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terça-feira, 6 de março de 2012

117 - À procura do Lugar da Ervilha

O meu passeio anterior e referente à Rua da Vilarinha, terminou no Lugar da Fonte da Moura. Escreveu-me um amigo conterrâneo a fazer pela vida no estrangeiro, interrogando o porquê de Fonte da Moura. Pois bem, segundo a lenda, andavam por ali cavaleiros comandados por D. Afonso Henriques (para quem não conhece a História de Portugal, foi o nosso primeiro Rei) quando encontraram uma Moura. Perguntaram-lhe onde poderiam matar a sede numa Fonte. A Moura respondeu-lhes que era muito longe, mas se o Deus dos cristãos era tão poderoso, que fizesse nascer ali uma e ela se reconverteria ao cristianismo. Dito e feito, a fonte nasceu e e a lenda também. E eu encontrei a história da lenda na Enciclopédia e Dicionários da Porto Editora.
Estava acompanhado pelo meu amigo Peixoto, velho companheiro nas minhas andanças e foi aqui que achamos um simpático restaurante para almoçar.
Por sorte, fazia parte da ementa um prato de Sável, muito apreciado pelo amigo Peixoto que não hesitou na escolha. Para mim um lombo de boi assado, bem fatiado mesmo ao meu gosto. O tinto não estava mal mas o bagaço a acompanhar o café era de 10 estrelas. Via-se mesmo que é o do que o patrão bebe. O preço também esteve em conta, olhando à carestia da vida e ao petisco de rico que o Peixoto escolheu. Esqueci o nome do restaurante, mas fica a uma trintena de metros do início da Avenida Antunes Guimarães do lado esquerdo e de quem vem da Avenida da Boavista. É o El qualquer coisa. Nome espanholito.

Tinha-me proposto ir procurar o Lugar ou Monte da Ervilha, que sem querer descobrira por ter lido algo sobre um Espaldão Militar. Não fazia ideia nenhuma onde ficava. Mas de busca em busca lá encontrei algumas referências.

De mapa e apontamentos na mão - um dos meus poucos passeios mais ou menos orientados - atravessamos a Avenida da Boavista, (uma das grandes obras da Cidade do Porto e a maior Avenida de Portugal em extensão, que liga o Mar desde o Castelo do Queijo ao Centro) e toca de percorrer ruas nunca antes conhecidas.
A poucos metros encontramos a Estátua de Garcia de Orta, que dispensava bem o acessório que lhe colocaram aos pés. Não custa nada referir, até porque me dá muito prazer, que Garcia de Orta foi um cientista nascido em 1500 em Castelo de Vide, no Alto-Alentejo, de pais judeus refugiados em Portugal expulsos pelos Reis Católicos Espanhóis. Foi médico do rei D. João III e pioneiro no Estudo da Botânica, Farmacologia, Medicina Tropical e Antropologia. Encontrou Camões em Goa de quem foi amigo segundo reza a sua bibiografia. Morreu em 1568, em Goa, na Índia para onde tinha partido em Março de 1534 e por lá ficou. Embora a Inquisição também actuasse na Índia, durante a sua vida não foi molestado, bem como a família. No entanto, após a sua morte, todos os membros foram perseguidos e a irmã queimada na Fogueira da Santa Inquisição. Anos mais tarde o seu corpo seria exumado e igualmente queimado.
Embora exercendo a medicina foi também comerciante.
A obra que perpetuou o nome de Garcia de Orta foi o livro Colóquio dos simples e drogas e coisas medicinais da Índia, editado em Goa em 1563 e só anos mais tarde publicado na Europa.
Levava como referência uma Paróquia, Igreja e Convento de que nunca ouvira falar.
Toda esta região era rural, de agricultura e floresta, que se veio transformando desde há umas dezenas de anos em zona habitacional. Terrenos não faltavam.
A Igreja de Cristo Rei e o Convento dos Padres Dominicanos tiveram a sua inauguração em 23 de Maio de 1954, em cerimónia presidida por D. António Ferreira Gomes, o saudoso e querido Bispo do Porto.
Toda a edificação está em 7.000 metros quadrados de terrenos cedidos pela Câmara do Porto em 1950, na altura presidida pelo Prof. Dr. Luíz de Pina, como compensação dos terrenos do antigo Convento de S. Domingos confiscados pela Fazenda após a extinção das Ordens Religiosas.
Mesmo ao lado encontramos o Instituto Cultural D. António Ferreira Gomes, que se dedica ao ensino e divulgação de várias actividades artísticas. Foi inaugurado em 1997.
D. António Ferreira Gomes, Bispo do Porto de 1952 a 1982, esteve exilado entre 1959 e 1969 por ordem da ditadura do Estado Novo e do seu cérebro António de Oliveira Salazar.
Grande intelectual, foi sem dúvida o Bispo mais querido e ainda hoje lembrado pelos Portuenses. Faleceu em 13 de Abril de 1989.

Entre as novas edificações encontram-se ainda vestígios dos tempos rurais. E eis-nos chegados ao Lugar da Ervilha. Meio perdido entre ruas sem saída e caminhos de pé posto, dando voltas sem destino, lá nos aproximamos do fim proposto.
A Rua do Crasto. Comprida, muito arborizada, liga este lugar ao Mar. Desconheço a razão da sua toponímia, mas presumo ser um derivado de Castro, povoação castreja pré-romana que se supõe ter existido não havendo no entanto elementos científicos que o comprovem. Mas descobriram-se utensílios líticos da época Pré-Histórica não deixando dúvidas que foi habitada na Idade do Ferro. 

Por entre os novos e altos edifícios, há que escolher um caminho de pé-posto
para tentar chegar ao centro do Monte.

Entre os altos arbustos que nos tapam a vista abrem-se novos caminhos e sem o supor deparamo-nos com cultivo agrícola em pequenas hortas espalhadas por um relativamente vasto território. Uma pequena conversa com um hortelão para orientação e saber coisas do lugar foi indispensável.
Indicou-nos o senhor hortelão as instalações do Futebol Clube da Foz, clube fundado em 1 de Maio de 1934. Cujo campo de jogos tem o nome de baptismo de Campo da Ervilha. Claro que conhecia o clube. Jogou algumas vezes com (ou contra) o meu Salgueiros. E de repente fez-se luz na minha cabeça. Afinal já andara por aqui.
Uma história simples: Teria os meus 7 ou 8 anos, não sei ao certo, e o meu irmão que já era árbitro de futebol levou-me com ele ao Foz onde foi arbitrar. Não sei como fomos lá ter, mas recordo vagamente que passamos por um caminho. Era dia de chuva e regressamos a casa de eléctrico. Imagino que devemos ter tomado o 4 na Fonte da Moura vindo de Pereiró, saído na Rotunda da Boavista e aí apanhado o 20 ou 21 para o Marquês.
Entre uma rua terminada e um novo caminho lá prosseguimos à conquista do Monte.

Caminhamos entre novas hortas espalhadas pelo Monte, ladeadas por altos edifícios.
Encontrei um arbusto com um fruto que não conheci. Um hortelão disse-me que era de um pé que veio do Brasil. Não sabia o nome e chama-lhe Tangeronas. Mas quem tem amigos pelo mundo há que saber de entre eles quem conheça o fruto. A resposta veio breve. O seu nome é tamarillo ou em português tamarilho. Oriundo dos Andes da América do Sul, é também cultivado no Brasil, onde toma o nome de Tomates (Japoneses, Ingleses, Arbóreo, ou ainda, conforme a região Brasileira, de Tomatão, Tomate Francês e Tomate de Árvore). Descobri que também se cultiva em Portugal, principalmente na Madeira com o nome de Tomate Brasileiro. Que bom é saber coisas novas.
Um bonito Faval já em flor.

Um dos hortelãos - esqueci de perguntar o nome - com quem conversei disse-me que toda aquela zona habitacional pertenceu a um Dr. Fontes. O que resta dos terrenos do Monte os herdeiros cederam aos hortelãos. A única paga e já não deve ser pouca é que os terrenos foram e estão limpos.
Mas também vinha à procura do Espaldão Militar de que tomara conhecimento existir aqui. No meio de alguns terrenos não cultivados vêm-se pequenos montes com uma altura talvez de 3 a 4 metros, totalmente cobertos de vegetação alta.
Vamos à História segundo o IGESPAR. Na sua página recolhi a informação de que no Monte ou Lugar da Ervilha foram feitos estudos arqueológicos numa área de 156 metros quadrados devido a um processo de loteamento do local. Acho que esta medição está errada pois é uma superfície bem pequena em relação ao  edificado e aos terrenos que se vêm, mas para o caso não interessa nada. Pelo seu fraco interesse arqueológico os estudos foram abandonados em 1995.
Aqui existiu um espaldão militar, conhecido como do Porto, da Ervilha ou Forte da Ervilha, utilizado na Guerra Civil de 1828-1834 (mais conhecida como Lutas Liberais) para albergar a artilharia das Tropas de D. Miguel. Este espaldão construído com muros de pedra e valas era considerado inexpugnável. Durante os estudos arqueológicos foram descobertos espólios diversos bem como uma plataforma em pedra onde terá assentado uma peça de artilharia. Embora degradado é um dos poucos vestígios arquitectónicos do Cerco do Porto. O Espaldão foi tomado pela Tropas Liberais em 24 de Janeiro de 1833.

Deixamos para trás a Ervilha e encontramos uma rua que nos guia até ao Mar.

É a Rua do Ribeirinho, julgo ser assim chamada porque bem próximo,
embora mal se distinguindo, passa um fio de água.
Quem sabe, talvez tenha sido já um ribeirinho à séria
Embora de há 1 ano e meio atrás, esta é a imagem mais ou menos actual do
Lugar da Ervilha.
E fomos à mais apetecida lourinha que há muito nos esperava na esplanada
 em frente ao Mar. A tarde foi longa e a sede apertava.

sexta-feira, 2 de março de 2012

116 - A Vilarinha

Comecei a ouvir falar da Vilarinha muito novo, por causa das corridas de automóvel que se realizavam nos anos 50 do século passado no Circuito da Boavista. Fixei nomes como Vasco Sameiro, Casimiro de Oliveira (irmão do Manoel a quem me referirei mais à frente), Nogueira Pinto.
Vilarinha é um nome originário do românico Villae e era - é - um lugar na localidade de Aldoar, este de origem árabe. A história da Freguesia fica para outra altura. Era uma povoação entre o Porto e Bouças, actual Matosinhos.
Fui descobrir a Rua da Vilarinha que nunca percorrera, começando o passeio desde a Estrada da Circunvalação. Na esquina, o antigo e recentemente remodelado Teatro da Vilarinha, Casa da Cultura de Aldoar, pintado com uma cor horrível - na minha opinião, claro - , cujo edifício já serviu de Posto Alfandegário na altura em que as mercadorias entradas na Cidade do Porto pagavam imposto. Posteriormente foi a sede da Junta de Freguesia.
O Teatro alberga a Companhia Pé de Vento, formada em 1978, cuja actividade cultural divide com outras áreas.
A rua encobre uma parte do caminho antigo que os Romeiros e Peregrinos percorriam até ao Bom Jesus de Bouças, que como atrás referi, agora se chama de Matosinhos. Ao longo da Rua vêem-se alguns edifícios do séc. XIX.
Uma antiga escola primária, bem recuperada pelo menos exteriormente, está abandonada e coberta de silvas. Presumo que seria a Escola nº 26 e o seu abandono deve ser relativamente recente, pois vi uma foto dos anos 80/90 em que a encosta do pequeno monte estava lindamente ajardinado. Incluindo um emblema florido que presumo ser da heráldica de Aldoar. Lema Português: Em vez de se utilizarem os edifícios para qualquer coisa, é melhor deixá-los ao abandono. Assim não tem custos.
Um pouco mais abaixo encontra-se a Igreja da Vilarinha, inaugurada em 1738, embora no Portão esteja gravado o ano 1892. Talvez esta seja a data da cêrca. Mas antes vamos até ao Núcleo Rural de Aldoar, integrado no Parque Ocidental da Cidade, que dista da Rua da Vilarinha uma vintena de metros.
Aldoar era um lugar essencialmente rural. Este núcleo é formado por 4 quintas que foram sendo abandonadas.
As Casas, umas, residências, outras, cortes de animais e guarda de utensílios de trabalho, foram recuperadas e mantiveram o seu aspecto antigo. Agora albergam serviços camarários e de apoio ao Parque, bem como uma cafetaria e um picadeiro. Espigueiros também foram recuperados. Aos sábados julgo que ainda se realiza uma feira de produtos artesanais.
Regressados ao nosso itinerário principal, encontramos o novo edifício da Junta inaugurado em 1989 e a Velha Fonte de Aldoar de 1902.
Em frente fica a antiga Igreja da Vilarinha, dedicada a S. Martinho, padroeiro da Freguesia. Este S. Martinho foi o soldado romano, pagão, que dividiu a capa com um mendigo. Homenageado em Marte, o Deus da Guerra. Nascido na actual Hungria em 315, enfrentou o exército Bárbaro sem armas. Tudo pela visão que teve de Deus, após o repartir da capa com o Mendigo. Reconvertido ao Cristianismo, daí a Santo foi um pulinho.
Em redor da Igreja há um grande parque lindíssimo e bem conservado. Pelo menos à vista de longe, pois está fechado ao público. No exterior, vê-se um cruzeiro sem qualquer referência.
Em frente, as tradicionais alminhas que encontramos por muitos locais na Cidade. 

A Casa de Manoel de Oliveira. Que se pronuncia  mɐnuˈɛɫ doliˈvɐjɾɐ segundo a Wikipédia na página da sua biografia. Com a devida vénia transcrevi tal qual lá está pelo processo copiar/colar. Só ampliei um pouco para melhor leitura dos meus visitantes. Para mim parece escrita aeroglifica, mas para o caso não interessa nada.
Manoel de Oliveira, (respeito o nome inscrito no que presumo ser a sua certidão de nascimento, - num dos cartazes, pois há vários, publicitando o filme Aniki-Bóbó está escrito Manuel o que deve ter sido considerado um desaforo -), é como todo o mundo sabe, o realizador de cinema mais antigo no mundo vivo. Nasceu em 11 de Dezembro de 1908. E ainda quer fazer muitos filmes. Além de realizador, foi corredor de automóveis e actor, praticou salto à vara no Sport, esteve ligado ao Teatro Experimental do Porto (creio que foi um dos fundadores). Da sua casa propriamente dito,para além do muro junto à rua, apenas se consegue ver a parte superior de uma chaminé. Autentica fortaleza.

Do outro lado da rua, um pouco à frente no sentido do meu percurso, duas tradições do Porto Cidade. Uma residência operária, (era assim que se chamavam oficialmente por viverem nestes aglomerados as pessoas de menores recursos económicos mas a que o portuense lhes chama ilhas) e um velho fontenário, provàvelmente como muitos outros, construído na Fundição de Massarelos.
Dei um desvio para a Rua do Jornal de Notícias - parabéns JN pelos 123 anos - para ir conhecer a nova Igreja matriz de Aldoar, inaugurada em 1988.

A Rua Jornal de Notícias

Uma das novas escolas de Aldoar. Esta me parece ser um infantário.

Edifícios simples mas de bonita construção civil vêm-se ao longo da Rua da Vilarinha.
Deva-se dizer que foi uma das ruas do Porto, no limite da Cidade, habitada pelos ricos.
E chegamos ao fim, na junção das Avenidas da Boavista e Dr. Antunes Guimarães.
Aldoar continua para além, mas isso ficará para novas histórias de outras caminhadas .

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

115 - Belomonte e S. João Novo

Belomonte (ou Belmonte) foi uma das quatro freguesias em que a da Sé se dividiu em 1582, ficando com o nome de S. João Baptista de Belomonte, sendo extinta em 1592 por ordem do Bispo D. Jerónimo de Meneses e integrada na freguesia de S. Nicolau. Este Bispo foi reitor da Universidade de Coimbra e Bispo de Miranda. Exerceu o Bispado no Porto entre 1593 e 1600. Num aparte, como pode ter extinto a freguesia em 1592 ? Coisas da História ou erros dos sites.
Proponho uma volta subindo desde o Largo de S. Domingos
a Rua de Belomonte até ao Largo de S. João Novo,
descendo depois a Rua com o mesmo nome. A passeata está referida no mapa.

O Largo de S. Domingos e os seus monumentos e comércios velhinhos já referi anteriormente. Para os curiosos, ver as postagens 20 e 25 e a etiqueta S. Domingos.

Tendo atrás S. Domingos e à esquerda a Rua Ferreira Borges inicia-se aqui a Rua de Belomonte, assim chamada porque no fim - e antes do Largo de S. João Novo onde termina - existia um cruzeiro denominado Padrão de Belmonte.

É uma rua antiquíssima mas que aparece referida pela primeira vez numa escritura de 1503, na qual se aforavam trinta varas de chãos ao armeiro Álvaro Gonçalves para aí se construir cinco moradias...
Álvaro Gonçalves é um personagem referido no romance histórico A Última Dona de São Nicolau, episódio da História do Porto no séc. XV (1864) de Arnaldo Gama (os interessados podem ler o livro escrito como no original em  http://books.google.pt/books?id=JmYuAAAAYAAJ&hl=pt-PT&pg=PA1&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false )

A iniciativa partiu de uns Frades - terão sido os Eremitas Calçados de Santo Agostinho ?- que determinavam serem as moradias construídas acima da Viela da Esnoga (Sinagoga). Bom, acho que aqui haverá um erro (ou falta de compreensão minha, talvez) porque a antiga Viela da Esnoga ( posteriormente Rua de S. Roque, porque teria havido uma ermida ou oratório, e também Viela de Luís Coelho) é hoje chamada Rua da Vitória. No entanto as Escadas da Vitória que vêm dar a Belmonte são as antigas da Esnoga. Com um belo prédio a ruir.

A Tipografia Heróica, inaugurada há muitas dezenas de anos, segue a tradição da produção e impressão das populares Quadras Sanjoaninas, que enfeitam os vasos de manjerico e os bolos de S. João. O seu primitivo dono, com quási 90 anos, vendeu o negócio há uma dezena.

Outro velho comércio, tipo tem tudo de antigamente, com o seu dono ao balcão também já de idade avançada. Lendo o jornal, vício com muitos anos e que sempre se praticou no Porto quando não haviam clientes para aviar.

Continuando a subir a rua, a meio avistamos bem próximo o final da Rua das Taipas, à direita, que aqui desemboca.

À esquerda encontramos o Palacete de Belomonte (ou Belmonte) do séc. XVIII, que foi a Casa dos Pacheco Pereira, adquirido em 1888 pela Companhia dos Caminhos-de-Ferro Através de África (também conhecido como Companhia de Ambaca).
O Brazão da Família foi substituído pelo da Companhia aquando da sua aquisição. Hoje o Palacete alberga um núcleo da Escola Superior Artística do Porto. Pessoalmente, repugna-me aqui entrar por causa do aspecto sujo e pouco cuidado e a escuridão do hall da entrada. Imagino como sendo uma casa de conspiração secreta.
Olhando para trás, os tons dourados de fim de tarde pintam de cor o morro e a Catedral da Sé do Porto. Infelizmente, as ruínas de algumas casas em Mouzinho da Silveira não podem ser retiradas...

Numa antiga drogaria, está instalado o Teatro de Marionetas do Porto, fundado em Setembro de 1988, integrando o reportório do Teatro Dom Roberto, fantoches de tradição bem Portuguesa. Para breve, segundo escreve a companhia, estará pronto o Museu de Marionetas do Porto.
No fim da Rua, provàvelmente onde existiria o tal cruzeiro, vamos então encontrar o Largo de S. João Novo.

Um olhar para trás fixando esta Rua do Velho Porto e Património da Humanidade.

Já no Largo encontra-se o Palácio de S. João Novo situado junto a um pano que ainda existe, da antiga muralha da cidade. Foi mandado edificar em 1727 por Pedro Costa Lima, fidalgo da Casa Real e administrador dos estaleiros da Ribeira. Depois da sua morte vários foram os fidalgos que o habitaram. Talvez por isso a Câmara Municipal do Porto chama-lhe Palácio dos Leites Pereiras de Melo e Alvim. O seu projecto foi durante muitos anos atribuído a Nicolau Nasoni, devido à exuberância dos elementos exteriores. No entanto, actualmente confirma-se que a traça do palácio foi elaborada pelo mestre António Pereira.
Na Guerra Peninsular, mais conhecida em Portugal como das Invasões Francesas (1807/1811), o Palácio foi ocupado pelos Franceses durante a segunda invasão em 1809. Serviu também de Hospital das Tropas Liberais de D. Pedro IV aquando do Cerco do Porto.
No final das Guerras Liberais, o palacete foi devolvido aos seus proprietários que o viriam a alugar à Tipografia Comercial Portuense e posteriormente à Junta da Província do Douro Litoral que em 1945 instalou o Museu de Etnografia e História, considerado um dos mais ricos do País. Devido a sinas de degradação, potenciados por um incêndio ocorrido em 1984, o palácio foi encerrado desde 1992 e até hoje. E o acervo do Museu onde está ?  Já fiz esta pergunta várias vezes, mas ninguém me responde...Mas no site da Câmara, no local referente à Toponímia da Cidade, 10 anos depois de fechado ainda refere que lá está o Museu. Como este site é só actualizado para reverenciar o querido Presidente Rui Rio, tudo que não lhe diga respeito nem sequer conta para a história. Adiante.

No Largo chamado então de Nossa Senhora da Esperança e nas Muralhas Fernandinas que aqui passavam, rasgava-se a Porta da Esperança. Existia uma Capela dedicada a S. João Baptista, que o Bispo D. Jerónimo de Meneses doou aos Eremitas Calçados de Santo Agostinho. Já nada disso existe, mas temos o Fado, uma das poucas e boas casas da Cidade onde ele ainda se canta. E se come bem, diga-se de passagem.

Ora os Eremitas Calçados de Santo Agostinho acharam a Ermida pouco própria para as suas necessidades e por bem, com o beneplácito do Bispo D. Jerónimo, (e depois com o dos seus sucessores D. Fr. Gonçalo de Morais e D. Fr. João de Valadares para a continuação da obra) iniciaram a construção de uma nova Igreja e Convento. As obras terão começado, segundo uns em 1592, segundo outros em 1613. De quaisquer das formas, demorou a construção muito tempo, sendo dado como concluída em 1779. O arquitecto é desconhecido, mas há quem diga que a fachada do templo pela sua monumentalidade, está desproporcionada entre os seus elementos. Para mim, leigo puro, é uma obra colossal.
Sempre conheci esta fachada negra. Sei que o granito contem elementos negros. Mas como gostaria de ver um dia esta fachada mais clarinha.

O local na altura chamava-se Sítio da Boavista, S. João do Monte ou de Belomonte. A Igreja e Convento foram dedicados a  São João de Sahagún ou João de São Facundo, nascido Juan Gonzalez de Castrillo Martinez de Sahagun y Cea, na Vila de San Facundo, actual Sahagún (Salamanca, Espanha) em 1419. Ingressou na Ordem dos Agostinianos em 18 de Junho de 1463 e fez a sua profissão de fé em 28 de Agosto de 1464. Foi sacerdote, teólogo, prior do convento de Salamanca, beatificado em 1601 e canonizado em 1690. Faleceu em Salamanca a 11 de Junho de 1479.
Para evitar confusões com tantos S. Joãos, ou como nós portuenses dizemos, S. Joões, o Largo e a Rua ficaram toponìmicamente a chamar-se de S. João Novo.

A Igreja guarda obras de arte dos séculos XVII e XVIII, entre outras. Os azulejos que em parte a revestem são de 1741.
Quando olho a abóboda em pedra e a sua altura, fico com um sentir de insignificancia. Provàvelmente é esta a Igreja da Cidade que mais me arrepia. 
Devido à extinsão das Ordens religiosas o Convento foi abandonado em 1832. Desde 1863 o Tribunal Criminal e Correccional do Porto foi aqui instalado conservando o antigo nome do convento. Ainda hoje por cá se mantém. É o Tribunal de S. João Novo pura e simplesmente.


A Rua de S. João Novo é estreita e pequena. Quem na desce, do lado direito, repara que quási toda ela é ocupada pelo ex-Convento. Do lado esquerdo, habitações e comércios. No que terá sido um jardim, hoje parque automóvel de serventia ao Tribunal, vemos um pequeno panorama sobre a zona histórica. Na foto, algumas habitações e no alto as trazeiras de outras habitações em Belomomte. 
O final de linha é na Rua do Comércio do Porto, que também foi da Rosa e Ferraria de Baixo.
E que guarda muitos significados históricos, palacetes e igrejas
Coisas que ficarão para um novo passeio.

Uma nota final. Durante as minhas pesquisas encontrei algumas discrepâncias sobre datas. Das que mais me chamaram a atenção foram as da beatificação e canonização de Frei João de S. Fagundo. Na dúvida, escrevi a que me pareceu mais acertada e que recolhi em http://www.midwestaugustinians.org/saints/s_johnsahagun.html