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segunda-feira, 2 de julho de 2012

134 - A Igreja de S. José das Taipas - Parte II

Numa semana azarenta, (a que passou, história que talvez venha a contar) dei comigo na Cordoaria por casualidade. E reparei que a Igreja de S. José das Taipas estava aberta. Lembrei-me que quando a visitei em Abril do ano passado, o seu famoso Presépio tinha sido emprestado ao Hospital de S. João aquando das comemorações dos 50 anos da sua vida.   
Então resolvi entrar e saber se o Presépio já tinha sido devolvido. Fiquei surpreendido por ter um cicerone, extramamente amável, a receber-me. O Rui Gomes, seminarista no Bom Pastor em Ermezinde, a quem fico a dever o grande favor de me dar a conhecer coisas que não vêm nos "livros". E sobre esta Igreja pouco existe que nos possa ilucidar, para além do trivial, que já contei no meu escrito nº 71 e com a referencia  http://portojofotos.blogspot.pt/search/label/S%C3%A3o%20Jos%C3%A9

Na altura da minha anterior visita e conforme referi no escrito - acima sublinhado - tive também uma cicerone ocasional. Na altura não nos apresentamos devidamente, mas fiquei a saber agora que era a Ana Teresa Braga Teves Reis,  Licenciada em Conservação e Restauro e Mestrada em Conservação e Restauro de Bens Culturais e que leciona as disciplinas técnicas no curso de Assistente de Conservação e Restauro da Escola Artística e Profissional Árvore.
Mas voltando ao presente, fiquei a saber que o o Retábulo da Capela Mor possui um trono escalonado normalmente tapado por uma tela, de autor desconhecido, representando as várias irmandades: N. Srª. da Consolação, S. Nicolau Tolentino e S. José.
Sobre os Altares laterais, já me referi na postagem indicada.

Tentei por vários meios saber a quem é atribuida a gravura pintada sobre cobre exposta num dos altares laterais, reproduzindo o desastre da Ponte das Barcas, ocorrido aquando das invasões francesas em 29 de Março de 1809, sem resultados. Mas descobri que talvez tenha sido inspirada numa gravura que faz parte do arquivo da Igreja.

Foi-me chamada a atenção para o Sacrário, o segundo maior da Cidade do Porto e para a beleza dos seus ornamentos.

Pormenor dos paineis de um dos retábulos.

Fui levado então à galeria museológica, onde se encontra o famoso Presépio do séc. XVIII, da escola de Machado de Castro. (Um dos maiores escultores Portugueses - Coimbra, 19 de Junho de 1731 - Lisboa, 17 de Novembro de 1822). Contràriamente ao que encontramos no simbolismo do Presépio, este é apresentado com aspectos riquíssimos, desde logo um trono em ouro.
A foto, esta foto, só foi possível com flash, devido aos muitos reflexos e pouca iluminação da galeria. Por isso todas as deficiências não permitem ver e apreciar a maravilha desta obra, preservada por um vidro.

Da galeria museológica, ainda inacabada de um restauro em curso, com imagens de Santos, provàvelmente do séc. XVII e várias Pinturas, enormes, só foi possível captar estes frascos de farmácia, cuja origem e fabricante não me foi possível identificar.
Descobri uma cripta por baixo do altar-mor. Um alçapão na Capela Fúnebre com tampa descobre uma pequena escada que nos leva até ela.

Um pouco de claridade entra por uma pequena janela. Algumas pedras trabalhadas e um busto devem fazer parte da arqueologia da Igreja.

Numa abertura da cripta, um ossário contendo os restos mortais das poucas mais de 200 vítimas do desastre da Ponte das Barcas recuperadas ao Rio Douro. Estão totalmente resguardadas da luz e diferenças de temperatura. Só consegui ver algumas das ossadas quando reproduzi as imagens.
Estas ossadas foram trasladadas do chão da Igreja onde jazeram os corpos após a sua recuperação ao Rio.
Nota: A foto das ossadas foi retirada, porque o Senhor Fernando Hélio Loureiro, Presidente da Irmandade me pediu para o fazer. E porque é errado, disse, pois as ossadas são dos corpos dos irmãos sepultados na Igreja (ver nos comentários o seu mail) Espero, porque lhe pedi, que me informe onde estão as ossadas dos corpos recuperados ao Rio.

Já conhecia a Sacristia desde a altura em que os estudantes da Árvore procediam a limpezas sob a orientação da Professora Ana. Mas nada como uma visita guiada, não profissional, mas de amigo para amigo, para aprender e conhecer.
Sabemos que a Sacristia actual foi a primitiva Capela da Casa dos Pachecos onde se reunia a Irmandade de S. José. Não me vou repetir com a história. Escrevi na altura não saber quem a imagem do Altar representaria, mas presumia-se ser da de N. Sra. das Dores. Disse-me o meu cicerone que é de Nossa Senhora de Vandoma, o único lugar onde ela está representada na Cidade para além do da Sé Catedral.
Bom, lendo a história de Nossa Senhora de Vandoma, a Padroeira da Cidade desde 1954, instituida por D. António Ferreira Gomes, Bispo do Porto no ano jubilar de Nossa Senhora da Conceição, em nada a sua imagem tem de comum com a história. É certo que as cores do Manto e Túnica foram alteradas quando o regime político passou a ser Liberal no séc. XIX. Primitivamente o manto era vermelho e a túnica azul. Depois passou o manto a azul e a túnica para branco. O menino estava coberto até à cintura e tinha pombas de barro nas mãos às quais dava vida com um sopro. O ceptro da mão direira da Virgem, bem como as coroas desapareceram há séculos da imagem que está na Sé, provàvelmente roubadas. Esta imagem também não as tem. Mas quem sou eu para discutir estas coisas ?
Segundo a Professora Ana, a imagem pertencia à primitiva Capela e é atribuída ao séc. XVII.
 
Pintura representando S. José das Almas

As outras imagens ao lado do altar de S. Nicolau Tolentino e a outra esqueci quem representa.

Urna da Semana Santa, provàvelmente da primitiva capela, em talha dourada rocaille
 
 Pormenor da Urna

No primeiro altar à direita de quem entra na Igreja, existe um altar dedicado a Nossa Senhora da Providência. Possui uma cópia da pintura existente na Sacristia, esta da escola alemã do séc. XVII de autor desconhecido e à qual foram adicionadas duas coroas em prata. As fotos, mais uma vez foram as possíveis devido aos reflexos impossíveis de anular.

Chamei-lhe zimbório anteriormente. O correcto será Lanternim. Tem 8 faces, constituídas por 10 janelas gradeadas em arco de volta perfeita sobre paineis entalhados com motivos religiosos e iconografia das Irmandades. Ao centro, uma claraboia elíptica.

No pátio, alguma arqueologia à espera de local próprio, incluindo duas pias de água benta.

Nos pisos superiores encontram-se várias salas que não visitei.

Tenho reparado que em algumas Igrejas existe este apetrecho em ferro de cada lado da entrada mas não fazia ideia para que serviria. Vi há dias um pps em que o mesmo era referido na Igreja de Santo Ildefonso. É um rapa pés, digo eu, e destinava-se a limpar as solas do calçado da lama dos caminhos.
Para além dos conhecimentos que me foram administrados pelo meu cicerone, colhi outros numa pequena brochura da autoria da referida Professora Ana Teves Reis, ofertada na Igreja mas se quizerem podem contribuir com 5 €. Com surpresa minha venho referenciado nesta brochura.
Colhi elementos sobre Nossa Senhora da Vandoma na página do JN com a assinatura de Germano Silva:  http://www.jn.pt/paginainicial/interior.aspx?content_id=553983
Como nota final, informo que a Igreja está agora aberta para visitas de Terça feira a Sábado, das 10 às 12 h e das 15 às 19 h. Registe-se esta boa novidade.
  


8 comentários:

  1. Caro amigo Portojo,
    mais um excelente trabalho, com muita e boa informação.
    E falas e escreves como um 'profissional guia turístico das artes', referindo os 'arcos de volta', as chamadas de atenção para certos pormenores, o aliciamento à busca de novas descobertas, como a referência à cripta, por exemplo.
    Muito bem!
    Não tenho conhecimentos suficientes para te esclarecer sobre a 'identidade' da imagem do santo mas pode ser que venha a saber.
    Abraço
    Hélder

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  2. Meu caríssimo Jorge/Portojo Mais uma vez fiquei maravilhado com os seus magníficos trabalhos sobre o “seu” Porto. Muito especialmente este, tocou-me muito.Constituiu, para mim, novidade absoluta, estarem, nesta Igreja, as ossadas de muitas das pessoas que morreram no desastrs da Ponte das Barcas. Emocionei-me mesmo.Bem haja, caro Jorge, por todo o amor que tem pelo Porto.As suas descrições (texto e fotos) são soberbas.Muitas felicitações.É com o máximo prazer que continuarei a divulgar os seus apontamentos valiosos sobre esta Cidade. Um abraço,Tavares Martins

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  3. Foi no largo em frente a esta igreja que aprendi a andar de bicicleta, que o sr. Joaquim alugava mais acima no Campo Mártires da Pátria, (agora compram-se e deitam-se fora) já lá vão quase 60 anos. Ainda havia poucos carros na altura e o espaço era grande, apesar disso foi o suficiente para riscar um que o dono me perdoou. Poucas vezes entrei na igreja de S. José das Taipas, apesar de ter morado perto. Antigamente estavam sempre fechadas. Como se costuma dizer, santos da porta não fazem milagres.
    Gostei de ver os "entrafolhos" da igreja que não conhecia, como dizem os mouros, de todo.
    Um abraço
    cumprim/jteix

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  4. O santo a que falta referência é São Domingos de Gusmão, fundador da ordem dos Pregadores (ou dos Domininicanos).

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  5. Para conhecimento dos meus visitantes e corrigir um erro, recebi o email abaixo:

    Prezado Jorge Portojo



    li com atenção no seu blog e peço-lhe que tome atenção ao seguinte que lá está escrito :





    “Numa abertura da cripta, um ossário contendo os restos mortais das poucas mais de 200 vítimas do desastre da Ponte das Barcas recuperadas ao Rio Douro. Estão totalmente resguardadas da luz e diferenças de temperatura. Só consegui ver algumas das ossadas quando reproduzi as imagens.

    Estas ossadas foram trasladadas do chão da Igreja onde jazeram os corpos após a sua recuperação ao Rio “



    Nada disto é verdade , os restos mortais que se encontram na cripta da igreja são ossadas de pessoas que estavam enterradas na igreja e que aquando das obras de restauro forma colocados neste local.



    Como presidente da Irmandade de São José das Taipas, rogo-lhe que retire as imagens das ossadas que são de antepassados nossos Irmãos e familiares e que não gostamos que estejam assim expostos desta forma.



    Aliás irei investigar quem o autorizou a estas fotos para proceder conforme estatutos internos pois está completamente vedada a entrada naquele local sem autorização superior e muito menos de retirar imagens .



    Imagino que não gostaria de ver a sua avó ou bisavó exposta desta forma na internet, apelo pois ao seu bom senso e terei muito gosto em particular explicar-lhe alguns outros aspetos desta igreja que tentamos com muito esforço manter aberta ao publico e turismo mas que temos por tal de salvaguardar não apenas sua História bem como o património



    com os meus melhores cumprimentos envio as minha melhores saudações



    Hélio Loureiro

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  6. A minha resposta ao mail do senhor Fernando Hélio Loureiro:

    Caro Senhor Fernando Hélio Loureiro
    Boa noite.

    Foi com atenção que li o seu mail e anotei as suas informações..
    Devo dizer-lhe que não fui o inventor da questão das ossadas..
    Também não me parece tão grave assim tê-las fotografado.
    Quiz prestar uma homenagem, como deve ter entendido. Imagina mal, caro senhor, pois não me importava se outros fotografassem os restos mortais de familiares meus - irmãos ou afogados - se quem o fizesse demonstrasse o respeito igual ao que eu tive.
    Curiosamente o senhor que fez o favor de me mostrar toda a Igreja - eu só conhecia parte, como deve ter lido e as razões de tal - estava totalmente convicto que não era crime mostrar-ma. Nem fotografá-la. E que bem o fez.
    Se é proibido fotografar, é mais um lamentável acto dos muitos que se estão a praticar um pouco por todo o País. Se querem abrir os monumentos ao turismo, como bem afirma, a maior parte das vezes não o conseguem sózinhos. Ou porque não sabem, ou porque custa dinheiro ou porque não querem mesmo.
    Sendo assim terão de ser os "carolas" a fazer o vosso trabalho de turismo. No meu caso pessoal é o chamado três em um. Conheço, aprendo e divulgo.
    Entendo perfeitamente que devem salvaguardar a história. Por isso, o que está errado deve ser corrigido. O património, não sei como fotografá-lo pode prejudicar a sua salvaguarda. Informo ainda que usei flash em 4 fotos.
    Devo dizê-lo que contribuí para o património adquirindo o pequeno volume da Senhora Doutora Ana Teresa Braga Teves Reis. Pelo dobro do que pago na Sé para a visita aos Clautros e Casa do Cabido. Porque como bem sabe (julgo eu) a entrada é grátis.
    Por outro lado esta publicação tem uma foto minha impressa sem autorização, mas não fiquei zangado, embora não goste que usem as minhas fotos para fins comerciais ou de contribuição seja para o que for, sem autorização. Mas isso são contas que não devem ser do seu rosário.

    Permita-me, caro senhor Fernando Loureiro, umas perguntas:
    -Escreveu-me a título particular ou em nome da Presidencia da Irmandade ?
    -Não lê, como Presidente da Irmandade, o livrinho de registos dos visitantes ?
    -Nao leu a minha postagem (desculpe-me, não sei se esta palavra é correta) completa ? Parece-me que não. É que não precisa de fazer investigações apuradas, pois o nome do senhor que gentilmente me mostrou a Igreja está lá bem escrito e devidamento autorizado por ele. Mas essa frase das investigações cheira-me a coisa bafienta.
    -E já agora, em vez de ser tão ríspido no seu escrito - assim o entendo - não poderia fazer juz ao seu cargo de Presidente e ser mais suave e até dar-me um louvor por divulgar a sua Igreja ? Ou será que encontrou erros ?

    Vou retirar a foto das ossadas. E já agora diga-me: onde estão as ossadas dos afogados que um momento tão triste da nossa História provocou ?

    Receba, caro senhor Fernando Loureiro, os melhores cumprimentos do
    Jorge Teixeira
    (Portojo)

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  7. Uma resposta bem a altura,pras questaoes colocadas por este senhor.
    Abraços.

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  8. Respondestes à altura. Parabéns mais uma vez pela tua sabedoria.....
    As verdades tem que serem ditas na hora certa
    um abraço
    Elci

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