Na Alfândega do Porto, está exposto um painel de 40x3 metros (?) que esteve na origem de um outro painel cerâmico colocado na Ribeira, junto ao Túnel, denominado de Ribeira Negra.
O seu autor Júlio Resende.
Júlio Martins Resende da Silva Dias, nasceu no Porto no Porto em 23 de Outubro de 1917 e faleceu em Valbom, Gondomar, em 21 de Setembro de 2011.
Em 1937 matriculou-se na Escola de Belas Artes do Porto. Por dificuldades financeiras, custeou as despesas do curso com a venda de trabalhos gráficos, como desenhos publicitários, ilustrações e banda desenhada. Esta faceta da sua carreira decorreu até aos anos 70.
Provavelmente a rapaziada do meu tempo de menino ainda se lembrará do Calendário do Matulinho que se publicava no último domingo do ano no Jornal O Primeiro de Janeiro.
Iniciou a carreira docente em 1944 na Escola Industrial de Guimarães.
Em 1945 terminou a licenciatura em Pintura com o Quadro Os Fantoches, classificado em 18 valores.
Entre 1947 e 48 estudou em França, copiou os mestres da pintura no Louvre e outros Museus da Europa. Regressou a Portugal em 49 e ao ensino. Dedicou-se à cerâmica e o seu primeiro painel em 1952 foi para a Escola Gomes Teixeira, no Porto, onde leccionava. Em 1956 formou equipe com o arquitecto João Andresen e o escultor Barata Feyo que ganhou o concurso para o Monumento do Infante D. Henrique, em Sagres, mas cuja obra nunca se realizou por Salazar não gostar dela.
Nesse ano terminou o curso de Ciências Pedagógicas na Universidade de Coimbra. Em 1958 foi convidado a dar aulas na Escola Superior de Belas Artes do Porto, que só abandonou em 1987.
Institui em 1993 a Fundação Júlio Resende, Lugar do Desenho, em Valbom, Gondomar.
São só uns apontamentos sobre a vida e obra de Júlio Resende, que pintou quási até ao fim da vida, no Porto, Cidade que o inspirou e à qual sempre voltou.
Painel Ribeira Negra:
Realizado em 1984
Episódios de Bairro que definem a Ribeira Portuense
Cenas de mercado, conversas entre vizinhas, brincadeiras de miúdos, roupa a secar,
as mulheres do carvão, animais.
as mulheres do carvão, animais.
No ar, as vozes de praguejos, de risos, o inconformismo dos velhos, a alegria das crianças, a correria dos cachorros. As fachadas sempre em festa no espelhar dos azulejos. Assim define o Artista a Ribeira.
A história da Ribeira Negra começa em 1984, quando Resende é motivado para realizar uma obra que pudesse funcionar paralelamente à criação musical de Álvaro Salazar (Porto, 1938).
A obra é executada em dez dias, utilizando negro de fumo e óxido de zinco. A tela em lona é dividida em módulos de quatro metros e decorreu no edifício, na altura arruinado, da Cooperativa Árvore.
Foi oferecido à Câmara do Porto, que o manteve encaixotado até 2010, com pouquíssimas visualizações. Também não era fácil expor uma obra desta envergadura.
Desde 6 de Novembro de 2010 encontra-se exposto no espaço museológico da Alfândega, com algumas obras de Júlio Resende na sala exclusiva.
O grande painel mural foi realizado em grés no ano de 1986, encomendado pela Câmara Municipal e realizado na Cerâmica do Fojo, em Gaia, pintado e gravado pelas mãos do Mestre. Mede 41x5 metros.
Não é uma versão do painel sobre lona, mas uma criação originada por esse painel.
Foi inaugurado em 21 de Junho de 1987
Um magnificente historial da miséria e da grandeza da população Ribeirinha da Cidade...
...creio que o que se faz aqui é mais do que perpetuar o rosto de uma Cidade, de um País - é dar apesar de tudo, algum sentido à vida. (Eugénio de Andrade)
Acabou de ser restaurado o Ribeira Negra há pouco tempo. Disse Bernardo Pinto de Almeida (Doutorado em História da Arte e da Cultura pela Universidade do Minho) "...tem um significado político, sobretudo nos tempos de hoje em que o povo é tão maltratado quotidianamente e restaurá-lo tem pelo menos essa vantagem de chamar a atenção de que o Porto existe como história, como tradição..."
http://sigarra.up.pt/up/pt/web_base.gera_pagina?P_pagina=1000853
http://www.lugardodesenho.org/http://museutransportescomunicacoes.blogspot.pt/p/espaco-ribeira-negra.html
http://projectopatrimonio.com/portugalpedia/porto/documentos/portugalpedia-porto_n01.pdf
Jorge: muito lindo, este painel. Talvez você não se lembre, passamos juntos diante dele a caminho de um almoço inesquecível.
ResponderEliminarUm abraço,
Julio.
Claro que me lembro, amigo Júlio. Fomos almoçar aquele Bacalhau na Brasa ao Miradouro. Fora de horas, mas valeu.
EliminarUm abraço
Jorge