer nada, embora o seu corpo esteja - ou esteve - incorrupto quando foi transladado do Mosteiro de Rio Tinto próximo do Porto para o de Arouca. A verdade é que lhe foi doado o Mosteiro de Bouças, já referenciado em 944. E de Bouças, hoje concelho de Matosinhos, a Prelada fazia parte.
A Prelada foi adquirida pelo fidalgo António Noronha de Menezes se não toda, pelo menos uma vasta área, provavelmente por volta de 1740. Majestosa em grandeza, obeliscos, jardins, cascatas,pirâmides, labirintos e um grande lago que rodeia uma casa acastelada que está no seu centro firmada sobre uma pequena ilha.(Manuela Cunha, História da Quinta da Prelada)
Doada pelo último herdeiro à Santa Casa da Misericórdia do Porto em 1903, foi posteriormente retalhada, inicialmente em campos agrícolas, depois vieram os arruamentos e a venda de cerca de 50.000 m2 à Invicta-Film que aqui construiu as instalações onde foram produzidas várias obras cinematográficas entre 1918 e 1924. Posteriormente este espaço deu lugar à Fábrica de Acabamentos e Estamparia do Carvalhido, encerrada em finais dos anos 60.  
Parte das instalações da Invicta-Film que ficariam próximo onde hoje é o início da Avenida Conselho da Europa ou algo assim toponicamente chamado. É a continuação da Avenida de França. Na foto imediatamente anterior a esta.
Para chegarmos hoje à Casa da Prelada tomamos a Rua dos Castelos, à direita (à esquerda é Francos), assim chamada porque ao fundo existe um largo com um muro extraordinário.
A meio da Rua, onde ela faz uma pequena curvatura para a direita, encontra-se este pilar que não deve deixar dúvidas de ter pertencido à Casa da Prelada. A placa Carvalhido não serve para nada pois o local é para trás. Brincadeiras provavelmente de algum engraçado (Camarário ?) e que alguém tentou minimizar fazendo-lhe uma dobra.
Ao fundo da Rua dos Castelos, entroncando com a Travessa da Prelada, situa-se a entrada da Casa e Jardins. A Casa encontra-se em obras de restauro. O que não é sem tempo, pois segundo li estava em ruínas há dezenas de anos.
Uma foto do arquivo histórico da Cidade, presumo que dos anos 40 ou 50.
Mas devemos falar um pouco de Nasoni e a sua influência na arquitectura desta casa. Porque a sua história ficará para outra altura. Nasoni chega ao Porto em 1725 no auge do barroco. Trabalha na Sé do Porto e na de Lamego, projecta o conjunto dos Clérigos e o frontespício da Igreja do Bom Jesus de Matosinhos e de muitas outras obras. Muda um pouco o estilo barroco para o rococó. Assim será a Casa da Prelada onde foi convidado a participar nas obras - 1758 (?). Intervenciona o Portão da entrada. A casa nunca foi acabada em conformidade com o seu risco.
No largo fronteiro à casa, de cada lado da Rua dos Castelos que termina entroncando da Travessa da Prelada, há um muro semi-circular, devidamente semi-destruído, com desenhos gravados na pedra, lindíssimos. Em cada extremidade, pequenas torres com Castelos (Daí a toponímia Rua dos Castelos). Com excepção do extremo do lado esquerdo, cuja torre e parte do muro desapareceram. Andei a coscuvilhar se por detrás estariam no chão repousados, mas não. Não sei se este muro é obra de Nasoni.
Nova imagem da Casa, no interior dos muros.
Da escritura da doação do património à Santa Casa, fazia parte a construção de um Hospital. Diz-se que por má interpretação, a Casa foi adaptada para o Hospital, tendo originado várias transformações interiores. Dois anos após a morte do doador, foi inaugurado no solar o Hospital dos Convalescentes. Nos anos 60 e 70, coincidindo com a Guerra do Ultramar, foi centro de reabilitação e fisioterapia para os deficientes das Forças Armadas. Depois disso foi Lar de Idosos.
À volta, pela Travessa da Prelada, fora dos muros actuais, encontram-se casas arruinadas, que presumo terem pertencido à Quinta. Curioso, no lado sul, a Casa esta quási encostada ao muro. Um dos pilares dos andaimes está mesmo colocado em cima dele.
Entre as obras paisagistícas produzidas aqui por Nasoni, existe ou existia um labirinto que segundo alguns autores era dos mais belos da Europa e único na península. Bem espreitei por uma das entradas das obras, mas não vi nada a não ser lixo e esta bela árvore que presumo ser a araucária muito referida.
Finalmente, nos anos 80 entra em funcionamento o Hospital da Prelada, numa parte dos terrenos da antiga quinta, cumprindo-se assim o vontade do doador. Bom, não será bem assim, pois o Hospital é Público-Privado. Um dos negócios à Portuguesa. E não tenho sabido de muito boas referencias dos serviços. O meu amigo Álvaro que o diga. Mas isso são outras vidas.
Algumas fotos em pontos mortos junto à Casa. Na inferior direita, vê-se em grande zoom, o Castelo ou Torre em terrenos do que foi o Parque de Campismo.
Da Travessa da Prelada, iniciada num caminho de pé posto que vem das traseiras do Hospital passando pela frente da casa, caminhamos entre terrenos alguns semi-cultivados outros abandonados. Novas ruas, estradas e a escola Maria Lamas foram construídas nos antigos terrenos. E da Travessa me perdi totalmente.
Da parte nova da Rua Central de Francos, sobre a Via de Cintura Interna, podemos ver alguns campos de cultivo e ao fundo o Castelo, ou Torre, no que resta da Quinta da Prelada.
Do lado da entrada pela Rua do Monte dos Burgos, o mesmo edifício.
Nos anos 60 e até há uns anos atrás, esteve aqui o Parque de Campismo do Porto. Na foto, o Chafariz do Cágado e o Castelo.
Ainda do lado do Monte dos Burgos, à direita, está a Fonte de Bruguel, transladada para este local.
E o Chafariz de Nasoni, Monumento Nacional, onde se encontrava na Quinta ? Li que faria parte do Conjunto dos Jardins. Hoje está também nos Jardins do Passeio Alegre, à Foz do Douro, do lado contrário das Pirâmides.
O que resta da Quinta da Prelada, é a mata onde esteve o Parque de Campismo e a Casa. Será que alguma vez iremos vê-los aberto ao público ? Como outros locais, não me admiro nada que fique tudo muito fechadinho e que a memória da Cidade se vá perdendo.
De regresso ao Carvalhido uma vista de olhos para este edifício que tem uma placa com o nome Casa dos Castelos. Não sei a data da sua construção, mas deve ser relativamente recente.
As minhas memórias deste lugar são poucas. Mas o passeio que por aqui fiz valeu a pena pois acabei por conhecer novas coisas da minha Cidade.
Aqui deixo os principais link's onde fui beber:

http://sigarra.up.pt/up/web_base.gera_pagina?P_pagina=1006465
http://www.angelfire.com/pq/unica/monumenta_1834_rel_freire.htm
http://www.idearte.org/texts/65.pdf
http://www.vidaslusofonas.pt/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Beata_Mafalda_de_Portugal
http://joelcleto.no.comunidades.net/
Uma referencia especial aos Professores Joel Cleto e Manuela Cunha


















sábado, 21 de janeiro de 2012

111. O Carvalhido e a Estrada da Póvoa

Nos meus tempos de menino ouvia falar na Estrada da Póvoa devido às excursões familiares de grupos de amigos que se cotizavam (não é erro esta palavra, embora seja mais corrente dizer-se quotizavam - cotas » quotas -) semanalmente durante um ano para esses passeios. Eram chamadas Caixa dos 20 amigos, sendo os movimentos de dinheiros escriturados em 2 livros, cujos modelos eram produzidos em algumas papelarias-tipografias da Cidade do Porto. Lembro de duas, a Académica e a Progresso. Na contabilidade chamar-se-iam o Caixa/Diário e o Razão. Um dia ainda será tema para umas escrevinhadas.
Como os meus tempos agora são muito livres, pesquisando, fiquei a saber que esta estrada teve início no antiquíssimo Largo dos Ferradores, actual Praça de Carlos Alberto, pelo lado esquerdo de quem está voltado para Norte. Mas agora só me interessa a zona do Carvalhido até ao Monte dos Burgos e estrada da Circunvalação actual. Por variadas razões. Mas vamos por partes que é história para durar.
Carvalhido cujo nome derivou de uma mata enorme, chamar-lhe-ía floresta,  na qual predominavam  Carvalheiras, espécie arbórea com mais de 600 variedades. E onde viviam também várias espécies de animais selvagens.
Aqui se fundem três freguesias da Cidade: Cedofeita, Ramalde e Paranhos.
Quem vem de Cedofeita, antes do cruzamento com a Rua da Constituição, um belo palacete cujas origens desconheço, mas que actualmente é propriedade da Liga dos Combatentes e no qual funciona uma creche para os filhos dos combatentes. ( http://www.ligacombatentes.org.pt/creche ) . Tenho quási a certeza que não é uma creche com essa finalidade. A não ser que se incluam os combatentes-mercenários actuais das nossas forças armadas.
É a bem conhecida Quinta Amarela. No site lê-se que está aberta ao público em geral, mas só vi portas fechadas e muros altos. Esta é uma foto de ângulo morto...
Carvalhido é o nome de um lugar que existe sem memória nos tempos. Foi  um dos Caminhos Portugueses de Santiago de Compostela. Recordando esse caminho, o Cruzeiro do Senhor do Padrão, construído em 1738, hoje na confluência de várias artérias que vão dar ao antigo Largo do Carvalhido, hoje (desde 1835) Praça do Exército Libertador. Sobre isso conversaremos a seguir, noutra postagem, sobre a Prelada.
Marca um período de religiosidade da época setecentista. Creio que ainda se comemora uma festa religiosa em Julho.
No centro do Carvalhido, a Igreja velha, considerada Capela e a primeira vez mencionada em registo paroquial de Santo Ildefonso de 1760, cuja Padroeira era Nª Sª da Anunciação e o Espírito Santo.
Foi a primeira vez que entrei nesta Igreja. Mas como é triste não se saber um pouco sobre a sua história. Por mais pesquisas que tenha feito, só encontrei os dados acima referidos, que não sei se tem alguma coisa a ver com a Igreja actual.
Escrevi Igreja Velha, pois sobre a nova Igreja que lhe fica mais ao menos por detrás, com entrada por uma rua que vem da Avenida de França, não lhe faltam referências. Projecto do Arq. Luís Cunha.

Ao fundo, é o Largo do Carvalhido - o portuense assim lhe chama ainda - ou Praça do Exército Libertador. À direita presumo que seja a chamada Casa Paroquial, encostada à Igreja. À esquerda é a Rua da Prelada, que conforme já referi é assunto para outras conversas.
Porque meu falecido irmão aqui morava e também por várias visitas que fiz a amigos internados no Hospital da Prelada, este local não me é muito estranho.
Do Largo parte a Rua do Carvalhido em direcção ao Monte dos Burgos e Circunvalação - a tal Estrada da Póvoa - onde encontramos vários Palacetes, um dos quais servindo como Esquadra da Polícia de Segurança Pública. E já há muitos anos. A célebre esquadra do Carvalhido, famosa pela pancadaria e prisões que os seus queridos agentes distribuíam e faziam entre o pessoal do contra. Com uma parte a precisar de obras, o que não é excepção nesta bela Cidade a cair aos poucos.
Num outro edifício, ao serviço da Câmara Municipal desde há longos anos e que nós, portuenses, chamávamos-lhe o da aferição (era aqui que balanças e medidas de peso e capacidade eram aferidos) agora ao serviço (?) dos munícipes e da habitação social, encontra-se um frontal com as armas da cidade, cuja origem desconheço. O lixo que se vê à direita, esse não me é desconhecido. Tenho uma foto de 2009 onde está bem representado. Se não é este, provàvelmente será um irmão...
A continuação da Rua do Carvalhido é a Rua do Monte dos Burgos. Toponímia sem qualquer origem primitiva conhecida, embora a Câmara Municipal refira como local de pedras - ou seixos - existentes no relativamente próximo Rio Leça. Tanto quanto li, a referência a esses seixos será na Prelada. Mas isso são outras histórias.
Ora como Prelada é conhecida a Quinta, que já teve Parque de Campismo, denominado como do Porto, desde meados dos anos sessenta até há 5 anos. Concessionado e arranjado o espaço com muito miminho pelo Clube de Campismo do Porto destinava-se exclusivamente aos "pés descalços de mochila às costas", que talvez por isso e outras razões, os seus dirigentes levavam uns desaforos no tempo da outra senhora (Leia-se PIDE e /ou DGS). As razões que levou a Santa Casa de Misericórdia do Porto a não revogar a concessão, não está esclarecido. Mas presumo eu, que terá sido a pensar em mais um negócio "chulo". Que envolveriam umas permutas de terrenos e outros negócios, nunca explicados, claro.
Mas este espaço não é o que foi a Quinta da Prelada original do séc. XVIII. Aqui, da original quinta, apenas existem parte dos terrenos, a Torre ou Castelo e a Fonte de Bruguel, trasladada do seu local original.
Com muito blablabla pelo meio, ía este espaço ser aberto ao público. Como se pode constatar nem o nariz podemos lá meter. Tanto quanto se apercebe cá de fora, está degradado, os jardins a monte, tudo desprezado. Coisas à moda do Porto, da Câmara e da Santa Casa, o que não é para estranhar. Mas um mapa ainda aqui continua.
Ponto final da Estrada da Póvoa dentro da Cidade do Porto. A 200 metros está a estrada da circunvalação e a sua continuação passa pelo Seixo, agora pertença de Matosinhos, antiga Julgado de Bouças.
Recuando ao Largo do Carvalhido para um pequeno passeio sentimental. Passando pelo lado direito da Igreja velha, entramos na Rua da Prelada que seria o início da Quinta, conhecido antigamente como o Lugar das Pirâmides. Explicarei com a ajuda do Prof. Joel Cleto o seu significado num futuro breve.
Aqui confluem a Avenida de França e a Rua Pedro Hispano, à esquerda. À direita temos a nóvel Avenida Estados Unidos da Europa - ou coisa que o valha toponìmicamente - e em frente a Rua de Francos. Mesmo no meio, uma espécie de Palacete, chamado Casa dos Castelos. Provàvelmente a relembrar os Castelos da Casa da Quinta da Prelada. E cujo nome tomou a rua que fica à direita da Rua de Francos.
Mas é por Francos que quero seguir, pois aqui nasceu minha avó e minha mãe que se mudaram para Visconde de Setúbal por questões profissionais, ficando por cá a família.
Não me lembro ao certo há quantos aqui não vinha. Talvez uns 45 a 50 anos. A referência era a Travessa de Francos, que esperava já não encontrar.
Afinal, vim encontrar a travessa tal como dela me lembrava.

O pátio interior do bairro central, com a única diferença do poço da água estar fechado.
A travessa desemboca do outro lado na Rua do Lugarinho. Tanto quanto me lembro, era uma rua estreita. A sua origem vem de 1887, resultante da abertura de um caminho de pé-posto e cujos terrenos foram negociados a Manuel Gonçalves Lugarinho. Registado no Arquivo Histórico de Matosinhos.(http://joelcleto.no.sapo.pt/)
Mesmo em frente da Travessa de Francos, encontra-se uma pequena retrosaria onde entrei e fiquei a conversar com uma senhora, sua dona. De uma simpatia extraordinária, lembra-se perfeitamente da minha segunda prima Guida e da irmã Celeste. Dos filhos desta não se lembra.
Recordou-me onde ficava a Estampara Império - à direita na foto e que agora é um empreendimento urbanístico - e a Fábrica das Bananas ao fundo da rua. Também ela uma urbanízação.
Mas como os factos da vida são curiosos. A Fábrica das Bananas era uma torrefacção. O nome veio-lhe porque importavam bananas das ilhas e colónias para venda directa à população. E a senhora da retrosaria não será a Senhora Fernandinha que Joel Cleto nos recorda no seu http://joelcleto.no.sapo.pt/textos/RuasdeRamalde.htm ?
Infelizmente, só depois do meu passeio, fui espreitar o que a net me poderia relembrar sobre este sítio. Que pena tenho de não ter confirmado se a Senhora Fernandinha era a mesma. Pelo seu aspecto, acho que é mesmo. Um dia hei-de lá voltar.