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sexta-feira, 28 de novembro de 2014

199 - Café Majestic

De vez em quando debruço-me sobre os estabelecimentos comerciais da Cidade do Porto. Uns passam-nos desapercebidos, outros são ex-libris.
É o caso do Café Majestic situado na Rua de Santa Catarina, bem próximo da Praça da Batalha, do qual vou recordar a história a partir da sua página.
Seja Verão ou Inverno, o Majestic é uma referência da Cidade e está sempre cheio. A grande maioria são turistas que aproveitam para sentir uma época já há muito afastada, mas que foi de grande esplendor: A Bélle Époque e a Arte Nova.
É verdade que a maioria dos Portuenses não conhecerão o seu interior e para ser franco entrei três vezes, a primeira por volta de 1980 já um café custava 100 escudos. O equivalente hoje a 50 cênt €..
Vamos à história do Majestic que começa com a abertura em 17 de Dezembro de 1921 mas com o nome Elite.
Foi a época das tertúlias políticas, das artes, da cultura. Mas o seu nome seria mudado rapidamente para Majestic indo ao encontro dos gostos afrancesados da cultura portuguesa da época, impregnados do charme da Bélle Époque.
Bancos aveludados, (não sei se era assim antigamente, parece-me que não, agora são cadeiras forradas a couro e os sofás são almofadados em pele, não sei qual) madeiras envernizadas, confundindo-se os cinco sentidos nos tectos de gessos decorados, abundante espelharia em cristais flamengos. Mármore e metal ligavam-se com requinte inigualável.
O Porto já era a Cidade dos Cafés, com origens bem antigas. As tertúlias organizavam-se para debates de ideias e culturas.
O Majestic não foi um espaço indiferente a essas tertúlias: José Régio, Leonardo Coimbra, Teixeira de Pascoais, entre outros, emprestaram à Casa a literacia para que sucedesse o debate entre as figuras públicas e as que viriam a ser...
Alunos e professores da Escola de Belas Artes do Porto, na altura bem próxima, juntavam-se para debate de arte num autentico local de arte. Júlio Resende, entre muitos foi um frequentador assíduo.
 Gago Coutinho com as suas ninfas e Beatriz Costa marcaram presenças, bem com governantes de algumas partes do mundo que não quiseram deixar de conhecer este espaço. 
 
As tertúlias de antigamente e os turistas de hoje, ficam registados na história do Majestic
 Nos anos 60 do século passado o "adormecimento"  forçado das culturas do País, ataca também o Majestic. É um declínio lento, continuo.
Em 1983 é decretado Imóvel de Interesse Público. A degradação acelera e em 1992 fecham-se as portas para voltarem a ser abertas em 15 de Julho de 1994 com o lustro de outrora.
Agora há música, exposições, eventos e muito imediatismo.
O Café Majestic de traça ideada pelo arquitecto João Queiróz inspirada na obra do seu mestre Marques da Silva, é ainda hoje um dos mais belos representativos exemplares da Arte Nova da Cidade do Porto. 
Passagem para o Pátio interior, inaugurado em 1925, arquitectado por Pedro Mendes da Silva como um Jardim de Inverno.
A construção do Bar e a ligação ao Café pelas escadas, permitiam vender Vinho do Porto e mais tarde Cerveja.
A Bélle Époque no Pátio.
Em 1925 é aberta uma janela no muro do Pátio que dá para a Rua de Passos Manuel, onde passou a vender-se tabaco e rapé explorada pela Tinoco & Irmãos a partir de uma pequena cabine construída para o efeito como Tabacaria.
Bom, como exprimir as minhas impressões em relação ao "serviço" que tive um pouco de cuidado em analisar. Melhor, aos serviços pois são vários. Desde a porta de entrada.
Uma espécie de mordomo, impecavelmente vestido de fato preto e gravata também preta e camisa branca, controla com eficiência, gestos e um sorriso a entrada dos clientes em função das mesas vagas ou a vagar. (Vejam a foto inicial) Sabe barrar com gentileza os apenas curiosos e a multidão de fotógrafos. Parece saber distinguir quem vai consumir e os outros. A mim disse-me, da última vez, que lá entrei, há pouco mais de 2 meses, por favor ao fundo à esquerda tem a sua mesa. Ou algo parecido.
Vi com agrado uma coisa há muitos anos em prática na Europa que conheci - muito pouca - mas que em Portugal só em alguns bares se usa: Uma simples base para copo, garrafas, chávenas. Recicláveis. isto é, podem ser usadas inúmeras vezes. Com excepção das que os clientes guardam como recordação e é permitido. Curioso que na década de 80 comercializei essas bases e vendi bem poucas. 
Adiante pois estava a contar-vos sobre o serviço, melhor, o atendimento: Com um sorriso, sem sinal de stress, seja do empregado ou da empregada, também vestidos a rigor: Coletes brancos, calças e sapatos pretos .
Não fazem "fintas" a quem fotografa o local e a conta é apresentada quando pedida, com elegância também. Não me lembro se em pires ou numa pasta. 
Apresentei cumprimentos e agradeci as gentilezas. Claro que o que tomamos é caro, para o nosso dinheiro. Uma cerveja custa três vezes mais que em outro local bem como um café. Mas os preços estão expostos à entrada.
Não sei a qualidade das comidas, por isso fico-me só pelo Café e pela Loirinha.

Como referi antes, as minhas pesquisas basearam-se na história publicada na página do Café. As fotos a preto também. Aos meus queridos leitores que queiram aprofundar pormenores, deixo-vos a página:
http://www.cafemajestic.com/pt/Majestic-Cafe/Historia.aspx

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

198 - Memórias das Minas de Vila Cova

É mais por causa das minhas memórias do que sobre as memórias das Minas de Vila Cova, no Marão. Ou talvez seja na Serra do Alvão. Entranhadas uma na outra as duas serras, não vale a pena discutir o pormenor que a minha ignorância, espero, seja desculpada.
Casa coisa a seu tempo.
 A poucos quilómetros da Aldeia de Vila Cova, freguesia do concelho de Vila Real, passa a  velhinha estrada nº 15 que liga o Porto a esta Cidade. 
  É uma aldeia igual pelas circunstâncias, a muitas do meu-nosso Portugal.
 Desertificada, terra de muita emigração, mas onde os velhos teimam em fazer os seus  campos e a tratar do seu gado.
Deveriam ser criadas em Portugal as Aldeias do Granito, como há as do Xisto. Vila Cova seria um dos itinerários.
 A par do granito, as casas dos emigrantes na paisagem da aldeia interior dão-lhe outra    vida.
 Vamos às Minas.
Entrada do túnel, visto agora. Ouvi num vídeo pela voz  de um antigo trabalhador,
que a profundidade chegou a ser tal que quase chegava à aldeia.
A mais de 70 metros.

Terá sido nos anos 50,  que alguém se lembrou ser a metalurgia importante para o País. Mas em grande escala. Poderiam ser ideias de pessoas ligadas ao regime de Salazar mas que combatiam pela inovação e produção.

O Túnel creio que em finais da década de 70 do século passado, 
quando as minas encerraram definitivamente. Foto encontrada na internet.

O época do Volfrâmio acabara, a do ouro há séculos e o Marão começou a ser explorado para a recolha do ferro. As magnetites do ferro. Assim nasceram as Minas de Vila Cova, SARL.
Antigas instalações: Escritórios, marcenaria, serração, enfermaria, cantina, posto de transformação eléctrica. 
 As Minas chegaram a  empregar mais de 700 pessoas.
Foto recolhida na net sem data e sem referência, do
complexo das Minas de Vila Cova.
 Nasceu a Siderurgia do Marão para tratar as magnetites do ferro extraídos de Vila Cova. Era  um anexo mineiro, que mais tarde (ou paralelamente, não sei) tratava as mgnetites de outras  minas espalhadas pelo Marão.
Pormenor das instalações da Siderurgia do Marão na Campeã, lugar fronteiro a Vila Cova.

 Portugal não se desenvolvia e a produção de gusa (ferro fundido primário) de Vila Cova  excedia  em muito o consumo nacional.
 Pormenores actualmente - acima e abaixo nas fotos - do local das 
antigas instalações da Siderurgia

Só duas nações tinham desenvolvido a electro-siderurgia: Itália e Noruega. Escolheu-se a norueguesa e norueguês era o forno Elkem e seus pertences.

 O excedente do consumo nacional era exportado, mas a preços baixíssimos. As minas e a  siderurgia entraram em rotura.
 Os fornos foram desligados e reabertos anos depois. A grande maioria da produção passou  a ser  termo-eléctrica e o sonho da termo-siderurgia acabou e os fornos encerraram de vez  nos finais da década de 70.
 Um sucateiro italo-brasileiro arrematou este e outros fornos em Portugal por valores  irrisórios e  segundo se supõem levou-os para a Venezuela.
 Nas encostas do Marão a estrada do ferro, passando junto da actual IP4 que um dia, não se  sabe  qual, fará parte da A4.
 Próximo corre também a N15. Um pormenor das 3 estradas nas proximidades  da  Estalagem  do Marão.
 Em cima um aspecto mais alargado da região e em baixo, a entrada de uma das minas no  Marão e  a estrada do ferro.
Chegados aqui, perguntar-se-ão os meus queridos leitores se ainda se lembrarem, porque comecei esta historieta referindo as minhas memórias onde elas estão. Pois aqui vão.

Há muitos anos, nos princípios da década de 60 do século passado, era eu um menino e trabalhava numa empresa da indústria gráfica - Litografia Artistas Reunidos, fui destacado para acompanhar o meu patrão, o senhor Armando Monteiro, pilotando o seu Studebaker de cor creme e castanha (não sei de que ano era o modelo nem interessa para o caso) para entregar nas Minas de Vila Cova SARL, uns calendários de fabrico luxuoso que nos haviam encomendado.
Eram em tons de sépia e creme com fotos de Minas e outras. Forrados com uma capa em papel vegetal e as folhas presas por espiral de arame cobreado. Não me perguntem mais nada, porque não me lembro.
Sei que fomos recebidos numa sala luxuosa de um casarão ceio que localizado na Rua António Patrício, e tanta o senhor engenheiro que nos recebeu, como o meu patrão, estavam vestidos com sobretudos que hoje presumo serem (terem sido) de pêlo de camelo.

O meu amigo Fernando Súcio atura-me e de que maneira. Faço-lhe perguntas - o seu Pai trabalhou nas minas - rebusco-lhe nas memórias e tento metê-las nas minhas. Sem ele nunca conheceria os locais nem saberia tantas histórias.

Pesquisei muitos sites mas todos vêm dar a este:
http://www3.dsi.uminho.pt/ebeira/setembro_05/docs/livro_final/20almeidaesousa.pdf
É um texto escrito pelo Engenheiro Almeida e Sousa que esteve ligado às Minas e à Siderurgia Portuguesa.
Lembro-me dele em artigos escritos no Jornal de Notícias. Presumo que ainda é vivo.

Foi mais um encontro com as minhas memórias.