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quarta-feira, 4 de setembro de 2013

169 - Campanhã - A Oriente da Cidade do Porto

Continuando o roteiro das Grandes Quintas de Campanhã, ou o que resta delas, apresento-vos a da Lameira e a da Bela Vista.
Tendo como eixo a Rua de S. Roque da Lameira, a partir do séc. XVIII foi-se instalando nesta zona essencialmente agrícola da Cidade, a alta burguesia estabelecendo Quintas de Recreio em algumas das propriedades.
As Quintas da Lameira e da Bela Vista 
olhadas de muito próximo da ex-Quinta de Vila Meã ou do Mitra.
Estão localizadas no ponto geográfico mais alto da Cidade, cujos terrenos e proprietários são já referidos no séc. XIX, mas as datas são coisas confusas. Mas comecemos pelo princípio que é a Quinta da Bela Vista formada por uma reunião de três propriedades: A Quinta da Lameira de Cima, a Quinta da Lameira e a terceira parcela não sei qual foi.
Em 21 de Dezembro de 1911 as duas primeiras Quintas são compradas pelo médico José de Oliveira Lima que adquire logo depois a tal terceira parcela. 
Remeto-vos, queridos leitores e amigos para uma minha postagem anterior e o especial interesse dos comentários de Manuel Lima, neto do Dr. Oliveira Lima, nela inseridos. A referência é :

Mais ou menos o espaço que ocupam as Quintas.
Mas ainda sobre a Bela Vista, o belíssimo edifício começou a ser construído expressamente para funcionar como estabelecimento de ensino, que tomou o nome de Instituto Moderno. Instalações modelares e de higiene e métodos de ensino avançadíssimos para a época. Um filme de cerca de 30 minutos foi recuperado pela Cinemateca e pode ser visto - com alta recomendação - em:

A escola, chamemos-lhe assim, só funcionou entre 1914/18 encerrando por dificuldades económicas. Nesse ano, um surto de tifo exantemático assolou a Cidade. Os Hospitais ficaram super lotados e as suas instalações foram requisitadas para funcionar na dependência do Hospital Joaquim Urbano,  o célebre Goelas de Pau, que lhe fica relativamente próximo. 
Em Agosto de 1919 o edifício é comprado pela GNR, mas não há qualquer documentação que comprove o pagamento/recebimento. Actualmente as instalações e terrenos pertencem à PSP.

Vamos agora para a Quinta da Lameira.
Entrada pela Rua de S. Roque da Lameira
É um pouco confuso ler-se que foi propriedade da Família Calém, tendo António de Oliveira Calém vivido desde o seu casamento em 15 de Dezembro de 1912 até ao falecimento em 27 de Maio de 1962. Ora ela tinha sido adquirida pelo Dr. Oliveira Lima um ano antes (Dezembro de 1911). Terá sido vendida logo a seguir ? Não sei e para o caso não interessa nada.

Sabe-se que a quinta tinha um casa de dois andares, talvez de 1792. Não sei se o palacete actual é a casa original. Há algum tempo estava muito degradada e albergava umas instalações camarárias - mais uma - creio que ligadas ao Urbanismo. Já lá não entro há talvez três anos. Não sei como está nem sei se ainda alberga alguma coisa.
A Câmara adquiriu aos Herdeiros Calém em Agosto de 1978, 11.900 m2 correspondentes ao palacete e alguns terrenos anexos incluindo os jardins.
Na parte superior da foto podem ver-se instalações construídas para o Instituto Moderno e ainda usadas.
  Em Maio de 1979 a Câmara compra a restante parte correspondente a 30.000 m2.

Cria-se então o Parque de S. Roque, na Quinta da Lameira com mais de 40.000 m2 que custou na totalidade, reparem, 9.700.000$00. Menos de 50.000 € !!! É o que li na monografia da Junta de Freguesia de Campanhã. Na época, o equivalente a um apartamento T2.
  
Não sei o que foi recuperado, restaurado e/ou construído de novo. A primeira vez que visitei o Parque, e juntei o útil ao agradável porque fiz um pic-nic, foi no princípio dos anos 80 e não me lembro minimamente do que existia e de como estava. Mas lembro-me bem de se poder caminhar facilmente. 
Os Jardins estão construídos em patamares, com acessos por caminhos e escadas. Embora as minhas fotos sejam de várias épocas e anos, desde 2007, costumam estar lindos, floridos, enfim, bem tratados.
As fotos acima são dos dois primeiros patamares. Só não há árvores de fruto como antigamente. 
Vamos subindo e os canteiros de flores encantam-nos.É outro Jardim num nível superior.Existe um parque infantil do lado esquerdo.

O ex-libris do Parque, o famoso labirinto construído por sebes (Buxus sempervirens)


De vários locais podemos olhar o Vale de Campanhã. Este é só um pormenor que a máquina alcançou.

Em algumas épocas do ano, ao poente podemos apanhar cores extraordinárias.
O grande lago, que infelizmente só tem alguma água no Inverno. 
Encontramos muitas Cameleiras com flores de várias cores. Ou não fosse a Camélia a Flor Raínha do Porto. Lá iremos brevemente.
Num patamar superior logo acima do lago, uma pequena casa acolhe a juventude mais antiga para bater umas cartas e beber umas loirinhas.
Há instalações sanitárias, sensivelmente a meia encosta em casas de granito. Nunca as utilizei porque quando precisei encontrei-as fechadas. Creio que fecham às 5 horas da tarde. Mas já lá vi três funcionários(as), três, todos juntinhos(as) a bater uns papos.
Outono, a minha estação preferida. Mas já lá andei no Inverno e com chuva. 
Recantos, encantos, miradouros, um Parque muito agradável.
Quási à saída pelas Antas, montaram esta Capela que foi transferida do Largo Actor Dias. Parece que houve uma antiga que desapareceu. Não sei o que representam os três arcos. Não há mas podia haver uma informação do conjunto. Minudências...
Saída ou Entrada, como se queira, pelo lado da Travessa das Antas. 
Todas esta Zona é conhecida como Monte Aventino. Não sei se terá alguma relação com uma das sete colinas de Roma com o mesmo nome e onde Hércules matou Caco. Ali se refugiava a plebe fugindo dos patrícios. Séculos depois refugiaram-se deputados italianos, acabando com a Secessão Aventiniana. Acho que foi na época do Fascismo ou do seu final. 
A casualidade levou-me a escrever isto, sem saber nada de nada. Mas leiam a seguir:

A Rua do Monte Aventino existe desde 1 de Janeiro de 1951, presumo, pois até 30 de Dezembro de 1950 chamava-se Rua da Colónia de Antero de Quental. Ora bem, conta-nos a História que era aqui que se concentravam os trabalhadores em greve da forte zona industrial do Bonfim.  
A semelhança da utilização trouxe a semelhança do nome.  (In. O Tripeiro, 7ª série - Ano XXIV - nº 3 de Março de 2005 ). Mas tudo se interliga.

Se os meus queridos amigos e amigas, leitores e leitoras, leram a postagem anterior, permitam-me fazer uma ligação à Rua Comércio do Porto. Como escrevi, o Senhor Bento Carqueja e o seu Jornal tiveram uma acção social e humanitária muito grande na Cidade, talvez as maiores o de mandarem construir diversos Bairros habitacionais para operários, espalhados por diversas zonas. Também com a ajuda de emigrantes brasileiros a quem foi pedida uma subscrição. Pois bem, aqui, de onde a foto foi feita para o Parque é uma rua de um desses bairros, construído entre 1904 e 1908. Chamava-se Bairro do Bonfim e o local Monte das Antas. 
Vali-me, pois claro, do meu amigo Gabriel editor do 

As Ruas que o formam têm o nome dos vários Senhores Carqueja que de qualquer maneira estiveram ligados ao Jornal, bem como a Do Bairro do Jornal do Comércio do Porto.

Antas, porque existiu, provàvelmente, uma comunidade da Idade Neolítica e/ou do Bronze e terão sido achados monumentos funerários. Um aparte: Ao antigo Estádio das Antas - substituído em 2004 pelo do Dragão - chamávamos-lhe o Cemitério das Antas. Coisas portuenses, ligadas ou não, nunca soube porque assim se chamava, a não ser pelas derrotas muito, muito antigas do Futebol Clube do Porto. Coisas da pré-história...
Adiante.

Mas do Monte Aventino houve mais recordações: O terminal aéreo das minas de carvão de S. Pedro da Cova - http://portojofotos.blogspot.pt/search/label/S.%20Pedro%20da%20Cova - e dos grandes bailes no Dramático do Monte Aventino, colectividade fundada em 24 de Outubro de 1924. Vão espreitar em http://omonteaventino1.com.sapo.pt/ 

Existe desde há uma dúzia de anos um complexo desportivo, com restaurante e bar. Não se está mal. 

Caríssimos, é tudo por hoje. Não demoro, até porque as Camélias nos esperam. 



4 comentários:

  1. Como é habitual, mais um trabalho famoso!... GOSTEI!
    Bem hajas por tanta e tão completa informação, amigo Jorge Portojo.

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  2. caro amigo: esteja à vontade para ir buscar o que quiser ao meu blogue do porto e não só! Mas o meu nome é Ricardo e não Gabriel! Há para aí uma confusão de blogues! doportoenaosó

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    1. Caro amigo Ricardo, desculpe-me a troca de nomes. Obrigado pela autorização.

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  3. Transcrevo o email que recebi do neto dos ex-proprietários das Quintas por achar que completam esta postagem e dão uma achega que talvez chegue aos "ouvidos" de alguém:

    Meu caríssimo amigo

    Muito lhe agradeço o seu interesse e a amabilidade em enviar-me o «link» do Forum Geneall.Net, com algumas questões sobre a minha família levantadas pelo meu sobrinho Nuno (Nuno Filipe d'Oliveira Lima Rodrigues Carvalho, eng.), mais conhecido por Nuno Carvalho, junto dos seus amigos e no seu meio profissional na RTP.
    Já tive a oportunidade de contactar consigo algumas vezes, através dos seus espaços na Web, nomeadamente sobre o meu avô paterno, Comendador Prof. Dr. José d'Oliveira Lima, médico quadro de saúde de Angola e S. Tomé e Príncipe, médico municipal de Moçâmedes de 1901 a 1907, reitor do Liceu Central D. Manuel II, no Porto, professor catedrático das cadeiras de cirurgia e farmacologia na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, vice-reitor da Universidade do Porto, director do Instituto de Medicina Legal do Porto e Delegado de Saúde, proprietário fundador e director do Instituto Moderno, em S. Roque Da Lameira, Campanhã, Porto, a quem o rei D. Carlos atribuiu a comenda de N.sa S.ra da Conceição de Vila Viçosa.
    O IGESPAR, quando estava em curso o processo de classificação do edifício principal do Instituto Moderno, agora já classificado e designado Palácio da Bela Vista, na quinta do mesmo nome, em Campanhã, contactou-me várias vezes solicitando-me a revelação do historial daquele colégio e da figura do meu avô, bem como cópias dos documentos existentes sobre o assunto.
    Claro que forneci toda a documentação e fotografias que possuo, bem como um filme, documentário realizado pela "Invicta Film", em 1916, sobre o funcionamento do Instituto Moderno do Porto, mostrando a vista que na época dali se vislumbrava, no qual se vê o meu avô, a vivência e o sistema pedagógico no colégio, considerado um dos mais avançados da Europa para a época.
    Pena foi que, não tenha ainda sido feita a justiça da devida homenagem da cidade invicta, a um pedagogo como ele, para cuja causa do ensino investiu grande parte da fortuna da sua esposa, filha e irmã dos empresários portuenses e presidentes da AIP Associação Industrial Portuense, proprietários da Fábrica de Tecidos de Sêda de António Francisco Nogueira, Filho & C.a, sita na Rua da Alegria, n.º 265, Porto (actual Centro Comercial Grand Plaza), para a aquisição das 3 quintas que deram origem à Quinta da Bela Vista e a construção de património edificado especialmente concebido pelo Arquitecto José Teixeira Lopes para ali ficar instalado o Instituto Moderno, cujo património foi forçado a vender ao Estado, GNR Guarda Nacional Republicana, de cuja transacção nunca foi efectuado o pagamento (segundo deu conhecimento à família o próprio Prof. Dr. José d'Oliveira Lima, até à sua morte), bem como é desconhecida oficialmente a existência de qualquer documento comprovativo da execução desse pagamento.
    Considero ser uma injustiça da cidade do Porto para com esta figura de distinto cidadão portuense (por adopção, pois foi nascido em Lisboa), dado ter sido já atribuído a rua do burgo portuense o nome do poeta e jornalista António Pinto Machado, sogro de dois dos filhos deste médico e professor catedrático. Em Cantanhede foi criado um museu com o nome do seu sobrinho o compositor António de Lima Fragoso, foi atribuído o nome do seu cunhado o historiador Dr. Viriato de Sá Fragoso a uma rua do mesmo concelho. Posto isto, considero ser de uma enormíssima injustiça a cidade do Porto ainda não ter prestado a devida homenagem ao distinto portuense, médico e pedagogo Prof. Dr. José d'Oliveira Lima, o que deveria ter já efectuado há muito tempo, na minha modesta opinião.
    Estou crente, que algum dia, lhe venha a ser prestada homenagem e perpetuada a sua memória.
    Com amizade, forte abraço
    Manuel José Campos d’Oliveira Lima

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