Nunca gostei particularmente de Espinho. Nem há 44 anos quando fui obrigado a vegetar por ali, nem agora. Acho mesmo que quem gostou e amou Espinho verdadeiramente, foi o camarada Canhão, companheiro de muitos companheiros meus, que foi como uma marca registada da vida desde Vendas Novas, ali bem próximo de Évora. Infelizmente já não está entre nós desde há precisamente dois anos. Esse Alentejano de Borba, que escrevia poemas e amou, se não todas, quási todas as meninas Espinhenses. E nunca se esqueceu delas, nem desta Cidade, alguns anos depois.
Mas o António Canhão foi único. Sem ele, Espinho não seria tão lembrado.Espinho, bem como os seus vizinhos a norte, embora não tenham nada a ver com um comum autárquico, Miramar, Aguda e Granja, tomaram desde o princípio do século passado um ar burguês, onde as vivendas e palacetes da gente fina que vinha de fora, se lhes impôs como uma marca registada. Hoje, quási tudo está em ruínas. Eram as praias dos ricos. Mas era e é, terra de gente séria e franca, conserveiros, cordoeiros, pescadores. Com as quais ainda convivi algum tempo. Hoje já não existem estes misteres. Os pescadores ainda se arrastam por essa costa, da Aguda até Silvalde. Só para lembrar aos mais novos que ainda existe alguma faina. Os tractores substituindo os bois na Arte Xávega.
Mas Espinho ainda continua a querer impôr-se como estância de veraneio. E acho muito bem. Mas a moda dos edifícios recuperados é muito sui-generis: recupera-se a fachada e constroi-se logo atrás em altitude. Este da foto é um pequeno exemplo, mas outros são bem mais gritantes no seu exagero. Que poderá não ser em altitude, mas a descaracterização do que foram alguns belos edifícios da época de ouro de Espinho. O Cine-teatro São Pedro é um exemplo. O outro é o Nosso Café. Um àparte, dirigido especialmente à minha querida amiga Gisele, a mais Portuguesa de todas as Cariocas: Se quiseres as fotos destes mamarrachos, tens de me pedir muito. E mesmo assim não sei se as enviarei. Por vezes, nas recordações não se devem mexer.
A velha Estação da Linha do Vouga. A Linha ainda funciona, com as bilheteiras aqui ao lado num pequeno cubículo e os funcionários com ar de arreliados e complicando a vida a quem quer utilizar o comboio. Estive lá e tenho fotos. Por vezes tenho pena de não gravar vídeos, só para se ouvir como funcionários zelosos de uma empresa altamente deficitária do Estado Português tratam os utentes de um serviço que deveria ser público.
Precisei, neste momento do campeonato, de desafogar umas m'águas. Tentei utilizar as traseiras da antiga Estação. Não sou de indecoros, muito menos junto de uns rapazinhos utilizando umas seringas e cantando o hino nacional da sua comunidade. Para alguma coisa servem as paredes da Estação velha.
As placas comemorativas dos 100 anos da fundação da Linha do Vouga e da Estação de Espinho. Uma das mais antigas linhas férreas do País.Precisei, neste momento do campeonato, de desafogar umas m'águas. Tentei utilizar as traseiras da antiga Estação. Não sou de indecoros, muito menos junto de uns rapazinhos utilizando umas seringas e cantando o hino nacional da sua comunidade. Para alguma coisa servem as paredes da Estação velha.
O comboio iniciando a sua viagem. Todo aquele espaço que outrora foi lindo, deve servir para tudo. Mais parece que caiu por ali uma bomba e nada foi recuperado.
Mas voltemos ao veraneio e aos seus espaços.
A enorme piscina municipal que vista das janelinhas voltadas para a praia, mais parece um aquário. Mas não de peixes ou outras espécies marítimas.
Aquela tijoleira a toda a volta deve dar uma sensação de prazer que nem os romanos nas termas que descobriram por esse nosso Portugal sentiram.
A praia norte não tem limites. Podem os trabalhadores e trabalhadoras do bronze vir até ao "Calçadão". Há sol para todos. E vento também, ou não fosse ele aqui de uma qualidade impar.
Mas há algo extraordinário em plena cobertura - uma enorme praça sem graça nenhuma - da linha ferroviária do Norte. Uns tubos enormes, surrealistas, que talvez ficassem bem num museu de arte contemporânea. Mas na via pública ? Mesmo que sejam respiros indispensáveis ao interior da linha férrea, não era (será) possível um artista tirar um bom partido da situação ? Mas isso sou eu a imaginar...
Voltando à praia e a uma mimosa tenda-casa de veraneio. Com vistas para o mar. Ao montar e ao desmontar.
Nem tudo é mau e para os saudosistas desfrutarem desta vista antiga de Espinho, mas não tanto como isso. Com destaque para o Estádio Violas onde o meu Salgueiros há cerca de 20 anos, derrotou os Tigres sagrando-se Campeão Nacional da segunda divisão, permanecendo na primeira até acabarem com ele. No mesmo dia, o FêCêPê também realizou feito igual, mas referente à primeira. Noite de farra, ainda a Avenida dos Aliados, no Porto, claro, era palco de grandes festanças. Tudo acabou no Mal Cozinhado, cheio como um ovo e também na extinta Taverna de São Jorge, nas Virtudes. Como queria ser o Mourão e saber cantar Ó Tempo... Volta p'ra trás...
Caro Jorge: pouco a pouco, a cada dia ou dois, estas tuas crônicas tão lusas na visão, na linguagem e no sentimento vão-me ensinando Portugal. Visto e sentido de dentro, como só um português poderia sentir. Para este brasileiro, um prazeroso privilégio.
ResponderEliminarObrigado, meu amigo.
Julio.
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ResponderEliminarCara Lu,
ResponderEliminarFico admirado com tanto conhecimento das nossas Cidades, Vilas e Aldeias. Parece até mais uma residente do que turista acidental.
Não entendo como esta postagem a pode ter ilucidado mais para além dos seus conhecimentos visto que é a parte negativa da Espinho que conheço. Há 3 ou 4 meses tenho uma outra postagem bem mais positiva.
Volte sempre. Um bj.
Jorge
Espinho era bom quando nos calhava a ronda para esse lado, ao contrário de Esmoriz, porque o destino era inevitável, o cinema S. Pedro, que ao que parece também já foi à vida. E quem se lembraria de deslocar a tal ronda do GACA 3 até Espinho, em Fiat 600?
ResponderEliminarBons tempos. Eram os tempos em que "dominava" naquelas paragens o nosso camarada Canhão, "Manuel Canhão". era tal a fama que acabou por tirar o proveito, por lá casou e por lá ficou a viver, quase até final da sua vida, ultimamente morava na Maia. Infelizmente quando tentamos "recuperá-lo" para o Bando, tivemos a triste notícia da sua morte, não fomos a tempo. Ainda falei com ele ao telefone várias vezes, mas não sabia-mos da sua doença nem ele o disse. Um abraço para ele e até sempre.
Apesar de tudo, Portojo, é bom recordar Espinho, que lembra o tempo passado no GACA 3 e que foi um bom tempo.
Um abraço amigo e camarada
cumprim/jteix
Caro Teixeira Presidente. Erro meu ao tratar o nosso querido Canhão por António ? Admito que sim. Todos sabem que sou um errato por natureza. Mas na realidade nós gostavamos de Paramos, não de Espinho. Quando aqui vinhamos, a Espinho, disfarçados de caubois, era mesmo para a farra no dia da feira ou ver uma sessão de borla no S. Pedro. Mas a verdade nua e crua é que Espinho não era nada sem a malta do GACA3.E o meu sobretudo branco passeado por esta cidade, fosse em que corpo fosse, era o cheque-mate.
ResponderEliminarComo nem no meu blogue consigo assinar com a conta google aqui fica o anónimo
Jorge Portojo
Caro anónimo devidamente identificado:
ResponderEliminarInsiste, insiste que qualquer dia hás-de conseguir.
É fácil, é só fazer como antigamente.
De facto Espinho, como disse, era só para as coboiadas ou para o cinema de borla.
Também na altura não havia mais nada e o Porto ali tão perto!
Mas faz lembrar os bons tempos em Paramos no GACA 3, eramos uns "Senhores" como Cabos Milicianos.
Um abraço
cumprim/jteix
Olá:
ResponderEliminarBelíssimas fotos, gostei.
Um beijo.
Nita
Ola este sitio é muito bom para passar umas optimas ferias de verao aproveitem a boa- zona e bela-vista
ResponderEliminarBrijos enormes
Ah, Espinho, continuas lindo!!!! Sou apaixonada por Portugal e confesso que não saberia dizer que lugar gosto mais. Amo tudo.
ResponderEliminarEspero em breve poder estar aí de novo, país amado chamado Portugal.
Obrigada pelas fotos, meu querido Portojo.
Beijosssssssssssss
sou de espinho com muito orgulho nossa, família tem mais de 10 anos FAMILIA MAIA CIGANA. Dói meu coração ao ver espinho neste seculo, sendo destruída ao poucos, onde fizeram desaparecer os edifícios mais emblemáticos da nossa cidade, nosso café, teatro são pedro, avenida 8, rua 19, e outros. Ricardo Maia.
ResponderEliminarTem razão, amigo Ricardo Maia. Quem viu Espinho e quem o vê. Um abraço de amizade
EliminarRicardo Maia nossa família tem mais de 100 anos
ResponderEliminarBoa tarde. Sou natural de Espinho com 72 voltas dadas ao sol. A forma como descreve esta terra não é a mais realista. Sim tem-se feito muita "asneira" mas também se tem criado obra. « Mas o António Canhão foi único. Sem ele, Espinho não seria tão lembrado.» Esta figura é para mim um "ilustre" desconhecido. E, sem ele Espinho tem o seu nome bem espalhado pelos quatro cantos do mundo, chegando a musica "Imaculada" ou " Hino da Paz" de Fausto Neves, para não chamar à baila Manuel Laranjeira, médico, poeta presidente da autarquia, dramaturgo etc. Enfim muito conheceram de Espinho pela rama fruto da vida militar e de alguns, deixe que lhe diga, também nós espinhenses bem os dispensava-mos.
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