Casa coisa a seu tempo.
A poucos quilómetros da Aldeia de Vila Cova, freguesia do concelho de Vila Real, passa a velhinha estrada nº 15 que liga o Porto a esta Cidade.
É uma aldeia igual pelas circunstâncias, a muitas do meu-nosso Portugal. Desertificada, terra de muita emigração, mas onde os velhos teimam em fazer os seus campos e a tratar do seu gado.
Deveriam ser criadas em Portugal as Aldeias do Granito, como há as do Xisto. Vila Cova seria um dos itinerários.
A par do granito, as casas dos emigrantes na paisagem da aldeia interior dão-lhe outra vida.
Vamos às Minas.
Entrada do túnel, visto agora. Ouvi num vídeo pela voz de um antigo trabalhador,
que a profundidade chegou a ser tal que quase chegava à aldeia.
A mais de 70 metros.
O Túnel creio que em finais da década de 70 do século passado,
quando as minas encerraram definitivamente. Foto encontrada na internet.
O época do Volfrâmio acabara, a do ouro há séculos e o Marão começou a ser explorado para a recolha do ferro. As magnetites do ferro. Assim nasceram as Minas de Vila Cova, SARL.
Antigas instalações: Escritórios, marcenaria, serração, enfermaria, cantina, posto de transformação eléctrica. As Minas chegaram a empregar mais de 700 pessoas.
Foto recolhida na net sem data e sem referência, do
complexo das Minas de Vila Cova.
Nasceu a Siderurgia do Marão para tratar as magnetites do ferro extraídos de Vila Cova. Era um anexo mineiro, que mais tarde (ou paralelamente, não sei) tratava as mgnetites de outras minas espalhadas pelo Marão.
Pormenor das instalações da Siderurgia do Marão na Campeã, lugar fronteiro a Vila Cova.
Pormenores actualmente - acima e abaixo nas fotos - do local das
antigas instalações da Siderurgia
O excedente do consumo nacional era exportado, mas a preços baixíssimos. As minas e a siderurgia entraram em rotura.
Os fornos foram desligados e reabertos anos depois. A grande maioria da produção passou a ser termo-eléctrica e o sonho da termo-siderurgia acabou e os fornos encerraram de vez nos finais da década de 70.
Um sucateiro italo-brasileiro arrematou este e outros fornos em Portugal por valores irrisórios e segundo se supõem levou-os para a Venezuela.
Nas encostas do Marão a estrada do ferro, passando junto da actual IP4 que um dia, não se sabe qual, fará parte da A4.
Próximo corre também a N15. Um pormenor das 3 estradas nas proximidades da Estalagem do Marão.
Em cima um aspecto mais alargado da região e em baixo, a entrada de uma das minas no Marão e a estrada do ferro.
Chegados aqui, perguntar-se-ão os meus queridos leitores se ainda se lembrarem, porque comecei esta historieta referindo as minhas memórias onde elas estão. Pois aqui vão.
Há muitos anos, nos princípios da década de 60 do século passado, era eu um menino e trabalhava numa empresa da indústria gráfica - Litografia Artistas Reunidos, fui destacado para acompanhar o meu patrão, o senhor Armando Monteiro, pilotando o seu Studebaker de cor creme e castanha (não sei de que ano era o modelo nem interessa para o caso) para entregar nas Minas de Vila Cova SARL, uns calendários de fabrico luxuoso que nos haviam encomendado.
Eram em tons de sépia e creme com fotos de Minas e outras. Forrados com uma capa em papel vegetal e as folhas presas por espiral de arame cobreado. Não me perguntem mais nada, porque não me lembro.
Sei que fomos recebidos numa sala luxuosa de um casarão ceio que localizado na Rua António Patrício, e tanta o senhor engenheiro que nos recebeu, como o meu patrão, estavam vestidos com sobretudos que hoje presumo serem (terem sido) de pêlo de camelo.
O meu amigo Fernando Súcio atura-me e de que maneira. Faço-lhe perguntas - o seu Pai trabalhou nas minas - rebusco-lhe nas memórias e tento metê-las nas minhas. Sem ele nunca conheceria os locais nem saberia tantas histórias.
Pesquisei muitos sites mas todos vêm dar a este:
http://www3.dsi.uminho.pt/ebeira/setembro_05/docs/livro_final/20almeidaesousa.pdf
É um texto escrito pelo Engenheiro Almeida e Sousa que esteve ligado às Minas e à Siderurgia Portuguesa.
Lembro-me dele em artigos escritos no Jornal de Notícias. Presumo que ainda é vivo.
Foi mais um encontro com as minhas memórias.
Poucas vezes fui de Vila Real para Mondim, pela estrada da Campeã, porque a estrada era sinuosa, embora com belas paisagens e lembro-me perfeitamente das minas de Vila Cova, até porque em Cerva também haviam as minas e aquelas faziam-me lembrar as nossas.
ResponderEliminarObrigado Portojo por me lembrares os meus lados.
Um abraço.
cumprim/jteix
Caro Amigo
ResponderEliminarÉ sempre com enorme prazer que leio os seus textos e/ou as suas fotografias legendadas com sentido histórico e, por vezes, com humor.
Aqui, tive entrelaçado o seu texto- crónica com belíssimas fotografias do nosso Portugal tão pouco amado e tão pouco conhecido.
Valha-nos S. Portojo que vai espalhando com o seu engenho e a sua arte as suas memórias para que celebremos o nosso País e não nos deixemos derrotar pelos feios, ....... e maus que são os políticos deste cantinho à beira mar plantado (pelo menos, a grande maioria).
Um abraço da
Mª Cândida
Jorge
ResponderEliminarTú colaboras de forma muito especial com a divulgação das belezas do teu país.Poucos brasileiros e creio que também pessoas de outras nacionalidades, tem a oportunidade de conhecer os pormenores , os sítios e como não dizer, as memórias desta nação tão rica e tão grandiosa que é Portugal.
E assim tu ofereces atravez dos teus trabalhos, tuas fotos, teus conhecimentos e também de tua capacidade e sabedoria, a oportunidade
para as pessoas fazerem esta viagem fantástica .
Agradeço-te mais uma vez pelo magnífico presente que nos oferta
Um abraço com carinho
Elci Teixeira
Obrigado Elci, pelo comentário. Aliado ao prazer de aumentar os meus conhecimentos, é uma obrigação dar a conhecer a nossa Terra e as nossas Coisas.
EliminarDesconhecia completamente estas minas. Normalmente, quando se fala em minério de ferro, fala-se em Moncorvo e não em Vila Cova. Muito obrigado por esta lição. Sempre a aprender.
ResponderEliminarO eng. Almeida e Sousa ainda está vivo e escreve sempre uma crónica na revista mensal "O Tripeiro", de que é diretor honorário. Apesar da sua idade, que já deve ser muito avançada, foi e continua a ser um homem dotado de uma ampla visão e de uma vasta cultura, não só técnica e científica, mas também literária. Homens como ele já não se fazem mais. É sempre com muito agrado que o leio. Quanto à revista "O Tripeiro", que é editada pela Associação Comercial do Porto e cuja leitura recomendo, está à venda nos quiosques e tabacarias da cidade e, tanto quanto sei, não tem qualquer página na Internet.
Bom dia amigo Fernando Ribeiro. Obrigado pela sua mensagem.
EliminarÉ sempre bom ver lugarejos de Vila Cova, pois é o meu berço.
ResponderEliminarA foto referente às Minas de Vila Cova é de 1956,foi retirada do "Tripeiro, Série Nova - Ano IX nº 12 DEC1990 ", onde existe uma outra e tirada do mesmo ângulo, sendo esta de 1937 . Podendo-se assim ver a evolução das Minas de Vila Cova. Rendo aqui a minha homenagem ao Dr. Ângelo César o maior impulsionador do complexo Mineiro da Bacia da Campeã. Diria de todo o complexo mineiro (magnetite) de Trás-os-Montes, com a criação do forno.....
Obrigado pela sua visita, caro amigo
EliminarCaro Senhor
ResponderEliminarO meu pai, falecido há 6 anos, com 92 anos de idade trabalhou na lavaria da Vicominas ( chefe de Turno), na Sardoeira e morávamos em Pousada, freguesia da Campeã.Ajudou a montar o grande Forno e eu, dos 9 aos 13 anos conhecia todos os locais das minas. A transformação do ferro em lingotes era qualquer coisa de fantástico!
Otilia Ribeiro
Boa noite. É com enorme agrado que encontro este pequeno pedaço de história da Vicominas. Sou nascido e criado em Vila Cova, e talvez devido a isso cresci a ouvir o meu avô contar diversas passagens da sua vida como trabalhador da Vicominas. Muitas vezes visitamos o complexo, já abandonado e muito degradado mas mesmo assim, ouvir as histórias dele naquele lugar tão tranquilo faziam me imaginar que tudo aquilo estava ainda em funcionamento. Sou um apaixonado pela história das minas de Vila Cova, tenho a certeza que foi o marco mais importante da história da minha aldeia não só pela dimensão que a empresa tinha na altura mas também devido aos avanços tecnológicos e sociais que trouxeram, naquele tempo, para as nossas gentes. A minha paixão pela história deste complexo mineiro fez me desenvolver um pequeno filme sobre o mesmo que certamente vocês já encontraram na internet e que presumo que seja o que é falado neste texto. A fotografia que dizem não saber a data, talvez a tenham encontrado no blog que desenvolvi para o projeto e segundo quem ma cedeu posso adiantar que data de 1956. Agradeço profundamente a divulgação do meu vídeo, de textos, fotografias e tudo o que tenha a ver com a história da Vicominas porque afinal de contas é tudo que nos resta hoje em dia...até as ruínas estão a desaparecer. Há cerca de um ano o ministério do ambiente e a EDM mandaram demolir alguns edifícios que ainda lá existiam, mandaram tapar as entradas das galerias, por questões de segurança diziam eles. Tentei opor-me, mas sozinho não consegui fazer muito mais, por isso mesmo digo que a história deste complexo mineiro hoje em dia é tudo o que nos resta. O meu sonho era um dia poder ver naquele local um museu sobre a Vicominas, muitas pessoas têm também o mesmo desejo mas colocar mãos à obra é sempre o mais difícil e por isso mesmo continuará e talvez numca passará de ser um sonho meu. Mais uma vez gostaria de agradecer ao autor deste texto e dizer lhe que gostaria imenso de o conhecer pessoalmente, assim como ao eng Almeida de Sousa e de poder recolher em forma de video os relatos das memórias que guardam da Vicomnias. Deixo aqui o meu e-mail para que possam entrar em contacto comigo: filipe.carvalho.vilacova@gmail.com
ResponderEliminarmais uma vez um muito obrigado pelo texto e pela divulgação, um abraço com estima.
Filipe Carvalho
Prezado Filipe Carvalho, o autor deste blog, Jorge Portojo, já não faz parte deste mundo. Faleceu em 2017. Ficou o seu magnífico trabalho, que este blog representa. O eng. Almeida e Sousa também não está mais entre nós, pois morreu em 2018. Um abraço
EliminarNão nasci em Vila Cova mas para lá fui com 3 anos..o meu Pai foi para para lá desde 1959..era Eng.de fundo dessa mina que tantas historias tem na minha familia..
EliminarBoas . Linda terra . As minhas ferias grandes foram todas passadas nessa maravilhosa aldeia . O meu pai é dessa linda aldeia
ResponderEliminarEncontrei hoje este blog num dia amargo da minha vida, recordo a Vicominas de 8-08-1978 quando iniciei o meu trabalho ainda nem tinha 17 anos e hoje tenho 60.
ResponderEliminarEra pré oficial electricista, sou Carlos Simões, filho do Simões chefe da Redução.
Obrigado pela publicação.
Fico contente por existir este blogue. VIvi na mina porque meu marido era o Engenheiro responsável pela mina.
ResponderEliminarLá criei meus filhos, embora tenho vindo nascer ao Porto, conheci toda a gente.
Meu marido muito amigo do Dr Ângelo de Sousa. Ainda está vivo e sabe o nome de todos os mineiros
Eu podia fazer uma visita guiada, mas concerteza já não a conheço. A minha casa concerteza já não existe, mas eu tenho muitas fotografias.
Obrigada
Boa tarde! O meu nome é Inês Carvalho e vivo na aldeia de Vila Cova. Eu e o meu irmão (autor do vídeo Minas de Vila Cova - o regresso ao passado) gostaríamos imenso de a conhecer e poder ouvir o seu relato e também ver as fotografias que diz ter. Somos netos do Manuel Borges, que era um dos guardas da exploração. Atualmente ainda moramos em Vila Cova. Deixo os nossos emails caso nos pretenda contactar:
Eliminarfilipe.carvalho.vilacova@gmail.com
ines.carvalho.vilacova@gmail.com
Após vários anos, passei de novo nas minas, que descobri por acaso quando visitei o santuário de La Salete. Apesar de morar relativamente perto (Paredes) e da minha paixão pela região do Marão/Alvão, desconhecia as minas. Hoje pude visitá-las e como fiquei curioso, pesquisei sobre as mesmas. Estou maravilhado pelos registo que tenho encontrado sobre as minas, a região, a cultura, as pessoas. O interior de Portugal é lindíssimo e Trás-os-Montes consegue ser ainda mais maravilhoso do que como Miguel Torga o retratou. Parabéns a quem por lá resiste...
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