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terça-feira, 30 de outubro de 2012

143 - Passeando por Matosinhos

O Fernando Súcio tirou-me de madrugada da cama, mas a um amigo que veio de Vila Real para matar saudades dos seus velhos tempos na Invicta não se nega a companhia. Muito menos a quem me deu a conhecer muitas das belezas do Norte de Portugal.

Olhamos o centro da Cidade, relembramos os caminhos que trilhou pela Ribeira, Infante e S. Francisco, seguimos pela marginal, continuamos pela Foz e acostamos em Matosinhos.

Um areal imenso, deserto, o mar em fundo, sol quente para um Outono já em meados.

Passeantes muitos naquele enorme passeio cinzento, onde não há um verde nem a cor de uma flor.
Tanto se pode fazer num passeio pedonal para alegrar os caminhantes, mas as entidades Matosinhenses parecem que estudaram nos mesmos livros dos do Porto.

O Monumento Nacional do Senhor do Padrão do séc. XVIII é sempre visita obrigatória. Construído nas Areias da Praia do Espigueiro era visível a muitos quilómetros quer do lado do mar quer do lado da terra. Assim se lê no site da Câmara Municipal.
Assinala o local onde a lenda diz ter aparecido a imagem do Bom Jesus de Bouças, mais tarde conhecido por Senhor de Matosinhos.

Aquando da construção do Porto de Leixões, ficaram-lhe próximo estaleiros e a máquina que transportava a pedra cortada para os futuros cais. Por causa do Porto de Leixões, a praia e o areal desapareceram e o Monumento ficou encoberto.
No entanto, no primeiro de Novembro de cada ano, junto a ele, os pescadores e familiares lembram a memória dos pescadores mortos no mar.

Muitas vezes passei junto ao monumento, mas nunca me apercebi do estado em que estão as imagens.

Não entendo nada de pedras. Não sei quem as imagens representam, quando foram esculpidas e os materiais utilizados. Mas será que este mal não tem cura ?

O interior deve ter cura mesmo, mas o estado em que se encontra é de incúria.

Ao lado do Monumento encontra-se uma espécie de arca. Não sei se faz parte do mesmo e o que representa. Já uma vez escrevi sobre ela tentando que alguém me soubesse esclarecer.
Procurei nos vídeos do Porto Canal um sobre o Senhor de Matosinhos, no qual talvez o Prof. Joel Cleto tenha falado sobre ela. Mas este Canal resolveu cancelar as visualizações dos vídeos. Mais uma situação de quando se muda é para pior. Lamento pelo novo Director Geral, Júlio Magalhães, que desde a sua entrada o Canal virou para baixo.
Mas isso são outras histórias, como diz o Prof. Joel.

Inscrição na frente da arca ou o que quer que seja. Algum sábio, algures no tempo, mandou cobri-la com azulejos tipo frontarias de edifícios.. A desfazerem-se actualmente.

Um registo para mostrar o desleixo e degradação.

Um pormenor

Continuando o passeio, entramos na zona da doca-pesca, sendo ainda impossível entrar nos cais de pesca. O Fernando fez uma foto afastado uns 5 metros da entrada, mas o importante homem-segurança dentro da casinha, levantou-se da sua cadeira e com voz de arruaceiro disse, não é permitido fotografar.
Claro, eu sabia que isso ia acontecer. Quantas vezes já fui "açoitado". Mas o curioso é que se vamos à administração pedir autorização para fotografar, a resposta é sempre a mesma: A pessoa que autoriza não está. E como posso pedir autorização ? Vá passando.
Será que têm medo que apanhemos um flagrante delito de peixe passando pela porta do cavalo ? Se assim fosse não o denunciaria. Quando os pescadores e as gentes que vivem do mar, directamente, estão à rasca, quem os ajuda ?
Assunto para os nossos primeiro ministro Coelho, ministros financeiro Gasparzinho, economista Álvaro o canadiano, e do MAMAOT, sigla dos ministérios ministeriados pela bela ministra Cristas. E que cabedal ela tem para aguentar com tantos e diversos e nada interligados ministérios. Mas isso são outras histórias.
Claro que as TV's podem entrar sempre que querem, pois só vão fazer reportagens de greves, desastres ou coisas assim.
Nós que só queremos fotografar uma zona de trabalho, sacar um boneco de um barquito, se possível apanhar um pescador a arranjar uma rede, estamos interditos.

Uns passos mais à frente, para sul, podemos fotografar sem problemas (que eu saiba) os barcos ancorados que dão uma bela imagem de cor e luz.

Nos anos 50 podiamos ver a descarga dos barcos. Os mesmos homens que pescavam eram os mesmos que descarregavam e transportavam o peixe umas dezenas de metros. Li no blogue do http://marinhierojimmy.blogs.sapo.pt de onde esta foto foi copiada, que os mestres davam um pequena folga para um café e uma bucha para logo regressarem ao mar...

O local desta foto tem muitas parecenças com a foto velhinha de cima.

Hora de almoço, sentados na barraca do Lusitano - gosto deste restaurante, talvez porque tem um toque de tasca à antiga, pela simplicidade com que nos tratam e nos deixam tratar e um obrigado ao amigo Quintino por me tê-lo dado a conhecer num dia Bandalho - um olhar para o céu, lindo e as gaivotas por ali voando, voando...

Quem vem a Matosinhos quer peixe, do nosso. Quando lembrei de fotografar a travessa já faltavam uns bocaditos. E para aperitivar, já tinham marchado um chouriço e umas sardinhas. No final, uns choquinhos grelhados, pois claro, mas que não tiveram direito a fotografia. Tudo regado com bom azeite. Salada mista com pimentos assados e batata pequenina cozida, com alhos e tudo o mais.
Para mim, a pomada foi Boca de Sapo.

Para complemento, o(s) café(s) e bagaço(s) da ordem este vindo directamente do Tonel. Servido gentil e carinhosamente pela Gabriela.
Tudo produtos portugueses.

Retomando o passeio ao fim de 2 horas e tal, o caminho tinha de ser pela Heróis de França. Um símbolo de Matosinhos de há uns anos, a chaminé das velhas fábricas conserveiras que já não existem. A torre é da Igreja de Santo Amaro na  Serpa Pinto.

Quási encostado ao paredão sul do Porto de Leixões, no areal que vem até à rua  como antigamente, o monumento Tragédia do Mar da autoria de João de Brito, em memória aos 150 mareantes de Matosinhos mortos no que foi o maior naufrágio da costa portuguesa, acontecido em 2 de Dezembro de 1947.
O meu amigo Fernando guarda a imagem.

Num dos muitos bares, mas este escolhido a dedo para abrigar não do vento que vinha da terra, ( como me explicou o Areias,o Pescador, outro ex-companheiro de andanças por África que tive o prazer de encontrar ) mas do sol que batia forte e não estávamos nada interessados em trabalhar para o bronze, fizemos uma pausa.
A praia continuava deserta e ao longe, no mar, uns barcos.

Felizmente os turistas continuam a gostar da nossa região. Vimo-los também nos restaurantes. Só os governantes não gostam de nós. Penso eu de que...
Um barco rumando ao Porto de Leixões.
Tudo que eram fábricas conserveiras de grandes memórias, hoje são ruínas ou no seu local estão edifícios monstruosos. É assim a costa marítima sul da Cidade de Matosinhos 

12 comentários:

  1. Olá Jorge,

    Hoje mandou fotos e textos de uma zona que eu pensava conhecer bastante bem mas, pelos vistos,
    faltavam-me ainda alguns pormenores.
    Achei piada porque um dos restaurantes onde gosto de comer quando vou para aquelas bandas é precisamente o Lusitano. Bom peixe.
    Um abraço
    Isabel

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  2. Boas amigo Jorge ,antes de mais bons olhos o vejam , dado que ja nao via nada no blog ha algum tempo, quanto a Matosinhos....estou estupefacto!!!! ja nao conheço nada!!! Estava habituado a ver as ruinas das fabricas conserveiras e todo aquele casario que dava para Brito Capelo , ja para nao falar naqueles pequenos barzitos que havia em frente a praia mesmo quase a seguir ao castelo do queijo, pois é , 20 anos de ausencia é mesmo muito tempo !!!!

    JOAO VALE

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    1. João, as Conserveiras são prédios enormes, construídos sem qualquer cuidado nem visual nem ambiental, nem social.
      Ainda há casarios pequenos para as ruas interiores. E os bares também: O Arco-Iris, o Casanova e mais uns dois ou três do nosso tempo...A seguir ao Castelo do Queijo e até à Rotunda da Circunvalação é tudo Parque da Cidade. Mas continua em ruínas o edifício que foi dos STCP e tambem de um Colégio, acho que o Luso-Alemão. Mas tudo está diferente. Um abraço

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  3. querido amigo...mais uma vez obrigada por brindar-me por este passeio em Matosinhos..espero voltar a Portugal e conhecer estes lugares maravilhos..que vc sempre me apresenta..
    abraços desde rio de janeiro!!!
    EnydeLanes

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  4. Uma beleza, matei as saudades desse lugar tão lindo.
    Por acaso não vistes este cãozinho que fotografei lá em Matosinhos ? Deve ser muito famoso, costuma ler o jornal no meio da rua.
    E aquela velha maluca da outra foto já foi detida pela polícia ou voltou ao Brasil ?
    Grande abraço meu amigo.
    Vera

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    1. O cãosito não encontrei e a "VELHA" deve estar na terra dos meus sonhos.
      Ela está linda na foto junto ao Monumento do Naufrágio.
      Um abraço, minha amiga

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  5. Meu Jorge querido e companheiro dos ‘deslumbres’ luso-mar, paz e saúde.Parabéns ao amigo que te acordou cedinho, e, contigo passeou saudades e reviveres nestes caminhos temperados de sol e sal... acompanhei teus passos, admirei como se aí estivesse, esse areal deserto entregue ao mar de vento, formando pequeninos reflexos prateados... E a gaivota que voejava solta me encanta a alma por parceira sermos...E os prazeres dos olhos nas travessas aguçando a gula (Não, não é gula, é prazer indizível!). Os frutos do mar degustados sem pressa, dividido entre olhares e ‘prosas’... e é prosiando que desfrutamos o néctar da vida, da vista, do coração, das alegrias puras e, mais que tudo, relicários para lembrar...Na sexta-feira o programa nosso Globo Repórter, referia-se a Portugal, alimentação e quemais... em virtude de ter tido um evento no Cultural Português, perdi uma boa parte, mas o suficiente para confirmar todas as minhas opções quando aí estive. Meu prato primeira escolha, é SARDINHA! Onde tiver uma delas, é sempre minha refeição. Evidente, que com os detalhes habituais de acompanhamento. Perguntinha: elas ainda estão gordinhas? Nesta época ainda terão o complemento das castanhas, outra delícia que somente aí é igual.Ainda ontem fiz um pargo assado com cebolinhas e batatinhas assadas, com muito azeite e vinho branco, para o casal companheiro, e vinho tinto, que é bem bom, ao menos isto. De sobremesa um resto de pudim e um Porto, meu toque melhor... e assim continuo correndo para viver cada oportunidade. Exemplo, no domingo, missa das 10h, pela premência de compromisso, encomendei picanha no churrasco e salada russa, para o almoço com o casal também, com pressa, pois às 14h autografava coletânea de Autores Gaúchos 2012 na feira do Livro. Durante uma hora, que é uma rotativa de outros livros. Voltei a casa, peguei a prenda de aniversário de uma prima, e lá fui até o anoitecer, que agora já chega mais tarde. Hoje me dei um ‘fica quieta’ para a minha casa. Assim vou dando para o uso... por opção, e escolhas. Abraço carinhoso cá do sul
    Alda

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  6. Lindas fotos parece ter sido um passeio muito proveitoso
    Bem, vi uma foto com inscriçoes em latim e ai vai a tradução e seu autor

    Título: Sitientes Venite ad aquas
    Compositor: Tomás Luis de Victoria

    tradução latim
    Você que têm sede, vinde às águas

    Mary

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  7. Aos amigos interessados na reportagem da GLOBO sobre Portugal e os seus comeres, aqui fica o link:
    http://youtu.be/R6b7EAbExOA
    Mas atenção porque a série comporta várias reportagens.

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  8. As figuras que se encontram no interior do zimbório do Senhor do Padrão representam os 4 Evengelistas e são em pedra calcária. A única forma de evitar a sua degradação, em resultado do ar salino domar, seria levá-las para um museu. A"caixa" é a parte coberta, de inícios do séc. XVIII duma fonte de água doce que teria virtudes curativas devido a ser marcar o local onde terá sido encontrada a imagem do Senhor de Matosinhos. o Zimbório é já da 2ª metade do séc. XVIII.

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