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quinta-feira, 20 de outubro de 2011

101 - Proibido Fotografar a Livraria Lello

Fiquei surpreendido quando há dias o amigo Peixoto me disse que era proibído fotografar no interior da Lello.
Rebati que não podia ser, pois o lema da Lello era É Proibído Proibir.
Ontem entrei na Lello com o Percival e a Laura, casal amigo brasileiro, ambos ligados ao ensino e à cultura (onde está à venda um livro sobre a Cultura Portuguesa na América do Sul com fotos do   Percival) e realmente confirmei que era Proibido fotografar e/ou fazer vídeos.
Casa cheia mesmo olhando ao tardio da hora, quási 19 horas. No passeio, turistas olhavam o estabelecimento. 
Fiquei chocado pela proibição. A amiga Laura, inconformada, dirigiu-se à recepção e perguntou o porquê da proibição.
Uma explicação simples como resposta: Caiu nas escadas uma senhora que fotografava.
A senhora colocou um processo em tribunal contra a Livraria, culpando-a da queda.
O processo trouxe complicações para a Lello. Então, acabaram-se as fotos.
No momento até concordei com a atitude. Sei por experiência própria o quanto é difícil fotografar em locais públicos fechados. Não há respeito pelo local nem com os utentes, sejam outros caçadores de imagens ou apenas simples uso-frutuários momentâneos ou clientes. 
Especialmente nesta casa, as pessoas atropelam-se, incomodando muitas vezes quem está a ver um livro ou a comprar. Não respeitam minimamente o local. E refiro-me em especial a turistas estrangeiros, (espanhois e orientais são o máximo) que empurram e fazem tanto barulho como se estivessem no mercado do Bolhão.
Caindo em mim e mais a frio, lembrei-me haver (ou pelo menos havia) um seguro de acidentes que abrangem os clientes. Não sei como decorreu o caso. Provàvelmente não foi bom para a Livraria para tomarem esta atitude extrema. 
Apenas sei que fico triste porque a considerada terceira mais bela livraria do mundo tem as suas portas encerradas para os fotógrafos.
Sinceramente espero que a situação mude. O mundo precisa de ver esta obra de arte. E que os fotógrafos amadores mudem também a sua atitude.
E quero voltar a saber que é Proíbido Proibir.

sábado, 15 de outubro de 2011

100 - Torre dos Clérigos, a Velha Senhora

Um dos ex-Libris da Cidade do Porto, a Torre dos Clérigos, incluída no conjunto de que fazem parte a Igreja e o antigo Hospital, hoje residência sacerdotal, merece um lugar de destaque neste espaço, comemorando comigo o escrito 100. Vaidades à parte, pergunto, especialmente aos meus conterrâneos portuenses e vizinhos: Conhece mesmo a Torre dos Clérigos ?
Todos sabemos (principalmente o pessoal do meu tempo) que foi Nicolau Nasoni o seu obreiro. O conjunto dos Clérigos foi construído junto à Muralha Fernandina, mas do lado exterior, num terreno chamado Lugar da Cruz da Cassoa, junto ao primitivo Adro dos Enforcados, que passou para os terrenos do Hospital de Santo António. Era a zona do Olival. Quando passarem por aqui, lembrem-se que o local foi sepultura dos enforcados criminosos sentenciados na forca e também dos que morriam fora de religião.
Mas por agora é a Torre que tentarei dar a conhecer. Mais ou menos, claro. Foi construída entre 1754 e 1763 e durante anos Nasoni trabalhou sem receber, embora mais tarde tenha conseguido o seu dinheiro. Foi D. Jerónimo de Távora Noronha Leme e Sernache, protector de Nasoni, que ofertou o presente à Irmandade dos Clérigos Pobres que lho tinha pedido.
Vista desde a Rua da Ponte Nova
O projecto inicial previa duas Torres. Ficou-se apenas por esta o que já não é mau. Imaginem o que seriam duas Torres dos Clérigos na Cidade do Porto. Caía o Carmo e a Trindade lá para os lados de Lisboa, se já estivessem construídas.
Tem 6 andares, 75 metros de altura, 225 degraus numa escada em caracol. Num encontro de 2 pessoas, só se passa de lado. Logo a partir dos primeiros 10 degraus da subida. Serviu como telégrafo comercial, referente à navegação e relógio da Cidade.
Destaca-se fàcilmente de todas as Torres que se encontram pela Cidade, independentemente do local e o ângulo em que a vemos.
É Monumento Nacional desde 1910, construída em estilo Barroco
Vista desde as Muralhas Fernandinas, no troço da Sé.
Vista da Sé, com o casario da Vitória aos seus pés.
Vista da Rua da Bainharia, atravessando as Ruas de Mouzinho da Silveira, Flores e Ponte Nova. Ao alto são os Caldeireiros.
Vista da Rua da Madeira, próximo à Batalha. Mas vamos conhecer alguns pormenores.
Ao lado tem a companhia da estátua de D. António Ferreira Gomes, o Bispo do Porto exilado por ordem de Salazar nos anos 60.
Tem no topo 4 sineiras e mostradores de relógios nos quatro lados. Do alto, admira-se a Cidade, bem como as vizinhas Gaia e Gondomar. A não perder uma subida até ao cimo.
No quarto andar está lavrada uma legenda bíblica e numa varanda abalaustrada podemos apreciar já a Cidade e arredores.
Janelas sineiras e aqui está instalado o carrilhão de concerto com 49 sinos. Que podem ser devidamente apreciados durante a subida. Uma janela com frontão triangular e um escudo com monograma A M - Avé-Maria - coberto com as chaves de S. Pedro.
A Porta Central é encimada por um medalhão ornado e legenda bíblica. Segue-se num nicho a  estátua de S. Pedro. Neste andar a espessura das paredes de granito é de 2,20 m.
Torre dos Clérigos
A Cidade do Porto espremida para cima
(Teixeira de Pascoais)


Nicolau Nasoni (Toscana - San Giovanni Valdarno, 2.6.1691 - Porto, 30.8.1773) foi um artista, decorador e arquitecto italiano que deixou muitas obras na Cidade do Porto e também pela região Norte. Teve bastantes seguidores, pelo que lhe são atribuídas obras que talvez não sejam da sua autoria. Um dos seus discípulos e em parte responsável pelas obras dos Clérigos, foi António Pereira, presumível autor de S. João Novo. Mas existe ainda hoje a dúvida sobre o seu autor real.
A sua primeira grande obra conhecida foi a Galilé da Sé em 1736 e o Chafariz de S. Miguel, adoçado à Casa do Despacho. Mas na Sacristia, Capela-Mor e provàvelmente no Corpo da Igreja executou pinturas desde 1725.
Nasoni chegou a emigrar para o Brasil, onde negócios mal conseguidos sendo mesmo roubado o deixou na miséria.. Regressou ao Porto onde viria a morrer e sepultado em local desconhecido na Igreja dos Clérigos.

Parte dos textos foram recolhidos do Livro de Ouro - Porto-Património Mundial editado pelo Comércio do Porto e que o meu amigo Manuel Cibrão me emprestou sem data de devolução.
Outros excertos foram adaptados do IPPAR. Na Wikipédia, no espaço pequeníssimo dedicado à Torre, lê-se que a estátua por cima da Porta Central é de S. Paulo. Julgo que erradamente.
Respigos da sua Biografia recolhi-os em vários sites, incluindo http://Sigarra.up.pt
E não esqueçam de fazer uma subida de 75 metros. O número de degraus, variável de site para site, não custam nada a fazer.



quinta-feira, 13 de outubro de 2011

99 - Artesanato e Velharias

Grande e boa surpresa ao visitar mais uma loja na Cidade do Porto. Neste caso foi a Galeria de Artesanato O Galo. E de Velharias também. Coisas com Alma, Memória e Paixão, como diz o seu proprietário Artur Azevedo. Por coincidiência, vim a saber que é familiar do meu amigo Jorge Teixeira, o Jteix.45.
Localizada por baixo da Capela de S. Salvador do Mundo, (de finais do séc. XV, reformada no séc. XVII e a última restauração em 1892) no início de Mouzinho da Silveira, a Galeria representa vários artesãos e exporta para alguns países, sendo o de maior expressão o Japão. Esta loja e armazém tem uma história interessantíssima, com muitas demandas e sentenças, desde a sua origem no séc. XV. Tema para outras estórias.
O seu interior marca-nos desde a entrada, construído em pedra de granito. 
Para além do artesanato tradicional em cerâmica, barro, madeira, tecidos, saltam-nos à vista pequenos brinquedos que marcaram juventudes dos 40, 50, 60.
Os "santinhos" das cascatas e presépios, recordam esses velhos tempos
A portada original de uma janela que esteve numa loja dos antepassados dos actuais proprietários. Quási em frente.
A reconstituição da construção de um barco rabelo. E pequeninos rabelos.
Cerâmica portuguesa. Amostras de painéis construídos por encomenda.
Os nossos brinquedos dos anos 40, 50, 60...Pistolas de fulminantes, carros de chapa, louças para as meninas, futuras donas de casa; piascas Rapa, Tira, Deixa, Põe, das festas de Natal. Para jogarmos com pinhões.
Estojos de lápis de cor, em chapa, da Molin. O J. Peixoto quási chorou ao vê-los, recordando-lhe os tempos em que trabalhou nesta empresa.
E as velharias são também muitas e sortidas. Máquinas de costura vi três marcas: Pfaff, Singer e Oliva.


A Pandeireta das romarias. Quási era obrigatória a sua compra pelos excursionistas de grupos de amigos - as Caixas de 20 Amigos - que no final de um ano de quotização
confraternizavam organizando uma excursão. O regresso era uma festa nas camionetas, que todas as empresas de transportes rodoviáros tinham para o efeito. E também servia para angariar a gorgeta para o motorista.

Um pormenor da Loja-Galeria.
Lápis fabricados pela Viarco e comercializados pela Molin. Enquanto o Presidente J. Teixeira conversava com os familiares, o J. Peixoto puxava os lápis para fora para que o Boneco fotográfico melhor reproduzisse o expositor. Em madeira, claro. Ao lado, cones, cubos e outros elementos geométricos com que os nossos professores se serviam para ensinar os meninos. Como era bom sentir as peças e formar figuras
Material que as Escolas possuiam e nós no Quadro Preto utilizávamos.
Miniaturas de azulejos.
Galos de Barcelos tradicionais e mais futuristas. Quadros reproduzindos os azulejos da Estação de S. Bento. Loiças.
Um mundo de lembranças, mas também da criatividade artesanal portuguesa.
Já agora, o mínimo que posso fazer é deixar o contacto: arturazevedo@iol.pt

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

98 - Culturgest Porto, uma casa no mundo

A curiosidade levou-me até ao interior da Caixa Geral de Depósitos, digamos, à sua sede na Cidade do Porto. Não para abrir conta ou pedir um empréstimo. Mas sim ao Espaço Culturgest. Palavra da Língua Portuguesa terminada em T ? Como me ensinaram, quási desde o berço, as palavras terminadas em consoantes eram apenas as que "tinham" L, M, R, S e também umas outras, mais complicadaspalavra agora muito utilizada na gíria do dia a dia seja para definir um jogo de futebol, o custo de vida, o tempo, a saúde, o estudo, os incêndios, o desemprego (ou emprego), e até a nossa língua.- em X e Z.   
Dificíl de entender para um leigo como eu, o que quer dizer Culturgest. As duas primeira sílabas, ainda vá que não vá, entenderei mais ou menos. Embora possa levar-nos a errar, pois há muitas CULTUR'S:  Cultura (do latim colere, que significa cultivar) é um conceito de várias acepções, sendo a mais corrente a definição genérica, segundo a qual cultura é “aquele todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e aptidões adquiridos pelo homem como membro da sociedade. É também associada, comumente, a altas formas de manifestação artística. Mas gest ? Claro que há as contasgest, personalgest, e outras  gest que fazem parte do dia dos "medias" e dos economistas.
Gest que na tradução do inglês dá geste. A única que consegui apreender na pesquisa. Mas depois, em nova pesquisa, Geste pode ser uma Chanson "de Geste" (em francês antigo) cantadas por jograis que narravam factos verdadeiros. É a palavra perfeita para um tema apaixonante. Para os curiosos aqui fica um site: http://en.wikipedia.org/wiki/Chanson_de_geste
Conclusão, entrei no CULTURGEST, uma Casa do Mundo, da Caixa Geral de Depósitos da Avenida dos Aliados.

Sabia que aqui se expõem obras plásticas. Na chamada Galeria. Ao tentar ver o local na net, fico confuso, porque também se refere a concertos, conferências, ciclos de cinema, dança, etc. Presumo que haverá salas apropriadas para o efeito para lá deste espaço. Mas para o caso não interessa nada de momento. Porque a minha surpresa foi grande.
O tecto e a galeria surpreenderam-me pela luz que se filtra através dos vitrais.
Talvez tenha tido a sorte por a luz estar perfeita para fotos.
Sinceramente, é daqueles casos que dá para ficar de boca aberta olhando o que nos rodeia.
Eu só que ía ver uma exposição anunciada, de José Loureiro, esqueci a exposição.
Fotos de todos os ângulos e com todas as luzes, absolutamente permitidas fazer.
Não percebo nada de arquitectura nem de materias. Mas o conjunto luz, cor e materiais deixaram-me deslumbrado.
Palavras minhas ? Nem uma.
Infelizmente, não encontrei uma única palavra sobre o autor deste espaço nem outras indicações que  pudessem elucidar sobre esta beleza.
De tanto olhar para o ar e à minha volta, esqueci de olhar o chão. Aí foi mais difícil fazer um boneco fotográfico razoável. Os profissionais da arte sabem bem mais do que eu destas dificuldades.
Da estupefacção perante tal cenário até cair em mim, afinal faltava ver a exposição. Cá está. Para um leigo, quatro quadros em branco, com molduras em cor. Respigando do folheto da exposição, (que, como qualquer folheto de exposição só se lêem textos para eruditos entenderem (será que entendem mesmo ?) :  ... observamos um movimento espiralado de mudança, que caminha no sentido de uma progressiva depuração, de uma crescente elementaridade, desde as pinturas saturadas de grelhas ou de tramas de bolas, produzidas entre 1994 e 1998, até chegar a estas pinturas de ecrãs brancos dinamizados por “molduras” de intensa vibração e de concentrada energia. Se estiverem muito interessados procurem na net pois já nem sei de onde copiei este excerto. Para o caso não interessa nada, pois foi a sala-galeria descoberta por casualidade que me levou a fazer e colocar as fotos. E a pedir para não perderem uma visita. Que para já é grátis.