Débil luz matinal vence lentamente o espesso nevoeiro descido sobre a costa, mais denso no mar. No caminho de ronda do Castelo de S. João da Foz o Governador, tenente Carvalhais, cumpre funções de rotina, dá a sua volta da madrugada, mais atento ao curto horizonte brumoso. A fortaleza erguera-se na barra do Douro para isso mesmo, vigiar o Atlântico. Numa daquelas mutações típicas do nevoeiro, mas sempre surpreendentes, abre-se largo hiato de névoa, ilumina-se de azul o longe pardo e revela três navios em estranhas evoluções. Suspeitoso, Carvalhais não consegue identificá-los e chama o piloto da barra, cujos olhos não se enganam - são navios de combate... e turcos, os mais temíveis visitantes. Armados pelo sultão da Turquia, os navios piratas norte-africanos zarpam das suas bases de Argel, Tunes, Salé, Safim, Mogador, Trípolis, Gerba, assaltam barcos e povoações, espalham terror e miséria nesta Europa de 1727. Um dos seus principais objectivos é levar prisioneiros para abastecer mercados de escravos e, no meio deste nevoeiro, andam à faina muitos pescadores...
Com um óculo, o tenente vê arriarem de um dos navios uma lancha com homens armados. Não há tempo a perder! Dispara-se um tiro de pólvora seca, sinal de perigo iminente para os pescadores. O próprio tenente dispara mais dois tiros de artilharia e quase atinge a lancha. Os piratas retrocedem. Começam a surgir do nevoeiro barcos de pesca lançados em regata de desespero. Do castelo continua a artilharia atirando sobre os navios piratas, que por fim viram de bordo para onde a bruma é ainda cerrada, mas não levam pescador algum capturado. Bastaria esta acção para justificar a existência da fortaleza.
(texto copiado do http://ecodanoticia.net/ referindo Os Mais Belos Castelos de Portugal, da Verbo)
Não resisti à tentação de roubar este texto e publicá-lo. Nunca tinha entrado neste Forte, Castelo, Fortaleza, enfim o que lhe queiram chamar pois já foi isso tudo. Mas lá irei. Passeando no exterior, a única parte possível para visitar além de um corredor interior, imaginei-me o Tenente não só a defender a costa como a vida dos Pescadores a partir da fortaleza. E nem julguei que a pirataria daquela época chegasse tão próximo de nós. Entrada/Saída da Fortaleza. O Portal é de 1796 e teve Ponte Levadiça.
Aqui é S. João da Foz e o território pertencia à Infanta D. Mafalda, provàvelmente filha de D. Afonso II, que em 1211 o ofereceu aos Beneditinos de Santo Tirso. Estes contruíram no local um Convento e Igreja, com a ajuda do Bispo de Viseu. Seria o princípio da arquitectura renascentista.
Estes arcos "arruínados" serão provàvelmente o que resta do primitivo edifício
Em 1560, D. Catarina, Raínha regente e mãe de D. Sebastião, mandou construir uma fortaleza para a defesa da Barra do Douro. O local escolhido foi este e não adiantou o barulho quer dos Frades quer do Povo do Porto que teve de suportar os custos da construção. Foi sofrendo alterações mesmo durante o período Filipino e ampliações já no reinado de D. João IV, tendo sido terminada em plena guerra da Restauração. Com medo que os Espanhois voltassem a invadir Portugal agora pelo Norte.
À esquerda da segunda entrada estão estas placas, provàvelmente memoriando batalhas ou guerras. Não sei. Mas sei que faltam imensas letras e a "patine" do tempo destruiu o que não custava limpar. Mas como o edifício pertence ao Instituto de Defesa Nacional (o que será este Instituto ?) que aqui tem serviços (?), logo a um Ministério, por conseguinte, coisa pública, logo, deixa estragar. É da tropa...
Continuando pela história, os beneditinos viram os seus protestos compensados com a construção da Igreja de S. João da Foz, ali próximo, inaugurada em 1647, levando ainda como ajudas de custo 6.000 cruzados dados pelo rei. O D. João IV, relembrando, se é que não perdemos o fio à meada. A Capela-mor da antiga Igreja conservou-se dentro da Fortaleza funcionando como Capela Militar. Cujas ruínas só podem ser vistas através de uma porta de vidro couraçada com barras de ferro.
Entre o muro exterior da fortificação e o edifício central, presumo que as valas e outros muros em ruínas, cheios de silvas, deveriam ser fossos, paióis, prisões. Aqui estiveram presos Passos Manuel e o Duque de Terceira no período liberal.
Continuando pela história, os beneditinos viram os seus protestos compensados com a construção da Igreja de S. João da Foz, ali próximo, inaugurada em 1647, levando ainda como ajudas de custo 6.000 cruzados dados pelo rei. O D. João IV, relembrando, se é que não perdemos o fio à meada. A Capela-mor da antiga Igreja conservou-se dentro da Fortaleza funcionando como Capela Militar. Cujas ruínas só podem ser vistas através de uma porta de vidro couraçada com barras de ferro.
Entre o muro exterior da fortificação e o edifício central, presumo que as valas e outros muros em ruínas, cheios de silvas, deveriam ser fossos, paióis, prisões. Aqui estiveram presos Passos Manuel e o Duque de Terceira no período liberal.
Velhas peças de artilharia estão para ali abandonadas, ferrugentas. Uma pelo menos está pousada numa plataforma de um buraco, dando ideia para que servia.
O único local interior por onde podemos vaguear é este corredor. Bem conservado, sem dúvida. Mas com bastantes galerias laterais, enfaixadas interiormente. Exteriormente, os seus buracos, também foram entaipados com placas do chamado Platex, que estão todas as desfazer-se. Mas lá se vão vendo umas garrafas de cerveja vazias e outros lixinhos. Quem entra no corredor, à direita, encontra uma porta de vidro indicando proíbida a passagem. À esquerda, umas escadas que levam a "entrevistas". Nem me atrevi a entrar nem a passar, porque com a tropa não se brinca. Muito menos com a Defesa Nacional. Até porque é Instituto.
Umas pedras bonitinhas, com rebordos e coisas nelas marcadas encontram-se nos muros e suportes dos arcos.
Todas as passagens que dão para o átrio onde se encontram as ruínas da Capela, estão obstruídas com painéis de vidro. Estão lá outras pedras também bonitinhas. Tudo aquilo com tanto vidro, faz-me lembrar um aquário. Será que é para os visitantes não estragarem nada ? Mas haverá visitantes a este edifício triste, a não ser para comesainas de alguma tropa de elite ? Pelo menos as placas sobre isso há à entrada do corredor. Mas no dia em que visitei o Castelo, haviam outros visitantes. Automóveis não faltavam por ali espalhados (Foto 2).
Há 100 anos, mais ano menos ano, Alberto Ferreira (Praça da Batalha nº 2) editou este postal onde se vê o areal que vinha até ao Castelo. E presumo que a mancha à direita será um esporão que foi destruído.
As imagens de cima são exteriores. As de baixo interiores. A cúpula branca é da Capela.
Por cima dos tais buracos, há uma parede alta. Não se vê o que está para lá. Mas elevando os braços com a máquina fotográfica, vê-se bem a Foz do Douro e o Farol de Felgueiras.
Existiu uma ponte levadiça, baluarte redondo a norte e um esporão que ligava aos penedos da embocadura do rio. Essas novas construções começaram em finais do séc. XVIII e ainda em 1827 não tinham terminado. Mas segundo as crónicas tudo se desmantelou devido a uma rectificação urbana. Fico cheio de dúvidas, lendo as informações dispersas, principalmente sobre as datas e os locais.
Dúvidas não teve Camilo Castelo Branco que em 1854 bailava nos brilhantes saraus do Castelo da Foz, nos quais "...fugiam as noites e alvoreciam as manhãs, esmaiando, sem poder quebrantar, a formosura das graciosas damas...".
Também não teve dúvidas o sargento Raimundo Pinheiro, que tomou o forte (será que era quartel dos franceses de Napoleão ou estava abandonado ?) e hasteou a bandeira nacional em 6 de Junho de 1808. Pouco antes dos ditos franceses se porem a correr daqui para fora. Nessa altura não ficou a CEE nem o FMI, mas ficaram os ingleses. Mas isso é de outra história.
Foi a Fortaleza moradia de Florbela Espanca, já no séc. XX, esposa na altura de um oficial da guarnição.
Porque me referi a este edifício como Forte, Fortaleza, Castelo, tudo isso tem significado. O nome oficial actualmente é Forte de S. João Baptista da Foz. Foi também Castelo de S. João Baptista da Foz. Mas tudo começou como uma simples estrutura abaluartada, envolvendo o hospício (mosteiro) e a igreja dos beneditinos de Santo Tirso (Igreja Velha) antigas estruturas medievais.
Para nós Portuenses, é apenas o Castelo da Foz.
Uma nota final: Há cerca de ano e meio, foi neste edifício solenemente apresentada a maqueta de uma placa para relembrar os Portuenses Mortos em combate na Guerra de África.
O local para a sua colocação ficou definido que seria aqui, neste Castelo. Até hoje, não sei como está o assunto. Será falta de dinheiro da Câmara ? O arquitecto morreu e com ele a maqueta ? Não há espaço ? Como está triste a minha Cidade.
O local para a sua colocação ficou definido que seria aqui, neste Castelo. Até hoje, não sei como está o assunto. Será falta de dinheiro da Câmara ? O arquitecto morreu e com ele a maqueta ? Não há espaço ? Como está triste a minha Cidade.
Jorge Portojo
ResponderEliminarAqui, hoje, tive a minha lição de História.É que sobre o Castelo da Foz, apenas conhecia o que se pode ver do espaço exterior circundante.
Acerca da tua nota final da "misteriosa" maqueta, deve ter sido apresentada numa qualquer altura próxima de eleições. Assim se presume correcta a informação de ter perecido com a ideia do autor.
Parabéns, Jorge, por levantares os véus ás dúvidas que, sempre e infelizmente, nos assaltam.
Abraços
Santos Oliveira
Ola mestre. Para os combatentes não há nada!!!! que se f..........!!!!
ResponderEliminarBoa reportagem, histórica. Obrigado, bf semana, abraço
A. Vilaça
... Florbela Espanca (1894-1930) no 2º casamento com um Alferes de Artilharia, da Guarda Republicana, passa a viver no Forte de S.João Baptista de Dez.1920 a Março 1922. Num pequeno galinheiro cria coelhos e galinhas e com o dinheiro das vendas compra um colar de pérolas. F Espanca casou em 1913, 1921 e 1925.
ResponderEliminarRecentemente tive o prazer de ver a parte final dum documentário do Porto Canal (Pontos Cardeais?) em que o tema foi este Forte (Castelo). O Instituto de Defesa Nacional tem ali as suas instalações e dá formação em várias áreas. Disse o responsável, que é um Instituto aberto ás forças vivas da cidade, e que ali se realizam vários eventos. Um destes dias irei passar por lá para verificar o seu estado actual e relembrar velhas passagens.
ResponderEliminarFico a pensar, porque será que há castelos em ruínas e, ao que parece, abandonados pelo governo português. E o povo de Portugal, o que pensa disto? O que exige ou não de seus governantes? Será que esses republicanos socialistas, querem acabar de vez com o passado nacional?
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