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quarta-feira, 20 de outubro de 2010

48 - Miragaia - Lendas e História

Diz a lenda que a freguesia de Miragaia deve o seu nome a uma Rainha de nome Gaia, esposa do Rei D. Ramiro, de Leão. (http://www.jf-miragaia.net/historia.htm)
Uma outra versão da lenda, recolhida por Almeida Garrett, miragaiense de nascimento, e publicada no Jornal de Belas Artes em 1845, diz que a Rainha se chamava D. Aldora. Pode confirmar-se em http://www.lendasdeportugal.no.sapo.pt/distritos/porto.htm).
Em comum na verdadeira lenda do séc. X, é o Rei ser casado com a Rainha mas gostar da irmã de um Emir que vivia no Castelo de Gaia. O Rei veio pedir a mão da menina, mas levou nega e raptou-a. O maninho chateado com o negócio, foi por sua vez raptar a Rainha e levou-a para o Castelo. O Rei, furioso, juntamente com o filho, arranjou um estratagema para resgatar a Rainha. Para não alongar o enredo, vamos aos finalmentes como diria o sinhôzinho Malta. Rainha resgatada, mas furiosa pela traição doméstica do Rei, diz que no Castelo é que era maravilha a vida e o amor do Emir. O Rei ciumento mata a Rainha no barco do regresso. Para uns, arrancou-lhe os olhos e disse-lhe pela ultima vez mira, Gaia. Para outros atou-lhe uma pedra ao pescoço e mandou-a para os peixinhos na Foz de Âncora. Lá em Gaia, que hoje é Vila Nova de., mas que não faço ideia onde seja. A net pelos vistos também não.
Mira Gaia deu em Miragaia que entre dois séculos, é vista do Palácio de Cristal, a Ocidente. Miragaia vista desde as Virtudes, a Oriente.
Por altura da lenda, ano 932 da nossa era, a Península Ibérica era ocupada por Cristãos e Mouros. Cale ou Gale, significaria Gaia em romano. Mas que provàvelmente derivou do céltico Gall.E Portus o Porto. O Porto de Gaia, seria a Zona Ribeirinha da actual cidade do Porto. Uma nota informativa: A Ribeira, do Porto, não é só aquele local onde andam os turistas a olhar para a Ponte D. Luíz e para as cervejas. É muito mais extensa e cais não faltavam antigamente e quási todos têm ainda os nomes de antanho. Mas continuando. Neste povoado já existia população que vivia da pesca. E aportavam barcos vindos principalmente do Norte da Europa.
À esquerda, Vila Nova de Gaia, à direita Miragaia. Ao fundo, a Ponte da Arrábida.
O tal Castelo de Gaia estava localizado no morro mais alto de Gaia, voltado para o Rio Douro, e terá sido um Crasto Celta. Foi fortificado pelos Mouros e depois pelos Romanos. Durante as Lutas Liberais, D. Miguel o Absolutista, montou aí a sua artilharia. Do lado de cá, as tropas de D. Pedro IV, o Liberal, Constituicionalista, Rei-Soldado, Libertador, Imperador (do Brasil) - cognomes não lhe faltaram - montaram uma das suas baterias nas Virtudes, num dos altos de Miragaia, que acabaram com as de D. Miguel e o resto do Castelo que ainda existia.
Só para refinar a história. Antigamente, Gaia era uma localidade, Vila Nova, outra. No século XIX as duas fundiram-se e formaram o Concelho de Vila Nova de Gaia, elevada a cidade em Junho de 1984. Actualmente e porque o nortenho é comedido em palavras, a gíria normal é tratá-la apenas por Gaia. Mas continuemos a nossa visita por Miragaia, pois a história faz-se passeando. Ainda do alto do Palácio de Cristal, onde as vistas são soberbas, olhamos para o Palácio das Sereias, nome popular, conquanto se chame da Bandeirinha e/ou também dos Portocarrero. É um edifício mandado construir em 1575 por Pedro da Cunha enquanto a esposa Brites Vilhena tratava do Convento de Monchique, já em escrito anterior referido. No século XVIII passou para os Portocarrero. Aquando das invasões francesas, a populaça tomou a sério o nome da família como estrangeiro e foi-se ao filho e fizeram-lhe mil e uma judiarias. E acabou sem cabeça e nas águas do Douro. Mas há quem diga que foi ao Pai que isto aconteceu. Que para o caso não interessa nada.Já descemos do Palácio de Cristal e estamos na Restauração. Olhamos o Bairro Ignêz, grafia não sei de que século, mas o da sua construção foi em meados do passado XX e destinado a habitação social. Creio que foi o primeiro bairro da cidade do Porto para tal fim.
A descida é óptima por umas escadinhas e entramos na que dá pelo nome de Rua de Sobre o Douro. E como não podia deixar de ser o Rio lá está em fundo. Das traseiras do Bairro então o olhar perde-se de amores pelo que consegue alcançar.
Por entre as ruínas do Convento de Monchique, olhamos o Bairro e as raríssimas Palmeiras da Califórnia, que são sete, nos Jardins do Palácio, de Cristal, claro.
Chegamos à confluência das Freguesias de Massarelos e Miragaia descendo por Monchique.
E no que terá sido em tempos idos a passagem para a Rua de Miragaia, cortada pela Rua Nova da Alfândega no séc. XIX, vamos encontrar maravilhas em edifícios originários de muitos séculos atrás.
100 anos é muito tempo, mas as diferenças são pequenas. À direita é o muro que suporta a Rua Nova da Alfandega. Em baixo, começa a Rua de Miragaia. Mas damos meia volta volver e olhamos para baixo do que é hoje o Largo da Alfandega.
E descobrimos a Fonte da Colher, que estava perdida se não fossem as escavações para a Rua Nova da Alfandega. Diz a história que foi construída em 1491 custeada com parte de um imposto cobrado sobre os géneros alimentícios que passavam pelo entreposto de Miragaia no séc. XV, medido por uma colher (?). Os livros não chegam ao pormenor de nos elucidarem sobre o seu tamanho. Mas sendo Imposto, logo o calculamos. Encontra-se encostada a uma casa, resguardada por uma linda varanda. Ao alto, a pedra tem uma inscrição que mal se percebe.Foi restaurada em 1629 e em 1940.
Retornamos à meia volta e entramos no coração de Miragaia. Não faltam pequenos Bares e Tascas onde podemos tomar a cervejinha da ordem sem frescuras nem aos preços exorbitantes da Ribeira mais a Oriente.
Na parte superior, o eléctrico divide o seu caminho com o dos peões, na tal Rua Nova da Alfandega. A não perder uma viagem desde o Infante até ao Passeio Alegre. E volta.
Justificar completamentePormenores não faltam em casas que já foram palacetes de grandes senhores.
O granito e o ferro em funções arquitectónicas.
Encontram-se muitos recantos escondidos, que só a curiosidade nos leva a descobrir.
O problema maior é mesmo descobri-los.
Passear entre e por baixo deles e imaginar o que por ali se passava antigamente.
Justificar completamenteE as Arcadas conservadas como o são desde há séculos. Regressamos à história, que como sempre nos deixa confusos sobre datas. No séculos XII já seria local importante, mas as contradições existem. Uns dizem que cresceu a partir de Monchique outros que foi das Muralhas. E por causa delas.
Alexandre Herculano escreve em Lendas e Narrativas que nos fins do séc. XIV a povoação trepava para o lado do Olival, isto é, para Norte. Isto revela o crescimento da povoação. Entretanto a vida da pesca foi diminuindo, sendo substituída pela da construção naval. Daqui sairam muito dos barcos para a conquista marítima.Os prédios das Arcadas davam para a praia que a Alfandega veio roubar. Foi uma zona que as cheias do Douro flagelavam, antes de existirem as barragens que nivelam agora as suas águas. Era comum transitar-se apenas de barco por estas ruas. Quando as águas chegavam à chamada Ribeira, já Miragaia estava inundada. E de vez enquando lá volta a contecer.
Mais adiante, no Largo onde se encontra a Igreja de S. Pedro, damos com a Fonte do Bicho, adossada à Casa mandada construir pelo Capitão António José Borges em 1821 e que foi o Hospital do Espírito Santo. A fonte nasce porque ao pedir acesso à agua ela era-lhe concedida desde que a distribuísse pelo povo. O Bicho terá uma lenda associada como seja a de um animal estranho ter aparecido por ali. Presumo ser Júlio Couto que escreve no sítio da Junta de Freguesia, mais não lhe parece que um simples golfinho.
Nesta casa nasceu em 11 de Agosto de 1744 o poeta Tomás Antônio Gonzaga, filho de mãe Portuguesa e Pai Brasileiro. É o poeta Dirceu. Entre Portugal e o Brasil faz estudos e a sua vida profissional. É acusado de conspirar na Inconfidência Mineira. Degredado para a Ilha de Moçambique, lá acaba por casar e exercer actividades profissionais para a coroa Portuguesa. Morre em data desconhecida no ano de 1810. É patrono da cadeira 37 da Academia Brasileira de Letras. Recomendo a leitura da sua biografia em http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u418.jhtm e em http://pt.wikipedia.AntonioTomasGonzaga.
Desde a Bandeirinha uma vista sobre a Alfandega com Vila Nova de Gaia em fundo
Do mesmo local mas voltados para Monchique.
Mas Miragaia tem muito mais Histórias e Lendas. E as da sua Igreja não serão esquecidas. É já a seguir.
Bons passeios.

3 comentários:

  1. Caríssimo

    Nas fotografias separadas por 100 anos, dizes que as diferenças são poucas, não concordo:
    na antiga vê-se um só cavalo, na actual já tem cavalos a mais, que qualquer dia nem os burros lá podem andar.
    Mas belo enquadramento.
    Essa do passeio de eléctrico, só têm sido ameaças, não sei é para quando.
    E essa do darmos meia volta tudo bem, mas o "volver", já é deformação militar que permanece por todos os séculos dos séculos... amen.

    Um abraço
    cumprim/jteix

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  2. Continuo sem saber se o Jorge Portojo pode ser comparado ao Prof Hermano Saraiva; creio que não destoava nada.Antes pelo contrário.
    Que isto seja uma Honra e longe de qualquer insinuação perniciosa.
    É que as coisas são tão semelhantes nos caminhos da investigação Histórica que a gente se sente deliciada a ver/ler.

    Palavras para quê? É um Artista Português... do Porto e que ama e vive esta (sua/nossa) Cidade.

    Abraços, Jorge

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