Dornelas fica nas terras de Barroso, freguesia do Concelho de Boticas em Trás-os Montes.
Convite aceite e a rapaziada meteu carros e camionetas ao caminho. Uma grande parte do percurso desde a minha-nossa Cidade do Porto - e há duas alternativas - é feita por auto estradas e depois por estradas nacionais de muito boa qualidade.
O nevoeiro e a neve são presenças nesta altura do ano. E se nuvens escuras são sinónimo de frio, não assustam viandantes experimentados, tenham ou não assumido temperaturas de 40 e mais graus nos velhos tempos.
Vamo-nos aproximando do destino, Barroso cá estamos nós, mas ainda há tempo para umas fotos paisagisticas
Chegados e bem dispostos, (já tínhamos feito o mata-bicho na casa nova do Pires) vamos então conhecer Dornelas e a história da Festa de São Sebastião. Na foto, o Cruzeiro.
O Povo local gosta que lhe chamem Couto de Dornelas, criado em 1127 pelo nobre Ay Ayres que raptou da corte de D. Afonso Henriques (o nosso primeiro) uma dama e com ela veio viver para estas terras que, segundo a história era despovoada. Construiu residência e capela.
Torre posterior e Igreja matriz onde se realizou a Missa em honra de S. Sebastião
Foram chegando forasteiros para a povoar e logo que se acoutassem à capela não poderiam ser presos nem punidos pela justiça do rei. Começaram a cultivar os terrenos para o senhor.
Pelourinho. Ao fundo a serra do Barroso e a neve.
Vamos descobrir a Festa de S. Sebastião presa a duas lendas.Uma antiga de há muito, muitos anos... houve na região um ano de muita fome e peste. O Povo pediu a S. Sebastião que os protegesse. Em troca prometeram realizar uma Festa onde não faltasse carne e pão a quem a ela comparecesse.
A Torre vista de trás e o Povo esperando à porta da Igreja o final da missa
A mesa do Santo que se estende pela Rua principal
Os anos passaram e o povo foi ficando esquecido do seu Santo e da Festa, mesmo que tenham havido anos de doença e fome. Até que chegaram as invasões napoleónicas, mais concretamente a segunda de 1809 com a sua fama de pilhagens, violações e mortes.O povo voltou a acolher-se sob a protecção do Santo: Se os invasores não entrarem no Couto faremos todos os anos no dia 20 de Janeiro uma festa em tua honra onde não faltará comida a toda a gente que a ela vier...
A mesa entendendo-se ao longo da rua principal.
Continuando a história da lenda, caiu um nevão tão grande que não permitiu aos invasores franceses descer ao Couto.Diz o meu amigo Barreto Pires que os invasores transitavam em direcção ao Porto pela estrada romana Chaves-Braga que passa pela serra do Barroso e aqui bem perto.
A carne era e ainda é cozinhada nos potes de ferro, na casa do Santo à volta de uma grande lareira.
Porque não consegui melhores fotos, recorri ao meu amigo Fernando Súcio.
O Povo cozinhando para o Povo
A bênção da comida
Saída para a procissão
O Santo saindo da sua casa
Espigueiro onde se guardam ou guardavam os cereais. Existem alguns ainda.
Aguardando a distribuição da comida, o Povo faz a festa.
Vão-se comendo os merendeiros trazidos de casa enquanto se aguarda pela comida benzida.
Festa é Festa e há muita animação mesmo com imenso frio.
Velho moinho de água. Um casal sénior aproveita para merendar.
Nestes moinhos moíam-se os cereais para fazer o pão.
Uma parte do percurso onde a mesa está instalada. Digo eu que não medi que tem 500 metros. Há quem diga que são 1000 metros. Percorrêmo-la toda mas nem dei fé da sua extensão.
Não assistimos à distribuição da comida, iría demorar muito. Seguimos para a casa velha do Barreto Pires no lugar de Gestosa, que pertence à freguesia e onde fomos presenteados com uma bela refeição.
Começando por aperitivar com verdadeiros Rojões como são servidos na região, rojidos na sua banha, juntamente com o pão tradicional.
Fazendo jus à tradição da Festa fomos presenteados com o melhor e mais completo cozido trasmontano que já apreciei.
Carnes e enchidos da região, criados e fabricados em "casa". Incluiu carne de boi barrosã e frango da "casa" .
Legumes da terra, mais o feijão vermelho, arroz e hortaliças. O vinho não era o dos mortos, porque essa tradição acabou.
No final do repasto, as senhoras que trabalharam - a esposa e a cunhada do Pires, ofereceram o pão que havíamos de trazer para a viagem.
A partilha do pão pelo Barreto Pires e pela esposa D. Maria da Luz.
Assim é a tradição das gentes transmontanas, gente que muito considero desde há anos. Já não me admiro pela seu lhano e gentileza pois habituaram-me a elas.
Um abraço fraterno ao meu amigo que para além do mais me fez conhecer mais um pouco desta região e das suas tradições.
Obrigado poe me deixar conhecer as belezas de Portugal e sua cultura. Como sabes, São Sebastião também é padroeiro do Rio de Janeiro. Só que aqui, não temos esta linda festa. Somente uma procissão numa temperatura de 40º que afugenta as pessoas.
ResponderEliminarParabéns Portojo! Este é mais trabalho da excelência a que nos tens habituado. Aparentemente, dás-nos a imagem de um "Bandalho" (membro de um bando) aburguesado mas. bem lá no fundo, és um grande artista, uma pessoa culta e um gajo porreiro. Nós gostamos muito de ti. A tua dinâmica amiga envolve-nos permanentemente e dá-nos imensa alegria e boa camaradagem.. Continua, O Bando precisa e agradece. Abraço
ResponderEliminarAmigo Jorge
ResponderEliminarMais uma tradição desconhecida por muitos nós incluído eu mesmo, na sua simplicidade e no seu estilo a fez chegar a todos.
Amizade e tradição seria um título desta reportagem nas terras transmontanas de gentes nobres e de coração.
Ah!! no nº 126 dedicado a Campanhã a tasquinha que descreve situava-se ao fim da rua de Azevedo junto à circunvalação, não num moinho mas ao lado, além do bacalhau meus pais adoçavam também os tremoços nas águas do ribeiro, e deixou de o fazer no dia que a fábrica do cobre o utilizou como esgoto.
Amizades,um abraço e um grande obrigado
José Lopes
Não caro amigo José Lopes. Ficava a tasquinha muito próximo da circunvalação de quem vem de Pego Negro.
EliminarPARABÉNS!!!
ResponderEliminarAdorei ver esta reportagem sobre os usos e costumes que eu não conhecia.
As fotos estão espetaculares!
Muito obrigada
M.M.