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segunda-feira, 5 de novembro de 2012

144 - Póvoa de Varzim - Entre o Mar e as Maceiras

Antes de iniciar esta pequena história de mais um olhar à minha volta e tentar perceber o que me rodeia, dei fé que nunca dediquei qualquer página à bela Cidade e Concelho da Póvoa de Varzim, possuidora de uma história que se perde no tempo, a arqueologia prevê que foi há 200 mil anos A.C. quando tudo começou. Parece que foi ontem...
É certo que já fiz uns trabalhos sobre ela. Bem divulgados e acarinhados pelos meus amigos e digo-o com uma certa vaidade.
Terra de muitos Brasileiros, seguindo o exemplo de Tomé de Sousa, o primeiro governador do Brasil, nascido a 7 léguas a Norte do Porto, em Rates; de Eça de Queiroz nascido em 25 de Novembro de 1845; de Heróis Pescadores e Salva-vidas, muita gente ilustre, umas mais conhecidas do que outras. E claro do Varzim Sport Clube, a primeira de entre centenas de filiais, do Futebol Clube do Porto.
Prometo aprofundar nestas páginas em futuro próximo, a Vida, as Gentes, a Cultura, o Turismo deste Concelho da Póvoa de Varzim.

Mas este singelo escrito de hoje é dedicado ao meu velho amigo Brasileiro João Carlos, a matar saudades da sua Terra, que me prometeu uma pequena viagem com muitas histórias e saberes. Para aproveitar ao máximo, lá voltei a levantar-me de madrugada e 3 horas depois estava na Póvoa. Com alguma chuva e céu muito enublado saímos da Cidade pelo Norte e para a Orla Atlântica.  

Freguesias e Lugares que não conhecia deste lado mas o mar é surpreendente. Ouvi atentamente as histórias de juventude e não só do meu amigo João, anotei pequenas coisas, que a net depois me divulgou em pormenor.
Esta bela casa, provàvelmente um moinho antigo, está perfeitamente enquadrada no ambiente.

A chuva não permitiu a memória em fotos dos caminhos, que saindo das antigas estradas de terra batida, agora empedradas, terminam afastados das dunas e dos areais, mas seguindo por novos caminhos em madeira protegendo a natureza. Alguns comércios bem enquadrados com o ambiente e logo por aí se encontram as Medas de Sargaço, recolhidas do Mar para adubar a Terra.

Uma novidade para mim, a existência de moinhos nesta região da beira-mar. Os de S. Félix, que nunca visitei, no ponto mais alto do Concelho da Póvoa de Varzim para leste, são famosos. Sobre estes não encontrei uma única palavra. Não havendo por aqui a tradição do cultivo de cereais de grão, porque existiam os moinhos ? Uma pena não saber mais.
Este, devidamente reconstruído, está à venda. Se eu tivesse dinheiro...

Falou-me o amigo João, que no seu tempo de jovem, vinha ele e os amigos, com uma mão de ferro adaptada de uma espátula (ou colher) de trolha, junto a este rochedo apanhar percebas. Anotei na memória, embora ela já não seja o que foi..., ser a Pedra da Forcada, o único rochedo sempre emerso ao largo da Póvoa de Varzim. É uma baliza ao largo da Praia da Fragosa entre as enseadas da Lagoa e de Aver-o-Mar. Ele bem me disse, depois daquelas pedras há uma praia linda. Mas o tempo do ar e o do relógio, não permitiram mais.

Caminhando para Norte, voltando aos caminhos estreitinhos, zigzagueando, saímos e regressamos até perto do areal. Tudo devidamente protegido, quem quiser passeia pela areia, quem não quiser vai pelo passadiço de madeira.

E voltei ao meu tempo de menino, onde na instrução primária devo ter aprendido, apontando o velho Mapa de Portugal que tinha tudo, ser aqui o cabo de Santo André.
Mas a história é profunda e diz-nos " é muito possivelmente o antigo Promontorium Avarus romano ou Auaron (Auapov akpov) referido pelo geógrafo Ptolomeu da Grécia Antiga, no território dos Callaici Bracares, o povo que habitava a região e possívelmente da etnia céltica Nemetatoi ou Nemetatos, entre os Rio Avus (Ave) e Nebis (Neiva). O nome Auaron é de possível origem celta. 

Estávamos nos terrenos adjacentes à Estalagem de Santo André, hoje uma belíssima 4 estrelas, nascida pequenina nos anos 60. Encostada, encontra-se uma formação rochosa chamada Penedo do Santo, com umas marcas que os Pescadores crêem ser pégadas do próprio Santo André.
No último dia de Novembro, ocorre de madrugada a peregrinação de Santo André, em que grupos de pessoas vestidas de negro e segurando lampiões, vão da praia até à Capela do séc. XVI, bem próxima deste local, que os malvados dos tempos não deram para visitar.
Por entre os velhos caminhos encontramos belas casas de habitação ou de férias assim como restaurantes, outrora pequenas tascas.

Sempre andando às voltas, encontramos mais moinhos. Este está a ser usado de certeza absoluta. Pelo menos dois "picas-no-chão" andavam por ali a depenicar.
Entre moínhos, encontramos as palhoças (se não estou em erro foi este o nome que o João lhes deu) local onde se guardavam utensílios e os produtos hortícolas. Hoje são já bem poucas e os terrenos onde se cultivam chamam-se Maceiras.

Esses terrenos, as Maceiras, são pequenas explorações onde se pratica uma cultura intensiva com excelentes resultados de produções hortícolas.
Os agricultores cavam as dunas até próximo do nível freático (lençol de água) o que permite um grau de humidade mais ou menos constante ao longo do ano e modelam o campo em forma de masseira (gamela onde se amassa a farinha). A areia fica nas paredes e o solo de terra produz em quantidade e qualidade. Pelo menos era assim. Hoje, estufas povoam os campos.
E quem não conhece principalmente, as cebolas, as batatas e as pencas da Póvoa ?
Árvores e arbustos na inclinação Norte agindo como quebra-ventos contra a Nortada (ventos dominantes na região) foram plantados, bem como vinhas. Estas, francamente não as vi. Provàvelmente foram arrancadas por causa dos negócios à CEE, não sei. Como houve tantos...

A 5 km da costa, encontra-se o Parque das Ondas da Aguçadoura. Será esta plataforma mais a ventoínha que se distingue melhor da Apúlia ?
Não vou escrever mais nada sobre este parque, pois parece-me ter dado com os "burrinhos na água", depois de grande alarido internacional.
A nossa viagem e histórias comuns, algumas delas, prosseguiram para além da Póvoa até Viana (tema para outras conversas). Mas tivemos de regressar.

E fui cumprir uma promessa, que envolveu o amigo João, o Quim Verdegaio e uma família querida Luso-Brasileira, cujos alguns parentes -veja-se como o mundo é pequeno- foram companheiros de infância, adolescência e por aí fora, do João. Demorou uns três meses a cumprir, mas sinto-me realizado e feliz. E um obrigado aos amigos João e Quim.

Entretanto o sol punha-se e antes da cervejinha da ordem, fomos até ao passeio junto ao Porto. Ver o que podiam dar umas fotos. Só para isso.

Estivemos por ali a conversar um pouco, recordar algumas histórias de pesca, como só as entendem os ou ex-pescadores.

De regresso "a terra", não custa nada bater mais uma chapa agora do Casino, com o sol ou o que restava dele, reflectido nos vidros. Sempre podia dar uma coisa gira.

Para cumprir a promessa tivemos de ir à Fortaleza conhecida por de Nossa Senhora da Conceição, construída entre 1701 e 1740, por causa da Pirataria que saqueavam as nossas costas. Demorou muito a construção por falta de dinheiro. Mas isso é para histórias futuras.
É conhecida também como Castelo da Póvoa e a primeira vez que lá entrei foi há pouco mais de 5 anos, precisamente no dia em que conheci pessoalmente o João e o Quim.
Estava aquartelada, se assim se pode dizer, a Brigada Fiscal da Guarda Nacional Republicana. Pensei ser um monumento possível de visita e fui para as muralhas fotografar a Póvoa quando um agente me interpelou proibindo de o fazer. Disse-me que nem se quer podia ter entrado. Realmente, olhando à volta, a quantidade de agentes que lá se encontravam sem fazer nada, melhor dizendo, fazer faziam, batiam uma sueca, bebiam uns copos ou café, não sei, mas talvez porque fosse o intervalo entre trabalhos, não seria conveniente que os filmasse. Aliás coisa que evito sempre de fazer seja para com autoridades seja para com outras espécies da humanidade, (a excepção são os fotógrafos) não me vá dar uma carga de trabalhos.
Baixei a guarda e lá vim eu recambiado portas fora. É assim Portugal.
Este departamento partiu em Fevereiro de 2010 e o edifício de interesse público foi fechado. A placa informativa do "Posto" ainda se encontra à entrada.
Ontem estava aberta ao final da tarde e ainda bem. Finalizei o cumprimento da minha promessa e vi uma Capela, agora sei que dedicada a Nossa Senhora da Conceição. A primeira missa foi dita em 17 de Fevereiro de 1743.

É um espaço pequeno em estilo barroco, destacando-se o retábulo em talha dourada e o sacrário. É venerada Santa Bárbara padroeira da Artilharia (olá rapaziada artilheira do meu tempo) e uma imagem do Menino Jesus patrono da antiga congregação do Santíssimo Coração de Jesus, instituída pelos Jesuítas e extinta pelo Marquês de Pombal em 1761 quando os mandou pela porta fora.

Era quási noite e eu não sabia do abandono da Brigada Fiscal da GNR. Por isso fiz umas fotos a correr, sem grandes preocupações, com medo que voltasse a aparecer um agente.
A degradação do espaço é notória, as ervas crescem e em alguns locais a sua medida é já acima dos joelhos.

Um obrigado ao meu amigo João pelo passeio que me proporcionou.
A foto-recordação é só pôse.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

143 - Passeando por Matosinhos

O Fernando Súcio tirou-me de madrugada da cama, mas a um amigo que veio de Vila Real para matar saudades dos seus velhos tempos na Invicta não se nega a companhia. Muito menos a quem me deu a conhecer muitas das belezas do Norte de Portugal.

Olhamos o centro da Cidade, relembramos os caminhos que trilhou pela Ribeira, Infante e S. Francisco, seguimos pela marginal, continuamos pela Foz e acostamos em Matosinhos.

Um areal imenso, deserto, o mar em fundo, sol quente para um Outono já em meados.

Passeantes muitos naquele enorme passeio cinzento, onde não há um verde nem a cor de uma flor.
Tanto se pode fazer num passeio pedonal para alegrar os caminhantes, mas as entidades Matosinhenses parecem que estudaram nos mesmos livros dos do Porto.

O Monumento Nacional do Senhor do Padrão do séc. XVIII é sempre visita obrigatória. Construído nas Areias da Praia do Espigueiro era visível a muitos quilómetros quer do lado do mar quer do lado da terra. Assim se lê no site da Câmara Municipal.
Assinala o local onde a lenda diz ter aparecido a imagem do Bom Jesus de Bouças, mais tarde conhecido por Senhor de Matosinhos.

Aquando da construção do Porto de Leixões, ficaram-lhe próximo estaleiros e a máquina que transportava a pedra cortada para os futuros cais. Por causa do Porto de Leixões, a praia e o areal desapareceram e o Monumento ficou encoberto.
No entanto, no primeiro de Novembro de cada ano, junto a ele, os pescadores e familiares lembram a memória dos pescadores mortos no mar.

Muitas vezes passei junto ao monumento, mas nunca me apercebi do estado em que estão as imagens.

Não entendo nada de pedras. Não sei quem as imagens representam, quando foram esculpidas e os materiais utilizados. Mas será que este mal não tem cura ?

O interior deve ter cura mesmo, mas o estado em que se encontra é de incúria.

Ao lado do Monumento encontra-se uma espécie de arca. Não sei se faz parte do mesmo e o que representa. Já uma vez escrevi sobre ela tentando que alguém me soubesse esclarecer.
Procurei nos vídeos do Porto Canal um sobre o Senhor de Matosinhos, no qual talvez o Prof. Joel Cleto tenha falado sobre ela. Mas este Canal resolveu cancelar as visualizações dos vídeos. Mais uma situação de quando se muda é para pior. Lamento pelo novo Director Geral, Júlio Magalhães, que desde a sua entrada o Canal virou para baixo.
Mas isso são outras histórias, como diz o Prof. Joel.

Inscrição na frente da arca ou o que quer que seja. Algum sábio, algures no tempo, mandou cobri-la com azulejos tipo frontarias de edifícios.. A desfazerem-se actualmente.

Um registo para mostrar o desleixo e degradação.

Um pormenor

Continuando o passeio, entramos na zona da doca-pesca, sendo ainda impossível entrar nos cais de pesca. O Fernando fez uma foto afastado uns 5 metros da entrada, mas o importante homem-segurança dentro da casinha, levantou-se da sua cadeira e com voz de arruaceiro disse, não é permitido fotografar.
Claro, eu sabia que isso ia acontecer. Quantas vezes já fui "açoitado". Mas o curioso é que se vamos à administração pedir autorização para fotografar, a resposta é sempre a mesma: A pessoa que autoriza não está. E como posso pedir autorização ? Vá passando.
Será que têm medo que apanhemos um flagrante delito de peixe passando pela porta do cavalo ? Se assim fosse não o denunciaria. Quando os pescadores e as gentes que vivem do mar, directamente, estão à rasca, quem os ajuda ?
Assunto para os nossos primeiro ministro Coelho, ministros financeiro Gasparzinho, economista Álvaro o canadiano, e do MAMAOT, sigla dos ministérios ministeriados pela bela ministra Cristas. E que cabedal ela tem para aguentar com tantos e diversos e nada interligados ministérios. Mas isso são outras histórias.
Claro que as TV's podem entrar sempre que querem, pois só vão fazer reportagens de greves, desastres ou coisas assim.
Nós que só queremos fotografar uma zona de trabalho, sacar um boneco de um barquito, se possível apanhar um pescador a arranjar uma rede, estamos interditos.

Uns passos mais à frente, para sul, podemos fotografar sem problemas (que eu saiba) os barcos ancorados que dão uma bela imagem de cor e luz.

Nos anos 50 podiamos ver a descarga dos barcos. Os mesmos homens que pescavam eram os mesmos que descarregavam e transportavam o peixe umas dezenas de metros. Li no blogue do http://marinhierojimmy.blogs.sapo.pt de onde esta foto foi copiada, que os mestres davam um pequena folga para um café e uma bucha para logo regressarem ao mar...

O local desta foto tem muitas parecenças com a foto velhinha de cima.

Hora de almoço, sentados na barraca do Lusitano - gosto deste restaurante, talvez porque tem um toque de tasca à antiga, pela simplicidade com que nos tratam e nos deixam tratar e um obrigado ao amigo Quintino por me tê-lo dado a conhecer num dia Bandalho - um olhar para o céu, lindo e as gaivotas por ali voando, voando...

Quem vem a Matosinhos quer peixe, do nosso. Quando lembrei de fotografar a travessa já faltavam uns bocaditos. E para aperitivar, já tinham marchado um chouriço e umas sardinhas. No final, uns choquinhos grelhados, pois claro, mas que não tiveram direito a fotografia. Tudo regado com bom azeite. Salada mista com pimentos assados e batata pequenina cozida, com alhos e tudo o mais.
Para mim, a pomada foi Boca de Sapo.

Para complemento, o(s) café(s) e bagaço(s) da ordem este vindo directamente do Tonel. Servido gentil e carinhosamente pela Gabriela.
Tudo produtos portugueses.

Retomando o passeio ao fim de 2 horas e tal, o caminho tinha de ser pela Heróis de França. Um símbolo de Matosinhos de há uns anos, a chaminé das velhas fábricas conserveiras que já não existem. A torre é da Igreja de Santo Amaro na  Serpa Pinto.

Quási encostado ao paredão sul do Porto de Leixões, no areal que vem até à rua  como antigamente, o monumento Tragédia do Mar da autoria de João de Brito, em memória aos 150 mareantes de Matosinhos mortos no que foi o maior naufrágio da costa portuguesa, acontecido em 2 de Dezembro de 1947.
O meu amigo Fernando guarda a imagem.

Num dos muitos bares, mas este escolhido a dedo para abrigar não do vento que vinha da terra, ( como me explicou o Areias,o Pescador, outro ex-companheiro de andanças por África que tive o prazer de encontrar ) mas do sol que batia forte e não estávamos nada interessados em trabalhar para o bronze, fizemos uma pausa.
A praia continuava deserta e ao longe, no mar, uns barcos.

Felizmente os turistas continuam a gostar da nossa região. Vimo-los também nos restaurantes. Só os governantes não gostam de nós. Penso eu de que...
Um barco rumando ao Porto de Leixões.
Tudo que eram fábricas conserveiras de grandes memórias, hoje são ruínas ou no seu local estão edifícios monstruosos. É assim a costa marítima sul da Cidade de Matosinhos 

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

142 - As Demolições no Morro da Sé

Muito vagamente, lembro-me do meu Pai falar das demolições na Sé e do problema de habitação para os seus moradores, ao mesmo tempo que contava histórias sobre a famigerada Avenida da Ponte.
Para nós, Portuenses, a Sé é muito vasta e não só o local onde se encontra a Catedral e o núcleo Monumental.
Sabemos que circundou o Morro da Sé ou de Penaventosa uma Muralha Primitiva, ou Sueva, afirmando-se ser romana do séc. III, assente em outros muros já existentes. Foi restaurada no séc. XII, do qual existe apenas um cubelo reconstruído no séc. XX.
Pormenor das demolições, projectadas no plano da Câmara do Porto em 1934 e que se prolongaram por vários anos.

 Cerca de 60 anos separam estas imagens

Essa Primitiva Muralha tinha 4 Portas, sendo a principal a de Vandoma. Ligava o Morro da Sé com o da Cividade, outro espaço grande naquela época, através da Rua Chã, chamada antigamente Eiras ou Chã das Eiras
Na foto superior esquerda, olhamos a Avenida da Ponte e à direita a Rua Chã. Na foto superior direita estamos no mesmo local mas no sentido contrário, isto é, a caminho da Ponte, ficando à direita o início da actual Calçada de Vandoma.
As fotos inferiores, mostram o que resta dessa Muralha e a Casa de D. Hugo, Bispo do Porto, construída em estilo gótico, entretanto demolida, aproveitando-se na reconstituição uma das paredes originais e a porta. Foi a este Bispo que D. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques, concedeu o Couto da Cidade em 1111.
Nesta casa - o arqueossítio -, está demonstrada a mais longa existência humana da Cidade. Em apenas três metros de profundidade detectaram-se 20 camadas arqueológicas integrando ruínas arquitectónicas e espólios do séc. IV a.C.. Foram identificados vestígios do Crasto proto-histórico que deu origem à Cidade.
Mas as Demolições são o que interessam para agora.

Sensivelmente do mesmo local, podemos ter uma ideia de como era a Calçada de Vandoma e de como é actualmente

Adoçado à parede da Sé, foi colocado o Chafariz de S. Miguel, também chamado do Anjo, anteriormente localizado no Largo da Sé e que segundo o Igespar é considerada uma obra menor ao que tudo indica de Nicolau Nasoni. 
Mas voltemos atrás para espreitar a Porta de Vandoma e olhemos os desenhos e a aguarela abaixo reproduzidos. Talvez a mais correcta composição seja a de Joaquim Vilanova, litógrafo, a quem foram encomendados vários desenhos do Porto e não só. Conhecem-se cerca de 100. No entanto Gouveia Portuense desenhou-a e pintou-a com outro simbolismo. Com a imagem de Nossa Senhora de Vandoma no cimo. Tanto quanto se compreendem dos textos de outrora, era no cimo que a imagem estava colocada.
Como atrás referi, a Porta de Vandoma era a mais importante da Cidade, aberta na Muralha Primitiva. Segundo a lenda, uma armada de Gascões comandados por D. Munio Viegas no ano de 990, entraram no Porto para salvar a região dos Mouros - e aproveitar as suas riquezas, pois claro -. Juntamente veio o Bispo da localidade francesa (actual) de Vendôme, D. Nonego que posteriormente viria a ser Bispo do Porto e trouxe consigo uma cópia da imagem que estava na Catedral. Vitória conseguida, reconstruiram-se as Muralhas e a Porta por D. Nonego e no cimo foi colocada essa imagem.
A devoção popular foi tal que foi elevada Nossa Senhora de Vandoma, ou Nossa Senhora do Porto ou ainda Nossa Senhora do Porto da Eterna Salvação, uma das invocações à Virgem na Igreja Católica, a Padroeira da Cidade.
A devoção chegou pelos Portugueses ao Brasil como Nossa Senhora do Porto e tornou-se orago de algumas cidades como Andrelândia e Senhora do Porto, em Minas Gerais e Morretes no Paraná.
A imagem original e talvez outras posteriores desapareceram mas em seu lugar foi colocada uma no séc. XIV, que saiu para a Sé em 1855, não para o local actual, quando o Arco e as casas que lhe ficavam contíguas foram demolidas. Está actualmente do lado esquerdo do Transepto por indicação do querido Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, que decidiu pela sua exposição ao culto.
O Casamento de D. João I em 1387
Painel de azulejos na Estação de S. Bento de Jorge Colaço

Conta Fernão Lopes, na sua Crónica D. João I, que o Rei D. João e D. Filipa de Lencastre se deslocaram do Paço para a Igreja. Segundo entendo, o Paço estaria próximo da Sé, dentro das Muralhas. Mas a história que nos ensinaram conta que os noivos entraram na Cidade. Sendo assim, Jorge Colaço retratou (penso eu) a história popular, embora só o pudessem fazer pela Porta de Vandoma, a única que permitia a entrada de carros. Mas esta reprodução da Porta não é em nada parecida com as que se vêm nas fotos acima referidas. 
Outras histórias do Casamento se podem encontrar, uma das quais o Rei veio a correr para o dito, depois de pôr em ordem com umas espadeiradas lá pelo Norte uns galegos atrevidos. Por outro lado, os nobres entravam na Cidade pela Porta Nobre, ou Nova, em Miragaia, depois de atravessado o Rio e vindos do Castelo de Gaia. Parece mesmo que a futura Rainha já estaria no Paço enquanto o Rei estava algures...mas lá foi ter para a cerimónia, afinal a confirmação do tratado de Windsor - feito em 1373 com a Inglaterra - , ainda hoje em vigor.
Para finalizar, lê-se na Toponímia da Câmara Municipal que o primeiro documento que refere a Porta é de 1413. Ter-se-á perdida outra documentação, sendo a Porta tão antiga ? 

Caminhemos pela Calçada de Vandoma - não sei se ainda se chama assim - mas fica-lhe a toponímica eternamente. Antes das demolições, em frente da Sé ficavam algumas casas brasonadas. Hoje temos a chamada reconstituição da antiga Casa da Câmara ou dos 24, da última década do séc. XX, do Arq. Fernando Távora. Não são só os portuenses que não gostam do "Monumento" - por não acharem o seu enquadramento condizente com a monumentalidade do sítio. Realmente, é mais que feia. Mas que fazer...

Voltando à esquerda para o actual Terreiro, em frente da porta principal da Sé ficava a Capela de Nossa Senhora de Agosto e de São Bom Homem, padroeiros da Confraria dos Alfaiates. Ainda hoje conhecemos a Capela como a dos Alfaiates. A imagem era venerada desde o início do séc. XVI no primeiro andar de uma casa cujos baixos eram os Celeiros do Bispo. Em 1554 iniciou-se a construção da Capela, que foi desmantelada em 1936.
Ao fundo das fotos, o Paço Episcopal.

Em 1953 a Capela foi reconstruída no local actual na Rua do Sol, próximo da antiga Porta ou Postigo do Sol, aberto nas Muralhas Fernandinas. É Monumento Nacional desde 1927.
Possui um conjunto retabular executado entre 1590 e 1600 por Francisco Correia e seus colaboradores. Para os apreciadores de arte, é pena não se encontrar regularmente aberto este edifício.

As casas foram sendo demolidas no Terreiro. O Paço Episcopal, talvez o edifício mais monumental da Cidade, é pelo menos em grande parte da autoria de Nasoni. Foi construído totalmente após a demolição do anterior.
É uma pena não ser visitável. Disse-me um funcionário que também acha o mesmo, pois sempre falaria com as pessoas, não se cansava tanto por estar horas a fio parado, a olhar os turistas que por ali andam e se sentiria útil.
Mas como nem tudo é mau, podemos fazer uma visita virtual ao Paço através de:
http://www.diocese-porto.pt/visitavirtual/

O novo Terreiro, de costas para o Paço. É uma pena aquele mamarracho lá ao fundo.

A Torre Medieval ou Torre da Cidade, é uma casa-torre medieval que estava escondida entre o casario. Eram por aqui também os antigos açougues do Bispo. Após as demolições foi reconstituída deslocada 15 metros do local original. Albergou o Arquivo Histórico da Cidade e também um centro social depois de Abril de 1974. O Largo agora chama-se de D. Pedro Pitões, antigo Bispo do Porto
Foi-lhe acrescentada uma varanda gótica, mas francamente não sei qual é pois conheço duas que me parecem iguais. Nas costas construíram-se uns arcos, presumo para relembrar a antiga Porta de S. Sebastião.
Relendo este texto em 3.Set.2016, resolvi acrescentar que os arcos serão os da antiga Porta de Vandoma. Foi escrito numa crónica em Agosto no Jornal de Notícias do prof. Germano Silva.

Os açougues do Bispo estiveram aqui até ao séc. XIX, não os primitivos do séc. XIII que estavam na Rua de Penaventosa, chamada na altura de Palhais. Os últimos ostentaram sobre a porta uma pedra vulgarmente chamada Pedra do Porto e posteriormente apenas o Porto. Anteriormente, em 1293, esteve numa das casas do Cabido na Rua das Eiras - ou Chã das Eiras, hoje Rua Chã.

Não foram só a Calçada de Vandoma e o Largo da Sé, hoje Terreiro da Sé, que sofreram demolições. As ruas do velho burgo também as sentiram. Embora com muitas recuperações, principalmente a partir dos anos 80 do séc. XX com o programa Cruab e a elevação do Porto a Capital Europeia da Cultura, muito se fez nas zonas degradas, que as demolições dos anos 40/50 não cumpriram. Seguiu-se-lhe a Porto Vivo-SRU, que segundo conhecedores, mais parece uma coisa clandestina.
Junto à antiga Casa da Câmara ou dos 24, arrasaram-se todas as habitações. Ficaram as ruínas da medieval Casa. Hoje recuperadas, como simbolismo da democracia da Cidade no séc. XVI. Pena foi que o Arq. Fernando Távora não tenha pensado um projecto melhor para manter vivo este símbolo da Cidade. Mas já escrevi anteriormente sobre o que nós, portuenses, pensamos do seu projecto e da colocação do velho PORTO, que esteve encimando o edifício da antiga Câmara na actual Praça da Liberdade e que já foi de D. Pedro, Praça Nova e para nós, simplesmente A Praça.
Rectificando em 2016, a estátua do Porto encontra-se na Praça da Liberdade, no passeio junto ao Banco de Portugal.
No sopé do pequeno morro onde se encontram as ruínas da Câmara dos 24, esteve o chafariz da Rua Escura, mesmo encostado ao Oratório de S. Sebastião. Durante as demolições a que me venho referindo, foi transladado em 1940 para as costas do Muro que foi construído delimitando o Terreiro da Sé de uma cota mais baixa, intermédia ao Colégio e Igreja dos Grilos. Este chafariz do séc. XVII é uma das principais obras antes do impulso do Barroco e de grande utilidade no abastecimento de água à Cidade.
Fico impressionado como na pagina do Igespar leio que está na Rua de Pena Ventosa. Mas é Largo do Dr. Pedro Vitorino o nome do artéria onde se encontra. Para o caso, é mais um pormenor.
Por vezes dou-me ao capricho de reparar nos cicerones que arrebanham os turistas. Enfiam-do-os na Sé, não se dão ao trabalho de os fazer apreciar o Chafariz de S. Miguel, nem a Galilé, nem o Paço Episcopal - infelizmente só a frontaria - , nem o Chafariz da Rua Escura e nem, ai como doi, os miradouros sobre a Cidade Medieval e a Igreja dos Grilos e o Museu de Arte Sacra. Já não referindo a Casa-Museu Guerra Junqueiro, por detrás da Sé de quem vem do Arqueossítio.
 
Não sei a idade nem quando surgiu o antigo Mercado da Rua Escura. Era assim conhecido, embora as bancas se estendessem também por S. Sebastião e outras Ruas. Lembro de uma velha familiar querida vir aqui comprar peixe. Pescada principalmente, porque confiava nas vendedeiras, logo na qualidade e frescura do produto, embora o regateio do preço fosse obrigatório. Temos hoje o mercado de S. Sebastião em edifício próprio.
O Terreiro da Sé visto do Interior da Catedral ou da Casa do Cabido, já não me lembro. O Pelourinho de estilo Manuelino é apenas de 1945, construído para alindar o espaço. E sem dúvida que consegue.

Várias imagens do Morro da Sé, em épocas distintas. Este é o lado mais conhecido e visível desde o Morro da Vitória.
Porque uma coisa bate na outra, isto é as demolições por causa da Avenida da Ponte - ver um escrito anterior - e as da zona envolvente da Sé ordenadas pela Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais entre as décadas de 30 e 40 do séc. passado, disse-se  por causa de um conceito higienista e resolver o problema da degradação física e social do Bairro, talvez mais não fosse do que criar um espaço para o movimento automóvel desde a Avenida dos Aliados/Praça da Liberdade para o sul através do tabuleiro superior da Ponte D. Luíz.
À monumentalidade que agora podemos visitar, talvez não seja estranho um certo cunho fascista-italiano pelo gosto das grandes praças e largas avenidas já vocacionadas para o trânsito automóvel. Afinal, dois projectistas italianos estiveram entre nós, Muzio e Piacentinni e alguém terá aproveitado um pouco dos seus trabalhos.

Nunca seria capaz de reconstituir alguns factos nem histórias que tentei transmitir se não tivesse lido. A autores fui respigar alguns pormenores dos seus livros: Arnaldo Gama, Alexandre Herculano, Germano Silva. Embora correndo o risco de não ter anotado todas, visitei páginas das quais destaco:
http://monumentosdesaparecidos.blogspot.pt
http://www.queirozportela.com/artigos.htm
http://quintacidade.com/2010/04/03/planeamento-urbano-e-automovel-no-porto/
http://joelcleto.no.sapo.pt/Arqueologia.htm
http://www.apha.pt/boletim/boletim1/pdf/PortoAntigoPortoNovoJFA.pdf

http://aportanobre.blogspot.pt/2009/09/porta-nobre-da-cidade-do-porto.html
http://doportoenaoso.blogspot.pt/2010/07/apontamentos-sobre-as-armas-do-porto.html
http://www.portoantigo.org/

As fotos antigas fui-as conseguido em vários locais.