Recordando a Quinta-Feira Santa da minha mocidade e a visita às Igrejas, lembro-me que se deviam visitar números ímpares: 1, 3, 5 e por aí fora. No caso de ser impossível, deveríamos sair da Igreja e voltar a entrar, completando-se assim os números ímpares de visitas. Mas as visitas podiam completar-se entre a Quinta e a Sexta-feira. Se não estou errado, foi este o conceito que me foi pregado.
As visitas eram feitas acompanhando a minha Avó e por vezes a senhora a quem ela governava a casa, a vida e a mãe. Lembro-me que conheci a Igreja de Santo Ildefonso mesmo antes de conhecer a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, no Marquês. A do meu lugar.
Talvez uma ou outra visita com o meu Pai mas se o foi aconteceu por curiosidade e casualidade. Ele gozava o fim de semana a partir de Quinta-feira à tarde e por uma razão simples: a dona da empresa onde trabalhava em Campanhã (D. Ilda Paranhos, da Fábrica de Moagem da Granja) era muito religiosa e concedia esse privilégio ao pessoal.
Acabei de saber que é costume antigo visitarem-se 7 Igrejas correspondendo a iguais Passos, com origem provavelmente em Roma. Não sei o que se deve fazer durante a visita. Reparo agora que, curiosa e involuntariamente, visitei 7 Igrejas.
Outra curiosidade, é que se a Igreja de Nossa Senhora da Vitória estivesse aberta, seriam oito. Nesse caso, eu seria castigado por ter contrariado a tradição ?
Deixemos o assunto e vamos à parte séria pois é isso que me faz publicar com prazer nesta página.
O seguimento das imagens estão exactamente pela ordem que visitei as Igrejas.
Igreja dos Congregados
Construída em 1703 no local onde existiu uma Capela dedicada a Santo António (1662-1694). Estava anexa ao Convento da Congregação do Oratório, vulgo os Congregados, construído em 1660.
Durante o Cerco do Porto (Julho1832-Agosto1833) serviu de quartel e arsenal ao Exército Libertador.
Conta-nos Germano Silva que os frades desta Congregação assistiram das janelas do Convento ao enforcamento dos 12 liberais condenados pelos absolutistas de D. Miguel e no local onde temos a Praça da Liberdade, regozijando-se e comemorando comendo Pão-de-ló e bebendo Vinho do Porto.
Os azulejos da fachada, igualmente dedicados à vida de Santo António, são da autoria de Jorge Colaço, de 1920.
No alto da fachada, num nicho encontra-se uma imagem do Santo.
Igreja dos Clérigos
Tem como Padroeira Nossa Senhora da Assunção. A Igreja faz parte com a Torre e o antigo Hospital de uma unidade construída por Nicolau Nasoni, obra máxima do Barroco em Portugal.
A primeira pedra da Igreja foi lançada em 23 de Junho de 1732 e a primeira missa rezada em 28 de Julho de 1948.
Esta capela visível ao público foi desatulhada e restaurada há talvez uns 4 anos.
A construção do templo sofreu muitos revezes, especialmente dirigidos pela Irmandade de Santo Ildefonso, ciumenta da grandeza do conjunto.
Presume-se que a obra tenha sido dada como concluída em 1750.
A monumentalidade do espaço interior acentua-se através do retábulo da Capela-Mor, executado entre 1767 e 1780 pelo arquitecto Manuel dos Santos Porto.
Embora o número de visitantes seja muito grande em qualquer época eram demasiados os que vi. Tentei subir às galerias e à parte museológica, mas a fila para comprar ingresso era tão grande que desisti da ideia.
Dei um saltinho ao Carmo pois pretendia fotografar as fachadas das Igrejas do Carmo e Carmelitas como são mais conhecidas por nós. Uma fotografia capaz é de dificuldade máxima devido aos cabos aéreos, aos sinais de trânsito e outros. Acabei por entrar nas Igrejas embora já as tivesse fotografado anteriormente com intenção única de ver o que se passava no interior.
As igrejas geminadas são Monumento Nacional desde 2013 sendo a dos Carmelitas Descalços - do lado esquerdo e que pertencia ao antigo convento, agora ocupado pela Guarda Nacional Republicana - a mais antiga. A primeira pedra foi lançada em 1619, a igreja concluída em 1628 mas a campanha decorativa só foi dada por concluída em 1650.
Segundo www.monumentos.pt/Site/APP - Igreja e Convento dos Carmelitas, as esculturas da fachada são de barro pintadas a branco a fingir calcário.
A Torre Sineira encontrava-se do lado direito, deslocada para o lado contrário durante a edificação do templo da Ordem Terceira do Carmo, construído em terrenos cedidos pelos Carmelitas em 1751. A primeira pedra da Igreja foi lançada em 1756 e concluída em 1762, depois do aval de Nasoni.
Algumas imagens da Igreja do Carmo:
O retábulo da Capela Mor é de 1773.
As campanhas decorativas prolongaram-se por muitos anos.
Os Retábulos das seis Capelas laterais remontam a 1771
A fachada é profusamente decorada e o corpo principal ladeado por nichos com as imagens dos profetas Elias e Eliseu. Num nicho central superior a imagem de Sant'Ana em jaspe. Acho estranho, mas se as páginas oficiais o relatam, é porque é.
Muitos visitantes em ambas as Igrejas, formando-se cordões para entrar e sair. Irrita-me um pouco o barulho provocado, nada condizente com as atitudes de reflexão e respeito que se devem ter nos templos de todas as religiões, praticando-as ou não.
Convido agora para uma visita à Igreja vizinha dos Carmelitas Descalços.
No interior do tempo predomina a talha dourada que extravasa os retábulos das seis capelas laterais e estende-se a determinadas zonas da abóboda. A capela-mor exibe um retábulo de 1767 desenhado pelo Padre Joaquim Teixeira Guimarães e executado por seu pai José Teixeira Guimarães, dois personagens incontornáveis da Cidade do Porto presentes na arte do desenho, cenografia e entalhamento de algumas das igrejas da Cidade, nomeadamente S. Nicolau e da do Convento de S. Francisco. Há ainda o artista José Pereira Campanhã que com ambos colabora na vizinha Igreja do Carmo e também na Vitória. Se estou errado me corrijam.
As pinturas, os entalhes, o ouro ou a prata, as imagens que os santeiros criaram, não adianta tentar explicar porque um leigo não sabe explicar mas sente e julga apreciar a beleza que o rodeia.
Julgava que conhecia estas igrejas e o que elas nos revelam. Puro engano. Há sempre algo novo a descobrir.
Propus-me um intervalo para refeição e a seguir descer até Belmonte.
No local designado de Boa Vista onde passava a Muralha Fernandina de que se podem ver alguns pormenores e se abria a Porta da Esperança, os Eremitas Calçados de Santo Agostinho iniciaram entre finais do séc. XVI ou princípios do séc. XVII a construção de um Convento e Igreja no local onde existia uma Ermida dedicada a S. João de Belmonte. As obras foram dadas como terminadas apenas em 1779.
A capela mor é coberta por uma abóbada de pedra e o altar foi mandado construir pelo Bispo D. Frei António de Sousa, um frade que pertenceu à ordem.
Capela de Santa Rita de Cássia decorada com azulejos sobre a sua vida.
Segui a caminho do Rio e espreitei em S. Nicolau
No local de uma antiga ermida do séc. XIII, foi construída a Igreja de S. Nicolau entre 1671 e 1676. Sofreu um incêndio em 1758 e sua reconstrução terminou em 1762.
No alto da fachada encontra-se um frontão cortado por um nicho contendo a imagem do Padroeiro.
Os azulejos são de 1861.
A igreja está em obras e na altura praticava-se um serviço religioso.
A nave é coberta por uma abóboda de tijolo.
Quase em frente localiza-se a Igreja de S. Francisco, que pertenceu ao extinto Convento onde se encontra o Palácio da Bolsa. Para ela me dirigi e completar o ciclo.
Monumento Nacional de extraordinária grandiosidade e beleza. Há cerca de 8 anos e meio visitei a Igreja.
Nessa altura (como hoje) não era permitido fotografar e a vigilância não me largou de vista só porque levava a máquina na mão. Era a velha Olympus made in China que fez no dia 9 precisamente 9 anos que a comprei. Fez também precisamente 6 anos que avariou. No dia 10.
Conclusão, porque não me deixaram fotografar a Igreja, raramente me referi a ela. Mas mudei o meu pensamento, mesmo continuando a ser proíbido fotografar.
Entrei de corpo feito e a brincar com o porteiro. Talvez pela quantidade de turistas não me ligou grande importância.
Fui conseguindo algumas imagens entre o aglomerado de pessoas e não ligando importância à luz que é péssima. São as imagens possíveis que não são grande coisa. Não sei se há câmaras de vigilância, mas tive o receio de sentir de um momento para o outro uma mão sobre o ombro, e zás.
Também não sei se irei ter algum problema com a Irmandade por causa da publicação das fotos. Seja o que Deus quiser mas a Igreja fica a ganhar pois resolvi fazer-lhe publicidade.
Profissionalmente, já tinha visitado a igreja em meados dos anos 80 do século passado.
Na imagem as duas Igrejas de S. Francisco: à esquerda a da Ordem e à direita a do antigo Convento dos Frades Observantes de S. Francisco.
A sua edificação terá começado em 1244 mas por várias razões arrastou-se no tempo e apenas terá sido construído um pequeno templo de uma só nave.
Nave Central e Capela-Mor
O templo que hoje subsiste teve início em 1383, ano da morte do Rei D. Fernando que concedeu bastante protecção aos Franciscanos. O seu estilo gótico tem características especiais, muito regionais.A principal campanha de remodelação do templo aconteceu na época barroca, conferindo-lhe o estatuto de Igreja forrada a Ouro.
Uma má imagem do extraordinário Retábulo na Capela de Nossa Senhora da Conceição e dedicado à Árvore de Jessé, reformulado entre 1718 e 1721 sobre uma obra já existente.
Capela de S. João Baptista
Construída na década de 30 do séc. XVI desenhada por Diogo de Castilho. Num à parte, fico na dúvida se não será João de Castilho, seu irmão. Ambos trabalharam em vários Monumentos em Portugal ligados ao Manuelino. Diogo está escrito na placa informativa junto à Capela, mandada edificar pela família Carneiro. João está referido como o autor na página do Património Cultural referente a S. Francisco.
Pormenor por baixo do Coro Alto e à esquerda o Retábulo dos Santos Mártires de Marrocos.
Foram estas as Igrejas que visitei na Quinta-feira Santa. Se tudo correr normalmente, juntamente com outras Igrejas do meu/nosso Porto farão parte de uma trabalho que há muito ando a programar.
Não lhes senti neste dia aquela mística própria de um templo. Os turistas eram imensos, o barulho bastante e o caminhar pelo corredores distraim, provàvelmente, quem não estava verdadeiramente a fazer turismo.
Mas na passada quinta-feira encontrei outros motivos interessantes que mais tarde contarei e mostrarei.
Todas as Igrejas lindas, difícil escolher uma em especial.
ResponderEliminarBeijinhos.
Parabéns!
ResponderEliminarMais um excelente trabalho apresentado pelo nosso artista Portojo!
Obrigado pela oportunidade que nos dás para conhecermos melhor as belezas do nosso Porto, a sua riqueza e a sua História.
Grande abraço
Sempre em alta. E, claro,todos nós aproveitamos da melhor forma. Grato, pottanto.
ResponderEliminarParabéns.
ResponderEliminarMuito bem continuado... ou melhor começado nas igrejas, todas elas na minha zona de acção, especialmente a "minha", a Igreja de S. Nicolau, do meu amigo Padre Jardim Moreira, aonde passei parte da minha infância e juventude. Um abraço
cumprim/jteix
Meus cumprimentos ao amigo por mais este trabalho, feito com muita dedicação, nos brindando com mais conhecimento das maravilhas arquitetônicas e históricas do Porto. Abraços.
ResponderEliminarBela reportagem.Gostei porque não conheço algumas igrejas
ResponderEliminarmostradas na "rota das sete igrejas".Um abraço caro Portojo.....
Um trabalho de Mestre! Parabéns!
ResponderEliminarUm abraço do amigo,
Manuel Tomaz.
um excelente conjunto de fotografia das belas igrejas do Porto que por enquanto, e esperemos por muitos anos, continuem a pertencer à comunidade!
ResponderEliminara igreja protetora dos artistas, guardou ate aos dias de hoje tanta beleza e obras de arte, para que nos seja possível admirá-las, que só lhe podemos agradecer
boa continuação de terça-feira
Angela
Não sei onde foi parar a minha mensagem,mas recapitulando é mais ou menos assim....Como sempre não tenho adjectivos para classificar os teus trabalhos.Baptizado na igreja da Sé,casado na igreja do Bonfim. Um abraço !
ResponderEliminarNão sei onde foi parar a minha mensagem,mas recapitulando é mais ou menos assim....Como sempre não tenho adjectivos para classificar os teus trabalhos.Baptizado na igreja da Sé,casado na igreja do Bonfim. Um abraço !
ResponderEliminarMais um trabalho ilustrativo digno de aplausos e consideração ao nosso amigo Jorge. Com simplicidade e belas fotos ele vai nos inteirando dos costumes e templos católicos da sua tão ilustre cidade. Chamaram-me à atenção os entalhes em ouro e prata,e os belíssimos altares, em especial o de Santa Rita de Cássia. Enfim uma edificante reprotagem. Obrigada sempre! Um abraço!
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