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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

50 - Miragaia de alto a baixo

Esta Freguesia da Cidade do Porto é das mais pequenas em superfície mas uma das maiores em termos históricos, arquitectónicos e culturais. Tinha projectado um complemento à série Miragaia referida nos 3 escritos anteriores de uma outra forma. As circunstâncias levaram-me a rever a ideia inicial. E aqui está uma Miragaia sem ordem, do género ao correr da pena.
Para iniciar, uma bela vista parcial de um dos morros de Vila Nova de Gaia. Em destaque, ao centro, o Palácio das Sereias. Junto ao Rio Douro, à direita, a Alfandega Nova. Só para orientação.
A curiosidade levou-me ao Carregal. Com o Jardim pelas costas não resisti a esta bela cor. A ave em voo foi apenas casualidade.
Queria conhecer o Beco do Paço, pois tinha lido umas coisas sobre ele. É mesmo um beco e não tem saída. Consta que existiu aqui uma quinta pertença de um tio de Almeida Garrett, que cedeu os terrenos para a abertura da Rua do Rosário. Nada mais existe neste beco que não seja esta casa a cair e uns terrenos nas traseiras abandonados.

Voltando atrás e já na Rua do Rosário, (que tomou o nome do doador dos terrenos para a sua abertura) encontra-se este belo edifício, construído em meados do século XIX, pertença dos Albuquerques (não faço ideia de quem tenham sido, mas fica a referencia) cujo interior está transformado numa galeria comercial. Do pátio, com cafetaria e esplanada, podemos ver uns terrenos a monte, que parece terem sido dos mais belos jardins particulares da Cidade.

Andando para trás, na esquina da Rua do Rosário com a D. Manuel II, outro edifício com história. Foi o Hotel do Louvre, propriedade de uma senhora de origem francesa, Maria Huguette, cujas boas relações com os másculos da época lhe permitiram angariar um pé de meia para fundar o Hotel. Em Março de 1872, D. Pedro II do Brasil aqui esteve hospedado. Acontece que, na altura o ainda apenas Imperador, resolveu não pagar a conta por a achar elevadíssima. Os tribunais deram razão à senhora e aí vai ela ao Brasil fazer escândalo e exigir o pagamento da dívida. Que foi feito por uns endinheirados portugueses para evitar mais complicações. Isto foi o que li no sitio da Junta de Freguesia. Verdade ou mentira, estou a vender o peixe ao preço que o comprei. Neste mesmo edifício esteve instalada a sede do MUD - Movimento da Unidade Democrática - que em 21 de Novembro de 1946 foi assaltada e fechada pela polícia política da ditadura de Salazar. Já era a nossa bem conhecida PIDE em funções, criada em 1945, substituindo a PVDE (mas que interessam os nomes se o efeito era o mesmo ? ). O edifício ostenta ao lado da porta da entrada duas placas memorizando estes factos: O assalto da polícia e a hospedagem do Imperador. Igualmente e entre outras, esteve aqui a sede do meu velhinho Salgueiros, nos anos 30 do século passado. Ao fundo e à esquerda, vê-se o Palácio das Carrancas (o mais recente e que começou a ser construído em 1795 para fábrica e habitação dos Morias e Castro, os Carrancas, albergando actualmente o Museu Nacional de Soares dos Reis). Tema para outros escritos futuros.

No Largo do Viriato, anteriormente chamado de Santo António da Bandeirinha, à esquerda dois edifícios, na esquina com a Restauração. O da direita está localizado onde outrora foi a casa de João Allen. Coleccionador de muita arte, aqui criou um museu expondo ao povo o que foi adquirindo pelo mundo juntamente com obras de autores portugueses, entre eles Vieira Portuense. Maus negócios e talvez uma burla de que foi vítima por um seu sócio inglês, teve de vender as suas obras. Uma grande parte, julgo que a mais valiosa, está no Museu de Soares dos Reis. Talvez outras ainda se encontrem na Biblioteca Municipal. Aproveitando, deixo aqui a informação que a sua Quinta em Campanhã, quási em frente ao Palácio do Freixo, (hoje Hotel) é digna de uma visita. Foi e é esta Família responsável pelo desenvolvimento das Camélias em Portugal. E tenho o prazer de ser amigo do descente de um dos ramos da Família (Olá Xico, um abraço). O prédio da esquerda alberga o Museu do Filuminismo - se a informação é correcta - provàvelmente o maior e mais completo de Portugal.

Saindo para o lado das Virtudes, é difícil não reparar neste conjunto de casas cujas frentes estão voltadas para o Jardim da Cordoaria e uma delas alberga agora a Junta de Freguesia. (Olá Junta, façam uma revisão aos textos do vosso sítio. Já vos escrevi nesse sentido. Entre tantas coisas desactualizadas, está a vossa localização).

Continuando a descida pela antiga Rua dos Fogueteiros, à esquerda fica o grande muro que sustenta sobre estacaria devido aos terrenos pantanosos do Rio Frio, a Rua da Restauração. Em frente, as velhas escadas da Rua da Laje, com séculos de existência. Parece que na época aquando da construção do Palácio da Justiça foi prometida uma solução para esta zona. Mas raramente nesta minha Cidade, o prometido é devido...


Um troço da Calçada das Virtudes, abaixo da Fonte do Rio Frio
O meu último passeio, tinha uma finalidade. Descobrir se havia uma ligação desde a Fonte de Rio Frio até Miragaia de Baixo. Pode parecer incrível, mas não sabia que existia. Os mapas impressos com edição da autarquia camarária e os do Google têm uma zona cinzenta. E ainda bem, porque foi da maneira que descobri que o Jardim (antigo Horto) das Virtudes já está aberto. Desde Junho. A última vez que por aqui passei foi no triste dia, para mim, de 14 de Maio passado. A Câmara e a Junta nunca se dignaram informar-me. Paciência. Já me conformei há muito que não vale a pena escrever para as autarquias, pois nunca se têm respostas. Por outro lado aproveitei para olhar bem de perto a Fonte, já que nunca me atrevi a descer a Calçada das Virtudes sem saber se tinha saída. É que para subir aquilo deve ser um sacrifício ao qual nunca me quis eventualmente sujeitar. O Jardim e a Fonte serão para novos temas.

Mas isto é uma viagem sem ritmo nem rumo certo e vou entrar de novo pela zona das Taipas, com as suas típicas varandas e estendais. Do lado de cá é Vitória, eu sei, e mesmo aqui ao lado há um palacete em ruínas. Que pena, mas enfim.

Na Rua Dr. Barbosa de Castro, mais ou menos paralela às Taipas pelas costas, está a casa onde nasceu Almeida Garrett, devidamente memorizada. Descendo-a, vamo-nos encontrar novamente com as Taipas. E com Belmomte. Mas isso é já freguesia de S. Nicolau. Se não estou em erro.

Um olhar saudoso para a sede do Rancho do Douro Litoral (grandes bailaricos aqui se faziam; hoje nem sei se funciona alguma coisa) e prosseguindo vamos dar ao antigo Largo da Esperança, hoje de S. João Novo.À esquerda está a Igreja de S. João Novo - fica para outras histórias - e à direita o Palacete de Costa Lima, do séc. XVIII, meio arruinado. Esteve aqui até há uma dúzia de anos e desde 1945 o Museu de Etnografia e História. A boa vontade e o sacrifício de boa gente do Porto foi ignorada deixando a burocracia camarária que as ruínas falem mais alto. O espólio, que julgo ser valioso estará onde ? Leiam esta página http://www.amp.pt/gca/?id=253 , mas não riam porque é triste demais.
Um pouco abaixo encontra-se a Capela de Nossa Senhora da Esperança, cavada numa das torres da que foi a Muralha Fernandina. A sua construção está ligada a gente de vida marítima.
Escrevi na minha última postagem sobre uma estória que diz ter sido supostamente a Igreja de Miragaia a primeira Catedral do Porto. E que essa suposição seria baseada numa legenda inscrita numa pedra. E o Bispo Dom Basílio aparece associado a outras terras. Mas isso é muita história que fascinado ouvi, leccionada pelo Sr. Graciano Barbosa. Pois ela, a inscrição, foi-me mostrada e aqui está.

Outro tema que queria confirmar, embora mais ou menos já conhecesse, era a localização da Capela e do Hospital do Espírito Santo. Confirmadíssimo. Presume-se que seja uma edificação do séc. XVI e a Capela já foi Museu, tendo à sua guarda entre outras peças valiosas, o tríptico de Pentecostes ou do Espírito Santo, já anteriormente descrito.
O Hospital estava ligado à Igreja de S. Pedro de Miragaia, notando-se ainda paredes e caminhos.
Quási fazendo parte do mesmo conjunto, as memórias da antiga Fábrica de Cerâmica (ou da Louça) de Miragaia, fundada em 1775 por João da Rocha, um emigrante que fez fortuna na Bahia. Foi herdeiro seu filho João da Rocha Soares, que chegou a Presidente da Câmara do Porto. A fábrica foi encerrada 77 anos depois, deixando apenas de laborar durante as Invasões Francesas e aquando das Lutas Liberais. O Brasil foi um dos seus mercados e parece que ainda existem peças do seu fabrico por lá. Como não capino sentado recomendo o sítio:
http://velhariasdoluis.blogspot.com/2010/09/vasos-de-faianca-miragaia-no-brasil.html .
Uma das minhas descobertas foi a Rua dos Armazéns, com estória ligada à Real Companhia Velha, a tal dos Vinhos do Porto, criada pelo Marquês de Pombal. Becos de uma lado, muros altíssimos do outro. Para trás ficaram as Virtudes lá bem no cimo. Por isso recomendo sempre as descidas, pois por elas todos os santos ajudam.

Final da Rua a chegar à antiga praia de Miragaia

E paragem para molhar o bico.

Olho em frente e pergunto porque será que o relógio da Torre da Alfandega não trabalha há anos nem está limpinho ? Mistérios... como diria o Bafo de Bode...

Ao lado da Igreja de Miragaia vem dar a íngreme Rua de Tomaz Gonzaga bifurcando com a Rua Arménia

Provàvelmente seria aqui a entrada da residência dos donos da Fábrica de Cerâmica de Miragaia.

Voltei atrás só para mostrar esta inscrição. O que será que quer dizer ?

Na Rua Arménia, roupa estendida com cheiro a lavado.

Pena que todo este património habitacional não esteja devidamente recuperado.

Disseram-me que aquando da Cimeira Ibero Americana realizada há uns anos na Alfandega, a Câmara (quem haveria de ser ?), escondeu Miragaia dos olhos dos participantes, com panos pretos.

E mais uma vez ouvi vozes contra o Porto Vivo e outros organismos camarários. É o desleixo, a burocracia, a incompetência e provàvelmente outras coisas que se sobrepõem aos interesses de recuperação da Cidade. E dizem que querem devolver a Cidade ao Povo. Só blablabla

De Rui Rio, ficam-nos zero de obras (com excepção da destruição da Avenida dos Aliados), mas da alcunha de Bom Rapaz não se livra. São os seus seguidores (?) que o dizem. A versão é sempre a mesma.

Miragaia faz parte do Centro Histórico e do Património Mundial da Humanidade. Mas nos roteiros turísticos é como se não existisse. Nem faz parte da área turística sublinhada no mapa oficial.

Por esta freguesia davam entrada na cidade os Reis quando visitavam o Porto. Era pela Porta Nobre das Muralhas, prepositadamente alargada para bem receber à moda do Porto. Lá no alto ainda se vê um torreão das Muralhas. Há uma postagem já com uns 3 meses, que dedico às Muralhas Fernandinas na Vitória e Miragaia. É só recuar no espaço, que não no tempo.

Lá no alto também se vêm coisas que entram em conflito com o olharAs Muralhas, o que resta delas por aqui, fazem parte de um itinerário que sabe bem percorrer Na Praça de Artur Arcos, um artista miragaiense, encontra-se uma fonte que foi destinada para dar de beber aos animais, construída em 1907. A Fonte de Hulsenhos, mandada edificar por uma filha do conselheiro Hulsenhos ficaria à guarda do povo. É hoje um equipamento urbano decorativo, restaurado. Fica já bem próximo do limite da freguesia a ocidente. A Casa das Francesinhas, se bem que muito in, não é lá grande coisa nos comes. Se forem lá, arrisquem nas Francesinhas. Não se metam a comer outras coisas. Muito menos bifes.

Uma última vista parcial de Miragaia, para oriente.

Espero que na próxima legislatura camarária, embora demore ainda uns anos, um portuense a sério e não um playboy fora de época seja capaz de pegar na Cidade e a trate com carinho. Porque na legislatura corrente, o Presidente e seu séquito segue o rumo do Deixa cair, que alguém levantará. Duas notas finais: Uma, para a Junta de Freguesia. Não adianta ter casa nova. Há muita coisa que se pode melhorar sem custos elevados. É só andar por aí. E aproveitar as gentes da casa. Outra, para a Senhora que já anteriormente tinha referido e que me ajudou a descobrir a Igreja de Miragaia. Prespicaz, viu-me na Igreja e discretamente apresentou-me ao Sr. Graciano Barbosa. De quem recebi uma memorável lição de história. Aos dois, o meu muito obrigado.

domingo, 24 de outubro de 2010

49 - A Igreja de S. Pedro de Miragaia

Entrei a primeira vez nesta Igreja em Maio de 2007. Realizava-se um acto litúrgico e discretamente recolhi 3 ou 4 fotos, que ano e tal depois utilizei num trabalho sobre as Igrejas do Porto. Foram os meus primeiros passos na fórmula PPS.
A curiosidade leva-nos a descobrir coisas que nem sequer imaginamos. Um dos bens da net.
E juntando o prazer do passeio ao da fotografia, voltei a esta Igreja há uns meses.
O Largo de S. Pedro de Miragaia
Encontrava-se fechada, o que acontece com a maioria das Igrejas e Capelas da Cidade, salvo as que estão à disposição dos turistas. Quantos tesouros não são descobertos. Uma criança das várias que andavam pelo Largo perguntou-me se queria visitar a Igreja. Perante a minha resposta afirmativa, disse "a senhora vem já". Desapareceu e passado instantes chegou uma senhora que abriu a porta da Igreja. Disse-lhe que pedia autorização para fotografar o que pudesse. Então acendeu as luzes e levou-me a um piso superior onde está o Museu e os seus tesouros. Prometi-lhe que não era para comercializar as fotos. É claro que cumpro.
Por isso, deixo aqui o meu agradecimento não só a essa simpática senhora, como a quem manda. Que presumo seja a Paróquia.
Seguindo da Rua de Miragaia para a Igreja, já no Largo, encontramos esta bela casa com o aspecto de bem antiga, que deve ter sido recuperada mantendo a traça original. Não consegui descobrir quaisquer escritos sobre ela. Portanto só imagino. Pena é que a casa ao lado não tenha o mesmo aspecto. E à placa toponímica, a antiga, aplicada nesta casa, faltam-lhe azulejos, o que é pena. E aqueles fios eléctricos desfeiam um pouco. Dedicada a São Pedro, a Igreja de Miragaia é um imóvel de interesse público que apresenta ao centro um portal, ladeado por pilastras e rematado por frontão triangular. No segundo registo, uma janela de grandes dimensões com o emblema papal, e entre as pilastras laterais exibem-se ornamentos barrocos. A fachada termina com um frontão triangular com a legenda «Divo Petro Dicata» (Dedicada a S. Pedro) e encimado por uma cruz. Os azulejos remontam à campanha do século XIX, que revestiu também a torre lateral, a Norte. Ao lado da Igreja, neste pátio visto atravez do portão, mostram-nos arcos e outros elementos que deixam supor restauros de construções antigas. Pena o muro a seguir, altíssimo, não deixar ver mais pormenores.
Tendo sido Miragaia terra de Pescadores, é natural que o seu padroeiro fosse/seja S. Pedro. Diz a lenda que neste local foi construída na primeira metade do séc. I a primeira Catedral. Existe na igreja uma inscrição com os dizeres (traduzidos) "Esta foi a primeira catedral do Porto. S. Basílio, apenas se viu são dos pés, a edificou, e por aquele motivo a dedicou a S. Pedro". A suposição da data tem a ver com o S. Basílio, Bispo do Porto. Parece que ninguém acredita nesta teoria, até porque o Porto não existia no ano 37, quando morreu este Basílio. Certo é que existiram no local várias Igrejas desde a Idade média. Supõe-se que no séc. XIII já existiria uma do tipo românico. A que existia em 1672 foi reformada devido ao aumento da população. Em 1740 foi parcialmente demolida, aproveitando-se na actual construção só a capela-mor e o transepto. É desta campanha de obras que resulta a igreja actual.
O corpo da Igreja era revestido a talha dourada, mas um juiz da Confraria do Santíssimo achou que era feio. Então mandou retirar a talha e caiar a branco as paredes. Para que a Igreja ficasse mais luminosa. Ao painel do altar de Santa Rita, por o achar muito escuro, mandou pintá-lo de branco.
Por qualquer motivo, desta barbárie conseguiu salvar-se a Capela-mor, preparada para receber o mesmo estilo de restauro.
Para ela vieram posteriormente painéis da Capela (ou Igreja, nunca sei como lhe chamar, pois vejo escrito das duas maneiras) do Convento de Monchique, datados do séc. XVI.,quando foi demolida - arruinada - no séc. XIX
No interior, a igreja desenvolve-se em nave única e transepto saliente, de grande simplicidade, contrastando fortemente com a opulência da talha em barroco mas ao estilo denominado nacional - o Joanino - que reveste integralmente a capela-mor.
Este estilo foi-se desenvolvendo e aprimorando principalmente no Norte de Portugal, sendo muito utilizado especialmente no Brasil. Iniciada no século XVII, esta campanha decorativa prolongar-se-ia até ao século XVIII, como testemunham os elementos rococó que aqui se encontram. Juntamente com Santa Clara ou São Francisco, é um exemplo significativo de igreja forrada a ouro
Também o altar de Nossa Senhora do Carmo, revestido com talha da primeira metade do séc. XVI, veio da Capela ou Igreja, do Convento de Monchique.
O corpo da Igreja é revestido de azulejos da Fábrica do Vale da Piedade e foram colocados entre 1863 e 1876.
Altar de Santa Rita e o painel recuperado tanto quanto possível da atrocidade daquele juiz da Confraria. Vi-o numa gravura colocada no site http://citar.artes.ucp.pt/mtpnp/estudos/triptico_pentecostes_01_contexto_historico.pdf formando um tríptico (assim fiquei com essa ideia) que juntamente com o de Pentecostes - darei a conhecê-lo mais abaixo -, constituíam o retábulo deste Altar
Pormenor da Pia Baptismal

O soberbo tecto do Museu da Igreja

O Tríptico de Pentecostes ou do Espírito Santo.
O Tríptico do Espírito Santo terá sido pintado entre os anos de 1512 e 1517, para a Capela do Hospital do Espírito Santo, que se situa acima da Igreja de S. Pedro de Miragaia. Em 1637 foi, possivelmente, incorporado num retábulo e em 1887 foi trasladado para a Igreja devido ao estado de ruína da Capela, alterando-se o retábulo que o emoldurava. Em 1914 foi para Lisboa, a fim de ser conservado e restaurado, intervenção que foi realizada por Luciano Freire, regressando à Igreja em 1926.
A base é de madeira de carvalho do Báltico. A pintura a óleo é da escola flamenga e terá sido executado em Antuérpia, provavelmente da autoria de Van Orley. Ver todo o desenvolvimento em:
http://citar.artes.ucp.pt/mtpnp/triptico_pentecostes.php
Elementos em exposição no Museu




Peças de ourivesaria, incluindo a mão-relíquia- de S. Pantaleão.
Há coisas que se vão descobrindo e deixam dúvidas. Se as tivesse na altura da visita à Igreja, teria perguntado à senhora e provavelmente ficaria esclarecido. Uma delas seria a origem da Tiara e das Chaves. A outra seria a localização da Capela do Hospital do Espírito Santo.
Estou a aguardar uma informação da Junta de Freguesia a quem pedi para me esclarecer. Tenho uma foto que presumo ser a ruína da Capela. A ver vamos.
Para além dos sítios já referidos e onde recolhi elementos, recomendo a leitura do PDF do IHRU e onde encontramos fotos, embora muito más, da última reabilitação da Igreja nos anos 70 do século passado.
A sua localização faz-se atravez de
http://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_de_S%C3%A3o_Pedro_de_Miragaia
Ao fundo da página em Referencias, vamos encontrar duas, a do Igespar e a do IHRU. É só clicar
Não esquecer também de uma visita ao sitio da Junta de Freguesia http://www.jf-miragaia.net/








quarta-feira, 20 de outubro de 2010

48 - Miragaia - Lendas e História

Diz a lenda que a freguesia de Miragaia deve o seu nome a uma Rainha de nome Gaia, esposa do Rei D. Ramiro, de Leão. (http://www.jf-miragaia.net/historia.htm)
Uma outra versão da lenda, recolhida por Almeida Garrett, miragaiense de nascimento, e publicada no Jornal de Belas Artes em 1845, diz que a Rainha se chamava D. Aldora. Pode confirmar-se em http://www.lendasdeportugal.no.sapo.pt/distritos/porto.htm).
Em comum na verdadeira lenda do séc. X, é o Rei ser casado com a Rainha mas gostar da irmã de um Emir que vivia no Castelo de Gaia. O Rei veio pedir a mão da menina, mas levou nega e raptou-a. O maninho chateado com o negócio, foi por sua vez raptar a Rainha e levou-a para o Castelo. O Rei, furioso, juntamente com o filho, arranjou um estratagema para resgatar a Rainha. Para não alongar o enredo, vamos aos finalmentes como diria o sinhôzinho Malta. Rainha resgatada, mas furiosa pela traição doméstica do Rei, diz que no Castelo é que era maravilha a vida e o amor do Emir. O Rei ciumento mata a Rainha no barco do regresso. Para uns, arrancou-lhe os olhos e disse-lhe pela ultima vez mira, Gaia. Para outros atou-lhe uma pedra ao pescoço e mandou-a para os peixinhos na Foz de Âncora. Lá em Gaia, que hoje é Vila Nova de., mas que não faço ideia onde seja. A net pelos vistos também não.
Mira Gaia deu em Miragaia que entre dois séculos, é vista do Palácio de Cristal, a Ocidente. Miragaia vista desde as Virtudes, a Oriente.
Por altura da lenda, ano 932 da nossa era, a Península Ibérica era ocupada por Cristãos e Mouros. Cale ou Gale, significaria Gaia em romano. Mas que provàvelmente derivou do céltico Gall.E Portus o Porto. O Porto de Gaia, seria a Zona Ribeirinha da actual cidade do Porto. Uma nota informativa: A Ribeira, do Porto, não é só aquele local onde andam os turistas a olhar para a Ponte D. Luíz e para as cervejas. É muito mais extensa e cais não faltavam antigamente e quási todos têm ainda os nomes de antanho. Mas continuando. Neste povoado já existia população que vivia da pesca. E aportavam barcos vindos principalmente do Norte da Europa.
À esquerda, Vila Nova de Gaia, à direita Miragaia. Ao fundo, a Ponte da Arrábida.
O tal Castelo de Gaia estava localizado no morro mais alto de Gaia, voltado para o Rio Douro, e terá sido um Crasto Celta. Foi fortificado pelos Mouros e depois pelos Romanos. Durante as Lutas Liberais, D. Miguel o Absolutista, montou aí a sua artilharia. Do lado de cá, as tropas de D. Pedro IV, o Liberal, Constituicionalista, Rei-Soldado, Libertador, Imperador (do Brasil) - cognomes não lhe faltaram - montaram uma das suas baterias nas Virtudes, num dos altos de Miragaia, que acabaram com as de D. Miguel e o resto do Castelo que ainda existia.
Só para refinar a história. Antigamente, Gaia era uma localidade, Vila Nova, outra. No século XIX as duas fundiram-se e formaram o Concelho de Vila Nova de Gaia, elevada a cidade em Junho de 1984. Actualmente e porque o nortenho é comedido em palavras, a gíria normal é tratá-la apenas por Gaia. Mas continuemos a nossa visita por Miragaia, pois a história faz-se passeando. Ainda do alto do Palácio de Cristal, onde as vistas são soberbas, olhamos para o Palácio das Sereias, nome popular, conquanto se chame da Bandeirinha e/ou também dos Portocarrero. É um edifício mandado construir em 1575 por Pedro da Cunha enquanto a esposa Brites Vilhena tratava do Convento de Monchique, já em escrito anterior referido. No século XVIII passou para os Portocarrero. Aquando das invasões francesas, a populaça tomou a sério o nome da família como estrangeiro e foi-se ao filho e fizeram-lhe mil e uma judiarias. E acabou sem cabeça e nas águas do Douro. Mas há quem diga que foi ao Pai que isto aconteceu. Que para o caso não interessa nada.Já descemos do Palácio de Cristal e estamos na Restauração. Olhamos o Bairro Ignêz, grafia não sei de que século, mas o da sua construção foi em meados do passado XX e destinado a habitação social. Creio que foi o primeiro bairro da cidade do Porto para tal fim.
A descida é óptima por umas escadinhas e entramos na que dá pelo nome de Rua de Sobre o Douro. E como não podia deixar de ser o Rio lá está em fundo. Das traseiras do Bairro então o olhar perde-se de amores pelo que consegue alcançar.
Por entre as ruínas do Convento de Monchique, olhamos o Bairro e as raríssimas Palmeiras da Califórnia, que são sete, nos Jardins do Palácio, de Cristal, claro.
Chegamos à confluência das Freguesias de Massarelos e Miragaia descendo por Monchique.
E no que terá sido em tempos idos a passagem para a Rua de Miragaia, cortada pela Rua Nova da Alfândega no séc. XIX, vamos encontrar maravilhas em edifícios originários de muitos séculos atrás.
100 anos é muito tempo, mas as diferenças são pequenas. À direita é o muro que suporta a Rua Nova da Alfandega. Em baixo, começa a Rua de Miragaia. Mas damos meia volta volver e olhamos para baixo do que é hoje o Largo da Alfandega.
E descobrimos a Fonte da Colher, que estava perdida se não fossem as escavações para a Rua Nova da Alfandega. Diz a história que foi construída em 1491 custeada com parte de um imposto cobrado sobre os géneros alimentícios que passavam pelo entreposto de Miragaia no séc. XV, medido por uma colher (?). Os livros não chegam ao pormenor de nos elucidarem sobre o seu tamanho. Mas sendo Imposto, logo o calculamos. Encontra-se encostada a uma casa, resguardada por uma linda varanda. Ao alto, a pedra tem uma inscrição que mal se percebe.Foi restaurada em 1629 e em 1940.
Retornamos à meia volta e entramos no coração de Miragaia. Não faltam pequenos Bares e Tascas onde podemos tomar a cervejinha da ordem sem frescuras nem aos preços exorbitantes da Ribeira mais a Oriente.
Na parte superior, o eléctrico divide o seu caminho com o dos peões, na tal Rua Nova da Alfandega. A não perder uma viagem desde o Infante até ao Passeio Alegre. E volta.
Justificar completamentePormenores não faltam em casas que já foram palacetes de grandes senhores.
O granito e o ferro em funções arquitectónicas.
Encontram-se muitos recantos escondidos, que só a curiosidade nos leva a descobrir.
O problema maior é mesmo descobri-los.
Passear entre e por baixo deles e imaginar o que por ali se passava antigamente.
Justificar completamenteE as Arcadas conservadas como o são desde há séculos. Regressamos à história, que como sempre nos deixa confusos sobre datas. No séculos XII já seria local importante, mas as contradições existem. Uns dizem que cresceu a partir de Monchique outros que foi das Muralhas. E por causa delas.
Alexandre Herculano escreve em Lendas e Narrativas que nos fins do séc. XIV a povoação trepava para o lado do Olival, isto é, para Norte. Isto revela o crescimento da povoação. Entretanto a vida da pesca foi diminuindo, sendo substituída pela da construção naval. Daqui sairam muito dos barcos para a conquista marítima.Os prédios das Arcadas davam para a praia que a Alfandega veio roubar. Foi uma zona que as cheias do Douro flagelavam, antes de existirem as barragens que nivelam agora as suas águas. Era comum transitar-se apenas de barco por estas ruas. Quando as águas chegavam à chamada Ribeira, já Miragaia estava inundada. E de vez enquando lá volta a contecer.
Mais adiante, no Largo onde se encontra a Igreja de S. Pedro, damos com a Fonte do Bicho, adossada à Casa mandada construir pelo Capitão António José Borges em 1821 e que foi o Hospital do Espírito Santo. A fonte nasce porque ao pedir acesso à agua ela era-lhe concedida desde que a distribuísse pelo povo. O Bicho terá uma lenda associada como seja a de um animal estranho ter aparecido por ali. Presumo ser Júlio Couto que escreve no sítio da Junta de Freguesia, mais não lhe parece que um simples golfinho.
Nesta casa nasceu em 11 de Agosto de 1744 o poeta Tomás Antônio Gonzaga, filho de mãe Portuguesa e Pai Brasileiro. É o poeta Dirceu. Entre Portugal e o Brasil faz estudos e a sua vida profissional. É acusado de conspirar na Inconfidência Mineira. Degredado para a Ilha de Moçambique, lá acaba por casar e exercer actividades profissionais para a coroa Portuguesa. Morre em data desconhecida no ano de 1810. É patrono da cadeira 37 da Academia Brasileira de Letras. Recomendo a leitura da sua biografia em http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u418.jhtm e em http://pt.wikipedia.AntonioTomasGonzaga.
Desde a Bandeirinha uma vista sobre a Alfandega com Vila Nova de Gaia em fundo
Do mesmo local mas voltados para Monchique.
Mas Miragaia tem muito mais Histórias e Lendas. E as da sua Igreja não serão esquecidas. É já a seguir.
Bons passeios.