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quinta-feira, 5 de novembro de 2015

231 - Memórias de uma viagem - Sintra, Parte I

Um convite que não podia recusar levou-me ao centro de Portugal em várias etapas mas em viagem rápida.
A primeira etapa tinha o fim em Sintra, numa "directa" desde o Porto.

Paragem já bem próximo mas ainda no concelho de Mafra para apaziguar os "males" do estômago, bem resolvidos numa casa onde a simpatia impera, o bagaço é mesmo de lei e à disposição e os preços nada extravagantes.

Três pedaços de Vitela assada, fatiada como gosto, estavam no ponto.


Casa a recomendar

Informações precisas do dono do restaurante levaram-nos até ao centro da Vila de Sintra, onde os turistas a monte guiados ou não pelas bandeirinhas das cicerones,  andam pelo meio da estrada-rua e atravessam-na fora das passadeiras (zebrados) que estão a 5 metros.

A primeira vez que fui a Sintra também em viagem rápida já tem mais de 40 anos. Regressei uma segunda vez em meados dos anos 80, mas não passei do interior de uma casa das queijadas - que por sinal não gosto - a convite de um pseudo amigo na tentativa de me aliciar com projectos profissionais de muito mau gosto.

O destino final da primeira etapa era o Palácio da Pena, mas as informações-direcções na Vila estão em locais de fraca visibilidade parecendo não recomendados a turistas nacionais, desconhecedores do itinerário e simultâneamente a terem muita atenção ao trânsito pedestre e não só.
Vimos imensa gente até de alguma idade a fazer percursos a pé. As distâncias relativamente não são longas, mas as subidas são bem ásperas.

Fiquei com a impressão que o turismo em Sintra é dedicado aos estrangeiros. Subindo para a Pena, estacionamentos é como se não existissem, com excepção para autocarros de excursões e para as motoretas de passageiros a que chamam de truca-truca. Os poucos parques de ligeiros estão a centenas de metros, pequenos e cheios, o que dá vontade de mandar passear a visita. Hoje sei que poderíamos usar transportes públicos que saem junto da estação ferroviária e nos deixam próximos da entrada do Parque.
Entretanto os utilizadores-locais daquelas estradas apertadíssimas, julgando-se os donos daquilo tudo voam com os seus bólides, desrespeitando regras e buzinando como se houvesse incêndio na serra.
A visita do Parque e Palácio custa a insignificância de 14 euros. Não é permitido fumar aos visitantes passada a entrada, sendo excepção para os motoristas dos autocarros da casa estacionados a 50 metros e que nos transportam até à entrada do Palácio.

O Palácio é lindinho para fotografar, com as suas cores berrantes e contrastantes, os seus estilos arquitectónicos castiços, dizem os especialistas que é uma maravilha do romantismo alemão.
Em Julho de 1972, numa manhã de nevoeiro, coisa normal em Sintra


O rei-consorte D. Fernando II - terceiro esposo de D. Maria II, nascida no Brasil e filha de D. Pedro IV (1º do Brasil) uma infeliz esposa e mãe - alemão de origem, comprou em 1838 um antigo convento abandonado do séc. XV ofertado por D. Manuel I aos monges da Ordem de S. Jerónimo;

Recuperou a capela, a sacristia, algumas dependências e a torre sineira ficando a chamar-se o Palácio Velho.
Capela devota a Nossa Senhora da Pena, com a configuração original do séc. XVI. O retábulo é da autoria de Nicolau Chanterene e foi executado entre 1529 e 1532.

Em 1843 o excêntrico rei mandou construir uma nova ala dirigindo as obras o Barão de Eschwege, (engenheiro de minas a trabalhar em Portugal e depois no Brasil levado pela família real quando fugiu sob a ameaça das Invasões Francesas. Vale a pena ler a sua biografia na Wikipédia.)

Misturaram-lhe estilos góticos, árabes, manuelinos e chamaram-lhe o Palácio Novo. 

Uma outra ala foi construída fantasiando um castelo imaginário com caminhos da ronda, ameias, torres de vigia, merlões, túneis e ponte levadiça.
Um pormenor do Caminho da Ronda.
Entretanto admire-se o que nos rodeia.

As obras terminaram em 1860 e seguiram-se as decorações interiores.
Morreu a Rainha D. Maria após o nascimento do 11º filho - nado-morto como muitos outros e o alemão casou com uma senhora alemã, cantora lírica, mando-lhe construir um chalé - que não visitamos -. À sua morte legou o Palácio e o Parque à já duquesa de d'Edla que acabou por vender ao Estado Português após questões em tribunais.

Salão Nobre.
Inicialmente pensado para ser a Sala dos Embaixadores, foi transformado em 
Sala de Bilhar e remodelado a partir de 1865

Sem dúvida que os interiores são magníficos mesmo para um leigo. Mas não julguem que vão descobrir a história das vidas que lá se desenrolaram.
Sala de Visitas
Já teve esta decoração. Agora é uma sala de passagem
A decoração de 1854 é do cenógrafo italiano Paulo Pizzi. 
Representa uma arquitectura islâmica sob uma abóbada vegetalista

Direi que é mais um Museu, com peças adquiridas pelo proprietário D. Fernando II e outras vindas de vários Palácios. Assim como estarão neles peças idas deste. Foi a informação lida num dos sites sobre Sintra.
Fotos antigas das salas visitadas, mostram-nos decorações de aposentos que agora não são visíveis.
A primeira grande sala do Palácio Novo é a Sala de Fumo. O tecto é de inspiração islâmica e revela o gosto pela arte mudéjar.
O lustre rócócó é de meados do séc. XIX e representa em vidro uma trepadeira Glória-da-Manhã com cacho de uvas. O mobiliário da sala é indiano e foi adquirido em 1940.

Sala dos Veados
Sala de Banquetes do Palácio, concebida como uma Sala de Cavaleiros.
A mesa redonda está em reserva e a actual decoração presumo que seria mais ou menos
a projectada inicialmente

Cozinha Real, a maior do Palácio, destinava-se a servir os banquetes na Sala dos Veados.

Uma nota curiosa. Não encontramos a entrada para o interior visitável e eu andava furioso por essa razão. Chateados, acabamos por descobrir a Cozinha Real e um caminho proibido. Fomos investigar e demos com o que é o caminho do fim da visita ao interior do Palácio.
Como devem calcular, subornamos as guardas-cicerones que encontramos pelo caminho com o velho sorriso galanteador e explicações tipo "perdidos no trânsito", e visitamos o Palácio de costas.


A natureza envolvente é maravilhosa. D. Fernando II mandou plantar variadíssimas espécies de árvores de quase todo o mundo no Parque que não visitamos, mas uma parte foi descido por um dos caminhos. Ficará para uma próxima vez.

As fotos do Palácio mais antigas e alguns textos foram pesquisadas-pesquisados no site http://parquesdesintra.pt

Fim da primeira parte

6 comentários:

  1. Subornar cicerones não vale.-Bonito trabalho-Parabéns.

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  2. Um homem do norte cheio de memórias incrustadas de bolanhas, céus polvilhados de estrelas, quer lá saber de quijadas. Para mais sabendo-se que fazem mal à saúde. Estiveste aqui perto, eventualmente poderiamos ter molhado o bico. Fica para outra vez.

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  3. Mesmo para quem já conheça Sintra e o seu Castelo, encontra nesta postagem detalhes muito interessantes e pormenorizados das suas belezas.

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  4. Gostei de (re)ver Sintra.Parabens pela reportagem......

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  5. Caro Portojo: Apesar de "tripeiro" de gema, e de não trocar o porto por nenhum outro lugar, conheço muito bem Sintra e seus recantos (por força de muitas visitas à família que lá viveu durante quase 40 anos). Acredite que Sintra tem muitos mais encantos que merecem ser visitados e espero que o faça quando lhe for possível. Quanto às "queijadas" provavelmente não provou as boas queijadas da pastelaria Periquita. Experimente e depois deiga-me alguma coisa. Não esqueça também os célebres travesseiros de Sintra no mesmo lugar. Vai ver que muda de opinião. Abraço

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  6. Jorge Portojo , estou re - conhecendo Portugal por seus olhos ! Fotos lindas , informações interessantes ! Brasileira que sou e ótimo ver o estudo desse lindo pais feito por um nativo!

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